segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Pensamento Conservador Revisitado

«Há duas grandes forças que continuamente labutam em toda a civilização, e até diríamos em toda a vida humana: a força da tradição, que se encarrega de fixar tudo o que o homem pode fazer e pensar por meio de regras que pretendem existir desde o tempo imemorial, ainda que na realidade sejam de origem muito recente e tenham sido introduzidas hoje ou um dia antes; e, de outro lado, as qualidades criadoras e inventivas do homem, a força da individualidade, a tendência a emancipar-se da tradição, a alterar e melhorar as condições de vida, a não ver o mundo como a tradição nos ensina a vê-lo, mas remodelando-o de acordo com as próprias necessidades pessoais e com a própria razão.» «Toda a grande civilização que realmente mereça este nome aspira a estabelecer um equilíbrio entre ambas as tendências. O mais elevado produto da cultura humana é a livre personalidade dotada de força criadora, o homem que sabe erguer-se firmemente sobre os seus pés, que não submete a sua razão ao jugo da tradição sem inquirir livremente as razões em que se baseia, nem procura destruí-la simplesmente porque se trata de uma tradição.» «Foi na Grécia onde primeiro se revelou a universalidade da vida e do pensamento humanos, da civilização humana, onde apareceu pela primeira vez a verdadeira ideia de homem. O pleno desenvolvimento do individualismo, e, com ele, a verdadeira liberdade do homem, em todos e cada um dos aspectos que englobamos sob este termo, no moral, no político, no intelectual e no artístico, criaram-se espontaneamente pela primeira vez na Grécia e somente na Grécia. Neste sentido, podemos afirmar que, por muitos e grandes que sejam os progressos logrados por ela em tempos posteriores, a nossa civilização (Ocidental), esta poderosa civilização que aspira a dominar todo o planeta, nasceu na Grécia e tem as suas firmes e perenes raízes naquele desenvolvimento maravilhoso e único a que serviram de cenário as costas do Mar Egeu entre os séculos VII e VI a.C.». (Eduard Meyer)

Hoje, sob o signo da Dor de Remedios Varo, proponho a revisitação de alguns textos, onde critico o pensamento conservador. As citações de Eduard Meyer - esse magnífico historiador do mundo antigo, discípulo do grande Theodor Mommsen - ajudam a clarificar a natureza absolutamente ideológica e tradicionalista - anti-modernista e anti-humanista - do pensamento conservador de cariz medieval, que, em vez de reclamar a herança humanista grega, vendo o homem como um ser com existência própria e distinto do resto do mundo, prefere encará-lo como um mero exemplar da espécie, que sente, pensa e actua guiado e dirigido sempre pela tradição teocrática - o carácter traditivo-dirigido de David Riesman que, na história do Ocidente, predominou no decorrer do longo período da Idade Média -, apesar da sua obra tender a alterá-la. Contra o excesso de regulamentação tradicionalista do pensamento conservador - visando o ajustamento milimétrico dos indivíduos rebeldes às condições de existência vigente, como se elas fossem no seu conjunto uma ordenação natural do mundo -, defendemos a utopia de uma vida não-regulamentada: uma sociedade constituída por indivíduos autónomos e introdirigidos. Eis os textos:


J Francisco Saraiva de Sousa

3 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Para ver o quadro ampliado, clique sobre ele! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estou muito feliz pela vasta audiência que este blog tem na Holanda, Alemanha e USA. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E já agora um abraço para os amigos de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Brasil. :)