A tese do medo de existir de José Gil está mal elaborada conceptual e politicamente: tomo-a como um esforço para pensar a miséria de Portugal inconsequente.
O português é um animal fechado num horizonte metabólico e, nesse mundo reduzido, não precisa de pensar e exercitar o pensamento para sobreviver ou mesmo existir. Aliás, nem sequer precisa de trabalhar e muito menos criar para viver, desde que tenha um emprego estatal (funcionário público) ou apoio financeiro. A sua vida gira em torno do metabolismo e até mesmo o seu comércio com o mundo e os outros são metabolicamente reduzidos. O português carece de dimensão cognitiva liberta da vida metabólica.
A democracia não ajudou Portugal a libertar-se destes animais humanos reduzidos; pelo contrário, tornou-os mais preguiçosos e indisciplinados, facilitando-lhes o acesso à vida metabólica envolvida em pseudo-diplomas ou competências. Portugal é fecundo em animais reduzidos diplomados mas que não conseguem libertar-se para a dimensão do pensamento.
A democracia corre sérios riscos numa sociedade organizada no horizonte do metabolismo e, ao contrário do que se diz, a democracia não está garantida. Uns apoderam-se metabolicamente do poder e governam-se bem. Os outros ficam satisfeitos com a governação desde que fomente a sua vida metabólica. Os primeiros, os abusadores do poder, são os primeiros a dar o mau exemplo do que seja a democracia e reduzem-na ao chamado princípio ou direito do contraditório. Se tu dizes «x», eu vou dizer «y», embora não conheça nem «x» nem «y» e não saiba a razão de ser de tudo isto. Qualquer português aprende que para ser democrático deve defender as suas opiniões e dialogar é confrontar opiniões metabolicamente reduzidas. Os interesses desaparecem da avaliação das opiniões, porque todos estão fechados no horizonte metabólico que partilham. Ter direito à vida é comer e satisfazer necessidades metabólicas associadas e, em democracia (sic), partilha-se esse direito com os outros.
Com a democracia, a qualidade do ensino foi degradada e a investigação simplesmente não existe. Portugal democrático destruiu o ensino e a cultura e colocou no seu lugar uma terrível mentira: os burricos diplomados que teimam em conservar o seu metabolismo visível e a perpetuá-lo no tempo: usam e abusam do poder. Tudo é uma farsa planeada e conservada pelo poder luso-metabólico e, nesta farsa que é a nossa vida em comum, não há lugar para o futuro. Portugal carece de futuro.
O português seja diplomado ou analfabeto olha para o mundo com um olhar metabólico. Aliás, o mundo é pura abstracção: o que existe são as farsinhas de cada um e a farsa relatada pelos jornalistas metabolicamente reduzidos. Tudo isto é o horror puro e brutal. Portugal é um país de terrorismo metabólico que nega a vida ao pensamento e à democracia. Até mesmo a democracia vigente é uma terrível mentira.
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