quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Quadratura do Círculo...

... ou a Circularidade do Quadrado?


Além do apresentador, são três os participantes: Pacheco Pereira, Lobo Xavier e Jorge Coelho e destes apenas um deles tem pretensões intelectuais. Jorge Coelho é um político de aparelho partidário inteligente, ágil, atento e muito pragmático. Lobo Xavier parece distanciar-se muito do seu partido e está mais preocupado com os seus interesses e em movimentar-se nos meios ditos elitistas, mas, como é um «bluedragon» como eu, prefiro deixá-lo a tratar da sua imagem um tanto ou quanto «mole» para um cidadão do Porto. Pacheco Pereira é mais arrojado ou, pelo menos, pretende sê-lo em termos intelectuais e, por isso, sujeita-se e presta-se mais à crítica.

O programa de hoje da «Quadratura do Círculo» (26 de Setembro de 2007) debateu três temas: a situação bizarra das eleições no PSD, a situação do BCP e a situação do seleccionador nacional Scolari. Temas fracos que foram tratados de modo igualmente frouxo e sem grande imaginação política. Lobo Xavier defendeu o futebol e Pacheco Pereira limitou-se a desempenhar o papel daquilo que pensa ser o intelectual: mostrar desprezo pelo futebol e seu mundo, sem deixar de ferrar contra Pinto da Costa. Como disse Jorge Coelho, prevaleceu, no caso de Scolari, o luso-porreirismo. Mas Pacheco Pereira vai mais longe e fala de caciquismo nacional. E fala com muita autoridade, porque o caciquismo nacional é, em grande medida, uma invenção do PSD, aliás bem visível na actual conjuntura do partido. A análise de Pacheco Pereira é questionada por Lobo Xavier, mas tudo sem argumentação clara, até que o último se lembra de dizer que o comentário de Jorge Coelho sobre o BCP poderia ser interpretado como uma tentativa de intervenção do governo nos assuntos privados do Banco. A direita voltou a unir-se em torno deste tema, sem grande convicção, até porque Pacheco Pereira é cliente da Caixa Geral de Depósitos.


Meia hora de conversa de comadres! Se não fosse a atitude digna tomada por Santana Lopes em abandonar a entrevista por ter sido interrompido pela cobertura da chegada de José Mourinho, a noite na companhia da SIC Notícias teria sido, como geralmente é, uma terrível perda de tempo, porque, pensando bem, a SIC em geral é uma empresa muito próxima do PSD e essa proximidade, por vezes excessivamente íntima, tira-lhe dignidade e credibilidade. Com excepção de Rui Rio, um homem sério que luta pelos interesses reais do Porto, o PSD está cada vez mais confrontado consigo mesmo e com a gula dos seus militantes oportunistas e, nalguns casos, corruptos e abusadores do poder e, como resultado disso, corremos o risco de ficarmos sem oposição responsável, a menos que adiem justamente as eleições e surja uma terceira candidatura, capaz de eliminar o caciquismo endémico do partido laranja.


Pacheco Pereira critica o futebol e as audiências que este consegue, em detrimento de assuntos públicos mais interessantes, mas, se ainda fosse capaz de fazer auto-análise e auto-crítica, encontraria uma resposta para essa preocupação legítima, que o deixaria paralisado: «Eu, Pacheco Pereira, sou uma tremenda mentira... O melhor que faço é abandonar a esfera pública e ingressar num mosteiro anti-futebol, onde poderei curtir a minha dor de inveja daqueles que, sem nada saber, triunfam com chutos na bola.» É com muita tristeza que concordo, ou melhor, que concordamos, porque não sou o único a pensar tal coisa, com este Pacheco Pereira «auto-crítico» que tanto quis abraçar o mundo que acabou por o perder, sem conseguir opor-lhe, ainda que abstractamente, uma filosofia política minimamente interessante que estivesse um pouquinho para além da opinião voluntarista e meia polida. Mas também neste domínio Pacheco Pereira não está sozinho: uma turba enorme de pseudo-intelectuais fazem-lhe companhia, talvez sem o brilho que ele já teve em tempos passados: Carrilho, que ainda não percebeu que os portugueses o detestam, Marcelo Rebelo de Sousa, que sem o seu direito de dar notas seria facilmente descartado, e tantos outros que se julgam intelectuais e que falam como comadres tolas... da cozinha de Eça de Queiroz ou de culinária, de resto temas muito pouco dignos de intelectuais supostamente imaculados e etéreos, como eles pretendem ser, sem superar a estupidez de outro programa da SIC Notícias - «O Eixo do Mal», que tanto critica a sociedade americana sem tomar consciência que são as empresas americanas que lhes permitem dizer tantas bobagens, umas pertinentes e com sentido de humor, mas outras mesmo muito idiotas e infantis. Afinal, o nacional porreirismo de que fala Jorge Coelho é a maneira de viver descoberta pelos luso-burricos para tentar desesperadamente manter uma falsa auto-imagem de si próprios: «não te metas comigo e eu não me meterei contigo». Este consenso dos luso-burricos é o modo de fugirem da voz da sua consciência que interpela o vazio mortal que são como pessoas canceladas. Portugal é um país cancelado e quem queira inverter esta situação faça o favor de intervir com comentários neste blogue e juntos poderemos imaginar um outro país.


J Francisco Saraiva de Sousa

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