Robert Mapplethorpe adoeceu com Sida em 1986 e morreu em 1989: a brevidade da sua passagem pela vida confirma a figura romântica do artista que vive depressa e morre jovem. A sua demora na Terra coincide com a Idade de Ouro da comida rápida, do diálogo breve e superficial, do consumo de drogas excitantes, dos amigos efémeros e do sexo de urgência ou casual. A Idade de Ouro foi a idade da libertação das mulheres e das minorias eróticas e étnicas e da realização, mas foi também a Era da Negatividade e do Engano. Com o seu cinismo, Mapplethorpe conseguiu atravessar três décadas americanas de negatividade e de engano: a década dos filhos das flores e da contracultura nova-iorquina clandestina liderada por Andy Warhol (anos 60), a década da Mentira - as mentiras sobre a Guerra do Vietnam e Watergate (anos 70), durante a qual se tornou fotógrafo, e, finalmente, a década da desilusão (anos 80), com a Sida a devolver a homossexualidade ao ghetto e o colapso do comunismo a ser aproveitado para promover a globalização financeira e o neoliberalismo selvagem. Os anos 90 e esta primeira década do século XXI podem ser classificados como as décadas da Corrupção, que mergulharam o mundo na actual crise financeira e económica. As forças reaccionárias da direita conservadora, aliadas à Igreja Católica (Mapplethorpe era de formação católica!) e às seitas protestantes, tentam novamente impedir o reconhecimento legal dos direitos dos homossexuais, como se estivéssemos a entrar numa nova Idade Média. O imaginário fotográfico de Mapplethorpe inscreve-se e insiste na ambiguidade da condição humana. A sua fotografia é a captura do instante sugestivo em que algo se torna ambíguo e se transforma em outra coisa: as flores são órgãos sexuais, a sexualidade é teologia, o rosto é máscara, o espelho é janela, a vida é morte, a cruz é coroa e a luz é treva. Mapplethorpe é o fotógrafo da metáfora: aquilo que fotografava era sempre a sombra ambígua de outra coisa. Porém, esta transformação metafórica de uma coisa em outra coisa deve ser operada pelo olhar do espectador, porque é neste olhar que reside o poder configurador da imaginação e a ambiguidade: o olhar dirigido pela fantasia conhece a imagem da coisa no espelho da sua alma e esta actividade originária da imaginação mostra que a coisa fotografada pode ser transformada noutra coisa. A ambiguidade sugere que o observador que lê apenas a superfície das coisas não apreende a sua verdadeira essência: a transformação ou a sua possibilidade. Aqueles que censuraram as fotografias de Mapplethorpe reconduziram o tema da ambiguidade à sua ambiguidade sexual, sem no entanto referir a androginia na sua essência quase junguiana, como acto ritual - típico da cultura pop (Mick Jagger, David Bowie) - mediante o qual se declara que um indivíduo não é macho nem fêmea, mas carne, não é homem nem mulher, mas humano. Antes de serem machos ou fêmeas (sexo), homens ou mulheres (género), os indivíduos são carne humana, isto é, corpos mortais. Esta concepção da androginia demarca Mapplethorpe da cultura dominante gay, tanto a efeminada como a culturista, que tende a vê-lo como um travesti ou um transformista de espectáculo: Mapplethorpe condena a vaidade inútil dos culturistas gay e não suporta o peso da massa muscular que esmaga as suas personalidades, comparando-os a "pavões reais extraterrestres": as únicas excepções parecem ser Arnold Schwarzenegger que enche os seus músculos com personalidade e Lisa Lyon que sabe vender de modo provocante os estereótipos andróginos.
Baudelaire reagiu energicamente contra a fotografia, não só porque esta punha em causa o emprego dos pintores-retratistas, mas sobretudo porque tinha uma aversão em relação à corrente realista e naturalista e à ideologia cientista em ascensão que impregnavam as produções fotográficas da sua época. Para Baudelaire, uma obra de arte não pode ser ao mesmo tempo artística e documental. A fotografia não é arte, porque o seu papel não é escapar ao real, mas sim conservar o vestígio do passado ou ajudar as ciências no seu esforço de apreensão aprofundada da realidade do mundo. Baudelaire denunciou as confusões entre fotografia e pintura, de modo a distinguir e a clarificar os seus respectivos domínios: a pintura é pura criação imaginária (arte), enquanto a fotografia é mero instrumento de uma memória documental do real (indústria). Embora fosse justificado pelo realismo predominante nas produções fotográficas do seu tempo, o temor de Baudelaire desvanece-se na fotografia artística contemporânea, em especial nas fotografias de Nadar, Stieglitz, Atget, Paul Strand, Edward Weston, August Sander, Walker Evans, Cartier-Bresson, Robert Frank, Richard Avedon, Diane Arbus e Robert Mapplethorpe, que expressam claramente uma revolta contra a realidade estabelecida, em prol de um outro princípio de realidade. Mapplethorpe abraçou intelectualmente a fotografia como arte no seu estado puro, isto é, como ars gratia artis: a fotografia como arte autónoma transcende a moralidade e a imoralidade, ao mesmo tempo que oferece às pessoas verdades subliminares sobre a condição humana que apontam para além das condições de vida e das experiências mutiladas que negam essas verdades originárias. A observação atenta das suas fotografias inquieta e choca os espectadores, porque os confronta com os seus medos, as suas crenças aceites como evidentes e as suas negações, em especial a negação da morte. A formação artística de metáforas não dá tréguas ao mundo das crenças oficiais: o confronto de duas percepções do mundo mina a confiança e a coerência do mundo de mentiras em que vivem os homens, e a transformação operada pelo olhar exige não só a mudança de percepções, como também a mudança de mundos. Mapplethorpe perseguiu o esteticismo puro: a sua arte e a sua vida foram praticamente a mesma coisa.
Os retratos, os nus e os auto-retratos de Mapplethorpe (1996) estabelecem uma gramática estrutural das representações do corpo. O segredo das fotografias de Mapplethorpe não reside nas suas flores, nas suas figuras, nos seus rostos ou mesmo no fetichismo do couro, na escatologia sexual e no sexo-couro (S & M), embora estas últimas fotografias tenham um carácter cortante que intranquiliza o espectador, mas na transcendência do corpo mortal. O segredo de Mapplethorpe revela-se nas suas fotografias de sexo-couro, com as quais mostra uma combinação da beleza com o terror. Desta combinação resulta a revelação de alternativas humanas, o desnudamento das negações da existência humana e a exposição daquilo que os seres humanos são capazes de fazer quando se libertam das hipocrisias institucionalizadas e alcançam níveis intensos de misticismo e de divindade. Tal como um fotógrafo de incidências que procura captar o aspecto do rosto daqueles que são assassinados ou supliciados, Mapplethorpe soube capturar os momentos gráficos perfeitos em que a carne se transcende a si mesma nas ginásticas e nos rituais sexuais muitas vezes terríveis do sexo sadomasoquista, utilizando as excrescências corporais como meios para atingir um estado místico. Para Mapplethorpe, o corpo constitui a via privilegiada do êxtase físico, emocional, filosófico e teológico. Nos auto-retratos de Mapplethorpe, os modos de representação do corpo podem ser agrupados em quatro categorias: a erotização (1), os emblemas ou insígnias (2), o travestismo de disfarce (3) e as vanitas (vaidades) do corpo (4). Na erotização, o corpo é celebrado na sua integridade compacta, de modo a ser desejado, cobiçado, admirado, louvado, sedutor e triunfal: a totalidade do corpo é a imagem corporal do prazer e do "narcisismo" e a sua exaltação expressa a sexualidade. Nas insígnias corporais, o corpo é cortado aos bocadinhos, desfeito, desmembrado ou simplesmente exposto com minúcia, sendo percebido como um objecto de estudo, de escrutínio e de desejo. O corpo é fragmentado e separado em partes para que o desejo sexual possa determinar a atractividade de determinadas zonas corporais. No travestismo carnavalesco, o corpo é pintado, maquilhado, adornado e afectado, para que possa aspirar a ser identificado com um papel sexual ou social: o corpo disfarçado produz um efeito de dissimulação que, multiplicando os signos sexuais e as insígnias corporais, invalida os estereótipos sexuais normalizados pelo mundo das mentiras, ao mesmo tempo que denuncia a farsa da sua própria imagética sexual. A multiplicação das insígnias (ou atributos) de virilidade - em especial do tipo "leather" - produz uma invencível feminização do macho, enquanto a multiplicação das insígnias (ou atributos) femininas produz a impressão de uma "drag queen", tanto nos homens como nas mulheres. Finalmente, na vanidade corporal, o corpo enfraquece à beira da sepultura, anula-se a si próprio, desvanece-se, dissipa-se e desaparece na desintegração da imagem, a qual expressa dramaticamente a confusão, a turbulência e a precariedade que sustêm a existência humana. Na estética, as vanitas (vaidades) são as formas ou expressões artísticas que traduzem a relação conflituosa dos humanos com a morte e a angústia que resulta da consciência aguda da mortalidade. Os últimos auto-retratos de Mapplethorpe (1988) exprimem a vanidade do corpo e a Via Dolorosa da condição humana. No "Self-Portrait, 1975" (que encabeça este post), o jovem Mapplethorpe estende o braço cruzando todo o campo da fotografia, como se o oferecesse à crucificação (crucifixão), cujo ícone atravessa toda a sua obra fotográfica, encontrando a sua apoteose mais religiosa e mística nas fotografias de couros.
Mapplethorpe resgatou diversos tabus da clandestinidade, o último dos quais foi o do sexo-couro. A cultura gay dominante, representada pelos homossexuais efeminados de Advocate, não tinha estima pelos fetichistas do couro e do sexo sadomasoquista, glorificados por "Drummer" - a revista internacional do couro S & M com sede em San Francisco, porque confundia os chicotes, os açoites, as correntes e as cordas do psicodrama ritual com a violência real. Mapplethorpe luta corajosamente contra a cultura dominante, tanto a heterossexual como a gay: a percepção de perigosidade - atribuída pela cultura dominante ao sadomasoquismo - ajuda-o a conferir prestígio aos fetichismos do couro. A sua obra fotográfica sensibilizou e sexualizou a afeição masculina pelas coisas masculinas. Graças à sua visão do universo masculino, os homens heterossexuais aprenderam a olhar de outra maneira para os homens, e os homens homossexuais aprenderam a estimar e a evidenciar mais a sua própria masculinidade. As fotografias de Mapplethorpe foram severamente censuradas, inclusivamente pela confraria gay efeminada, mas todas estas criaturas viscosas deviam ajoelhar-se e dar graças aos homossexuais e às lésbicas por não procriarem, por terem inventado uma sexualidade recreativa e por embelezarem o mundo com todas as coisas poéticas pelas quais "nos diferenciamos dos animais" (Tennessee Williams). Os homossexuais sempre foram os proscritos da sociedade heterosexista e, ao mesmo tempo, a vanguarda artística e intelectual do mundo. Mapplethorpe morto produziu uma sensação mais mediática e universal do que Mapplethorpe vivo: a pessoa que foi converteu-se em símbolo da libertação e do combate contra a homofobia e a heterofobia. Os heterosexistas homofóbicos acabaram por render-se à grandeza da sua obra, alegando que, se tivesse vivido mais tempo, Mapplethorpe teria abandonado esse "equívoco" que foi a sua homossexualidade e casado com Patti Smith, aliás o seu alterego. No túmulo, Mapplethorpe estremece de horror e recita estes versos de um heterónimo de Fernando Pessoa:
«Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos? «Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de companhia!» (Álvaro de Campos)
J Francisco Saraiva de Sousa
68 comentários:
Ahahah!
Olhe com quem se foi meter! O seu auto-retrato é genial.
Pena não poder colocar aqui duas ou quatro fotos dele! Serei abstracto!
Devo ter todos os álbuns e exposições de Mapplethorpe: é, de facto, um fotógrafo artista que seduziu, entre outras celebridades de New York, Susan Sontag. Os auto-retratos podem ser vistos à luz destes temas: 1. erotização do corpo, 2. as marcas do corpo, 3. o travestismo do corpo, e 4. a vanidade do corpo. Há uma estética!
Claro q pode colocar. Se n as encontrar on-line, scana-as e já está.
Faço isso depois de concluir o post: um auto-retrato, uma flor fálica, uma cena de S & M, uma de fellatio, outra de culturismo. :)
Bah... e aquela do cunnilingus? Essa é q é linda. :)
O F. só gosta de celebrações a Príapo e coisas fálicas.
Voltamos ao princípio. :P
Ya, são tantas! E a dos negros! O sexo-couro... Arte branca, mas desejo pelo homem negro!
Ah, o que me interessa em Mapplethorpe não é o culto fálico, mas as convergências existenciais da vida: a morte, a sexualidade e a beleza e o mal. A fotografia dele é uma filosofia em imagem fixa!
O F. só gosta daquilo que pensa que compreende. Se calhar somos assim todos.
E há mais: a raça fascinou Mapplethorpe, até porque negros e gays partilharam a mesma exclusão. A sus fotografia "retrata" a emergência da cultura gay: os gays sairam do armário nos fotos dos anos 70 e os negros nas fotos dos anos 80. Há uma leitura política: sair do armário é um acto político. Mas é evidente que não vou tratar de tudo isto. Vou concentrar-me no corpo.
Até porque conheço a sua vida íntima tal como ele e os seus amantes a descreveram, mas não é a sua intimidade privada que me interessa, não porque não a compreenda, mas porque prefiro ver a sua fotografia pelo ângulo da morte.
As flores fotografadas por ele são fálicas, é certo, mas são figuras do mal, à Baudelaire. Ele tinha uma paixão por jóias e símbolos satânicos.
Duas afirmações surpreendentes da Papillon:
1). "O F. só gosta de celebrações a Príapo e coisas fálicas.
Voltamos ao princípio."
Acusa-me de tratar de coisas fálicas, mas no post ainda em construção não mencionei nada fálico! E voltamos ao princípio de quê? A cultura é muito fálica, porque tem sido produzida por homens e, no princípio, era o verbo masculino!
2). "O F. só gosta daquilo que pensa que compreende. Se calhar somos assim todos."
O que é que penso que compreendo? A fotografia de Mapplethorpe? Claro que compreendo, até porque resolvi tratá-la novamente. De coisas fálicas? Claro, porque sou do sexo masculino desde que fui concebido.
Que tristeza! A TV está a transmitir a parolice de Lisboa: as marchas saloias de Lx. Aqui no Porto não somos saloios: o São João é nobre e criativo. Bem, a cultura que lx tem para oferecer ao "mundo": o bailinho dos tontos!
Eu sou insuspeito, pois prefiro as celebrações do S.joão às do Sto. António, mas parece-me que há um grave caso psiquiátrico com muitas das pessoas do Porto. Têm uma necessidade doentia de se compararem, sempre, em todas as ocasiões, às pessoas de Lisboa, para tentarem provar que são melhores. Quando se fala do Tejo, dizem que o Douro é melhor, quando se fala de uma pastelaria de Lisboa, ripostam que o Porto tem coisas melhores, quando se fala de poetas de Lisboa, dizem que os poetas do norte é que têm qualidade....
no fundo, as pessoas do Porto queriam que o poder se transferisse de um local para o outro, e mais nada. O sonho delas é que o Porto seja a capital do "Reino". E se o Reino não vai para o Porto, terá de se o Porto a deslocar-se ao Reino. Daí que se vejam casos como o "ultra portuense" Fernando Gomes a fugir para o governo lisboeta, logo quando pôde. Ou o apoio ao patético Alberto João Jardim, apenas porque conseguiu criar a sua república das bananas autónoma, longe do poder maléfico lisboeta.
O pano do fundo dos santos populares é a parolice, e aí é que está a sua graça. Daí que eu acho o S.João mais giro que o Sto. António- a sua parolice é mais genuína e pura, sem ofender, porque acho uma coisa bonita (a parolice, tal como ela é, sem dar ares de pseudo-nobreza).
Vá Francisquinho, n fique chateado porque lhe digo que este blog é um menir erecto!
Quanto ao "gostar do que se compreende", digo-o quanto à sua visão da arte, se for traduzida em fórmulas cognoscíveis por si, é arte boa, de outra maneira é o oposto. :(
Quanto à "parolice de Lx", concordo, nunca fui fã da cultura popular de Lx; mas o Sto António por aqui é mto mais do que as marchas. De qq maneira, este ano vou ao S. João do Porto e algo me diz que deve ser mais parolo ainda, como adianta o Lugones. :)
Oi
Eu só estava a queixar-me da TV, mas devem ter lido o post, com excepção de um canal, e passaram outra programação mais interessante. Quanto ao S. António, não gosto de marchas nem de bailicos populares. Baaaa...
O S João é mais participativo e espontâneo quando vivido na rua; não nesses oásis populares.
"mas devem ter lido o post, com excepção de um canal, e passaram outra programação mais interessante"
Maravilhoso! É por isso que eu o amo, Francisco. Qual gabinete de audiências qual quê! Vamos antes consultar o blog do De Sousa.
Muito bom!
Qt ao Sto António tb é ebriamente vivido nas ruas! N me diga q nunca cá veio desfrutá-lo! ;)
Eu já desfrutei o S António e o S João, nas diversas vertentes de cada um, mas agora prefiro desfrutar o fogo na Ribeira, embora fique um pouco irritado à saída, mas conheço outros caminhos.
E o S Pedro tb...
Está a ficar velho: olhar para o fogo de artíficio! Com tanta coisa para mirar.
Quanto à Madeira e ao Jardim já não digo nada, porque uns "amigos" madeirenses chamaram-me "lisboeta imperialista e centralizador" e outras coisas aí na Expo no Hotel X... :(
Mas essa experiência é única, devido ao espaço estar afundado e delimitado: o fogo cai-nos de cima e rapta-nos, mas só nessa situação interior, porque visto à distância ou ao longe não tem graça.
Ya, eu prefiro acções prometeicas: raptar o fogo e não o contrário. ;)
Lançar balões exige alguma arte, porque podem incendiar-se antes de subir: os galegos e os chineses que lançam balões não o sabem fazer e estão sempre a pedir ajuda. Mas esses raptos do fogo acontecem no meio da confusão e do caos... O S João é isso: um momento de caos cujas ilhas de ordem escapam aos participantes... É isso que fascina os estrangeiros...
Fascina qq pessoa! Eu tb serei uma "meteca". :)
Bem, tenho de ir! Bom fds
p.s.: uma curiosidade para si
a figura de morrer jovem, não é romântica, mas sim romantizada. Ela é clássica, como escreveu o grande comediógrafo latino Plauto:
"Morre jovem aqueles que os deuses amam."
E com esta me vou. Bisou*
Ok... Vou concluir o post depois do almoço! See you...
Temia, antes de abrir estes comentários, que por aqui se tivesse já falado dos santos; temia porque me queria abster de o dizer, e agora tenho de o dizer: pela segunda e provavelmente última vez em 31 anos, fui ao stº António: que nojo! Violência frustrada, individual e de grupo, e cheiro a mijo e sangria desalcoolizada, porra! Que raio de ideia fui eu ter. Será que dantes eu era mais inteligente? Suporto bem a parolice, não é novidade, mas a imbecilidade acrescida, que resulta em porrada, já para não falar da desorganização geral... Bah, a culpa é minha! O que vale é que «já se acabou!» :D
Conheci Mapplethorpe há cerca de três semana, pelo que este seu post esclarecedor, veio mesmo a calhar. Gostei :)
Estas festas tendem a acabar desse modo triste. :(
Estou a tentar processar todas as fases do acto fotográfico e o pensamento do próprio Mapplethorpe, mas não posso fazer justiça a toda essa variedade num post. As suas fotos são intelectualmente frias: o erotismo é intelectual!
"As VANITAS (vaidades) são as expressões artísticas que traduzem, de maneira simbólica e num registo eloquente, sibilino, a nossa relação conflituosa com a morte. São formas artísticas históricas, datadas no tempo (e no entanto de sentido intemporal), que nos confrontam com a maior doença colectiva da humanidade, que é a angústia que resulta da consciência aguda da mortalidade."
Mapplethorpe equiparou fotografia e pintura, retomando a tradição da última: a vanitas do corpo é a consciência da nossa mortalidade.
Bom dia F.,
Estava a referir-me a este auto-retrato: http://mugwump.pitzer.edu/~bkeeley/CLASS/PA/Spr04/Self-Portrait_1978.jpg
Este é q é genial. :)
Sim, são vários os auto-retrados que podem ser agrupados em categorias: o que mostro aqui no post tem uma significação particular, porque faz lembrar (inspira-se) numa célebre pintura. Adivinhe qual...
Trata-se da "Criação de Adão" de Miguel Ângelo. Mapplethorpe quis fazer da fotografia pintura e retoma a sua problemática desde os clássicos.
E fez muito bem ter-se inspirado nos mestres: todos os grandes da pintura italiana desde Giotto a Caravaggio, passando por El Greco, foram o expoente máximo da pintura. Ali está tudo! :)
Gosto desta consciência: «todas estas criaturas viscosas deviam ajoelhar-se e dar graças aos homossexuais e às lésbicas por não procriarem, por terem inventado uma sexualidade recreativa e por embelezarem o mundo com todas as coisas poéticas pelas quais "nos diferenciamos dos animais" (Tennessee Williams). A sociedade heterosexista tem proscrito os homossexuais.»
Boa forma de controlo da taxa de natalidade. Se a Incosnciência fosse gay, não havia tantos Inconscientes.
Exacto, as fotos de M. devem ser analisadas nas suas conexões com a pintura, a poesia e o cinema. Esta conexão foi estabelecida por ele sempre que organizava exposições. Mas está fora do objectivo deste post.
Conheci Mapplethorpe neste blog: http://proponho.blogspot.com/, qd aqui fui parar por acaso e perguntei à blogger que foto magnífica era aquela que lhe abria o blog. Mais abaixo estão, segundo ela, fotos muito conhecidas do fotógrafo em questão. E também é um blog de actualização cultural interessante.
A Menina Else, donde provavelmente a Else tirou o seu pseudónimo, encontra-se lá uma crítica.
Sim, Mapplethorpe fotografou mulheres, nomeadamente a sua amiga Lisa Lyon, mas, como era gay, não se interessava pelo sexo das mulheres: fotografou mulheres para as mulheres e os homossexuais, não para os homens hetero, embora tenha uma ou outra foto capaz de alimentar a fantasia erótica masculina. Mais: os modelos femininos foram usados por ele para estudar as posturas que depois revela nos auto-retratos ou mesmo nas outras fotos de nus masculinos.
E, como deve saber, Mapplethorpe era um caçador: engatava os modelos ou usava os seus próprios namorados enquanto faziam sexo. Arte e vida confundem-se...
Não sabia. Mas agora sei :)
Sim, como a Patti Smith, tb por ele fotografada.
À parte a sua condição gay (dele indissociável, e excelente, ainda mais agora com o estudo q faz aqui), pessoalmente, as mulheres que ele fotografou, das que vi, aprazem-me estético-sexualmente: foi um à parte, que desviou, sem querer, do seu estudo. Sabe como é o ego... :)
Sim, concordo consigo: tem modelos femininos belos e sexualmente atractivos. Mas a crítica diz que ele não captou a essência feminina como fez com a essência masculina; porém, o seu objectivo era outro, tanto num caso como no outro, parece-me... :)
Sem dúvida, sem dúvida, o caso dele era outro. Isso é claro. :)
onde está «caso» leia-se «objectivo»
A Patty tem um rosto susceptível de transformação; como mulher o rosto não é bonito, como homem potencial torna-se "interessante" no imaginário de Mapplethorpe.
O Álbum mais abrangente é "Mapplethorpe" (New York, 1992). "The Black Book" é fundamental, bem como as flores: a vida é uma onda!
A foto de Arnold Schwarzenegger é muito "maliciosa", mas ele admirava a sua personalidade.
Ainda noutro dia falava disso como um casal amigo meu, que o rosto da Patti tem várias facetas, tal como diz, «susceptível de transformação». Aindaque haja certas fotos dela em que se pode dizer que é bonita, na sua maioria revela uns traços muito masculinos, não menos interessante. Pelo que faz sentido, parece-me, a sua apreciação.
Por falar em homossexualidade, vai estrear um filme brasileiro "Do Começo ao Fim", que retrata um amor incestuoso entre dois irmãos e o teaser disponível no youtube é muito excitante porque eles são muito belos. :)
A homossexualidade masculina tb pode causar desejo nas mulheres, têm é de ser bonitinhos. O Mapplethorpe tb o era.
Olá, amigos! Francisco, hoje acontece, em São Paulo, a parada gay, movimento que reunirá mais de três milhões de pessoas. Na realidade, esta parada é mais um dos inúmeros carnavais que acontecem no Brasil.
Fundamental é contrastar os imaginários de Mapplethorpe e de Tom Bianchi: os homens e as mulheres são vistos em perspectivas diferentes. Bianchi admira a musculação tanto no homem como na mulher, embora o jogo neutralize essa atracção pelo músculo. Todo ele é lúdico, quase infantil!
Relação entre arte e vida: estetização da vida, ideal romântico: become what you are... tematizado de forma excelente pelo mestre Nietzsche. :)
Oi André
Excto: parada é mesmo desfile de máscaras! (Não simpatizo com esse carnaval gay e transformista!)
Else, adoro os seus comentários! Em especial: "A homossexualidade masculina tb pode causar desejo nas mulheres, têm é de ser bonitinhos".
E é verdade o que diz. Amigas minhas já manifestaram o desejo de "brincar" com garotos homossexuais. Quanto mais estudo os comportamentos dos seres humanos, menos os compreendo :)
Sim, há essa afinidade com Nietzsche! Namorei-a ligeiramente...
Acho q cá tb se anda a organizar qq coisa assim... Vi em qq lado...
«todas estas criaturas viscosas deviam ajoelhar-se e dar graças aos homossexuais e às lésbicas por não procriarem, por terem inventado uma sexualidade recreativa e por embelezarem o mundo com todas as coisas poéticas pelas quais "nos diferenciamos dos animais"
esta frase é de quem? É que sexualidade recreativa antes da moral cristã sempre houve, n é porque há lésbicas e gays q ela foi inventada. E há artistas gays, lésbicas, e hetero e a sua sexualidade n influi na sua qualidade.
Sim, "as moscas da fruta", isto é, as mulheres que amam homossexuais estão sempre presentes, bastando pensar nas amigas de Mapplethorpe!
Têm tb - como diz a Else - essa dimensão erótica e sexual...
Ya André, se o objecto for belo, o meu corpo reage instintivamente. :)
Sim, o Mapplethorpe é muito atraente, na sua ambivalência. É natural q tivesse rodeado de mulheres e homens.
Não sou contra festas e outras expansões de ânimo. Porém, acho que um assunto sério, como a luta pelos direitos dos homossexuais, não deve se transformar em um Carnaval de ébrios e de criaturas que certamente habitam algum círculo do inferno de Dante (vcs não imaginam as figuras que vão à parada).
Travecas e hiperefeminados! E bombeiros (lésbicas)! É assim em quase todo o mundo e agora com a onda queer é mais visível...
Sim as paradas gay são um espectáculo de muito mau gosto, nada excitantes... lol ;)
Tinha previsto terminar com um poema de Pessoa, mas acho que perdi essa linha: estou farto.
Bem, reconsiderei e terminei com Pessoa. Só falta concluir o primeiro parágrafo... :)
Já está completamente concluído, embora não tenha falado da Sida como tinha previsto. :)
Como já toda a gente filosofou, eu não vou filosofar agora, vou apenas dizer isto em relação a esse fotógrafo que muito admiro: era um génio maldito e incompreendido.
Ya, Maldonado, Mapplethorpe é um génio "maldito", isto é, antiburguês, à maneira de Baudelaire visto pelos olhos de Marx (Dolf Oehler)! :)
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