Os Maias elaboraram uma filosofia do tempo que merece ser estudada numa perspectiva filosófica: a preocupação obsessiva dos maias com os fenómenos temporais era profundamente mágico-religiosa. No seu calendário, cada dia era um deus e as divisões do tempo eram representadas como cargas transportadas às costas por uma hierarquia de carregadores divinos. Para os maias, o tempo era uma espécie de ronda em que várias séries de deuses - os dias, os meses e demais períodos temporais, os números e os astros - giravam eternamente, combinando em cada instante as suas respectivas influências para determinar o destino humano. A posse sacerdotal da chave do tempo era o instrumento mais poderoso de dominação no seio desta sociedade dirigida por uma teocracia: a vida quotidiana dos maias dependia da interpretação que os sacerdotes davam à passagem do tempo. Os presságios infaustos deviam ser transformados em realidades benéficas, mediante ofertas e sacrifícios, e, quando este controle mágico do rumo dos acontecimentos falhava, os maias atribuíam esse fracasso à decisão dos deuses. Tal como os astecas, os maias acreditavam que o mundo podia ser novamente destruído: a sorte da humanidade maia encontrava-se nas mãos dos sacerdotes, cuja missão era decifrar nos mistérios do céu os signos anunciadores da tragédia cósmica, de modo a tentar impedi-la. Neste imaginário de angústia permanente e de colapso geral iminente - em que a religião aprisiona a cultura e as suas forças criativas num círculo fechado - está incorporada uma ontologia hermenêutica que rivaliza com a que Heidegger tematizou em Sein und Zeit: a filosofia maia do tempo - a eternidade do tempo em contraste com o infinitesimal do homem - tem um carácter fatalista, porque, na sua ronda, os ciclos cronológicos voltam incessantemente a criar as mesmas circunstâncias astrológicas que causam, por sua vez, os mesmos acontecimentos humanos.
El Castillo de Chichén-Itzá (imagem), chamado Templo de Kukulcán, compreende uma majestosa pirâmide que serve de base a um templo a que se tem acesso por uma escadaria de cada lado. Motivos cronológicos determinaram a distribuição de certos elementos arquitectónicos: cada escadaria consta de 91 degraus, o que soma 364 para as quatro escadarias, e mais a plataforma superior para completar o número 365, equivalente aos dias do ano. Cada fachada da pirâmide compreende 9 corpos escalonados que a escadaria divide em dois, formando-se assim 18 secções, o número dos meses maias e mexicanos. Os muros da pirâmide apresentam painéis em relevo, cujo número é de 52 em cada fachada, correspondente ao número de anos no calendário tolteca. Debaixo deste templo foi descoberto outro mais antigo, mas também da época tolteca: na sua antecâmara descobriram-se esculturas denominadas "chacmool" e no santuário, um trono em forma de jaguar.
Sobre a civilização maia aconselho a leitura destes livros clássicos:
Thompson, J. Eric S. (1954, 1966). The Rise and Fall of Maya Civili-zation. Norman, Okla: University of Oklahoma Press. (Há tradução espanhola do Fondo de Cultura Económica.)
Morley, Sylvanus (1947). La Civilización Maya. México: Fondo de Cultura Económica.
Lhuillier, Alberto Ruz (1967, 1993). La Civilización de los Antiguos Mayas. México: Fondo de Cultura Económica.
Knorozov, Yuri (1956). La Escritura de los Antiguos Mayas. México: Instituto Cultural Mexicano-Ruso.
Kelley, David (1962). Fonetismo en la Escritura Maya. Estudios de Cultura Maya, vol. II.
Barrera Vásquez, Alfredo (1946). El Libro de los Libros de Chilam Balam. México: Fondo de Cultura Económica.
Stephens, John (1949). Incidents of Travel in Central America: Chiapas and Yucatan. New Brunswick: Rutger University Press.
J Francisco Saraiva de Sousa
2 comentários:
Desejo que a escola de arquitectura do Porto crie uma pirâmide aqui no Porto: as culturas da mesoamericanas têm uma arquitectura linda: o cristal de que fala Bloch está lá mas com outra significação.
*culturas mesoamericanas.
O Porto Fantasia exige uma pirâmide: os empresários do Norte devem financiá-la.
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