Max Horkheimer |
A obra filosófica de Jürgen Habermas ofuscou a teoria crítica: os ensaios que escreveu sobre a filosofia da história de Horkheimer não lhe fazem justiça. Convém denunciar a conservadorismo de Habermas que, sob o impulso do funcionalismo, renuncia à ideia de História para se entregar a uma teoria do agir comunicacional incapaz de definir um novo projecto político. Os textos tardios de Horkheimer são ocasionais e fragmentários. A sua leitura não é fácil, até porque Horkheimer ficou desesperado com a aporia subjacente à "dialéctica do esclarecimento". Porém, quando afirma que a dialéctica materialista é forçada a renunciar à ideia de reconciliação mas não à interrogação que a esperança incumprida das vítimas abre sobre a história, a razão e a acção humana, a aporia evapora-se no ar. Como já dediquei muitos textos ao pensamento de Horkheimer, não vou recapitular o seu pensamento tardio, o qual procura evitar a suposta aporia mediante a «recuperação» da ideia de Outro: ânsia de justiça plena. O que interessa questionar aqui é a tese fundamental da sua filosofia da História: A lógica imanente da História conduz inevitavelmente ao mundo totalmente administrado. Só as catástrofes podem interromper este curso da História: a praxis débil sugerida por Horkheimer não pode alterar o rumo da história; apenas pode tentar conservar alguns elementos culturais, tais como a teologia ou a liberdade. A sociedade administrada é semelhante à sociedade dos insectos sociais. Numa tal sociedade, o homem «desenvolve-se» como espécie animal, abdicando da sua "humanidade". A sociedade administrada de Horkheimer corresponde grosso modo ao meu conceito de sociedade metabolicamente reduzida: ambas apontam para a supressão da «vontade livre» e a liquidação do sujeito. A base desta filosofia pessimista da História reside na finitude radical do homem e do pensamento e na «relatividade» do mundo. A minha filosofia apocalíptica da História está muito próxima desta concepção de Horkheimer: ambas rejeitam a ideia messiânica; ambas apontam para a política como "tarefa infinita"; enfim, ambas são a-comunistas. Com efeito, a rejeição da ideia messiânica é uma recusa consciente de "colonizar o futuro". Porém, a relatividade do mundo não nos permite rejeitar - como faz Horkheimer - a revolução em nome de uma praxis débil. A situação histórica mudou desde o tempo de Horkheimer: Hoje a revolução está na ordem do dia, tal como esteve nos anos 30 do século passado. O que distingue a minha filosofia da História da filosofia de Horkheimer? Não é o pessimismo que, no meu caso se inspira na angústia maia e asteca perante a caducidade do existente, mas a não necessidade de recorrer a Deus para descobrir um sentido para a História, embora este recurso teológico não perturbe a minha mente. A colisão futura de um asteróide com a Terra - por exemplo - pode pôr termo à aventura histórica do homem. Ora, sabendo que uma catástrofe natural - ou não - pode liquidar o homem, não preciso do Outro para incentivar a revolta das vítimas contra os carrascos: o homem não tem nada a perder e mais vale uma vida breve mas heróica do que uma vida longa de miséria. No entanto, a minha filosofia - assim como a de Horkheimer - não abdica da ideia de pecado original: o mal radical. Com estas breves notas mostrei que nem eu nem Horkheimer rompemos com Marx: ambos lutamos para que a Filosofia não se torne pensamento pueril numa sociedade totalmente administrada e racionalizada. A Filosofia só pode ser reconstruída deixando de lado as obras dos filósofos que a dominaram nas últimas décadas: funcionalismo e estruturalismo andam de mãos dadas na rejeição da História.
J Francisco Saraiva de Sousa
J Francisco Saraiva de Sousa