terça-feira, 21 de junho de 2011

Prós e Contras: Esperança no Futuro

O anoitecer na Cidade do Porto proporciona aos seus felizes habitantes uma experiência única de elevada intensidade estética: a Ponte da Arrábida liga as duas margens do Rio Douro. O debate Prós e Contras de hoje (20 de Junho) tentou estabelecer uma ponte entre as gerações, mas, ao contrário da Ponte da Arrábida que desafia as forças da natureza sem quebrar, o diálogo inter-geracional promovido por Fátima Campos Ferreira mergulhou de cabeça no falatório. Esta tendência dos portugueses para caírem com facilidade na inautenticidade não permite manter a esperança no futuro: os portugueses não foram talhados para a Filosofia e, como nunca ousaram construir uma "metafísica" (Hegel), não têm alma para reinventar uma nova sociedade. Inês Serra Lopes (jornalista) fez questão de acentuar a inutilidade da Filosofia - claro, a "filosofia" que se ensina nas universidades portuguesas é basura e, como tal, é inútil -, mas o que devemos reter desta declaração gratuita é a incapacidade dos portugueses para pensar o mundo em que vivem. Logo no início do debate, Inês Serra Lopes e Emídio Rangel (jornalista) falaram muito da derrota do PSD em fazer eleger Fernando Nobre para Presidente da Assembleia da República, e Adalberto Campos Fernandes (gestor) e Isabel Vaz (gestora) discutiram a composição do novo governo de Passos Coelho, mas, se espremermos o que disseram, não retemos nada: a queda no falatório marcou desde logo o debate. A intervenção de um jovem da plateia - Miguel Gonçalves - imprimiu um novo rumo ao debate, gerando um consenso entre jovens e grisalhos sem os livrar da queda no falatório. Bem sei que Carvalho da Silva (CGTP-Inter) e Adalberto Campos Fernandes não partilharam o entusiasmo dos seus colegas de geração - António Saraiva (CIP), Isabel Vaz e Inês Serra Lopes - pelo discurso de "bater punho" de Miguel Gonçalves. O apoio grisalho dado ao primeiro discurso de Miguel Gonçalves acabou por fazer com que ele fizesse um segundo discurso extremamente perigoso, sacrificando tudo - incluindo o próprio corpo - à lógica capitalista de ganhar dinheiro. A apologia irracional do discurso do empreendedorismo responsabiliza, em última análise, os desempregados pelo seu desemprego e os pobres pela sua pobreza: o status quo que gera todas estas situações de miséria não é questionado. O que é isto senão pensamento unidimensional - teologia de mercado (Marx)?

Infelizmente, apesar de compreender o alcance relativo do primeiro discurso de Miguel Gonçalves que deslumbrou a inércia mental de Isabel Vaz e o seu desejo sádico de comercializar a doença e o sofrimento, sou forçado a desconstruí-lo, com o intuito de mostrar a incapacidade dos portugueses para pensar a própria globalização, mesmo quando afirmam pensar global. É certo que não conheço em detalhe o discurso de bater punho, mas o pouco que escutei permite-me denunciar a ausência de espírito crítico. O acordo inter-geracional deve-se basicamente à incapacidade dos oradores, tanto dos mais velhos como dos mais novos, para problematizar a ordem social estabelecida: as denúncias "justas" que fazem não os leva a questionar o raiz do mal-existente, porque eles aceitam sem questionar o sistema social que gera as desigualdades sociais e as situações de injustiça que denunciam de modo inconsequente. Ao abolir as formas de tratamento, falando olhos-nos-olhos com os outros, como se todos formassem uma sociedade de tus, supostamente iguais uns aos outros, Miguel Gonçalves definiu de modo lapidar a noção nuclear do discurso de bater punho, uma expressão sexual aplicada ao mundo dos negócios: o CV (Curriculum Vitae) significa, ou melhor, é canal de vendas. As universidades tal como funcionam não estão adaptadas ao mundo global e não sabem ensinar os alunos a vencer na vida e num mundo cujo lema exclusivo é "ganhar dinheiro": o importante é ensinar a vender um produto; o diploma conta pouco quando um jovem se dirige ao encontro de um empresário para arranjar emprego; o que interessa é ter um "produto" e saber vendê-lo. Com esta visão comercial da vida, Miguel Gonçalves está a propor o encerramento das universidades ou, pelo menos, a redução da oferta de cursos a um único curso: aprender a vender um produto para ganhar dinheiro. Todo o processo de socialização é orientado para o mercado: a criança deve aprender, em cada uma das etapas de desenvolvimento, a capitalizar os investimentos que fez nas etapas anteriores, e, quando mais tarde, após ter concluído o seu curso de vendas, se dirige a um empresário para se vender a si própria ou outro produto, deve seduzi-lo com propostas de capitalização. No segundo discurso, Miguel Gonçalves conserva a linguagem da sociedade dos tus, aliás muito distante do modelo antropológico dialógico, mas altera-lhe a substância: o contacto olhos-nos-olhos deixa de ser horizontal e passa a ser vertical. Afinal, o jovem que vai vender o seu produto ou alguma parte do seu corpo encontra-se numa relação de subordinação em relação ao empresário-patrão. A relação dialógica Eu-Tu não funciona no contexto do mercado: aquele que vai vender-se ao patrão não tem rosto e, quando consegue finalmente vender-se após uma série de tentativas fracassadas, perdeu a sua "liberdade" para se converter em empregado mal-remunerado. O facto de Miguel Gonçalves usar uma expressão sexual - bater punho - para designar esta técnica de vendas consecutivas e impulsivas revela até que ponto o mundo dos negócios se identifica com o mundo da prostituição: o indivíduo que se vende ao patrão não é um sujeito entre sujeitos, como supunha a primeira formulação da sociedade dos tus, mas sim um objecto entre objectos. Ganhar a vida significa ganhar dinheiro e ganhar dinheiro é prostituir-se. A redução do mundo a uma série infindável de relações mercantis revela o universo reificado em que se move Miguel Gonçalves, o jovem que vendeu a alma ao Diabo para sobreviver. A sua crueldade afina-se quando redefine a precariedade, desvinculando-a do trabalho precário mal-remunerado. Doravante, os jovens devem vender-se vezes sem conta no mercado laboral sem dar importância à remuneração que recebem. Viver é vender-se - isto é, prostituir-se - no mercado: eis o lema de vida proposto por Miguel Gonçalves que encantou os grisalhos instalados pelo facto de não questionar os seus privilégios adquiridos. O empreendedorismo dos jovens consiste em aceitar a sua precariedade para manter os privilégios dos instalados. O materialismo metabólico desta juventude ignorante - sobre-diplomada mas analfabeta funcional - condena-a à escravidão da privação. De facto, como podemos ter esperança no futuro com estas novas gerações que sacrificam a sua vida em nome do mercado de vendas? Será que ninguém se apercebe do carácter alucinado deste discurso? Será que já não há nenhuma mente sã para denunciar a idiotice reinante em Portugal e no mundo ocidental e reinventar uma nova sociedade? Meus amigos, o discurso de bater punho de Miguel Gonçalves é um discurso onanista e idiota que, com a ajuda das calças de cor clara de Fátima Campos Ferreira, desviou a atenção daquilo que interessa pensar: um novo modelo de desenvolvimento económico, um novo mundo, uma nova sociedade. Uma geração de jovens conformistas - indigentes mentais e cognitivos, autistas e masturbadores compulsivos - não garante o futuro de Portugal.

J Francisco Saraiva de Sousa

7 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Agradeço os convites que me dirigem para fazer parte de diversas redes mas as senhas e os acessos assustam-me. Geralmente, só faço parte de sociedades científicas que me livram dessa pesada burocracia virtual. Mas vou pensar... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há outra razão que justifica as minhas reservas: não gosto de fornecer curriculum vitae. As instituições americanas sabem isso e confiam na minha competência em acção: deixo vestígios digitais que testemunham a minha competência. É esta confiança que distinguem os USA ou a Holanda de Portugal. Eles procuram e encontram cérebros - enquanto Portugal se afunda na sua mediocridade.

INanaCERTEZA disse...

Olá desculpe a invasão, mas quer ganhar dinheiro sem ter de sair de casa? Se sim então vá a este link http://pt.beruby.com/promocode/u3aul1 e/ou http://www.publipt.com/pages/index.php?refid=anadeoliveira

e registe-se. A partir do registo, pode clicar em site, como a Sapo, Facebook, You Tube e ganhar dinheiro. São sites que usa usualmente e a única diferença que vai sentir é mais uns trocos no final do mês na sua carteira.

Estou a contar consigo. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ok, acordei às 6 da manhã para trabalhar, mas logo que tenha tempo vou espreitar os sites que refere.

Bem, o que quis dizer nos 2 primeiros comentários é que trabalho em circuito fechado. Era apenas isso... Mas irei espreitar mais tarde. :)

Megafone disse...

Gostei do seu comentário!
Realmente este discurso do empreendorismo, já começa a ser conversa da treta, é passar atestados de estupidez a quem está desempregado etc etc.
O Miguel Tu Gonçalves mais parecia um vendedor da Remax.
Parecia uma copia do programa do Nicolau Brayner, em que o José Raposo, faz uma rabula.
Cumprimentos

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Miguel Tu Gonçalves, vendedor da Remax - Gostei desta expressão! Thanks, Megafone!

João Figueiredo disse...

http://raistapartisse.blogspot.pt/2012/01/so-you-think-you-can-snitch.html