O conceito de «cultura das interfaces» foi elaborado sistematicamente por S. Johnson (1997), no seu livro «Interface Culture».
O tema central de Johnson é a fusão de arte e tecnologia no âmbito da sua concepção das interfaces.
Uma interface é o software que modela a interacção entre utilizador e computador, ou seja, a maneira como o computador «se representa a si próprio perante o utilizador», numa linguagem que o último compreende. A linguagem digital dos zeros e uns é substituída por uma metáfora, de modo a tornar-se inteligível para a maioria dos utilizadores da Internet e, nesta concepção, as interfaces incluem tanto o software como programas de web browsers e e-mail como determinados ambientes digitais a que nos ligamos usando esse mesmo software. Para Johnson, as interfaces «trabalham nessa estranha zona nova a meio caminho entre meio de comunicação e informação/mensagem». Elas são fundamentais para a maneira como os utilizadores da Internet dão sentido aos ambientes da informação moderna. As interfaces constituem componentes fundamentais das interacções online que, de resto, estruturam, funcionando como o seu meio de comunicação e informação.
Johnson destaca cinco componentes interrelacionados das interfaces modernas: a secretária, janelas, ligações, texto e agentes.
A secretária. Quando os criadores das interfaces começaram a trabalhar, foram confrontados com uma «tábua rasa», isto é, um espaço de informação vazio à espera de ser cheio, mas actualmente «as nossas próprias vidas giram à volta de um texto mais prosaico: a secretária do computador».
Janelas. A janela é a forma sintética de uma série de inovações que constituem a interface moderna. A disposição das interfaces accionadas por janelas é essencialmente fluída, podendo ser arrastadas pelo ecrã e redimensionadas com um único clique do rato, dado terem sido concebidas para serem maleáveis e abertas.
Ligações. A janela permite-nos enquadrar informações de modo flexível, enquanto «o hyperlink nos permite juntar os pedaços desse mundo e dar-lhe uma forma coerente». A ligação deve ser entendida como um «dispositivo sintético» e os utilizadores genuínos devem saber criar as suas próprias teias ou redes de associação.
Texto. Nenhum dos componentes referidos minimalizam o alcance do texto no futuro da concepção das interfaces e, neste aspecto, Johnson sugere uma mudança de paradigmas, de modo a que a informação seja organizada segundo relações semânticas baseadas em atributos como palavras-chave contidas nela.
Agentes. Os «agentes-inteligentes» são dispositivos automatizados que ajudam os utilizadores das interfaces a terminar tarefas e atingir objectivos e muitos desses agentes estão incorporados nas interfaces, como aqueles agentes incorporados em web browsers que ajudam os pais a bloquear o acesso a websites que não queiram que os filhos visitem.
Esta análise da cultura das interfaces modernas apresenta ideias extremamente valiosas para a elaboração antropológica e filosófica da cybercultura:
1. Johnson tenta fundir o mundo da tecnologia e o mundo da cultura.
2. Johnson tenta reconhecer o meio da interface como dispositivo de transmissão cultural.
3. Johnson tenta relacionar a concepção da interface com o risco e a incerteza dos nossos modernos enquadramentos informativos.
Apesar de negligenciar os aspectos sociais da cultura das interfaces, a análise de Johnson merece ser repensada, quer numa óptica cyberantropológica, quer numa perspectiva cyberfilosófica. A era do romance pode ter chegado ao seu fim: a interface é efectivamente o meio de informação e comunicação mais dominante e interessante num mundo cada vez mais mediatizado pelo computador e global.
J Francisco Saraiva de Sousa
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