terça-feira, 3 de março de 2009

Prós e Contras: Dúvidas Bancárias

Prós e Contras debateu hoje (2 de Março de 2009) um tema deveras interessante, a crise financeira perspectivada a partir das "operações duvidosas" da Caixa Geral de Depósitos denunciadas por Fernando Ulrich e da cultura da ganância que levou muitos portugueses a "especular" através do Banco Privado Português. De certo modo, o debate foi um mosaico: o debate das operações da CGD que opôs Fernando Ulrich e Silva Lopes a Jorge Tomé, na primeira parte, o debate da crise financeira e económica na segunda parte e, finalmente, a suposta falta de cultura financeira dos clientes do BPP na terceira parte. Porém, a intervenção de Jorge Tomé (CGD) na primeira parte deve ter assustado os portugueses e incomodou Fátima Campos Ferreira que contava os minutos apagados pela voz alienada deste participante: uma linguagem prolongadamente obscura, autoritária, soluçada, pastosa e mastigada que, num primeiro momento, tentou questionar o estatuto público da Caixa Geral de Depósitos, como se o seu corpo administrativo fosse autónomo em relação ao Estado, de modo a justificar os seus "pecados actuais", nomeadamente a "compra de acções", o empréstimo de avultadas quantias a privados que as usaram de modo pouco transparente, o redopio de capitais e de pessoas entre a CGD e o BCP, o facto de se imiscuir na banca privada e nos seus conflitos, a "perda de dinheiro", enfim uma série de operações levadas a cabo para "enriquecer alguns" e não para garantir o interesse nacional. Usei algumas expressões marcadamente críticas de José Silva Lopes, porque foi o único que soube desmistificar a linguagem obscura de Jorge Tomé, lembrando-lhe que a CGD é um banco público. Ora, Silva Lopes é "intervencionista" e não "neoliberal": defende o papel regulador do Estado e a noção da Caixa Geral de Depósitos como banco público, o "banco de todos os portugueses". A sua missão é zelar pelo interesse nacional e não, como parece estar a suceder, pelo interesse de privados ou até mesmo pelo interesse ubíquo de alguns dos seus administradores que gostam de circular livremente do sector privado para o sector público e vice-versa, num passo de dança cujo vector económico doméstico todos devíamos conhecer. António Mendonça lembrou que, no passado muito recente, o PSD tentou compulsivamente privatizar a CGD. Bem, em Portugal, privatizar significa, pelo menos uns poucos anos depois do 25 de Abril de 1974, uma oportunidade de enriquecimento fácil para alguns bailarinos administrativos cujo passo de dança consiste em passar magicamente de uma situação precária para a condição de empresários ou de homens ricos. A dança da corrupção é a grande dança nacional e Lisboa é o seu centro difusor e o seu palco privilegiado.
Numa "situação de excepção" ou de crise profunda e prolongada (António Júlio de Almeida), em vez de proteger os capitalistas e os seus "amiguinhos" gestores do seu próprio umbigo, a CGD devia mostrar "responsabilidade acrescida" (António Mendonça), até porque foi alvo de grandes "injecções de capital" (Fernando Ulrich). Portanto, o que estava em causa não era o estatuto público da CGD, a intervenção do governo ou o facto de "ser o banco mais rentável do sistema bancário português", mas os seus "pecados actuais" e o seu "pecado original": "pagar mais do que devia", intrometer-se na "luta entre os bancos privados", realizar "operações" que lesam o interesse nacional, "perder dinheiro", não estimular a economia, enfim defender a ideia peregrina de "centros de decisão nacional para enriquecer alguns" (Silva Lopes). Jorge Tomé ficou completamente isolado nas suas conspirações retóricas: os seus argumentos a favor da "rentabilidade" elevada da CGD foram esclarecidos e justificados por Silva Lopes pelo "nome e confiança" e pelo facto de "pagar menos pelos depósitos" e de obrigar os contribuintes a "pagar os fundos de pensões", e as suas operações não foram vistas como sendo adequadas ao combate eficaz da crise financeira e económica, os "dois vulcões" (Fernando Ulrich) que não serão extintos de um momento para o outro, como José Sócrates parece ou finge acreditar. A CGD constitui, neste momento de colapso da economia, a "maior preocupação de todos os portugueses" (António Mendonça) e não apenas dos seus executivos e funcionários, como disse Jorge Tomé.
António Mendonça caracterizou a crise financeira e económica a partir de uma invenção portuguesa como a "Dona Branca Global", enquanto Fernando Ulrich preferiu defini-la como uma "crise da perda de confiança", que foi travada pelas medidas dos governos que evitaram assim o colapso de todo o sistema financeiro. Embora a parte financeira da crise seja mais ou menos "conhecida" desde 2007, a sua "parte económica" (Vítor Bento) é ainda desconhecida e é talvez a "mais difícil de explicar". Os dois vulcões são comunicantes e contagiam-se reciprocamente. António Ramalho vê pela frente "quatro armadilhas": a armadilha da busca do culpado (1), quando, na sua perspectiva, todos somos responsáveis, incluindo provavelmente os clientes do BPP que, na sua ganância, investiram em produtos tóxicos; a armadilha de que o Estado pode resolver tudo, nomeadamente através das nacionalizações (2); a armadilha do emprego, quando o ponto fulcral é o desemprego (3) e a armadilha do proteccionismo (4). Na sua perspectiva, é necessário dar respostas adequadas a estes três "desafios" e ver a crise como uma "crise para a mudança", embora não tenha esboçado um projecto de mudança. De certo modo, uma linguagem da esperança, talvez no seu mau sentido, porque o modelo de sociedade que deve ser implantado não foi esclarecido. A crise financeira e económica revela os limites destrutivos da sociedade de consumo e do crédito irracional e, sobretudo, a regressão cognitiva e a atrofia dos órgãos mentais dos seus membros.
A sociedade contemporânea é uma sociedade doente e a deriva do neoliberalismo deu corpo a uma "patologia da normalidade": um estilo de ser, sentir, pensar e agir necrófilo. Os partidos do poder (PS, PSD e CDS) não souberam dirigir os destinos nacionais: a sua acção política, ou melhor, antipolítica, tem sido regressiva e destrutiva. As elites do poder portuguesas nasceram na e pela trapaça: a sua "carreira moral" (Goffman) é uma série contínua de vícios, abusos de poder e trocas de favores, desde a sua entrada no ensino superior até à conquista do poder. Isto significa que a teoria da corrupção pode e deve ser vista como um sector da sociologia do desvio, e, como o desvio praticado pelos corruptos estigmatizados pela falta de vergonha é, à luz das leis da cidade dos homens, um crime, a teoria da corrupção faz parte integrante da criminologia. Em Portugal, o poder é usado e abusado para beneficiar interesses particulares. O abuso de poder pode estar associado a traços esquizóides exibidos por alguns dirigentes políticos que identificam o seu próprio desejo pelo poder com a "causa" que dizem esposar e que interpretam a crítica como insulto e como ameaça da sua suposta "posição de superioridade". A acção destes dirigentes esquizóides é absolutamente destrutiva: os abusadores do poder são necrófilos movidos pela paixão mórbida de despedaçar e destruir as estruturas vivas, transformando-as em estruturas sem vida.
A terceira parte contou com a participação dramática de alguns clientes do BPP que afirmaram ter sido "burlados" pelos comerciais desse banco quando fizeram supostos depósitos a prazo, como se ignorassem a natureza deste "banco de casino" e fossem meros clientes ingénuos que acreditassem na máquina de propaganda dos bancos: a estupidez das pessoas é proporcional à sua ganância. O seu desejo explícito é convencer o Estado a garantir o retorno integral das suas supostas poupanças. Claro, Silva Lopes mostrou-lhes que o Estado não pode garantir os riscos especulativos de todos os privados, sejam ricos ou não. O capitalismo genuíno, sem mácula, é visceralmente, um sistema de riscos: aqueles que fazem o seu jogo, em busca de mais-valias arriscadas, devem assumir os riscos das suas decisões, umas vezes ganhando, outras vezes perdendo. Isto é capitalismo puro: ganhar e perder faz parte da sua essência. Já chegam alguns erros cometidos pelo governo em benefício dos "mesmos privados": a socialização dos prejuízos não é do interesse nacional. Só a corrupção instalada nas esferas de poder sediado em Lisboa pode exigir aos contribuintes que paguem pelos prejuízos de privados avaros: os lucros pertencem-lhes, mas os prejuízos devem, na sua perspectiva egoísta, pouco justa e socialmente pouco responsável, ser cobertos pelos dinheiros públicos. A nossa democracia já é uma cleptocracia: o governo dos ladrões, ladrões que beneficiam ladrões, tal como acontece em qualquer Estado Africano. As dúvidas bancárias são dúvidas políticas e as dúvidas política são dúvidas antropológicas: o que recorrentemente está em questão é a falta de inteligência e de cultura dos portugueses. Apesar do capitalismo ser um sistema sujeito a crises periódicas, devido às suas contradições internas e ao seu nascimento sangrento, a actual crise financeira que ameaça destruir a economia real é antropogénica: os animais corruptos que inventaram engenharias financeiras para enriquecer, fingindo que governavam os seus países e o chamado mundo global, são responsáveis pela gravidade da crise e devem ser punidos severamente, perdendo tudo aquilo que roubaram. A economia capitalista é movida pela ganância do lucro e, para alcançar esse objectivo, é capaz de sacrificar tudo e todos, incluindo a destruição total da Terra e da vida. O capitalismo neoliberal encarna o espírito necrófilo, isto é, a agressão maléfica.
J Francisco Saraiva de Sousa

14 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Acabei de chegar ao Porto, estou cheio de sono e, apesar disso, ainda alinhavei este texto. Revejo-o amanhã com mais atenção. Morro de sono!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, não tive tempo nem oportunidade para comentar mais detalhadamente 3 acontecimentos nacionais:

1. O Congresso do PS foi um apagão total: a consagração de José Sócrates. Compreende-se agora que a sua suposta ala esquerda estava sedenta de poder. Como este lhe foi concedido, está tudo em conformidade. Corrupção é um termo que saiu do vocabulário oficial do PS. O futuro escapa-nos cada vez mais. Basta distribuir cargos e o consenso é alcançado: todos têm fome do mesmo!

2. O jogo entre o FCPorto e Sporting mostrou que as equipas lisboetas jogam antijogo com o FCPorto, ao mesmo tempo que tentam intimidar os árbitros e vencer na secretaria. O futebol perde qualidade devido ao antijogo e à manha de tais jogadores: uma miséria psicológica que pode ser cientificamente analisada por pessoas saudáveis, não por jornalistas e comentadores de la merde! Não estou a aplaudir o jogo do Porto: devia ter contornado essa miséria de jogo do Sporting.

3. Bem, o outro acontecimento refere-se às figuras patéticas do Benfica no seu aniversário: uma ratice completa! Não sei como a águia ainda não devorou esses ratos!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Carolina Salgado continua a mostrar sinais preocupantes de falta de credibilidade e de vigança irracional. Quando hoje foi insultada junto ao tribunal por mulheres que não se identificam com a sua maldade perversa, ela mereceu-o. As pessoas do Porto começam a estar muito arreliadas com as provocações encarnadas e a qualquer momento a raiva contra Lisboa explode: ninguém gosta de ser ferido na sua dignidade e este caso está a magoar a honra da cidade invicta. A corrupção está em Lisboa, bem como a inveja patológica: os clubes lisboetas querem vencer com falta de mérito e ao abrigo de uma campanha maligna orquestrada por pessoas sem dignidade. O antijogo que praticam com o FCPorto, além de reconhecer a superioridade da nossa equipa e do nosso clube, é agressivo, manhoso e viciado. A prova está no facto de terem sido eliminados das taças europeias. Sim, os árbitros estrangeiros não permitem manhas e tentativas de queimar tempo! É esse o futebol que defendem em Portugal? O futebol da mentira! O maior problema de Portugal é falta de sanidade mental e incapacidade de cultivar uma cultura de mérito. Os derrotados não sabem perder com dignidade e tentar melhorar o seu jogo. querem vencer pela sua mediocridade doentia. As gravações podem ser analisadas cientificamente e essa análise mostra de que lado está a razão.

Afirmar que o Benfica é do Norte e do Sul é desconhecer o ódio que a invicta nutre por tal clube. Ora, aqui na invicta quem manda são os portuenses e não os convidados indesejavéis! A maldição será o vosso destino! Podem estar certos disso: as forças celestes preparam uma surpressa para os defensores da mentira!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Espero que os cidadãos honrados da Invicta ajudem a mulher que chamou a dita cuja pelo seu nome! Não foi ofensiva, mas sincera no que disse!

E, ao contrário do que foi dito no programa da RTPN pelos advogados do diabo, a corrupção activa não está no Porto mas em Lisboa. Cada um deles deviam tentar brilhar nas suas supostas profissões e evitar dizer disparates sobre aquilo que desconhecem. O encarnado deve fazer filmes e procurar conquistar audiências para os seus produtos quimeras. Já têm idade para terem juízo. Espero que Rui Moreira compreenda que está entre inimigos que sabem usar estigmas para denegrir as pessoas do Norte, como se eles fossem educados! Talvez educados na escola da alienação e do pensamento distorcido! Gente triste esta!

Fräulein Else disse...

Ahahah!

Mas onde é que o Francisco vive? Vive MESMO no Porto? Vive MESMO no Norte? Ou vive numa redoma e adormece com a utopia?
Não há gente mais ambiciosa, que mais gosta de dinheiro, sob as mais variadas formas, para sua exibição, que no Norte. É gente boa, mas muito materialista, vaidosa e que julgam os outros pelo que têm. Ainda ontem falava com o meu primo que mora no Porto sobre o facto de se gostar tanto de dinheiro aí em cima.

Sabe, as coisas mudam quando sabemos com o que podemos contar. E o povo do Norte n é assim tão "virtuoso"... :(

Muito tráfico... e mais n digo!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Oi Else

Materialista é o mundo actual e o Porto não é excepção. Há algo nas pessoas do Porto que as distingue e isso tem a ver com a sua psicologia e com a própria sociologia da cidade. Porém, esse traço esfuma-se de ano para ano... Ainda ontem falava disso com amigos, mas não sabemos como o definir. Uns dizem que tem a ver com o trabalho e a relação dos empregados com o "patrão". É provável mas esta análise não leva em conta o facto dessa relação estar inserida na cidade, tecido urbano. Eu vejo mais traços comuns do que traços distintivos, mas esta visão pode ser resultado de não ter nascido e crescido na invicta.

E. A. disse...

Lamento, mas não concordo.

No norte é-se objecto de mais inveja se tivermos alguma coisa do que em Lisboa; é-se objecto de mais chacota se sairmos fora da "normalidade"; etc. etc.

O que têm de bom - serem unidos como uma massa uniforme - , fá-los ter visão estreita. Por isso, prefiro Lisboa para viver e só o Porto para me divertir.

O meu comentário deveu-se apenas aos seus comentários, sucessivamente desfasados da realidade. Por isso pergunto se mora no Norte. Há muita corrupção e ladrões no Norte. Traficantes de droga... ui ui...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, droga há muita e a população de consumidores é muito vasta. Mas não é apenas aqui. Portugal consome muita droga que agora é anunciada via telemóvel...

A inveja é um problema nacional e, se a entendi, o tipo que refere deve ser mais visível em áreas pequenas, o que a leva para fora da área metropolitana do Porto. Mas há inveja por todo o lado, em especial no futebol, o objecto que comentei.

A corrupção envolve poderes públicos (Estado) e privados e, como a capital é Lisboa, ela está aí alojada, embora envolva pessoas de todo o país.

Não sou desfasado da realidade: esse argumento é usado para desviar a atenção da realidade. O que comentei pode ser visto e analisado pelas gravações dos jogos e pela análise de conteúdo da imprensa escrita. Estes instrumentos analíticos revelam a verdade. Há campanha negra contra o Porto: é um facto.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Existem pequenos clubes, embora históricos, no Porto que possuem arquivos deveras ricos. Emprestaram-me jornais do tempo do fascismo, onde a corrupção do Benfica é bem evidente e descrita. A minha tese é que o Benfica foi o clube do regime fascista: um facto. O 25 de Abril trouxe nesse aspecto uma mudança: acabar com o predomínio negro do Benfica, o clube beneficiado pelo fascismo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O FCPorto é, pelo contrário, uma criação privada apoiada pela iniciativa privada e não pelo Estado, como sucedeu com o Benfica no período da ditadura fascista. Essa é a marca do Porto: iniciativa privada e trabalho.

E. A. disse...

Bom, o futebol não me interessa.
O Francisco ocupa-se declaradamente de "desalienar" as pessoas, e depois insiste num objecto que tem alienado profundamente o nosso país.

O que não é verdade nem realidade é fazer o elogio ao Porto e ao Norte como uma região ainda virgem e sã da corrupção maldita que se conspira em Lisboa. Isso é mentiroso e não nos ajuda a superar problemas.

E. A. disse...

Ou então é ingenuidade, o que para uma análise crítica, ainda é mais perigoso...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, ingenuidade é o que nos querem vender, aos portistas. Mas somos benignamente agressivos...

Sim, mas eu distingui a corrupção política, a única que deve ser tratada como tal, e as cenas do futebol. Não identifiquei os dois casos; pelo contrário... separei-os.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Para mim, só há corrupção quando o interesse do Estado e da nação é lesado por pessoas que deviam zelar por esse interesse nacional: nunca usar esse poder político para beneficiar interesses pessoais ou privados. O Estado deve estar acima dos conflitos da sociedade civil!