domingo, 29 de maio de 2011

Teologia Feminista

«Teologia feminista é o esforço para repensar as religiões e a teologia a partir de um referencial não patriarcal. O advento da teologia feminista se deu quando a dimensão sexual dos comportamentos, as questões relativas à demografia, à sexualidade e à limitação da natalidade começaram a encontrar sérias barreiras provindas das igrejas cristãs e, particularmente, da Igreja Católica Romana. A teologia feminista é um movimento de contracultura no interior mesmo da cultura religiosa vigente.» (Cláudio, Zekzander)

«O Marxismo não é um ateísmo tal como a física moderna não é uma física anti-aristotélica. (.../...) Teoricamente falando, o marxismo não é um ateísmo, é uma doutrina que, na medida em que a religião existe como obstáculo, se vê obrigado a lutar contra ela. É preciso que isto se diga porque é verdade.» (Louis Althusser)

Tendo como imagem de fundo a Pia Baptismal da Sé-Catedral do Porto, recomendo vivamente a leitura deste texto do meu amigo de luta, Cláudio, autor do blogue Zekzander: Teologia Feminista - um outro olhar sobre a religião. Infelizmente, a filosofia não tem dado a atenção necessária às novas teologias, algumas das quais se servem de determinadas filosofias - incluindo a filosofia de Marx - para renovar e actualizar a mensagem cristã. Apesar do seu ateísmo teórico - ou não (Althusser)!, a filosofia de Marx não permite fundamentar nenhuma teologia. Independentemente de ser patriarcal ou feminista, a teologia é, para o marxismo, uma «ciência sem objecto»: emprestar a feminidade a Deus não altera substancialmente o nosso posicionamento filosófico e político perante a teologia feminista. Mas reconheço ser necessário desconstruir a teologia feminista, pelo menos para a enterrar de vez. E, pessoalmente, "prefiro" (sabendo que não se trata de uma mera questão de preferência pessoal!) um Deus masculino, tal como se revelou efectivamente na história dos homens, porque Ele permite compreender real e criticamente a história da religião monoteísta na sua conexão essencial com o poder político. O discurso feminista ofusca mais do que esclarece a história da exploração e da opressão, fazendo falsamente dela a história da luta dos sexos, em vez de a ver como história da luta de classes, como se pretendesse substituir a dominação masculina pela dominação feminina. O feminismo não é capaz de romper com o discurso da dominação: ele é tão totalitário quanto o seu pretenso opositor. Homens e mulheres carrascos são a mesma coisa - opressores. Neste sentido, uma sociedade governada por mulheres não seria melhor que a sociedade governada por homens, e um(a) Deus(a)-Mãe - curiosamente esta figura não é estranha ao catolicismo que ousa falar da Mãe de Deus, a blasfémia das blasfémias! - não seria melhor que o "nosso" Deus-Pai. Porém, não é Deus - e muito menos a questão ridícula do sexo de Deus - que está em causa numa controvérsia científica ou filosófica, mas a ideologia dominante que o usa para justificar a opressão e legitimar o poder instituído. A teologia da libertação soube libertar Deus da prisão do poder instituído e fazer dele o atiçador teológico do protesto contra a opressão.

Anexo. A desconstrução dos feminismos é uma tarefa urgente de todo o pensamento que ainda merece ser chamado filosófico. A noção de história como guerra dos sexos é uma invenção da sociedade metabolicamente reduzida, a sociedade condenada a devorar-se a si própria nesse fastidioso processo de trocas metabólicas do homem com a natureza e com os outros homens: o pensamento de esquerda que abraça o feminismo perde a sua identidade histórica e faz o jogo necrófilo do capitalismo. Foi a pensar neste perigo real que, num texto anterior, avancei com uma nova tese sobre o objectivo derradeiro da nova prática política marxista: adiar a catástrofe final. (Sim, é verdade que o recurso a Althusser me tem ajudado a substituir a "escatologia" pelo Apocalipse! Um marxismo apocalíptico? Devo confessar que o conceito me seduz, tal como seduziu Ernst Bloch quando escreveu a última secção de O Espírito da Utopia: Karl Marx, A Morte e O Apocalipse. Mas há outra influência que não tem sido nomeada: o pensamento (proto-filosófico) dos astecas.)

J Francisco Saraiva de Sousa