Painel central do tríptico "As Tentações de Santo Antão" de Hieronymus Bosch, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. Bosch morreu em 1516, deixando-nos um legado de figuras que nunca foram vistas pelos olhos humanos. A originalidade artística de Bosch não consiste em combinar partes de animais e de humanos, mas na sua fusão para gerar novas criaturas. Nos "Jardins das Delícias", Bosch exibe a sua criatura mais fantástica: uma cabeça de homem enxertada numa casca de ovo quebrada, que, por sua vez, se liga a duas pernas que são troncos de árvores com raízes lançadas em dois barcos. Apesar do mal e, em especial, da luxúria assumirem diversas formas nas suas pinturas, Bosch não mostrou interesse no Diabo, como mostra o seu tratamento do tema dos anjos rebeldes ("A Queda dos Anjos Rebeldes"): os anjos em queda são semelhantes a peixes e ratos voadores e o Inferno onde caiem não é feito de chamas, mas habitado por duas cabeças sem corpos que rastejam com os seus pés. No "Juízo Final" de Bosch, a expulsão dos anjos rebeldes assemelha-se a uma tempestade de areia pelo movimento, cor e textura, e, no "Cristo Coroado de Espinhos", o conflito entre diabos e anjos é eclipsado pela composição central do Cristo torturado. Para Bosch, não existe conflito entre o bem e o mal: o seu Cristo e os seus santos habitam outro mundo completamente distinto do mundo da luxúria, resguardado e protegido das tentações, perversidades e torturas e, no "Juízo Final" de Viena, a corte celestial é constituída pela Virgem, João Baptista e doze figuras que parecem ser os apóstolos. Na visão quase onírica de Bosch, os humanos são quase todos pecadores e tolos que habitam um mundo carnal. A bondade não tem existência nesse mundo real habitado por pecadores: os sete pecados espreitam em todos os lugares do mundo carnal e, como são vistos por Deus, serão punidos de modo severo. A preocupação com a maldade humana real domina completamente a pintura de Bosch. O tríptico comprado por Filipe II, rei de Espanha, mostra as legiões do mal que invadem o mundo, dando forma concreta e tangível aos medos que capturaram o espírito do homem no fim da Idade Média: o painel da esquerda mostra a criação de Eva, a tentação de Adão e a sua expulsão do Paraíso. No topo, os anjos rebeldes são expulsos violentamente do Céu como um enxame repugnante de insectos. O painel da direita exibe uma visão do Inferno que mais parece o mundo carnal, onde todos os tipos de demónios pavorosos, meio animais, meio humanos ou mesmo máquinas, flagelam, fustigam e castigam as almas pecadoras ou, mais exactamente, os corpos humanos corruptos. O imaginário de Bosch é quase onírico e, numa antecipação genial, surrealista: a sua fábrica de monstros gera continuamente criaturas fantásticas que povoam densamente as suas pinturas. O que significam esses monstros? Em termos genéricos, um monstro é definido em relação à norma ou, simplesmente, ao tipo ideal, que, segundo Aristóteles, é a reprodução idêntica, mediante a qual o filho é semelhante ao pai. Quanto maior for a distância do modelo, maior será a imperfeição da "criatura", que, no ponto mais afastado, deixa de ter a aparência humana e passa a ser um monstro. O monstro é um "ser diferente", ou melhor, um desvio à norma: a monstruosidade constitui um fenómeno que se opõe à "generalidade dos casos", sem no entanto questionar a ordem universal da natureza (Aristóteles) ou pôr em dúvida o bom fundamento e a perfeição da criação (Santo Agostinho). Embora tenha excluído o ponto de vista finalista e tipológico, a genética evolutiva e molecular não se afasta muito de Aristóteles quando define o monstro como uma excepção ao destino comum da combinatória genética. Ambas as teratologias - a aristotélica e a médico-genética - estão preocupadas com as causas das anomalias e das malformações observadas em todos os níveis da natureza viva. Porém, a Idade Média viu preferencialmente os monstros como reproduções defeituosas dos modelos. A concepção de monstro - monstrum - varia muito de sentido no decorrer da Idade Média, mas no seu outono as noções de monstruoso e de demoníaco estão de tal modo ligadas que é praticamente impossível distingui-las: o contingente diabólico substitui o monstro cosmológico e implanta-se no mundo, modelando-o em tons sombrios e pessimistas. O monstro-diabólico coloca questões para as quais a Idade Média não tinha respostas, vacilando intermitentemente entre a necessidade de explicar a desordem representada pelo monstro e a necessidade de crer no postulado de que a natureza, como obra de Deus, só pode ser perfeita e organizada segundo uma disposição imperturbável. O segredo é propriedade de Deus, o único Senhor de todas as criaturas, incluindo os monstros. Quando confrontado com os monstros, o homem está diante do sentido misterioso, oculto e admirável, da manifestação do poder divino (Mandeville): como sinal divino, o monstro é prodígio, no sentido de constituir um aviso prévio de acontecimentos futuros, cujo sentido oculto desafia a interpretação ou mesmo a adivinhação. Deus criou o mundo segundo uma determinada ordem ou norma que nunca abandona, a não ser que queira anunciar algo oculto e deveras importante. A ruptura do curso normal da natureza desencadeia no homem o sentimento de horror, que se intensifica à medida que a Idade Média se torna cada vez mais sombria. A eclosão de monstros funciona no imaginário de Bosch como indicador figurativo da irrupção real de elementos de uma nova ordem social dentro da ordem moribunda: as figuras fantásticas de Bosch são seres mutagénicos que subvertem internamente a iconografia cristã dominante. Enquanto o inventário completo e exaustivo das figuras não estiver feito, com a ajuda de programas de computador, não podemos decifrar todo esse imaginário fantástico. No entanto, a reunião de dois corpos num só corpo revela que a sua individualidade se encontra na própria fusão: um dos corpos dá vida - o corpo mãe, enquanto o outro ameaça parar. Isto significa que a pintura de Bosch configura uma nova concepção do corpo: o corpo é aberto e incompleto e, como não está claramente delimitado do mundo, mistura-se com o mundo, onde se confunde com os outros, os animais, as plantas, as coisas, os elementos, a terra, a arquitectura e as máquinas. É um corpo cósmico que representa e encarna o conjunto de todo o universo material e corporal, concebido como o inferior absoluto, como um princípio que absorve e dá luz, como um sepulcro e um seio corporais, como um campo lavrado e semeado que começa a germinar. Ora, a concepção do corpo explicitada nas pinturas de Bosch deriva da filosofia humanista do Renascimento, nomeadamente da filosofia italiana que concebeu a ideia fundamental de microcosmos: o corpo humano era visto como um princípio susceptível de efectuar a destruição do quadro hierárquico do mundo medieval e de criar um novo quadro. A filosofia renascentista operou a desagregação do cosmos hierárquico medieval, em especial a sua gradação dos valores no espaço, mediante a qual aos graus espaciais no sentido de baixo para cima correspondiam os graus de valor, colocando todos os seus elementos no mesmo plano: o alto e o baixo foram relativizados e a ênfase deslocou-se para as noções de frente e atrás. Esta substituição do vertical pelo horizontal, acompanhada pela intensificação do factor tempo, realizou-se em torno do corpo humano: o corpo tornou-se assim o centro de um cosmos que, em vez de se mover de baixo para cima, se move para a frente sobre a horizontal do tempo, do passado para o futuro, o que possibilita ao homem carnal afirmar o seu valor fora da hierarquia do cosmos. Pico della Mirandola defendeu - na sua Oratio de Hominis Dignitate - a tese de que o homem é superior a todas as outras criaturas, incluindo os espíritos celestes, porque não é somente existência mas também e essencialmente futuro. A noção de hierarquia refere-se única e exclusivamente à existência estável, firme, imóvel e imutável: as criaturas não se alteram desde o nascimento, porque a sua natureza foi criada completa, acabada e imutável. Ora, o livre devir que caracteriza o homem escapa à noção de hierarquia: o homem não recebeu uma única semente - como sucede com as criaturas -, mas as sementes de todas a vidas possíveis. De modo qualitativamente diferente da natureza das outras criaturas condenadas a desenvolver-se na única semente que receberam, o homem pode escolher a semente que desenvolverá, cuidando dos seus frutos e fazendo-os desabrochar dentro de si. Isto significa que o homem pode tornar-se simultaneamente vegetal e animal ou mesmo anjo e filho de Deus. O seu corpo reúne em si todos os elementos e todos os reinos da natureza: a existência de múltiplas sementes e possibilidades e a liberdade de escolha colocam o homem fora da hierarquia, ou seja, sobre a horizontal do tempo e do devir histórico. Para Pico della Mirandola, o homem não é algo fechado e acabado; pelo contrário, o homem é um ser inacabado e aberto. A filosofia humanista do Renascimento é atravessada por duas tendências teóricas: uma tendência deseja descobrir no homem todo o universo, com os seus elementos naturais e as suas forças, o seu alto e o seu baixo, enquanto a outra linha de pesquisa procura esse universo no corpo humano que aproxima e une no seu seio os fenómenos e as forças mais distantes do cosmos. O imaginário de Bosch filia-se nesta segunda tendência subterrânea do Renascimento, a qual exprime a nova sensação do cosmos como a habitação familiar do homem. Pintado e visto como habitação do homem, o novo cosmos tal como emerge nas pinturas de Bosch, em tensão dialéctica com o mundo medieval, retoma as ideias - aliás muito difundidas no Renascimento - da magia natural, da simpatia e da astrologia, as quais ajudaram Giordano Bruno e Campanella a destruir o quadro do mundo medieval. Pico della Mirandola deu particular ênfase ao motivo do microcosmos sob a forma da simpatia mundial, de resto levada a cabo pelos Descobrimentos Portugueses que possibilitaram que todos os membros da humanidade entrassem em contacto real e efectivo uns com os outros, de modo a tornar a humanidade una e única: o homem pode finalmente reunir em si o superior e o inferior, o longínquo e o próximo, e sondar os mistérios escondidos nas profundezas da terra. O imaginário mágico de Bosch reúne o que o universo medieval tinha dissociado, apagando as fronteiras maltraçadas entre os fenómenos e transpondo a diversidade infinita do mundo para a superfície horizontal única do cosmos em devir. Marcilio Ficino introduziu a animação universal para mostrar que o cosmos não era um mero agregado de elementos mortos, mas um ser animado: cada uma das suas partes constitui um órgão do todo. A biologização do mundo é consumada pela teoria da natureza de Cardano: todos os fenómenos são vistos como análogos das formas orgânicas, incluindo os metais que são as sepulturas das plantas e que percorrem uma evolução semelhante à evolução orgânica, com uma juventude, uma adolescência e uma idade madura. Esta visão animada do mundo - recentemente retomada pela Hipótese Gaia de James Lovelock e Lynn Margulis - impregna as pinturas de Bosch, onde todos os fenómenos se dirigem para a superfície horizontal única do mundo em estado de mudança, de modo a descobrir novos lugares, a atar novos laços, e a criar novas vizinhanças. Mas no centro deste reagrupamento fenoménico está o corpo humano que alberga no seu interior a diversidade do universo. O corpo humano é matéria criadora destinada a organizar toda a matéria cósmica, cujo movimento no tempo biológico e histórico é garantido pelo nascimento de gerações incessantemente renovadas. Neste novo cosmos, cada ser humano pode fazer parte do povo imortal: aquele que inova e cria história, resistindo às tentações contrárias às forças da mudança social qualitativa. As pinturas de Bosch são representações assustadoras das forças do mal ou, mais precisamente, de monstros, e foram interpretadas pelos críticos imbuídos de espírito científico como expressões de uma mente patológica ou, pelo menos, de uma mente sujeita ao uso de alucinógenos. Além de não apreenderem a riqueza imaginativa de uma época - o fim da Idade Média ou as dores de parto do mundo moderno, estas leituras deixam escapar a própria riqueza criadora do psiquismo humano, sobretudo da dialéctica entre a angústia e o desejo. O monstro é produto de funções mentais partilhadas pelos humanos de todas as épocas, culturas e idades e, por isso, desempenha uma função natural no seu psiquismo. Ao desvalorizar a imaginação como faculdade cognitiva, a tecnociência revela o seu elemento ideológico: a apologia do status quo e a promoção da dimensão adaptativa do homem em detrimento do princípio da possibilidade histórica. Bosch pintou a colisão de dois mundos durante o período da sua coexistência quase sincrónica: os seus monstros são figuras utópicas que emergem num mundo prenhe de vida ainda-não-nascida contra as figuras ideológicas do imaginário medieval. É certo que os demónios da mudança que se mostram e se de-monstram nas pinturas de Bosch assustam, mas não assustam todos os indivíduos: assustam e aterrorizam apenas os indivíduos instalados e satisfeitos com as ordens do mundo hierárquico medieval. Os monstros boschianos são demónios da mudança que visam desinstalar o poder eclesial que justificava e legitimava a opressão feudal. Se a mudança atemoriza os membros das ordens instaladas, o mesmo não acontece com aqueles que desejam e anseiam por um mundo melhor. Para os que sonham acordados, os monstros são figuras cómicas que assombram e incendeiam o mundo fechado medieval, desencadeando neles o riso orgiástico que funda um mundo melhor. J Francisco Saraiva de Sousa
40 comentários:
Tinham de ser os surrealistas, mais uma vez, que o ressalvariam. Também o fizeram com os Cantos de Maldoror. E mais, certamente. A imaginação foi mais um dos atributos humanos que foi sempre sujeito a repressões. O homem não se compreende a si próprio, logo não compreende o outro, pelo que automaticamente o considera louco. A origem das patologias mentais não estará de algum modo relacionada com a inaceitação alheia? É uma questão que me assalta de quando em quando.
Eu aprecio imenso os quadros desse pintor, o qual considero o precursor do Surrealismo.
Bosch talvez seja a versão medieval de Dali... :)
Concordo: Bosch é um precursor do surrealismo. E, quando não se compreende o outro, a tendência é tratá-lo como um "monstro" ou louco. :)
A filosofia da pintura é uma tremenda desilusão: não temos uma única meditação de um quadro; apenas tretas em torno do pintor nas suas relações com o tempo em que viveu e pouco mais. :(
Hmmm... sobre bestiários há muita coisa (parece-me ser essa a abordagem q quer fazer). Seria interessante fazer um análise comparada entre o bestiário (medieval) de Bosch, Grunewald e bestiários modernos, como o de Kafka, ou até o de Conde de Lautréamont, q referiu o Tiago. :)
Fazer um levantamento dos monstros de Bosch? A dificuldade não reside aí, mas na articulação dessas figuras num determinado pensamento, do qual o diabo está excluído. Há em Bosch uma teratologia, mas não uma demonologia. Tarefa dificultada pela passagam à Renascença: o imaginário de Bosch reflecte a cosmologia da Idade Média ou a Renascentista! Seria necessário fazer com Bosch o que Bakhtin fez com Rabelais!
Hmmm... na Idade Média a teratologia está necessariamente ligada com a demonologia, no que diz respeito à iconografia. Mas talvez qd acabar o seu post perceba onde quer chegar. ;)
A propósito, o Chastel tem um artigo que fala da melancolia saturnina das Tentações de Sto Antão... a proliferação de monstros mostram (etimologicamente a mesma raiz) a tristeza de fim de época, talvez. :)
Hummm... O tema é complexo e devia começar por Aristóteles - categoria de monstruosidade, passar por Santo Agostinho, e ir até Bosch, confrontando-os com o ramo da medicina, a teratologia, fundado na genética. Quantas são as categorias da monstruosidade? Diversas: o que é raro, o que se desvia da norma, o que assusta, etc. Vou ser mais modesto, porque ando preguiçoso. :)
Sim, pode começar desde Aristóteles, o monstro - o informe, o que n actualizou a esua essência, até chegar ao monstro criador - super-homem nietzscheano!
Eu adoro monstros, bom tema ;)
Sim, só n percebo pq desvincula a teratologia da demonologia... o feio e o disforme estavam sempre ligados a energias malévolas, e mesmo antes da Idade Média, já na Grécia Antiga.
O tríptico das Tentações é complexo: a tentação pode ser vista como resistência à realidade, logo crítica da realidade. Precisamos esquecer os preconceitos antireligiosos e reler as obras a outra luz. Estou cansado do clericalismo cientista, para usar a expressão de Pscoaes! :)
Em Bosch, não vejo o Diabo, porque os anjos em queda são peixes ou ratos que se afundam no inferno que não é feito de chamas.
O inferno é mais uma tempestade de areia dentro da qual se movimentam alguns insectos. O céu é inacessível ao comum dos mortais!
Bah! Isso é porque o sr. Bosch se afastou da iconografia vigente, n significa q quisesse representar as forças do mal.
Em todo o caso, há uma famosa tese de um senhor q n me recordo o nome, q alega que o Bosch estava agregado a uma seita herege qualquer.
*Isso é porque o sr. Bosch se afastou da iconografia vigente, n significa q n quisesse representar as forças do mal.
Bah, estou cansado desses senhores clericais. Quero ser livre para pensar sem ficar prisioneiro de teorias preconceituosas! :)
Isso fez-me lembrar um famoso aforismo de Nietzsche: "...If mankind does not perish of a passion it will persih of a weakness: which do you prefer? Do you desire for mankind an end in fire and light or one in the sand?"
Aí tem! Bem, tenho de ir
Sim, as forças do mal, isto é, da luxúria: todos os humanos são pecadores e tolos num mundo de carne. Deus vê todos os pecados e pune-os! Raros são os que sobem ao céu!
Acho o apanhado cronológico interessantíssimo: é pena que tenha decidido oderar-se aqui, Francisco! :)
E concordo plenamente que se desvie, ou pelo menos que tente desviar da típica abordagem. Mesmo sendo inevitável, acho, pensar-se o Mal ao ver-se os seus quadros. Mas Bosch é, pelo menos aparenta, muito mais do que o que a tradição nos conta do Inferno. É de outra feeria! :)
moderar-se* (caraças...)
Vou ver, porque precisava de ter um inventário das figuras e não tenho. Com a lupa estou a descobrir umas criaturas interessantes, muito doscretas, quase invisíveis.
Sim, penso que o imaginário de Bosch não é completamente medieval: olhando para os quadros detectamos elementos renascentistas decorativos. O Juízo Final dele contrasta com o dos outros, nomeadamente o de Michelangelo, Rafael e de Giotto. Mas o Diabo não é pintado por Giotto e Bosch, porque para eles o mal era real, física e psicologicamente. Ora, o mal como ausência de ser (SAgostinho) não pode ser pintado por aqueles que pintam coisas compactas que ocupam espaço real.
Isto ao nível das imagens: temos a literatura - Dante! É um assunto vasto!
Bem vejo que sim. Estou ainda muito aquém da totalidade das obras. Mas sou um orgulhoso aprendiz! E por aqui vai-se adquirindo belas directrizes. :)
Bem, vou beber um copo e ouvir um som.
Descobri um artista português desta época: Francisco de Holanda que compara a pintura flamenga com o triunfo do Renascimento: Miguel Ângelo. :)
Há claramente duas leituras de fundo da nossa cultura e a leitura que venceu - a científica - constitui um erro monstruoso que conduziu à visão mais pobre e miserável do mundo: a visão científica do mundo é regressiva e mortífera. As estéticas que não conseguem integrar Bosch são vítimas dessa visão, como se a pintura (neste caso) tivesse de ser uma aproximação à realidade. Ora, o imaginário de Bosch - a fábrica de monstros - pinta aquilo que não pode ser visto; logo, é nessa perspectiva um retrocesso, uma arte menor. Só que os realistas e materialistas ainda não explicaram como o mundo fisicalista pode ser habitado por "almas"!
Papillon, sim, é verdade, não me apetece discutir o Porto! Prefiro contribuir para a construção do Porto! :)
Uma coisa sem a outra é impossível.
Não sei se é boa ideia caminhar com este sol! Está muito calor!
Sim, o Porto precisa de pessoas substancialmente avessas aos vícios nacionais: pessoas lutadoras e não-cinzentas, o que faz falta a todo o país.
O PSD está à beira de um ataque de nervos, mas ainda não se viu ao espelho: um vazio total de pessoas de qualidade. Que futuro pode um partido que nos lançou na crise oferecer? Nenhum... Daí que seja contra a Alta Velocidade (TGV). O PSD quer o nosso isolamento, o nosso atraso, porque pretende continuar a sacar na banca privada e a dizer disparate no tv privada!
Hoje, na Quadratura do Círculo, as presenças reaccionárias (PSD, CDS) reconheceram - preto no branco - que a sua animosidade contra Vitor Constâncio é movida pela vingança - um ajuste de contas - por causa do défice elevado que herdamos dos seus governos.
E querem eles continuar a governar! Seria a nossa desgraça: querem prender o polícia e deixar os amigos "criminosos" livres! Uma vergonha nacional - a direita portuguesa! O PSD quer um país pobre e atrasado para poder reinar meia dúzia de gente vampiresca sem qualidades!
José Sócrates devia pensar no Museu Soares dos Reis: as obras nunca foram concluídas! No entanto, é preciso saber investir na CULTURA, porque há muita coisa que diz ser cultura mas não é: a língua e a tradução das grandes obras são mais importantes que satisfazer a gula de gente sem qualidade artística, cultural, científica, filosófica e intelectual.
Outra obra a pensar é o Museu de Etnografia do Porto (penso que é este o nome): tem boas peças etnológicas, nomeadamente da Melanésia. Precisa de novas instalações e de um reforço substancial. O Museu Etnográfico ou Antropológico são boas estruturas para incentivar a cultura e a identidade.
Mas o maior investimento deve ser feito na qualidade cultural das pessoas: Sem pessoas cultas não há cultura, mas destroços culturais.
O PS deve desmistificar e romper com a "política dos amigões": aqueles que ocupam lugares de modo indevido, asfixiando as sementes de desenvolvimento e de progresso. Muitas instituições não funcionam e produzem por causa dessa política corrupta: nem os cargos conseguem encobrir tanta imbecilidade e incompetência.
Outro erro que o PS deve assumir, além da escassez do investimento na cultura e na burocratização irracional do ensino, é a falha no combate à corrupção. Se tivesse combatido mais, estaria numa situação plena para denunciar a corrupção no BPN e BPP.
Combater transversalmente a corrupção, também a que reconduz incompetentes a determinados cargos, deve ser uma bandeira do PS. O outro que engula moscas porque tem grande cavidade bucal!
O PS não deve usar luvas para denunciar as burlas dos adversários, porque estes são malcriados, como vemos constantemente na TV. Chamar os bois pelos respectivos nomes é política da verdade, aquela que o PSD desconhece por natureza, dado ser um golpe oportunista até na designação.
Mas tudo isso com um sorriso e muito cinismo... :)
Puf... já faltou mais: agora é só rematar; não posso ir mais longe e pôr a falar cada "monstro"! :)
Está concluído, embora possa aperfeiçoar uma ou outra ideia. :)
O parágrafo que fecha o artigo, a interpretação dada à obra de Bosch, é genial!
Faltou explicitar melhor algumas noções, mas o post já estava longo. No entanto, detecto mais modalidades de existência corporal do que a referida, a partir das quais podemos vislumbrar melhor a comicidade... :)
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