«A autora do livro “Por uma vida melhor”, que foi distribuído pelo MEC recentemente, quer abolir o que ela chama de “preconceito linguístico”. Para tal, ela imagina que o melhor método é dizer que ninguém mais escreve errado, ou seja, que o “certo” e o “errado” devem ser abolidos da escola, em se tratando do uso de nossa língua. A intenção da autora é boa, mas o caminho que ela pega não é útil. E a sua inutilidade vem do uso pouco aconselhável que ela faz do termo “preconceito”.» (Paulo Ghiraldelli Jr)
Paulo Ghiraldelli Jr escreveu este texto sobre O Tal do Preconceito Linguístico, um tema que parece estar a dividir os brasileiros e que já tinha sido tratado neste texto: A Corrupção também na Língua Portuguesa. Como não conheço o livro Por uma Vida Melhor, distribuído pelo MEC do Brasil, devolvo a palavra aos brasileiros que o leram e o criticaram. Partilho a defesa da "pureza" da língua portuguesa, mas não acompanho de perto a argumentação que Paulo Ghiraldelli Jr dirige contra o livro: o texto de Paulo Ghiraldelli Jr vale mais pela defesa da integridade da língua portuguesa - a norma culta da língua - do que pela crítica do livro em questão. O preconceito linguístico que a autora do livro pretende abolir por decreto acaba por entrar na própria argumentação de Paulo Ghiraldelli Jr, contaminando-a e tornando-a opaca em termos de inteligibilidade: o preconceito como pré-conceito não é o mesmo que preconceito social. (Pré-conceito é todo o stock de conhecimentos prévios que possuo e que me permite apropriar toda a tradição, através do método da pergunta e da resposta. Ora, não vejo como pessoas destituídas de esquemas linguístico-cognitivos possam ler e travar um diálogo produtivo com a tradição: uma língua(gem) pobre não pode apropriar-se da riqueza daquilo que foi dito numa língua complexa e rica.) Se a autora do livro os baralha e os confunde - estes dois sentidos do preconceito, claro!, Paulo Ghiraldelli Jr não consegue livrar-se dessa rede conceptual e politicamente confusa, ficando demasiado "pegado" ao termo, como se a ideia da autora fosse efectivamente "boa" - o pré-conceito politicamente defeituoso não tematizado e não problematizado pelo filósofo brasileiro. Por isso, prefiro o texto apresentado anteriormente: ele abre o horizonte linguisticamente alargado que o texto de Paulo Ghiraldelli Jr fecha. Daí que tenha escolhido esta estrutura do Parque da Cidade do Porto para ilustrar este post: os brasileiros são co-responsáveis pela integridade da língua portuguesa. Ai, Ai, tanta "pega" inútil! Afinal, o tal (do) preconceito linguístico é, ele próprio, um preconceito não tematizado: aprender a falar e a escrever correctamente a língua portuguesa não é preconceito; preconceito é dizer aos oprimidos que falam e escrevem bem, quando na verdade eles revelam um fraco desempenho linguístico, conservando-os assim presos na teia da ignorância. Como é que pessoas com baixo desempenho linguístico podem aprender filosofia, lógica, matemática e ciências? A autora do livro e todos aqueles que a seguem fazem o jogo dos opressores internos e externos. Com uma tal pedagogia da abolição do esforço e do rigor, o Brasil corre o sério risco de não conseguir acompanhar os países desenvolvidos.
J Francisco Saraiva de Sousa
6 comentários:
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Bem, já percebi que a direita brasileira usa o exemplo de Lula para condenar a pedagogia da abolição do errado na aprendizagem da língua. Mas este aspecto não tem importância: deixei de lado essa guerrilha interna para me concentrar no essencial - o português correcto.
Com um pouco de jeito, esta pedagogia da abolição despede os professores, alegando que as crianças já nascem ensinadas. :)
Afinal, para que servem as escolas quando são privadas de dizer o que está certo e o que é errado??? :(
Ucrânia, Suiça, a presença constante da Alemanha e da Holanda: todos são bem-vindos a este espaço virtual. Thanks! :))
Claro, Moçambique e Angola e Brasil estão sempre presentes. Obrigado!
Hummmm... os americanos não me dão descanso e já ando a debater política interna e externa dos USA.
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