Não pretendia editar novas mensagens neste blogue, pelo menos tão cedo, mas, após ter assistido ao programa de Fátima Campos, «Prós e Contras», sobre o caso do desaparecimento de Maddie, fiquei chocado com a ausência de argumentos convincentes. Com excepção do professor espanhol que tinha a sua graça e do polícia do sindicato que foi relativamente objectivo, os outros intervenientes foram uma decepção: mentes pseudo-criminologistas metabólica e maladrecamente reduzidas.
O psicólogo português reivindicou um novo posto de trabalho: filmar as expressões faciais dos arguidos para submetê-las posteriormente a estudo, a partir de um padrão supostamente universal que não soube explicar. Agarrando e abusando de uma suposta autoridade científica que não soube objectivar, demarcou-se do espanhol dizendo que não estava a dar uma opinião subjectiva mas a emitir uma mensagem científica que, afinal, era uma reivindicação de novos postos burocráticos de trabalho. A ciência desapareceu numa reivindicação de poder, de resto mais ou menos apreendida e condenada pelo advogado, que neste aspecto foi bastante irónico.
Como seria de esperar, o jornalista não sabia dizer nada de jeito, porquanto nem falar sabia. A luso-treta do jornalismo veio à baila, como se os jornalistas portugueses fossem agentes da informação e da comunicação competentes e racionais, quando, na verdade, eles são o caixote do lixo nacional, manipulados pelos verdadeiros abusadores do luso-poder.
Os criminologistas, mais o da investigação criminal do que o da polícia científica, pouco acrescentaram ao debate, e um deles recuou de tal modo a criminologia até ao século XIX, que até mesmo o advogado ficou petrificado, pensando que a nossa criminologia ainda está muito atrasada.
Contudo, detectou-se claramente um complô dos portugueses contra o espanhol, como se fossem superiores aos espanhóis ou quisessem aproximar-se dos ingleses, quando na verdade nenhum dos presentes tinha informação objectiva sobre o caso ou opinião que valesse a pena escutar. As opiniões emitidas não clarificaram o caso, nem sequer o pretendiam fazer, porque, nestas luso-sessões ou debates, o objectivo é falar sem nexo simulando cumplicidades e falsos entendimentos, lá onde se esgrime a espada da objectividade ou da autoridade de uma ciência que ninguém digno do nome de cientista reconhece como sendo a sua actividade. Mas até a autoridade da ciência foi de pouca duração, porquanto, no final do programa, todos estavam de acordo: a ciência não é conhecimento confiável. O que ontem era ciência, hoje já não é ciência: a navalha de Occam falha em muitos casos (o caminho mais curto ou mais económico nem sempre é o melhor), a criminologia debate-se com casos diferentes uns dos outros, não possibilitando apreender padrões uniformes (argumento esgrimido contra a teoria precipitada do espanhol), a polícia científica não é tão científica quanto se possa imaginar, porque as motivações dos crimes são sempre diferentes de um caso para outro, enfim a argumentação da linguagem da objectividade acabou por se converter, no final do falso debate, na argumentação da incapacidade de resolver o caso. A luso-objectividade era a subjectividade do espanhol e esta última, apesar da sua precariedade, era capaz de induzir uma objectividade susceptível de ser debatida, mesmo que viesse a ser refutada pelas novas evidências empíricas relativas ao caso em questão.
Se os ingleses, pelo menos os dotados de bom senso, estiverem atentos ao que foi dito neste último programa de «Prós e Contras» irão concluir necessariamente que, em Portugal, todos falam sem saber o que dizem ou sem dominar o assunto sobre o qual falam. Afinal, os portugueses ali representados usam termos sem dominar o seu sentido conceptual e a matriz teórica da qual são oriundos. A «subjectividade» do psiquiatra espanhol revelou-se mais objectiva que a «objectividade» dos portugueses: ela permitia alinhavar uma hipótese de trabalho, que poderia ser refutada ou corroborada, enquanto as luso-opiniões dos portugueses revelaram não conduzir a nenhuma parte, porque destituídas de espírito científico genuíno. Apenas alcançaram o tão conhecido entendimento da luso-trapaça. O argumento da confissão inicialmente criticado em nome das novas técnicas científicas de pesquisa criminal acabou por revelar ser o único meio de incriminar os arguidos, porque aquilo que devia ser ciência afinal é intuição e, sem se aperceberem disso, tinham aberto a porta a um contra-ataque por parte do psiquiatra espanhol. Contra as mentes luso-reduzidas, ele poderia reivindicar a natureza hipotética da sua teoria, cujo decorrer da investigação criminal poderá vir a corroborar ou refutar.
Neste momento, não entrarei em mais detalhes no que diz respeito à natureza da criminologia, reservando-os para outra mensagem a editar futuramente.
J FRANCISCO SARAIVA DE SOUSA
1 comentário:
Um amigo expressou-me, via Windows Live Messenger, a sua opinião de que não deveria ter criticado o programa «Prós e Contras», porque, apesar do seu «abrandamento», ainda continua a ser o «melhorzinho» que a TV produz. Concordo plenamente com esta opinião e não pretendi criticar a concepção do programa e muito menos Fátima Campos que é uma jornalista digna desse nome. Apenas quis acentuar a insegurança dos intervenientes quando pretendem fundamentar as suas opiniões e a ausência de conhecimentos e de argumentos racionais plausíveis. Eles fizeram eco com a histeria emocional vigente e perderam tempo com um caso que não merece a atenção mundial que lhe tem sido dada. A comunicação social tem este efeito nefasto: fomentar comunidades emocionais completamente avessas à racionalidade. Fátima Campos deve ter mais cuidado na escolha dos seus convidados e evitar trazer sempre os mesmos colarinhos brancos, de resto comprometidos com a luso-merda nacional.
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