segunda-feira, 25 de junho de 2012

De regresso à Botânica

Ceropegia woodii, Corações unidos

Flor de Cera 

Tenho andado a fazer uma campanha de sensibilização botânica: os portugueses são de tal modo seres brutos que carecem de sensibilidade estética. A minha paixão pelo mundo das plantas remonta à minha infância quando o meu pai me brindava com plantas exóticas. Sou por vocação mais zoólogo do que botânico, mas nessa altura as pessoas pensavam que iria seguir engenharia agrónoma, até porque já fazia experiências botânicas ousadas para a minha terna idade. As trepadeiras sempre me fascinaram: a minha estufa era toda ela coberta por trepadeiras. A frescura e a humidade resultantes permitiam-me cultivar plantas exóticas, quase todas elas provenientes de África. As violetas africanas - dobradas e singelas - predominavam, embora tivesse uma boa colecção de begónias, de gloxínias, de orquídeas, de jarros e de tantas outras plantas exóticas. Os canteiros que tinha no interior da estufa foram palco de algumas experiências engenhosas: a competição entre plantas fascinava-me e eu sabia que, para ter sucesso na reprodução das violetas, devia plantar as folhas - praticamente sem caule - à sombra de outras plantas. (Raramente as colocava num frasco ou copo com água, como faziam certas pessoas!) A exploração desses espaços interiores e escondidos pela luxuriante verdura das grandes plantas justifica o sucesso da reprodução das violetas africanas. Alarguei este princípio a outras plantas e verifiquei que os corações unidos conseguem eliminar todas as outras concorrentes tomando posse total do canteiro. Até mesmo as begónias eles conseguiram eliminar. Depois dos quatorze ou quinze anos de idade fui forçado a concentrar-me na minha real vocação zoo-antropológica. No entanto, a minha tese de mestrado ainda dedica algumas palavras à nova botânica. Hoje não tenho praticamente plantas, com excepção de violetas africanas ou de orquídeas. As plantas exigem muitos cuidados e, por vezes, é difícil tratá-las e libertá-las das suas doenças: os tratamentos recomendados também as podem matar. A vigilância constante é o melhor meio de conservar a saúde das plantas de interior. Quem tenha violetas africanas sabe que pode libertá-las dos parasitas usando um simples cotonete.

A prática da biologia esteve sempre ligada à biofilia. A emergência da biologia molecular quebrou esta união orgânica, fazendo desaparecer o naturalismo. Hoje em dia há milhares ou mesmos milhões de "amigos de tudo e de nada", e, nas redes sociais, proliferam inúmeras causas. A maior parte dos utentes dessas redes limita-se a seguir as "manadas virtuais", colocando automaticamente os seus "likes" em diversas causas incompatíveis entre si. Se há alguma coisa que as liga entre si, desconfio que, além da estupidez, é o ódio pelo homem. São "amigos dos animais ou das plantas" porque odeiam o homem: o seu niilismo antropológico é sintoma de antropofagia ou mesmo de desejo de aniquilação humana. Na verdade, os utentes da Internet não sabem nada de nada. Às vezes sou levado a pensar que estou a dialogar com programas de computador estúpidos. Mas não são os programas e as plataformas que são estúpidos; os utentes é que são absolutamente estúpidos. Alguns dos "amigos dos animais" auto-denominam-se de "zoófilos", sem suspeitar que a zoofilia é classificada como uma parafilia. Acho que nunca houve na longa história do homem uma era tão povoada de burros diplomados como a nossa. Em Portugal, eu só vejo burros, uns diplomados, outros não diplomados, mas todos são burros que cultivam a ignorância activa. A burrice está tão alastrada que, por vezes, quando vou ao café, sou forçado a escutar lições de biologia, de medicina ou de história dadas por um burreco que nem o décimo segundo ano concluiu. Não adianta usar um argumento de autoridade, porque os burros alegam que têm "direito à opinião". Estou cansado desta ralé portuguesa. E estou cada vez mais elitista: o meu desejo é aniquilar a ralé, mesmo que para isso tenha de defender uma ditadura pedagógica ou mesmo o eugenismo. Já não suporto ouvir as vozes destes burros portugueses. O eugenismo foi pensado desde Platão até hoje para proteger os mais aptos das investidas da turba medíocre. Cultivar o mérito já é uma forma de eugenia. Infelizmente, a esquerda contribuiu para o triunfo da mediocridade, destruindo desde logo o ensino e a educação. O fracasso total do 25 de Abril fornece uma nova chave de leitura da ditadura de Salazar. Por vezes, suspeito que Salazar conhecia demasiado bem a natureza arcaica dos portugueses, dando-lhes o tratamento adequado: o regime do silêncio. A gritaria que reina desde o 25 de Abril leva-nos a apreciar esse bem precioso que é o silêncio, sem o qual não conseguimos pensar. Os portugueses são zombis que gritam de manhã à noite. Não teríamos chegado a este estado caótico de gritaria se o sistema de educação tivesse desempenhado o seu papel de triagem: seleccionar os melhores. As escolas não são centros de igualização: a função da escola é realizar uma triagem, separando os dotados dos não-dotados, os quais devem ser encaminhados para outras funções. A realidade social vigente implica uma mudança de função da teoria crítica. Se no passado defendeu a igualdade, ela é hoje forçada a defender a mudança radical que permita aos melhores dominar a ralé. As massas não fazem a história; as massas são moldadas pela história realizada pelos homens mais criativos. Para garantir a evolução do conhecimento científico, é preciso vedar o seu acesso. As vozes dos "amigos de tudo e de nada" devem ser silenciadas. Precisamos de silêncio para pensar o futuro da humanidade e do planeta. Pensar é um exercício solitário; não é uma actividade colectiva. O conhecimento exige esforço e disciplina; é uma actividade penosa. O chicote deve ser usado para disciplinar as massas nas actividades produtivas.

Lá por defender o chicote para disciplinar as massas não deixei de ser um homem de esquerda; pelo contrário, estou a atribuir à esquerda um novo projecto político. O meu conhecimento biomédico - e filosófico - foi precedido por um longo período de educação, cuja escola foi a própria natureza. Esta educação informal - realizada no terreno sob orientação dos pais - é mais rica do que a educação formal dada pela escola. Quando escutava as lições do professor de biologia, tinha consciência de que sabia mais do que ele, que nunca tinha explorado uma floresta, uma savana ou a região africana dos grandes lagos. De certo modo, auto-eduquei-me e os meus pais fomentaram sempre o meu espírito de independência, sem permitir que ele fosse eclipsado por acção de professores medíocres. O ensino administrado pelas escolas portuguesas foi sempre uma merda: o que me salvou da mediocridade portuguesa foi o contacto com estrangeiros, sobretudo com ingleses e alemães. Mesmo quando realizei uma experiência "aristotélica" para explicar a origem da vida, eles apoiaram-me, embora soubessem que estava no caminho errado, porque a minha experiência demonstrava a impossibilidade de surgir vida lá onde ela já existe. Compreendi rapidamente o meu erro e fiz uma dissertação quase-molecular. Não tinha mais de oito anos de idade e já falava a linguagem da biologia molecular. Apesar de ser muito analítico e reducionista, nunca senti essa oscilação entre uma vocação molecular e uma vocação naturalista: a biologia foi sempre para mim a arte de conjugar essas duas vocações. Porém, confrontado com a miséria dos programas de biologia em vigor, sou forçado a privilegiar a base naturalista da biologia. Hoje os alunos não sabem nada: se lhes dermos uma folha para classificar, eles não o sabem fazer, porque não aprenderam classificação do reino vegetal. Aliás, eles não aprendem realmente as bases morfológicas, fisiológicas e evolutivas das ciências da vida. Em Portugal, a ralé que ascendeu com o 25 de Abril justifica o carácter minimalista dos programas, alegando temer a traumatização das crianças. O conhecimento é, por natureza, um trauma. E, sendo assim, é preciso poupar as crianças desse trauma, usando a escola mais como um meio para conversar e socializar do que como um centro difusor de conhecimento. O resultado desta política da educação sem trauma é a produção em massa de pessoas diplomadas sem conhecimentos. Todos são iguais à luz da ausência de conhecimentos: a igualdade implantada é a igualdade da burrice. A passagem do analfabetismo do Estado Novo ao analfabetismo funcional do Estado Democrático é tida como um progresso da sociedade portuguesa. Mas lá onde a ralé triunfante vê progresso, eu vejo regressão: os burros mais insuportáveis são precisamente os diplomados. Estarão as novas gerações portuguesas preparadas para conquistar o futuro? Infelizmente, não estão... Portugal não tem futuro. Com este texto dou início ao estudo da botânica.

Anexo: A minha campanha de sensibilização botânica dos portugueses começou no facebook e na página comunitária Eu Amo o Porto, onde escrevi: "Com as Descobertas Portugal teve todas as oportunidades para desenvolver a exploração geográfica da terra e a ciência natural, mas não as soube aproveitar: a brutalidade dos portugueses é genética. O povo português é arcaico e saloio. O 25 de Abril fez emergir a brutalidade dos portugueses, seres destituídos de inteligência cultivada e castrados de sensibilidade estética. Acho que foi durante a ditadura de Salazar que apareceu uma tentativa de educar a sensibilidade dos portugueses: os concursos dos jardins mais bonitos das estações ferroviárias. Hoje não há jardins: há porcos". Gostava de ver o Porto a liderar um programa de exportação de plantas e flores exóticas: a genética - aliada à tecnologia - permite fazer milagres. Mais: desejo o regresso de canteiros floridos à cidade do Porto, embora saiba que os portugueses são ladrões. Sim, roubam as plantas dos jardins públicos! As orquídeas adaptam-se bem ao clima do Porto. Ainda recentemente tive diversos vasos de orquídeas na varanda e elas floriam abundantemente todos os anos. Infelizmente, não consegui combater uma praga que as matou: agora só tenho orquídeas exóticas dentro de casa. E, neste momento, têm cachos de flores. Elas não gostam muito de sol directo, pelo menos no verão. Quanto às violetas africanas, não as tenho reproduzido, porque plantas e livros nem sempre se articulam bem. Para ter plantas saudáveis em casa, é necessário adaptar a própria casa: as plantas não gostam de estar sozinhas, isoladas umas das outras. Elas querem companhia para formar um micro-sistema ecológico dentro de casa. As plantas socializam umas com as outras. Se tiver espaço em casa, recomendo vasos comunais: misture plantas compatíveis num mesmo vaso e saiba conservar a humidade. Mas não ponha os corações unidos nesses vasos com outras plantas, porque o seu crescimento acaba por eliminar as outras plantas. Eles ocupam sozinhos um desses vasos e, mesmo assim, se estiver distraído, tentam conquistar o território dos vasos anexos.

J Francisco Saraiva de Sousa

1 comentário:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há duas variedades de uma planta exótica linda que cultivei que deixei de ver: estou preocupado com o seu destino. Considero-a linda para decoração de interiores iluminados.