Não assisti a todo o programa «Prós e Contras» de hoje dedicado à educação, um tema que trato frequentemente nos meus blogues.
Mais uma vez detecta-se facilmente a capacidade do governo socialista de José Sócrates em esvaziar a oposição e, reconheça-se, como mérito.
Rodeada praticamente de adversários, a Ministra da Educação conseguiu passar a sua mensagem número um: o que importa não são os problemas sócio-profissionais dos professores, mas a política da educação, ou seja, a obtenção de resultados positivos, o combate ao abandono escolar e o sucesso escolar. Com esta mensagem, a ministra conseguiu alencar todo um conjunto vasto e desigual de medidas e de indicadores que mostram que essa política está a ser implementada com bons resultados.
No plano dos princípios e no sentido das mudanças introduzidas, não há quase nada a contestar. A prova disso é que todos os adversários presentes não tinham ideias e, muito menos alternativas interessantes, a apresentar, e os sindicalistas, como seria de esperar, só se preocupavam em defender os seus interesses metabolicamente reduzidos, com aquelas carinhas feias e medrosas. De facto, a ministra tem toda a razão quando afirmou que era necessário pôr termo aos 30 anos de facilidades e apostar na qualidade da educação, concentrando a atenção naquilo que interessa: a educação.
Quer se esteja ou não de acordo com muitos princípios da actual política da educação, alguns dos quais deveriam ser mais problematizados, a verdade é que o governo está a alterar um dogma dos últimos 30 anos: a competência dos professores e a sua carreira supostamente garantida. A destruição gradual mas acelerada do ensino após o 25 de Abril de 1974 está a ser corrigida e o ministério da educação exige doravante maior rigor e, segundo espero, resultados positivos não-adulterados. Ironicamente, para pôr fim ao chamado conflito entre ministério e professores, sempre presente no discurso dos sindicalistas, a ministra não só elogiou a sua equipa, como também fez questão de acentuar que sem os professores não teria conseguido obter esses resultados positivos.
Contudo, houve questões importantes que Fátima Campos colocou em cima da mesa, mas que não foram esclarecidas: a indisciplina e a violência escolar (a «incivilidade» nas palavras ministeriais), a autonomia das escolas (Joaquim de azevedo usou-a para empenhar a Universidade Católica na sua missão de obscurantismo, reforçado pela avaliação dos manuais escolares), a participação dos pais na escola (o representante dos pais reconheceu a incapacidade dos pais para educar os filhos e, por isso, precisam de estudar para ser pais, dado serem animais domésticos cujos instintos degeneraram) e em que moldes, o papel das autarquias (cuidado: algumas, as laranjas, são governadas por corruptos), a necessidade de reformas curriculares alargadas, a necessidade de encarar a escola numa perspectiva de esforço e de investimento e não numa perspectiva lúdica, defendida pelo ex-secretário de Santana Lopes, a política dos manuais escolares (acabar com o mercado garantido pelo Estado às Editoras privadas: boa ideia ministerial) e apoio aos desfavorecidos, enfim problemas que dizem respeito à política da educação e que possibilitam avaliá-la em termos de resultados positivos ou negativos.
A ministra abordou-os levemente e os seus adversários poucas criticas substanciais tinham a fazer. Gostei de escutar que as reformas curriculares constituem uma etapa posterior que o governo pretende levar a cabo e espero que esteja inspirado quando começar a prepará-las, não tomando à letra a expressão «choque tecnológico», dando ou quase dando computadores, à custa das chamadas Humanidades, entre as quais se inclui erradamente a Filosofia. Afastar os incompetentes é uma reforma excelente, mas eliminar a formação cultural e humanista do ensino é destruir Portugal e a civilização a que pertence: o Ocidente. A língua portuguesa está a ser maltratada pelos professores de Português e, neste aspecto, se não fossem os programas em português das televisões nacionais, incluindo as desgraçadas das telenovelas, os portugueses falavam tudo menos em língua portuguesa. Além disso, o ensino da informática e das ciências não está nada bem de saúde. Tudo tem corrido mal no ensino após o 25 de Abril e todos são responsáveis pela mediocridade nacional e, de facto, um sindicalista colocou inadvertidamente a mão numa das feridas: a decadência do ensino universitário, agravada pela entrada em cena das chamadas ciências da educação, do ramo educacional nos cursos universitários e pelo advento do ensino superior privado, geralmente levado a cabo por meros professores do ensino secundário e com a ajuda, em alguns casos, de autarquias pouco escrupulosas nos usos do dinheiro público. A ministra acentuou enfaticamente que o seu modelo de organização era vertical e hierarquizado, de resto um bom modelo, capaz de impor disciplina, produtividade e competição saudável.
Outro problema colocado pelo ex-secretario de Santana Lopes que vê o ensino como um «equilíbrio», mais lúdico do que sério, diz respeito à necessidade dos rapazes serem alvo de medidas especiais, uma questão de facto que tenho sempre referido nestes meus blogues e que atribuo à fragilidade biológica dos machos.
De resto, foi um programa excelente de Fátima Campos que já nos habituou a jornalismo de elevada qualidade, que se segue a um outro grande programa de Judite de Sousa, «Notas Soltas», onde António Vitorino revela a sua superior inteligência e enorme qualidade política, tudo aquilo que o professor Marcelo Rebelo de Sousa possui em menor quantidade e qualidade, apesar de ter sido professor do primeiro.
J Francisco Saraiva de Sousa
1 comentário:
Esqueci-me de fazer uma observação: o ex-secretário do governo de Santana Lopes deixou espacar uma ideia que caracteriza a alma de muitos luso-burricos. A dimensão do esforço não pode ser sobrevalorizada em detrimento da dimensão lúdica do ensino, porque os menos capazes podem sentir-se frustrados. O incentivo do mérito produz frustração, conclui o ex. Ora, a escola é precisamente escola do mérito: os frustrados devem procurar outros rumos e deixar o espaço livre de luso-invejosos e luso-frustrados. Só assim podemos melhor a qualidade do ensino, libertando-o dos luso-burricos, frustrados e invejosos.
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