quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cornelius Castoriadis: O Fim da Filosofia?

«A vitória planetária do Ocidente é a vitória das metralhadoras, dos jipes e da televisão - não é a do habeas-corpus, da soberania popular, da responsabilidade do cidadão». (Cornelius Castoriadis)

«Todo o ser por si existe, e só pode existir, numa clausura. Assim acontece também com a sociedade e com o indivíduo. A democracia é o projecto de romper a clausura ao nível colectivo. A filosofia, que cria a subjectividade com capacidade de reflectir, é o projecto de romper a clausura ao nível do pensamento». «Assim, nascimento da filosofia e nascimento da democracia não coincidem, eles co-significam. Ambos são expressões e encarnações centrais do projecto de autonomia.» (Cornelius Castoriadis)

«Depois dos movimentos dos anos 60, o projecto de autonomia parece sofrer eclipse total. Podemos considerar esse facto como uma evolução conjuntural, de curto prazo. Mas essa interpretação parece pouco provável diante do peso crescente da privatização, da despolitização e do "individualismo" nas sociedades contemporâneas. Um grave sintoma concomitante é a atrofia completa da imaginação política. A pauperização intelectual dos "socialistas", bem como dos "conservadores", é aterrorizante. Os "socialistas" não têm nada a dizer, e a qualidade intelectual da produção dos porta-vozes do liberalismo económico, de quinze anos para cá, faria Smith, Constant ou Mill erguerem-se nos seus túmulos. Ronald Reagan foi uma obra-prima de simbolismo histórico». (Cornelius Castoriadis)

«O valor do "pós-modernismo" como teoria é reflectir servilmente e, portanto, fielmente as tendências dominantes. A sua miséria é fornecer delas apenas simples racionalização por trás de uma apologética pretensamente sofisticada, mas que não passa de expressão do conformismo e da banalidade. Digerindo-se agradavelmente com os discursos fúteis, tão em moda, sobre o "pluralismo" e o "respeito da diferença", o "pós-modernismo" desagua na glorificação do ecletismo, na recuperação da esterilidade, na generalização do princípio do "tudo o que funciona é válido", tão oportunamente proclamado por Feyerabend num outro domínio. Sem sombra de dúvida, a conformidade, a esterilidade e a banalidade, o "tudo bem" são os traços característicos deste período. O "pós-modernismo", honrado com um "complemento solene de justificação" pela ideologia, apresenta o mais recente caso de intelectuais que abandonam a sua função crítica e aderem com entusiasmo àquilo que é assim, simplesmente porque assim é. O "pós-modernismo", como tendência histórica efectiva e como teoria, é seguramente a negação do modernismo». (Cornelius Castoriadis)

Descobri relativamente tarde no meu percurso intelectual no deserto da cena nacional a renovação da filosofia da praxis empreendida por Cornelius Castoriadis, o que quer dizer que passei pela Universidade sem nada ter aprendido de novo com essas criaturas das trevas da ignorância que se auto-intitulam professores universitários. Portugal não existe, ou melhor, a sua existência é uma imensa mentira quase milenar: a universidade é mentira, os professores são mentira, o ensino é mentira, o discurso político é mentira, a praxis política é mentira, o emprego é mentira, a cultura é mentira, a arte é mentira, a comunicação social é mentira, a banca é mentira, as empresas são mentira, a investigação científica é mentira, o pensamento filosófico é mentira, os portugueses são mentirosos, enfim, tudo neste país é mentira. A maior desgraça que pode acontecer a um novo ser é nascer neste ermo mental que é Portugal: a injustiça originária de nascer português dita um destino trágico contra o qual é impossível lutar. Nascer português significa ser condenado de antemão ao exílio cruel durante toda a vida: Portugal é o país que não tem futuro, Portugal é a morte em vida. O eclipse total do projecto de autonomia, que se iniciou com os movimentos sociais dos anos 60 e que marca a decadência do Ocidente desde então, constitui um traço estrutural de Portugal: a decadência do Ocidente foi sempre-já uma terrível realidade em Portugal. A pauperização intelectual de hoje, sobretudo nos países mais desenvolvidos do Ocidente, foi sempre-já a pauperização intelectual de Portugal: as duas grandes expressões do projecto de autonomia - a democracia e a filosofia - são absolutamente estranhas ao povo português. Ora, um povo sem metafísica (Hegel) não tem futuro: algo de terrível no genoma português bloqueia a capacidade de criação espiritual. Portugal é a maldição do anti-futuro, Portugal deve perecer para que o Ocidente possa renascer. Em relação a Portugal que nos estigmatiza no genoma, no corpo, no cérebro e na alma e que nos envergonha perante o mundo desenvolvido, nós devemos elaborar uma anti-filosofia específica: desejar a morte de Portugal, porque no dia em que Portugal morrer nós seremos pela primeira vez livres para reinventar o futuro.

Os portugueses têm vergonha de Portugal, mas eles são responsáveis por essa vergonha mundial que é ser português. A morte de Portugal liberta o pensamento filosófico dessa terrível tarefa de pensar o não-ser, o não-futuro, a não-filosofia. Portugal devia ser expulso da NATO e da União Europeia para poder ser bombardeado pela NATO. A Filosofia é, por natureza, anti-portuguesa: a chamada filosofia portuguesa é um oxímoro. Demonstrar a aversão natural do povo português pela filosofia é decifrar e elucidar as linhas gerais da filosofia - ou melhor, da anti-filosofia - da História de Portugal. Porém, em vez de perder tempo com essa tarefa inglória que é pensar Portugal na sua falta de criatividade e na sua não-existência, o melhor será voltar à palavra escrita de Cornelius Castoriadis: «A filosofia e a democracia nasceram na mesma época e no mesmo lugar. A sua solidariedade resulta do facto de ambas exprimirem a rejeição da heteronomia: rejeição das pretensões à validade das regras e das representações, simplesmente porque ocorre que elas estão presentes; recusa de toda a autoridade exterior (mesmo, e particularmente, "divina") e de toda a fonte extra-social da verdade e da justiça; em resumo, questionamento das instituições existentes e afirmação da capacidade da colectividade e do pensamento em instituírem-se por eles mesmos explícita e reflexivamente». O facto de Portugal precisar da ajuda externa para sair da crise em que se encontra... (A equipa de manutenção do blog apagou o texto que escrevi durante a execução dessa tarefa e, neste momento, não tenho vontade de retomar o texto, até porque estou ocupado com outra tarefa mais interessante que não envolve Portugal. Não sei se retomarei este texto, logo se vê. A questão que procuro desesperadamente solucionar através de um confronto entre um filósofo e um neurocientista sofreu hoje um impasse trágico: a Caixa de Pandora roubo-me a esperança e, quando isso acontece, fico bloqueado. Vejo na elaboração de uma teoria ontológica da sociedade uma saída da clausura cognitiva, mas a morte volta a assombrar a saída vislumbrada. Novo impasse! A dialéctica como abertura é uma figura da mortalidade.)

(Em construção) J Francisco Saraiva de Sousa

5 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A brincar descobriu uma nova via para desconstruir Portugal, o solo do terror.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já não consigo olhar para um português sem o ver como um animal ignóbil e burro. É triste mas é verdade... :((

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não adiante alimentar a esperança - Portugal será sempre o covil dos ladrões e dos corruptos. Terra queimada!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Dizem no facebook que Eduardo Catroga vai para a Secretaria de Estado da Sexualidade! Não sei que secretaria é esta que o PSD pretende criar para Catroga - se vencer, claro.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A manutenção do blog apagou texto. :(