Teotihuacán - o lugar onde os deuses foram feitos ou, como prefere dizer Sahagún, o «lugar en que los hombres se convertieron en dioses» - teve uma fase pré-histórica ou pré-monumental, aproximadamente de 600 a 200 a.C., durante a qual foi ocupada por pequenos grupos de aldeões agrícolas que lavravam a terra, caçavam animais nos campos despovoados e pescavam no lago Texcoco. Na última parte deste período, foi criada uma aldeia muito grande - um aglomerado de pequenas construções separadas por espaços abertos -, que cobria 6 quilómetros quadrados, principalmente na zona nordeste da futura cidade. Porém, muito antes da descoberta desta fase aldeã, a história da cidade já tinha sido dividida pelos arqueólogos mexicanos em quatro épocas ou eras: Teotihuacán I, Teotihuacán II, Teotihuacán III e Teotihuacán IV, que correspondem na terminologia norte-americana às fases Tzacuali, Miccaotli e Tlamimilolpa, Xolalpan e Metepec, respectivamente. Teotihuacán, com as suas enormes Pirâmides do Sol e da Lua, a sua Avenida dos Mortos, os seus Templos dos deuses agrários e da Serpente Emplumada, a sua magnífica Cidadela, as suas esculturas e frescos, as suas máscaras de pedra dura e a sua magnífica cerâmica pintada, foi uma grande metrópole teocrática e pacífica, cuja influência se alastrou até à Guatemala. A sua aristocracia sacerdotal era originária da costa oriental, da zona dos olmecas e de El Tajín. A religião compreendia o culto do deus da água e da chuva - o deus Tlaloc dos astecas, da Serpente Emplumada - Quetzalcóatl, e da deusa da água - Chalchiuhtlicue. As pinturas murais mostram que os habitantes de Teotihuacán acreditavam na vida além da morte, num paraíso onde os bem-aventurados cantariam a sua felicidade entre jardins tropicais resguardados e protegidos por Tlaloc.
Teotihuacán I. Este período vai de 200 a.C. até ao princípio da nossa era e marca o nascimento de uma verdadeira cidade: a cidade adquiriu a sua forma definitiva durante este período, estando orientada rigidamente no eixo norte-sul da Calzada de los Muertos, com 1.700m de comprimento, mais precisamente numa linha com um desvio de 15º30' do norte. A população do campo começou a diminuir por causa da política deliberada de concentrar as pessoas dentro dos limites urbanos. Nas fases finais de Teotihuacán I, viviam na cidade entre 40 000 e 50 000 habitantes, a maior parte dos quais se concentrava na zona nordeste do seu perímetro urbano. Porém, o que merece especial destaque neste período é a construção dos edifícios mais espectaculares de todos: as Pirâmides do Sol e da Lua. A Pirâmide do Sol (imagem) foi construída ininterruptamente e é a construção mais alta do México antigo: a sua base quase quadrada - 222 por 225m - é tão grande como a da Pirâmide de Quéops no Egipto, embora não seja tão alta. A Pirâmide da Lua - que escapou à demolição arbitrária de Leopoldo Batres (1908), com a utilização de dinamite - compreende quatro grandes plataformas em talude que sustentavam um templo em cima. Tem 35m de altura, mas como foi construída em terreno mais elevado que a Pirâmide do Sol, que é muito mais alta (64m), os seus topos ficam ao mesmo nível. O principal eixo da cidade é a Avenida dos Mortos - uma espécie de via sacra desenhada para impressionar aqueles que a contemplam e fazê-los captar o poder e a glória dos deuses da cidade: a Pirâmide da Lua domina o extremo setentrional da Calzada, mas a sul passa ao lado da Pirâmide do Sol, da qual está separada por uma ampla praça, e, depois de cruzar o rio San Juan, chega ao complexo conhecido como "La Ciudadela". Durante as escavações arqueológicas, em especial as de 1935, identificaram-se 23 complexos de templos que correspondem a Teotihuacán I, cada um dos quais formado por três templos construídos em torno de um pátio fechado, algumas vezes com uma plataforma baixa a fechar o quarto lado. Muitos desses templos estão localizados ao longo da Calzada de los Muertos. (Veja imagem aqui.)
Teotihuacán II. O segundo período da história de Teotihuacán vai do começo da nossa era até 350 d.C., tendo presenciado ao progresso da cidade-Estado até à sua conversão final numa grande metrópole com amplas ramificações. A construção mais notável deste período é o Templo de Quetzalcóatl, famoso pela sua fachada esculpida com cabeças de serpente. O grande complexo situado no lado oposto da Calzada de los Muertos também corresponde a esta época e devia funcionar como mercado principal da cidade. As construções da Pirâmide da Lua e da Praça da Lua foram concluídas neste período. Teotihuacán já era - nesta altura - uma grande cidade que exercia uma poderosa influência em todo o México antigo: o seu estilo de vida urbano atraia grupos de pessoas de outras regiões. Os seus limites cobriam a sua área máxima de 20 quilómetros quadrados e a planta rigorosamente planeada adquiriu a sua forma final: o plano-mestre de Teotihuacán precisou de vários séculos para ser realizado e esteve sujeito a modificações ocasionais. A grande marca deste período é, além da arquitectura, a sua escultura monumental e a cerâmica conhecida como "anaranjado delgado", fabricada em barro fino alaranjado, polido e tão delgado como a casca de um ovo.
Teotihuacán III. O terceiro período é a época - 350 a 650 d.C. - em que a cidade alcançou o apogeu do seu poder e a sua população cresceu até atingir quase 200 000 habitantes. Construíram-se numerosos edifícios monumentais, cujas ruínas podemos ver hoje em dia: os novos edifícios foram construídos sobre outros mais antigos, o Templo de Quetzalcóatl foi coberto por um edifício maior e menos ornamentado, e novas estruturas foram acrescentadas à Pirâmide da Lua, em harmonia com a imponente praça desta época - a Plaza de la Luna - que se encontra à sua frente. Muitas das construções deste período foram restauradas durante o programa de trabalho que o Instituto Nacional de Antropología do México levou a cabo entre 1962 e 1964, sob a direcção de Ignacio Bernal. Durante estas escavações, descobriram-se numerosas pinturas murais que pertencem basicamente a este período de apogeu de Teotihuacán. A parte nordeste da cidade - a mais densamente povoada - sofreu poucas alterações no decorrer deste período e, por isso, ficou conhecida como a "ciudad vieja" (cidade velha). Nas proximidades do Templo de Quetzalcóatl, foi construído o Palácio da Borboleta-Quetzal - Quetzalpapálotl, que foi restaurado nos anos 60. Está situado atrás de uma grande plataforma no lado ocidental da Plaza de la Luna e, para lá chegar, é preciso atravessar um pátio formado por 12 pilares quadrangulares, que têm relevos em pedra de grande conteúdo simbólico e estão adornados com criaturas que são em parte passáros e em parte borboletas. O Palácio cobriu uma estrutura mais antiga: o Templo dos Jaguares, em cuja pintura mural aparece o felino.
Teotihuacán IV. O último período começou em 650 d.C. e foi muito mais breve que os dois períodos anteriores, tendo durado apenas um século. No final deste período, os edifícios foram queimados e destruídos com violência. A esta catástrofe sucedeu o colapso da cidade: a população foi dispersada e o vale circundante continuou a ser cultivado. As aldeias descobertas nesta região já pertencem ao período tolteca e, até à época dos astecas, a capital desta região foi o povoado de Otumba. O imperador asteca Moctezuma II e os seus sacerdotes faziam ofertas no altar da Pirâmide do Sol, o que indica - se for verdade - que o perímetro de Teotihuacán não foi completamente abandonado: a descoberta de um pequeno santuário, associado com a cerâmica asteca, em frente da Pirâmide do Sol, confirma a presença asteca, bem como a existência de aldeias anteriores à conquista espanhola.
Sobre a civilização clássica de Teotihuacán aconselho as seguintes obras:
Blanton, Richard E. (1978). Monte Alban: Settlement Plans at the Ancient Zapotec Capital. New York: Academic Press.
Kubler, George (1973). The Iconography of the Art of Teotihuacan. Washington, D.C.: Dumbarton Oaks.
Miller, Arthur (1973). The Mural Painting of Teotihuacan. Washington, D.C.: Dumbarton Oaks.
Pasztory, Esther (1974). The Iconography of the Teotihuacan Tlaloc. Washington, D.C.: Dumbarton Oaks.
Sanders, William T. (1965). The Cultural Ecology of the Teotihuacan Valley. Pennsylvania: Pennsylvania State University.
Whitecotton, Joseph W. (1977). The Zapotecs. Norman, Okl.: Oklahoma University Press. J Francisco Saraiva de Sousa
5 comentários:
Vou concluir o post hoje. :)
Bem, está concluído: onde está Palácio é - Templo dos Jaguares. Depois corrijo.
Já só falta o post sobre os toltecas e Tula. :)
Ah, precisam visitar-me no facebook. :)
a cidade dos deuses... deus só há um, e escreve por linhas tortas no sapo...
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