A pintura de David Alfaro Siqueiros é a pintura da emancipação: a sequência de quadros escolhidos relata todas as fases do processo de emancipação, desde o nascimento do fascismo até à instauração da Nova Democracia ou da Nova República, passando pela repressão física e ideológica imposta pelo regime cleptocrático e ditatorial. O eco do grito dos oprimidos que os opressores não escutam representa aqui o despertar da consciência dos deserdados da Terra para a tarefa política de transformação qualitativa do mundo. Siqueiros usa diversas imagens para representar o despertar da consciência, em especial a da invasão. Porém, a imagem da invasão pode ser lida num contexto trans-histórico, para além do seu contexto mexicano originário: o povo humilhado e ofendido só pode libertar-se realmente se expulsar o opressor interiorizado da sua consciência. A negação neurobiológica - isto é, materialista - da consciência faz parte integrante da ideologia dominante: negar a consciência, fazendo dela uma mera função do cérebro em acção, é negar a possibilidade dialecticamente objectiva de libertação do homem, entregando-o à acção instrumental da tecnologia do capital especulativo. O homem como senhor da tecnologia - e não como seu escravo - é uma das imagens de libertação que domina o universo pictórico de Siqueiros.
J Francisco Saraiva de Sousa
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