terça-feira, 10 de maio de 2011

Prós e Contras: E depois do Acordo?

O debate Prós e Contras, moderado por Fátima Campos Ferreira, regressou novamente após este longo interregno. Porém, como não tive conhecimento prévio deste regresso, não pude assistir a todo o debate entre Pedro Silva Pereira (PS), Eduardo Catroga (PSD?) e António Pires de Lima (CDS). A imagem justifica a minha ausência: resolvi esplanar, em vez de ficar parado diante do televisor em casa ou em qualquer outro sítio para escutar aquilo que já não merece ser escutado: os discursos irracionais dos políticos portugueses. Eduardo Catroga voltou a fazer uma figura triste: o PSD parece andar desesperado e, em vez de se concentrar na resolução dos problemas nacionais, quer a todo o custo desalojar o PS, não para governar, mas para ocupar as suas posições. O discurso da verdade é-lhe completamente estranho: o PSD diz tudo o que for necessário dizer para conseguir ganhar as próximas eleições legislativas. O PSD não tem programa eleitoral, tem ambição: ocupar as posições do PS, saciar a fome dos seus apoiantes esquecidos pela actual configuração do poder e conservar o status quo que nega o futuro a Portugal. O PSD quer poleiro, nada mais do que isso: reconfigurar e repovoar o poder e as suas instituições de modo a garantir o sustento da sua rede social. A sua imensa fome de poder eclipsa completamente a sua racionalidade e a prova disso está no facto de afirmar num momento de crise nacional que não fará qualquer acordo com o PS. Um partido que não consegue analisar com objectividade as causas estruturais e externas da actual crise nacional e assumir responsabilidade pelos erros cometidos nestes últimos trinta anos não merece a confiança dos eleitores inteligentes: a substituição de pessoas não altera nada, sobretudo quando os novos candidatos se comportam como pessoas não-preparadas para assumir a tarefa de governar Portugal em tempo de crise. O acordo com a troika não esgota a imaginação política: os partidos políticos têm algum espaço de manobra para interpretar e executar o acordo sem exigir sacrifícios desnecessários. O programa do PSD é extremamente ambíguo: serve-se da ambiguidade - o aspecto demagógico e populista do seu discurso, desde logo inscrito na sua designação - para encobrir todo o seu projecto neoliberal de privatizações. Porém, o PSD tem uma visão corrompida da economia de mercado. Em Portugal, as privatizações são artifícios para conservar os privilégios de meia dúzia de famílias e de clientelas corruptas que identificam o interesse nacional com os seus próprios interesses privados: privatização total do Estado, isto é, feudalização do Estado, eis a fonte da corrupção portuguesa, responsável pelo mal-existente nacional. Quando se fala no atraso histórico de Portugal, convém defini-lo como a incapacidade histórica de avançar para o capitalismo, sem lhe impor a mordaça feudalizante ou mesmo «asiática» - o despotismo oriental - que atrofia as energias criativas da sociedade civil, adiando constantemente a grande ruptura, a única mudança qualitativa capaz de abrir as portas ao futuro de Portugal. As classes fraudulentamente privilegiadas portuguesas temem o capitalismo e com razão, porque não teriam lugar de destaque numa sociedade verdadeiramente capitalista. Na verdade, penso que ainda não temos um diagnóstico completo do atraso histórico de Portugal: aqueles que nos querem salvar são os nossos próprios coveiros. Os reformados sobre-remunerados - como Eduardo Catroga e outros - deviam deixar o espaço público livre para a emergência de novas forças criativas, mas aqueles que pretendem encarná-las não merecem confiança: os novos políticos - a geração rasca de políticos nacionais e europeus - já são o produto de um ensino degradado. Saber identificar as figuras criativas e conquistá-las para a grande política é libertar Portugal desses poderes obscuros que capturaram o Estado. Resgatar o Estado português, libertando-o da captura corrupta, eis uma das prioridades da grande política nacional.

Anexo. Infelizmente, os portugueses não são bons psicólogos: a agressividade verbal e comportamental do PSD não seduz uma mente instruída. Fazer um vídeo português para sensibilizar a compaixão dos finlandeses é reconhecer o seu próprio estado de menoridade: os portugueses precisam de cultivar a mente para não fazerem figuras tristes na arena mundial. O futuro de Portugal depende da inteligência dos portugueses e não da compaixão dos estrangeiros. Como se pode promover a imagem de Portugal no mundo quando internamente não se conhece Portugal? Onde está a "verdade" do PSD? Não a vejo - vejo apenas a redução da política ao jogo do insulto e do ataque pessoal. Onde estão os homens íntegros do PSD? Não os vejo - vejo apenas seres encharcados em más hormonas que chamam mentirosos aos outros. Onde está o programa do PSD? Não o vejo - vejo apenas a intenção escondida de privatizar para garantir a sobrevivência dos seus dirigentes e da sua rede social restrita de apoio. O futuro de Portugal joga-se nestas eleições legislativas: os portugueses possuem todos os dados necessários para tomar uma decisão racional. Porém, se não souberem fazer um uso racional do voto, serão mais uma vez co-responsáveis pelo estado de miséria em que nos encontramos há mais de trinta anos. (A alucinação colectiva que se apoderou dos governantes - incluindo as oposições - e dos governados leva-nos a questionar a eficácia da democracia em tempo de crise e de paz: o abuso generalizado da democracia produz as condições necessárias ao advento da ditadura.) As crises são momentos conjunturais favoráveis à ruptura radical com o mal-existente. Cabe à imaginação política protagonizada por um partido esclarecido saber aproveitar a crise nacional para arrancar Portugal do atraso estrutural e histórico. Reinventar Portugal: eis o programa político que o próximo governo deve articular com o cumprimento do acordo com a troika.

J Francisco Saraiva de Sousa

7 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O PSD só sabe articular uma palavra - Mentira! Somos reconduzidos ao paradoxo do cretense: Quando um mentiroso chama mentiroso ao rival estará a mentir!?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Infelizmente, os portugueses não são bons psicólogos: a agressividade verbal e comportamental do PSD não seduz uma mente instruída - não merece confiança. Onde está a "verdade" do PSD? Não a vejo - vejo apenas a redução da política ao jogo do insulto e do ataque pessoal. Onde estão os homens íntegros do PSD? Não os vejo - vejo apenas seres que chamam mentirosos aos outros. Onde está o programa do PSD? Não o vejo - vejo apenas a intenção escondida de privatizar para garantir a sobrevivência dos seus dirigentes.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O PSD é cada vez mais o partido dos MALCRIADOS! :(

JR disse...

Se reparar bem, a esmagadora maioria dos políticos que por aí andam vêm directamente dos aparelhos partidários onde fazem toda as escola não do servir a nação, mas do servir-se da nação.
A solução só no médio prazo, se formos capazes de expulsar todos estes oportunistas e, pior que tudo, sem competência gestora ou governativa.
Continuem. O que é preciso é agitar o pântano. Certamente, com algum tempo, dos vários movimentos de protesto, individuais ou colectivos, começarão a surgir alternativas.
E pelo menos mostrar a estas gentinhas que algo está a começar a mover-se.
Eles que se preparem para tremer. Tremer muito.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, é preciso fazê-los tremer e muito... Estão a colonizar-nos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, a equipa de manutenção do blog apagou o comentário que João Raposo deixou aqui, bem como a minha resposta. Como tenho o comentário no email, vou reproduzi-lo aqui:

"Se reparar bem, a esmagadora maioria dos políticos que por aí andam vêm directamente dos aparelhos partidários onde fazem toda as escola não do servir a nação, mas do servir-se da nação.
A solução só no médio prazo, se formos capazes de expulsar todos estes oportunistas e, pior que tudo, sem competência gestora ou governativa.
Continuem. O que é preciso é agitar o pântano. Certamente, com algum tempo, dos vários movimentos de protesto, individuais ou colectivos, começarão a surgir alternativas.
E pelo menos mostrar a estas gentinhas que algo está a começar a mover-se.
Eles que se preparem para tremer. Tremer muito."

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É preciso fazer estremecer os partidos políticos portugueses! :)