sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

2011: O Regresso de Marx

«A história de toda a sociedade até aos nossos dias mais não é do que a história da luta de classes.
«Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre-artesão e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, travaram uma guerra contínua, ora aberta, ora dissimulada, uma guerra que acabava sempre ou por uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou pela destruição das duas classes em luta.» (Marx/Engels)

«O movimento histórico que converteu os produtores em assalariados apresenta-se, por conseguinte, como a sua libertação da servidão e da hierarquia industrial. Por outro lado, estes libertos não se tornam por si mesmos vendedores, senão depois de terem sido despojados de todos os meios de produção e de todas as garantias de existência, oferecidas pela antiga ordem de coisas. A história da sua exploração não é matéria de conjectura: está escrita nos anais da humanidade em indeléveis letras de sangue e de fogo.» (Karl Marx)

«Nos anais da história real é a conquista, a escravidão, a rapina à mão armada, a regra da força brutal que tem sempre a última palavra. Nos manuais hipócritas da economia política, o que, pelo contrário, sempre tem reinado é o idílio. Se fossemos a acreditá-los, teríamos de dizer que jamais houve, a não ser no ano corrente, outros meios de enriquecimento que não sejam o trabalho e o direito. De facto, os métodos de acumulação primitiva são tudo o que quisermos, menos objecto de idílio.» (Karl Marx)

«O regime da dívida pública implantou-se primeiro na Holanda. A dívida do Estado, a sua venda, seja ele despótico, constitucional ou republicano, imprime a sua marca à era capitalista. A única parte da chamada riqueza nacional que é realmente objecto de posse colectiva dos povos é ... a dívida pública. Por isso, a doutrina moderna revela coerência perfeita ao sustentar que uma nação é tanto mais rica quanto mais está endividada. O crédito público torna-se o credo do capital. E o pecado contra o Espírito Santo, para o qual não há perdão, é substituído pelo (pecado) de não ter fé na dívida pública. /A dívida pública converteu-se numa das alavancas mais poderosas da acumulação primitiva. Como uma varinha de condão, ela dota o dinheiro de capacidade criadora, transformando-o assim em capital, sem ser necessário que o seu dono se exponha aos aborrecimentos e riscos inseparáveis das aplicações industriais e mesmo usurárias.» (Karl Marx)

«Essa expropriação opera-se pela acção das leis imanentes à própria produção capitalista, pela concentração dos capitais. Cada capitalista elimina muitos outros capitalistas. (...) À medida que diminui o número dos magnatas capitalistas que usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação, aumentam a miséria, a opressão, a escravização, a degradação, a exploração; mas cresce também a revolta da classe trabalhadora, cada vez mais numerosa, disciplinada, unida e organizada pelo mecanismo do próprio processo capitalista de produção. O monopólio do capital passa a entravar o modo de produção que floresceu consigo e sob a sua influência. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho alcançam um ponto em que se tornam incompatíveis com o envoltório capitalista. O invólucro rompe-se. Soa a hora final da propriedade privada capitalista. Os expropriadores são expropriados.» (Karl Marx)

«Mas, se uma população trabalhadora excedente é produto necessário da acumulação ou do desenvolvimento da riqueza no sistema capitalista, ela torna-se por sua vez a alavanca da acumulação capitalista, e mesmo a condição de existência do modo de produção capitalista. Ela constitui um exército industrial de reserva disponível, que pertence ao capital de maneira tão absoluta como se fosse criado e mantido por ele. Ela proporciona o material humano ao serviço das necessidades variáveis de expansão do capital e sempre pronto para ser explorado.» (Karl Marx)

«"O que fazer com os desempregados?" Enquanto se avoluma cada ano o número de desempregados, não há ninguém para responder a essa pergunta; e quase podemos prever o momento em que os desempregados perderão a paciência e encarregar-se-ão de decidir o seu destino, com as suas próprias forças. Num instante desses, deverá ser ouvida a voz (de Karl Marx), cuja teoria (faz "soar o dobre de finados da ciência económica burguesa" e do capitalismo.)» (Friedrich Engels)

«Mas a violência joga também outro papel na história, tem um papel revolucionário: é, segundo a frase de Marx, a parteira de toda a velha sociedade prenhe de outra nova sociedade, é o instrumento com a ajuda do qual o movimento social se dinamiza e rompe formas políticas mortas». (Friedrich Engels)

Para finalizar este conjunto de referências textuais dos fundadores do marxismo, não resisto a citar uma frase de Marx que nos ajuda a enterrar a filosofia produzida nas últimas quatro ou cinco décadas, sob a influência nefasta desse alienado mental e cognitivo que foi Nietzsche: «Hoje em dia, o próprio ateísmo não passa de um pecadilho, em confronto com a blasfémia de criticar as relações consagradas de propriedade» (Karl Marx) ou mesmo dos chamados direitos adquiridos. Até aqui tenho criticado o neoliberalismo das últimas três décadas, mas a sua génese recua no tempo, sendo anterior à II Guerra Mundial, como atesta a obra económica e política de Walter Lippmann, ele próprio um neoliberal reaccionário. Ao abandonar a teoria do valor-trabalho de Ricardo e de Marx, a ciência económica tornou-se incapaz de produzir uma história económica do Ocidente, sobretudo do período posterior à II Guerra Mundial. Ora, nós precisamos dessa história económica para condenar o capitalismo tardio. A lógica imanente do capital destruiu a educação e o ensino: o capitalismo precisa não de cidadãos informados mas de consumidores passivos e ignorantes.

J Francisco Saraiva de Sousa

7 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Vou dedicar o próximo ano ao estudo de Marx e à actualização da teoria marxista, em termos económicos e filosóficos!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Só há uma maneira de sair da crise: lutar contra os opressores e destruir o sistema estabelecido.

LUTA CONTRA O SISTEMA DE OPRESSÃO!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Quando referi Nietzsche, fi-lo com a intenção de criticar o nihilismo afirmativo de Deleuze e a sua destruição da modernidade de Descartes a Hegel.

Deleuze pode ser visto como um homem de esquerda, mas não é: a sua fenomenologia pós-moderna é a apologia ideológica do capitalismo tardio. Deleuze aprecia a descodificação ilimitada e generalizada do capitalismo. Como descodificação generalizada - destruição de toda a identidade e valor ontológicos, o capitalismo é profundamente nihilista e esquizofrénico.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O capitalismo descodifica, para logo a seguir voltar a introduzir códigos, limites, identidades: o desejo é funcionalizado para produzir cada vez mais capital - mais descodificação, mais desterritorialização e mais desregulação. A sociedade capitalista produz esquizos e encerra-os ao não poder normalizá-los mediante o Édipo. O que a impede de conduzir ao caos negador de toda a sociedade é o facto da descodificação ser acompanhada pela constante recodificação do desejo. O capitalismo é o limite de toda a sociedade.

O corpo sem órgãos - o capital - é o estado de indiferenciação: o esquizo não tem eu fixo e, por isso, está disponível para novas experiências desejantes - as do capital. A esquizo-análise é apologia da promiscuidade...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Enfim, não podemos levar a sério as filosofias ideológicas de Foucault e de Deleuze: dois franceses da merde!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Como é que uma criatura destituída de eu pode ser livre? O nihilismo deleuziano permite analisar a patologia reinante: as máquinas desejantes humanas são necrófilas!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bem, passei a noite a ler Deleuze e Guattari... que, juntamente com Foucault, produziram uma "filosofia gay"!

Guattari é um revolucionário: a sua luta inscreve-se nos três planos - militante da causa operária, analista e teórico. Economia política e economia do desejo (libidinal), máquinas desejantes, inconsciente órfão, máquina paranóide e máquina esquizofrénica, homossexualidade e devir mulher, luta de classes como luta de desejos, a positividade do inconsciente, as sínteses, os fluxos, os investimentos, o rizoma, etc. Criticar a esquizo-análise pode resultar num avanço teórico significativo.