terça-feira, 13 de março de 2012

Prós e Contras: O que falta cumprir?

Cidade do Porto
Em Portugal, alguns sabem aquilo que deve ser feito para conquistar o futuro, mas os decisores políticos adiam por tempo indeterminado a efectivação dos planos adequados de desenvolvi-mento e, quando os realizam, já é tarde demais: a corrupção política instalada nos aparelhos de Estado - no sentido de Althusser - bloqueia a sociedade portuguesa, condenando-a a um atraso estrutural jamais superado em qualquer período histórico.

«A lógica, por si só, permanece exangue e estéril; não nos traz qualquer fruto do pensamento, se o pensamento (informado) o não conceber por outro lado». (John de Salisbury)

Ando muito ocupado à procura de um livro que deve estar algures perdido nalguma secção da minha biblioteca: quero escrever sobre a Sé-Catedral do Porto, para a colocar entre as grandes catedrais da Europa Medieval, mas o livro teima em esconder-se, obrigando-me talvez a comprar outro se ainda estiver à venda nas livrarias. Com esta desculpa pretendo mostrar o meu desencanto com o teor do debate Prós e Contras de ontem (12 de Março). Sempre que um debate desperta a minha curiosidade intelectual arranjo tempo para o meditar. Mas o debate sobre o que falta cumprir do acordo da troika deixou-me perplexo e preocupado: Carlos Moedas (Secretário de Estado), Eurico Dias (PS) e Pedro Reis (AICEP), três figuras mais novas do universo político português, desiludiram-me com a sua falta de experiência de vida, com a sua perda do bom-senso, com o seu conhecimento lacunar e com a sua insensibilidade social. Foi Basílio Horta (PS) que salvou o debate da "guerrinha medíocre" entre Eurico Dias e Carlos Moedas, com o último a acusar os "socialistas" de lhe darem "tiros". (Mas como é que Eurico Dias pode dar tiros se ele não sabe manejar a arma da crítica? Ai, onde está o PS de outros tempos, o PS de Mário Soares?) Ficámos a saber que existe uma guerra - mais precisamente uma troca de tiros - no seio do actual governo chefiado pelo Ministro das Finanças, já que Passos Coelho se auto-demitiu das suas funções de Primeiro-Ministro: a demissão do Secretário da Energia foi o primeiro sinal da desagregação do governo, aguardando-se já a queda do Ministro da Economia. (A todo-poderosa EDP, de olhos chineses, manda no governo!) Se não fosse a astúcia dialéctica de Basílio Horta, a voz do PS teria sido silenciada por Eurico Dias, cujo cérebro carece de vocação política e de cultura de Esquerda. Em síntese, o discurso de Carlos Moedas foi o seguinte: Como Portugal viveu acima das suas possibilidades, agora os portugueses "têm de sofrer", o governo deve ser duro a implementar o programa de ajustamento imposto pela troika, comportar-se como "bom aluno", prestar vassalagem a Angela Merkel e levar a cabo o empobrecimento do país, porque "não há dinheiro", "não há alternativa". Enfim, a recessão e a pobreza são inevitáveis: Carlos Moedas apelou ao consenso nacional em torno da pobreza e da miséria. O caminho da pobreza foi apresentado como o único caminho para abolir o problema que é a existência de Portugal. Pedro Reis que é mais papista do que o Papa, aconselhou os portugueses a silenciar as suas vozes e a aceitar resignadamente o empobrecimento. (Afinal, quem quer investir num país empobrecido, entregue materialmente a homens insensíveis, mais preocupados com o seu destino pessoal do que com o destino nacional, e espiritualmente ao segredo dos deuses?) Eurico Dias esteve quase sempre ausente do debate, porque, quando intervinha, introduzia novos elementos extraterrestres, sem saber do que se falava. Basílio Horta revoltou-se contra o discurso do consenso e defendeu a crítica, mostrando que há dois caminhos: o caminho do crescimento e do emprego, o caminho do PS, e o caminho da consolidação orçamental sem perspectiva de futuro, o caminho seguido pelo governo de Direita açoitado com vara curta pelo Ministro das Finanças. Pouco mais há a dizer sobre este debate, aliás um debate sem história!, a não ser o seu desenlace. Basílio Horta aproveitou a última intervenção de Carlos Moedas, onde o Secretário Adjunto remeteu o futuro para o segredo dos deuses, para confirmar a sua suspeita fundamentada: Afinal, o governo não tem "horizonte de esperança". Carlos Moedas ficou sem palavras! Lá no fundo ele também não deve apreciar a anti-política orquestrada pelo Ministro das Finanças!

J Francisco Saraiva de Sousa

1 comentário:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O governo está a liquidar a economia e a gerar desemprego!