segunda-feira, 16 de julho de 2007

Biologia da Homossexualidade Feminina

HOMOSSEXUALIDADES FEMININAS

No caso das lésbicas, a história é similar à dos homens homossexuais, embora a expressão da sua sexualidade seja muito fluída (Baumeister, 2000; Diamond, 2000, 2003). As mulheres lésbicas tendem a recordar infâncias menos convencionais do que as mulheres heterossexuais, incluindo características como serem «marias-rapazes», líderes, invulgarmente activas ou exploratórias, preferindo a companhia de rapazes, as roupas de rapazes, jogos e brinquedos de rapazes. No entanto, não podemos assumir automaticamente que uma menina «maria-rapaz» será uma mulher lésbica. Muitas raparigas com essa característica atípica não o serão. Por outro lado, nem todas as mulheres lésbicas relatam serem arrapazadas quando crianças. Contudo, estatisticamente, existe uma associação entre traços de infância e sexualidade adulta (Bell et al., 1981; Singh, Vidaurri, Zambarano & Dabbs, 1998) e, com base nas nossas próprias conversas com mulheres lésbicas, podemos afirmar que as mulheres lésbicas marcadamente «butch» (masculinas na acção) na vida adulta relataram ter sido «marias-rapazes» quando crianças. Embora não tenha sido publicado nenhum estudo prospectivo importante, comparável ao estudo dos rapazes de Green (1985), sobre raparigas como estas, a nossa pesquisa de terreno aponta claramente no sentido de que as lésbicas marcadamente masculinizadas tiveram quase sempre infâncias atípicas.
A nossa tipologia das homossexualidades femininas destaca um terceiro tipo entre os dois tipos extremos de lésbicas butch e femme, de modo a dar ênfase ao carácter mais fluído da sexualidade de género feminina, mais aberta às influências psicossociais e culturais (Diamond, 2000; Diamond, 2003; Baumeister, 2000; Baumeister, Catanese & Vohs, 2001; Pattatucci & Hamer, 1995). O estudo de Singh, Vidaurri, Zambarano & Dabbs (1999) descobriu que as diferenças que ocorrem naturalmente nos níveis de testosterona entre as lésbicas permitem distinguir dois subtipos de lésbicas: butch ou lésbicas masculinizadas e femme ou lésbicas femininas. As próprias lésbicas classificam-se nesses dois grupos em função da constituição corporal, do peso, do modo de andar, do estilo de vestir e das atitudes. As lésbicas butch são maiores em tamanho, mais activas e menos bonitas do que as lésbicas femme (Loulan, 1990). O grau de masculinidade das lésbicas butch foi predito pelos níveis de testosterona salivar (Pearcey, Dochert & Dabbs, 1996). Além disso, as lésbicas butch revelaram estar envolvidas em mais relações nos dois últimos anos, relataram menor desejo de dar à luz mas maior desejo de cuidar das crianças das lésbicas femme e eram muito menos propensas a adoptar um estilo submisso de participação sexual. Também disseram apreciar mais os materiais eróticos do que as restantes mulheres. Estes dados sugerem claramente que o estilo das lésbicas butch se aproxima muito dos comportamentos sexuais típicos dos homens.
Os casais de lésbicas são fortemente diferenciados e existem indicações de que os membros «butch» têm níveis significativamente mais elevados de testosterona que as lésbicas femme. Pearcey, Docherty & Dabbs (1996) descobriram que a testosterona salivar está associada com a classificação «butch/femme», mas somente quando analisada a partir do interior da relação das parceiras. E recentemente Lippa (2007) descobriu que as lésbicas, provavelmente butch, tal como os homens, exibem um elevado sex drive, o que sugere o papel fundamental desempenhado pela testosterona na motivação sexual (Baumeister, Catanese & Vohs, 2001), bem como na violência doméstica verificada nos casais de lésbicas (Rohrbaugh, 2006; Liu, 2003; Kuehnle & Sullivan, 2003; Pitt & Dolan-Soto, 2001; Pitt, 2000). Apesar da pesquisa genética ainda não ter fornecido dados conclusivos (Pattatucci & Hamer, 1995), o conjunto dos dados disponíveis apoiam a noção de que existe uma componente biológica na orientação sexual feminina (Bailey, Pillard, Neale & Agyei, 1993; Bailey & Benishay, 1993) e, pelo menos o tipo masculinizado de homossexualidade feminina, é explicável pela hipótese neuro-hormonal, de resto bem fundamentada pelo estudo de populações clínicas (CAH).
Joaquim Francisco Saraiva de Sousa (Extracto alterado da Tese de Doutoramento)

1 comentário:

Anónimo disse...

Prezado Autor,

Seria mais interessante se as referências bibliográficas viessem junto, ou seja, como saber de quais livros se fala aqui só pelo sobrenome e ano?

Já agora: sua tese está online e onde? Se não, poderia listar aqui a bibliografia?

Grata,

maristela