terça-feira, 24 de junho de 2008

Ernst Bloch e a Arquitectura


Aliando-se à «corrente quente» de Rosa Luxemburgo, Ernst Bloch (1885-1977) propõe uma nova leitura de Marx que, sem abandonar a crítica da economia política, portanto, o Marx da maturidade, dinamiza a utopia, não a "utopia abstracta", pensada como um esboço ou um modelo de um Estado idealizado de justiça e de igualdade, mas a "utopia concreta", de modo a corrigir e a ultrapassar os conceitos de um materialismo vulgarizado. Isto significa que Bloch reactualiza o "socialismo utópico" e os conceitos éticos de um pensamento voltado para o futuro e enraizado numa ontologia do "ainda-não-ser". As categorias centrais deste "novo espírito utópico" são a "possibilidade" e a "esperança".
UTOPIA CONCRETA. No pensamento de Bloch, a verdade implica um sentido de emancipação, apresentando-se como uma espécie de alavanca para uma prática humanista transformadora, a qual pode concretizar-se no processo real da história humana, porque nela está latente uma tendência proto-utópica que ainda não conseguiu realizar-se. Este "ainda-não" constitui a categorial fundamental da filosofia blochiana da praxis, a qual se estrutura basicamente na determinação do ser e do ente através da "antecipação do futuro" no ser do presente, ou seja, na co-determinação do ser presente pelo horizonte do futuro. Contudo, a realização e a exteriorização dessas potencialidades não são o resultado de um imanentismo automático, mas dependem da actividade prática e crítica dos sujeitos. Estes devem apoderar-se dessas possibilidades reais de transformação e utilizá-las no sentido de uma prática transformadora verdadeiramente humana.
Bloch distancia-se claramente da "interpretação científica" ou positivista do socialismo de Engels, reintroduzindo o conceito de "dignidade humana", retomado da filosofia do "direito natural", e exorcizando o conceito demasiado "positivo" de ciência. A conservação do sentido revolucionário do direito natural permite-lhe fundamentar os direitos do indivíduo, do cidadão e da democracia pluralista, sem os quais não pode haver socialismo autêntico. Isto significa que, segundo Bloch, o socialismo exige «a prática real dos direitos do cidadão» e a garantia das liberdades individuais. Bloch retoma a crítica de Rosa Luxemburgo contra Lenine, para afirmar que estas conquistas históricas da burguesia devem estar inscritas no projecto e no programa de um governo socialista.
Bloch faz uma distinção entre uma "corrente fria" e uma "corrente quente" no marxismo e, sem a aplicar à própria teoria de Marx, defende claramente a "corrente quente" oriunda de Rosa Luxemburgo, embora de um modo peculiar. Com efeito, para Bloch, a análise político-económica de Marx está intimamente ligada a uma filosofia escatológica da história, isto é, a uma interpretação messiânica secularizada da história, oposta à teoria social-democrata do gradualismo e do progresso científico enquanto libertador da humanidade. Isto significa que a "corrente fria" do marxismo enquanto condição de possibilidade da sociedade capitalista e da modernidade perde a sua eficácia como instrumento crítico de uma filosofia da praxis que visa a transformação radical do mundo, a menos que seja completada, ao nível teórico e prático, pela "corrente quente". Esta exprime as aspirações profundas que visam a democracia, a justiça social e a fraternidade entre os homens, bem como a crítica da ideologia que legitima a dominação do homem sobre o homem.
Deste modo, a "corrente quente" possibilita realizar uma síntese produtiva entre a ética socialista e a prática renovadora, entre a imaginação social e a conquista do poder, entre a teoria e a prática de emancipação. Bloch abandona claramente o conceito de "ditadura do proletariado", aliás um conceito marginal no pensamento de Marx, e propõe um "socialismo da liberdade", o qual deve ter consciência da sua herança utópica. Bloch define o marxismo como uma "ciência das tendências", descobrindo nele uma "ciência mediatizada do futuro". Estamos diante de uma "ciência dialéctica da realidade", ou seja, diante de uma análise das variadas possibilidades objectivas (Georg Lukács) de "transformação do mundo conforme a medida humana". Esta nova ciência, ou este "novo marxismo", precisa estar aberta às suas heranças culturais e à percepção inteligente das propriedades da realidade que apontam para o futuro. A ciência dialéctica das tendências é, no fundo, a "nova ciência do futuro", visto ser «a consciência progressiva do todo (totum) progredindo», do todo que ainda é factum, mas que se desenvolve no conjunto do devir, juntamente com o que "ainda-não-se-tornou".
Assim, ligando o projecto marxista do "tornar-se-mundo" da filosofia e do "tornar-se-filosofia" do mundo com a categoria de possibilidade no horizonte do ente, Ernst Bloch integra a teoria marxista no horizonte mais amplo de uma ontologia do ainda-não-ser, fundada na hipótese da exteriorização possível da imanência utópica no ente e de um destino utópico final de um mundo inacabado, mas preparado para um aperfeiçoamento constante, graças à categoria de "possibilidade". A filosofia de Bloch completa e "ultrapassa" o projecto de Marx, mas, tal como o jovem Marx, afirma que o último eschaton desta filosofia da praxis deve ser a realização da "consubstancialidade do homem e da natureza": o advento de uma sociedade nova que realiza a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo constituído pelo homem, e a humanização constituída da natureza. Ernst Bloch é, pois, o fundador do pensamento neomarxista da "utopia concreta", de uma ontologia do "ainda-não-ser (existente)" e de uma "fenomenologia da consciência antecipadora". Num mundo cada vez mais carente de imaginação política, a filosofia deve repensar a "docta spes" de Bloch: repensar o inventário das imagens do desejo, dos sonhos diurnos e das figuras de antecipação utópica, tais como emergiram na história da filosofia, da literatura, da arquitectura e da música, nas utopias dos contos de fadas e nas utopias arquitectónicas modernas.
Ernst Bloch coloca a utopia no cerne da existência humana, cabendo à acção subjectiva interpretar e realizar as possibilidades utópicas "ainda-não-realizadas" do passado e remodelar as necessidades reprimidas da humanidade quando emergem no conjunto complexo dos produtos culturais através dos quais a história é entendida. De facto, a ideia que preocupou Bloch foi "o sonho de uma vida melhor". O conceito blochiano de sonho merece especial atenção, quer na sua estética, quer na sua ontologia do "ainda-não-existente" (noch-nicht-Seiende). Embora seja um conceito de difícil compreensão, podemos torná-lo acessível ao entendimento do comum dos mortais: "o sonho que olha para a frente" (der Traum nach Vorwärts), encarando o "modo como as coisas são", não é definido na filosofia de Bloch como uma regressão às fantasias infantis. Ao contrário de Freud, Bloch recusa concentrar-se no "sonho nocturno", cuja verdade emerge nas lembranças do passado primordial ontogenético e filogenético ou do "não-mais-consciente". Bloch destaca preferencialmente o papel do "devaneio", o "sonho diurno", o sonhar acordado, com a sua projecção do "novo", o "ainda-não-consciente", e a sua vaga ligação com a situação em que se encontra o indivíduo. A esperança aparece no devaneio e a felicidade é vista «como a forma das coisas por vir». O devaneio, o sonhar acordado, é capaz de superar as censuras do superego e, deste modo, conservar um núcleo utópico.
Esta ênfase na "consciência antecipadora", no devaneio e no ainda-não-consciente, mostra claramente que o conceito de possibilidade não resulta somente da análise de determinadas condições de existência, mas constitui uma propriedade da "consciência pura". Bloch distancia-se, neste aspecto, de Heidegger e de Jean-Paul Sartre, bem como dos seus seguidores. Para Heidegger, a categoria central da experiência autêntica é, na sua analítica da morte, a angústia. Mas, uma vez descoberta a possibilidade, a esperança é um modo de experiência tão legítimo quanto a angústia. Face a uma "possibilidade concreta", existe a esperança de que seja realizada e a angústia de que não seja realizada. E, como a morte é inevitável, Bloch conclui que a possibilidade real «não reside em qualquer ontologia acabada do ser daquilo que já é existente, mas sim na ontologia do ainda-não-existente, que é continuamente fundamentado cada vez que descobre o futuro no passado e em toda a natureza». Isto significa que a sua ontologia não está acabada, mas aberta ao futuro: «o marxismo não está fechado», isto é, concluído.
UTOPIA ARQUITECTÓNICA. Ernst Bloch analisou as utopias arquitectónicas em chave utópica: os edifícios e as cidades que figuram um mundo melhor. A grande arquitectura visa antecipadamente a "edificação do reino da liberdade", através da "humanização da natureza": a morada, a terra natal, a casa, o lar, enfim a pátria, edificadas antecipadamente que revelam, na sua execução na arquitectura, os sonhos de um mundo melhor. Para Bloch, a arquitectura é a "arte do espaço" e o espaço arquitectónico é visto como "a representação de um espaço imaginário no próprio seio do espaço empírico". Embora a arquitectura moderna estivesse inicialmente orientada para o exterior, para o sol e o espaço aberto, as suas concretizações funcionais e urbanísticas traíram a sua ambição utópica, bem como o espírito das utopias arquitectónicas do Egipto e do Gótico, tornando a sua síntese impossível.
No período entre as duas Guerras Mundiais, esta abertura ao exterior e ao sol foi dominada e suplantada pela construção de conjuntos transformados em "edifícios blindados", que ressurgem nos nossos dias sob a forma de condomínios fechados, como se a vida estivesse em perigo e necessitasse de segurança autoritária. Esta necessidade de segurança reflecte actualmente o abismo das desigualdades sociais. Os condomínios fechados reflectem as actuais relações sociais de produção capitalistas que dilaceram a sociedade em dois grupos sociais: o reduzido número dos muito ricos e o exército dos muito pobres. Os ricos auto-excluem-se refugiando-se em condomínios fechados de luxo e apropriando-se privadamente da natureza embelezada, mas o que fazem deveras é concentrar a riqueza e produzir exclusão social. O edifício fechado em si mesmo revela, como viu Fredric Jameson, a face oculta da exclusão social plasmada na pedra e no cimento das cidades modernas tardias. A era das massas e a sua arquitectura funcional produziram uma "máquina desumanizada" e a correspondente casa privada de aura, a imagem de uma cidade sem vida, absolutamente estranha ao homem e aceite como tal, feita de feixes de luz ou de outras imitações de uma geometria projectiva. Os arquitectos que visavam a reforma social, em especial Le Corbusier, Walter Gropius e, em menor grau, Frank Lloyd Wright, foram precipitados e muito pouco críticos: em vez de edificar a casa da comunidade dos homens, criaram uma arquitectura que reflecte o carácter glacial do mundo da automação, da sociedade de consumo, da sua alienação, dos seus homens divididos pelo trabalho e pelos lazeres programados, e da sua técnica abstracta. A "sociedade" visada pela arquitectura moderna converteu-se actualmente numa megacidade em que os mais ricos se apropriam do espaço público e o vedam de modo a impedir a livre circulação: cidades de riqueza amuralhada emergem num tecido urbano decadente, pouco seguro e miserável. A democracia tornou-se cleptocracia, o urbanismo fala a linguagem do poder instituído e dos grandes interesses económicos, e, na dialéctica do poder e da liberdade, a grande derrotada é a liberdade de movimento.
A síntese entre as utopias arquitectónicas do Egipto, a do cristal da morte, e do Gótico, a da árvore da vida, é impossível. Bloch não defende uma arquitectura de epígono, mas uma terceira via, o renascimento da arquitectura, capaz de oferecer o espectáculo directo de uma "Arcádia construída": o edifício giratório e a noção de "casa dinâmica" lançada pelo arquitecto David Fisher prometem um novo renascimento arquitectónico. O marxismo sintetiza a liberdade do sujeito (More) e a edificação da ordem (Campanella) numa relação produtiva na qual emerge a "edificação do reino da liberdade". Embora a utopia arquitectónica seja o começo e o fim da utopia geográfica, a tendência não é a da "integração no cosmos", mas a da "humanização da natureza". A missão da grande arquitectura é dispor ou arranjar a natureza inorgânica de modo a torná-la "parente do espírito" (Hegel), sob a forma de um mundo exterior regido pela arte, isto é, de um mundo melhor, traduzido na proporção e no ornamento. Os grandes edifícios são, à sua maneira, a antecipação da utopia de um espaço feito para o homem, um espaço tal que é projectado na utopia. Aqui reside o núcleo da estética da arquitectura: o edifício é o espaço feito para o homem, absolutamente aberto ao futuro do homem novo. A utopia do espaço arquitectónico é, na sua própria qualidade, uma "utopia da terra": os corpos e as casas estão integrados na totalidade terrestre e infiltram-se com a sua própria utopia na utopia geográfica: "O Eldorado-Éden engloba, com diz Bloch, todas as outras utopias do fundamento de um mundo melhor". (As imagens de cima são as da Estação de S. Bento da cidade do Porto e da Estação Central de Berlim.)
J Francisco Saraiva de Sousa

65 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Adoro Bloch mas reconheço que a sua linguagem imaginativa de difícil tradução "esbarra" com a minha linguagem abstracta: o que nos é comum são os conceitos. Fiz um esforço para captar a sua visão da arquitectura sem entrar nos sonhos da pintura, da literatura... em relação à arquitectura. O custo é abstração total! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Hoje é feriado no Porto e dedico este post à festa do S. João. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Amanhã acrescento mais informação arquitectónica, porque hoje estou cansado.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Acho que o post já está muito grande; fiz uns acrescentos urbanisticos e penso que guardo o resto para outros posts. Vou jantar... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ernst Bloch ficaria orgulhoso com a actual Estação de Berlim, uma capital de vidro e de luz, abertura total ao espaço exterior e ao "ambiente".

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Em Portugal é tudo muito maldoso, invejoso e medíocre: Estava a pensar que a Estação de S. Bento poderia ser reformulada e coberta de vidro. Precisamos de edifícios ousados de vidro no Porto. E mais erguidos para rasgar o espaço azul do céu. Modernização no sentido de abertura à luz e novos pavimentos: excesso de pedra em zonas movimentadas ou modernas é estupidez total. Uma cidade deve reflectir a humanidade no seu devir e antecipar o futuro; caso contrário, torna-se um fóssil extinto e degradado.

Os políticos deviam ter um pouquinho de cultura, mente aberta, sentido da realidade viva, algumas leituras feitas e bom senso. Mas o que temos são homens có-có, cinzentos e feios. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

As imagens da Estação de São Bento (Porto) e da Estação Central de Berlim encabeçam o post: veja o site em alemão.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Estação dos Caminhos de Ferro da Beira (Moçambique) é outra grande obra de um arquitecto português.

Outra obra interessante é a Igreja da Polana em Moçambique (Maputo).

André LF disse...

Francisco, as imagens da Estação de São Bento (Porto) e da Estação Central de Berlim são muito belas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

A monumentalidade histórica de Berlim foi destruída pelas bombas das forças aliadas. A Estação de Berlim destruída e depois demolida foi substituída por estava nova Estação Central toda de vidro, como sinal de transparência. Por isso, acho que Bloch iria admirar este edifício aberto à luz do Sol.

Nós aqui no Porto temos umas estações de metro e ferroviária novas, mas sem a grandeza da de Berlim. Muito minimalistas! A Estação de S. Bento é um bom edifício do arquitecto Marques da Silva, o da casa de Serralves. Tem bons azulejos, tem a cúpula de vidro e dá acesso a um tunel escavado na pedra ao longo do rio Douro. Uma visão bela!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas temos mais edifícios de vidro, um deles é o novo Hotel Sheraton: vidro transparente!

E. A. disse...

Bom dia!

Por que é que acha um bom critério edificar em vidro?

A estação mais bela de Portugal é a minha estação do Rossio, onde já me despedi de amores e chorei de dores! Estilo neo-manuelino - sendo o manuelismo entendido como estilo ou como um simples maneirismo decorativo é original e exclusivo português! E a sua plataforma em ferro é grandiosa e bela.
A estação de S. Bento é interessante pelos painéis de azulejo - magníficos no género.

E. A. disse...

Ainda por cima agora restaurada, está linda! E super moderna por dentro. :)

E. A. disse...

O Francisco parece que anda a fazer campanha para a câmara do Porto... :(

E. A. disse...

Por falar em vidro e vou-me já embora: sabia que originalmente, tal como prometeu Carrilho, a Casa da Música seria trasparente? Pois, mas afinal cimentou-se ali um tumor bem opaco.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Porquê campanha pela câmara do Porto? Apenas chamo a atenção para a arte da cidade do Porto. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Claro que o Rossio (estação) foi restaurado com o dinheiro de todos os contribuintes de Portugal: um roubo típico do poder central da capital. Porém, não é um edifício mais belo do que a Estação de S. Bento.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E não aprecio o estilo manuelino: muito ornamental sem substância ou significado. :(

E. A. disse...

Não respondeu à minha primeira pergunta e adoraria vê-la respondida...

Ah pode ter a certeza q é mais bela q a estação de S. Bento e vou-me embora, só volto qd acabar o delírio «serei o novo vereador do urbanismo na câmara do Porto».

E. A. disse...

Claro q n aprecia, porque os seus argumentos são vãos e viciados!!!

Pergunte a qualquer arquitecto, à famosa Escola do Porto, se quiser, se não considera a estação do Rossio mas valiosa arquitectonicamente do que a estação de S. Bento!

E. A. disse...

O estilo manuelino não tem significado! Então o que é que tem significado? O estilo manuelino é glorioso porque é representativo dos Descobrimentos Portugueses!

E. A. disse...

Aliás reporte-se ao património da Humanidade UNESCO: mosteiro dos Jerónimos, Torre de Belém, Convento de Tomar... tudo manuelino!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Casa da Música não é um "cancro opaco"! Tem boas aberturas, é transparente no seu funcionamento, e abre-se ao espaço exterior. Daí que seja utilizada para projectar espectáculos teatrais para o espaço envolvente: Quando passa de carro pode ver encenações, figuras e muita luz.

A Papillon está equivocada quanto ao gosto dos arquitectos: Rossio grande e "bela" estação? Só se for do roubo central!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não conheço nenhuma estética do manuelino! Se fosse tão belo, já teria uma estética. A UNESCO segue critérios de poder e, como tal, corruptos em termos estéticos. A baixa do Porto tb é património mundial, mas isso pouco importa...

E. A. disse...

Sim, a Casa da Música é tão transparente, q eu qd lá passo até dá para me bronzear com a refracção da luz solar...

Enfim! Só se engana a si mesmo!

(E continua sem me responder à primeira pergunta o que só comprova que os seus critérios não são racionais).

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

No seguimento do raciocínio anterior, direi que a Estação do rossio não é um espaço da liberdade, mas da opressão nacional: uma linguagem medíocre do Poder Político vigente em Portugal desde sempre. De um modo geral, o urbanismo das capitais é uma linguagem do poder: os seus espaços não são espaços utópicos; não antecipam a liberdade, mas petrificam a opressão do povo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, a do vidro? Porque o vidro possibilita a abertura do edifício ao espaço envolvente: janelas, portas e vidro funcionam como aberturas, além de melhorarem a qualidade de vida, de saúde e poupar energia.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Essa da Casa da Música não percebo: não tem aberturas? Nunca viu as aberturas?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Poupa energia se o vidro for submetido a um tratamento especial; há casos em Portugal em que os edifícios de vidro são "fornalhas".

E. A. disse...

Claro que vi as "aberturas", mas são mínimas e contagiadas pela monstruosidade do betão.
Enfim... faça o seu elogio à cidade Invicta - eu como amiga da verdade e do belo não posso acompanhá-lo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Estação do Rossio é neo-manuelina.

A Papillon não conhece a Casa da Música ou então não vê bem! Engane-se e siga o critérios masturbatórios da capital: assim não sai da caverna; vive iludida e ofuscada pelas mentiras do poder corrupto. :(

E. A. disse...

Vou-me auto-citar:

«Estilo neo-manuelino - sendo o manuelismo entendido como estilo ou como um simples maneirismo decorativo é original e exclusivo português!»

A estação do Rossio é século XIX, logo uma reinvenção do estilo manuelino adaptado ao romantismo.
Finja que me ensina o bé-á-bá que eu gosto disso.

Claro que conheço a Casa da Música! Ou pensa q estou a falar de cor? Ao contrário de si n me movo por paixões e bairrismos parvos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Papillon move-se por ca-pital-ismo! Oh deixe de ser ca-pitaleca e torne-se cosmopolita! Rossio não é efectivamente mais bela do que S. Bento. E a Casa da Música tem 3 grandes aberturas, além doutras fachadas de vidro enormes. E está rodeada por edifícios novos de vidro.

E. A. disse...

O Francisco é que n quer ver q a Casa da Música é um monstro arquitectónico, salvaguardando, como disse noutra altura da discussão, a sua dimensão cultural, muito importante numa cidade onde acontece muito pouco. Acho que se deve apostar no turismo cultural.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não pense que os portugueses têm muito orgulho na capital! Não têm: vêem apenas corrupção e roubo.

E. A. disse...

Ser cosmopolita em Portugal é uma farsa. Mas ainda maior qd fala na aldeia chamada Porto.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Um monstro? A Casa da Música é um diamante!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aldeia? Ui a Papillon não conhece a história de Portugal. O certo é que temos estrangeiros a vir viver para o Porto e uma das razões que alegam é a sua arquitectura.

E. A. disse...

Ui!

É um diamante em estado bruto! De uma brutalidade que até cega!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas se disser que Lisboa é a capital dos saloios concordo, porque só os saloios fogem da verdade e masturbam mentiras.

E. A. disse...

A única razão interessante de ir viver para o Porto é a genuidade das pessoas, que infelizmente o Francisco não foi contagiado pelo sentido de humor e espontaneidade dos portuenses. Isso sim é o património portuense... ainda q um pouco bairrista, mas a curta visão é extensível ao país todo.

E. A. disse...

*genuinidade

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Papillon podia dedicar-se à divulgação do património nacional, porque tem mais paciência para editar imagens.

Bem, ingénuos só se for não sei onde mas são pessoas nacionais...

E. A. disse...

Não falei de ingenuidade, mas de genuinidade.

O Francisco deveria ler com mais atenção.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

ah genuínos! Quer dizer tolinhos? Sim, por vezes falam contra eles próprios. :(

E. A. disse...

Não, quis dizer no bom sentido: simples, sinceros, sem a arrogância pseudo-aristocrata ou a melancolia enjoativa lisboetas que dão a aparência de ser uma cidade de gente muito séria e cosmopolita.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Existem diversos tipos: talvez a "gente simples" seja mais genuína, mas temos depois os tolinhos públicos que dizem muito disparate, os pseudo-intelectuais, e os ricos exibicionistas e patronais que vivem em espaços proibitivos. E muitos rufias... :(

E. A. disse...

Lembro-me de um livro que um norueguês escreveu há cerca de 2 anos sobre Lisboa em que dizia que os lisboetas têm um olhar triste como se estivessem sempre a contemplar... eu parti-me a rir! Esse norueguês, como tantos outros estrangeiros apaixonam-se por Lisboa, mas dado esta ser uma cidade fantasmática, não distinguem o parecer do ser...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há muita desigualdade e exploração no Porto: extremos sociais mediados pela classe alienada dos funcionários públicos. Mas as pseudo-elites do Porto tendem a ser tb burrecas... e maldosas/invejosas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, os estrangeiros não captam a nossa alma ou, se a captam, fingem que não captam, mas têm um olhar superior.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Por isso, defendo agora a nossa arquitectura. Bem sei que o melhor está lá fora, mas temos bons edifícios e é preciso chamar a atenção do poder público para a sua consevação, revitalização e enquadramento urbano. Nem tudo é mau em Portugal. Docta spes lusa!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Aqui no Porto temos um edifício novo belo: o Centro de Saúde da Boavista à frente do Hospital Militar: a fachada que dá para a rua da Boavista é uma enorme parede (um muro isolador) com uma fileira de janelas no topo; porém o edifício é muito belo. as aberturas são lateriais e tem outro acesso atrás aberto: muito luxo, saúde cara.

E. A. disse...

O problema do Porto (Norte) são os seus magnatas: muito dinheiro no bolso e muita tacanhez de espírito.

Sim, os estrangeiros vêem e adoram uma Lisboa que eu n vejo, mas às vezes finjo que sim, que é para eles ficarem contentes. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon e André

Eis a notícia do dia: o edifício Giratório.

"Primeiro edifício giratório vai ser construído no Dubai. Aquitectura. Projecto foi ontem apresentado em Nova Iorque

Arquitecto italiano revelou um edifício que roda e gera electricidade.

O projecto para os primeiros prédios giratórios (que serão construídos um no Dubai e um outro em Moscovo), foi ontem apresentado em Nova Iorque pelo arquitecto italiano David Fisher. A Rotating Tower Technology Company, liderada pelo grupo Dynamic Architecture, revelou elementos do projecto de design, assim como a planta do edifício giratório, que terá 80 andares e 420 metros de altura. A área média de cada apartamento ronda os 120 metros quadrados. Por seu lado, as vilas, com 1.200 metros quadrados, contam com um espaço adicional para o estacionamento de um automóvel.

Cada andar da torre giratória roda de maneira independente assim surgindo um edifício que pode mudar de forma constantemente. Esta característica revolucionária define, por sí, um modelo de arquitectura no mínimo invulgar.

Turbinas eólicas. Ecológico e independente em termos energéticos, conseguindo auto-abastecer-se através de turbinas eólicas ajustadas entre cada andar, o futuro edifício do Dubai será o primeiro arranha-céus a ser totalmente construído a partir de peças pré-fabricadas, das quais resultará uma economia calculada em cerca de 20 por cento. Conhecido como o "método Fisher", o trabalho de contrução destas torres exigirá ainda menos trabalhadores no local, reduzindo assim os custos da obra. "Cada andar do edifício pode ser construído em apenas sete dias", disse o arquitecto italiano por ocasião da apresentação do projecto.

O edifício combina movimento, energia verde e novos métodos de trabalho de construção, o que poderá contribuir para a mudança de conceitos e hábitos na arquitectura, abrindo portas a uma nova era onde se pode falar de uma noção de "casa dinâmica". O arquitecto italiano David Fisher, dedicou mais de 30 anos de trabalho ao desenvolvimento dos principios técnicos que agora permitem esta obra.

Segunta torre em Moscovo. O projecto da segunda torre giratória, planeada para Moscovo, encontra-se em fase avançada, com a conclusão programada para 2010.

"A nossa intenção é construir a terceira torre giratória em Nova Iorque ", confessou o arquitecto David Fisher, agora no centro das atenções do mundo da arquitectura.

Ao anunciar os projectos no Dubai e Moscovo, o arquitecto revelou ainda que, em função do interesse que disse já ter sido demonstrado por investidores de vários países, torres giratórias poderão vir a ser construidas no Canadá, Alemanha, Itália ou Suiça."

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É preciso que os poderes locais da cidade do Porto estejam atentos ao Edifício Giratório. Não podemos perder a marcha rumo ao futuro: precisamos construir no Porto um edifício giratório. Não tenham medo das alturas: tal como as catedrais góticas, os prédios altos elevam-se ao céu para sondar Deus.

André LF disse...

Francisco, interessante o edifício giratório. É giro :)

Recentemente estava a conversar com um amigo que voltou de Dubai. Vi as fotos que ele trouxe. Não gostei delas. Apesar das belas e faraônicas construções (ex: Burj Dubai), Dubai me pareceu ser uma cidade sem vida, artificial. Ela é a cidade símbolo do capitalismo. Todo novo rico adora ir para Dubai :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Dubai está a levar o dinheiro dos bancos europeus para lá e agora com o aumento dos combustíveis parece nadar em capital.
Não sou muito atraído pelo Dubai: capitalismo do petróleo.

O conceito de edifício giratório e a arquitectura dinâmica, auto-sustentável em termos energéticos, atrai-me.

Aqui no Porto lamento que tenham demolido fábricas de boa arquitectura industrial para construir prédios residenciais. Algumas delas poderiam ter sido restauradas e adaptadas a novas funções, como sucedeu noutros paises.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Grande Emerson escreveu:

"A nossa civilização e essas ideias estão a reduzir a Terra a um cérebro. Vede como, pelo telégrafo e pelo vapor, a Terra está antropoficada".

Ora, no nosso tempo, com o advento das telecomunicações e da rede, a Terra está cada vez mais antropoficada, e não precisamos ver nisso um mal...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Amigos

Outra notícia escondida pelos mass media: O FCPorto é tetratetra campeão em hoquei em patins e venceu novamente o vulgar Benfica.

"Um autocarro de adeptos do FC Porto foi incendiado nas imediações do Estádio da Luz. O acto de vandalismo não provocou feridos, mas o veículo acabou por ser completamente consumido pelas chamas. O incidente aconteceu pouco depois do início da partida de hóquei em patins entre o Benfica e o FC Porto.

"O autocarro foi consumido em pouco mais de 20 minutos. Num dia de jogo decisivo para os azuis e brancos que pela sétima vez consecutiva levaram o título para casa.

"Com medo das guerras entre claques e de sofrer represálias, várias testemunhas no local não quiseram dar a cara. Mas a TVI sabe que indicaram à PSP ter visto 3 indivíduos junto da viatura pouco tempo antes do início do incêndio." (Notícia da TVI)

Eis o retrato de Lisboa Encarnada: uns fracos em tudo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Viva o FCPorto. :)))

... disse...

Meu caro,

A isto o Eça de Queirós chamava um petisco:

"É preciso que os poderes locais da cidade do Porto estejam atentos ao Edifício Giratório. Não podemos perder a marcha rumo ao futuro: precisamos construir no Porto um edifício giratório. Não tenham medo das alturas: tal como as catedrais góticas, os prédios altos elevam-se ao céu para sondar Deus."

Ou seja, um megalómano projecto ainda em fase de experimentação, e em cujas milagrosas capacidades, muito bem propagandeadas pelos marketeers de quem lhes convém, que foram postas em causa por uma data de arquitectos, no que toca quer à autonomia energética, quer ao "pureza" ecológica anunciada, logo que foi mostrado na televisão todo mundo diz: Ah! Também quero um igual. Ainda seguindo essa lógica: Espantoso Esplendoroso Expendioso Edíficio Giratório construido nas magnifcicas e ricas cidades do mundo: Dubai, Moscovo, Nova Iorque e.... Porto!!
Bem, o amor à sua cidade fica-lhe bem, mas acho que por vezes o ofusca, é que essa não me parece uma prioridade de futuro e, se me permite, parece-me muito pouco socialista da sua parte :)

Eu sei que o essencial que está a enaltecer nesse edifício é defensável e possível, mas acredito que haja projectos mais simples, discretos e adaptáveis à cidade do Porto. Esses entusiasmos pelas novidades de anúncio, sim, fazem parte do espírito provinciano que também ataca Lisboa.
Atente-se aos países onde realmente prezam a qualidade de vida e uma cultura de saber e que resposta eles dão a essas espécies de devaneios futuristas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

(Z)

Acima de tudo, defendo a justiça plena e a transparência, bem como a competência e o mérito. Ora, é tudo isto que está a ser destruído em nome da mediocridade. Não gosto de ver perdedores tentar "vencer" corruptamente na "secretaria".
Quanto ao Porto, penso que merece maiores investimentos: Portugal é muito pequeno e não nos interessa seguir o modelo francês do tipo "o resto é paisagem".
Sim, não defendo a construção de um arranha-céus de 80 andares, mas apenas o uso da tecnologia giratória à nossa escala.

... disse...

Em relação à competência e ao mérito, e aos truques de secretaria que refere, que eu presumo que sejam a promiscuidade existente entre os negócios imobiliários e as várias escalas de poder, vou deixar-lhe aqui um texto que tem mais de 100 anos, e que pode ajudar a relativizar temporalmente o problema de fundo :) :
"De forma que o homem vive sozinho. O que o obriga a ser justo e grande? A educação? o exemplo? A educação ensina-lhe a guerra; pedaços de ciência fazem-no balofo e seco; e o exemplo mostra-lhe o triunfo dos habilidosos, dos que se curvam e transigem, sabendo ameaçar ou recuar conforme a ocasião; dos que alijando os preconceitos — coração, ilusões, sonho — ficam mais lestos para um combate sem tréguas. A pobreza parece-lhe a desonra, porque vê sempre o pobre desprezado e calcado; o amor uma irrisão e procura um casamento rico; o sacrifício uma tolice. Só teme a valer a cadeia e a pobreza.
Depois a luta pela vida é aspérrima. Este moço aspira a tudo e tem na sua frente uma multidão compacta, que lhe barra os lugares. O triunfo de quem é? Dos que calcam para passar, sem que haja gritos ou blasfémias que os detenham. Os menos audaciosos ou os mais honestos afundam-se. Não há energia que resista à luta miudinha de todos os dias — se se tem coração. Embota-se a vontade, gasta-se a ambição, e em torno os que adularam ou calcaram sobem, trepam, com risos desdenhosos e ares de protectores.
É por isso que quase todos os rapazes, que até aos vinte anos reclamam justiça e se revoltam, começam, depois, curvos e submissos, a entrar no grande rebanho. Soa a hora trágica da vida, Pesam-se as coisas. Começa-se a ver que o que vale na terra não é o talento nem o trabalho. Para se vencer assim era preciso ser-se um herói ou um santo; gastar-se a existência para se conseguir o que um imbecil alcança numa hora, cortejando e dobrando-se. Principia-se então a ser o quê? Charlatão. A vida é uma comédia. Toma-la a sério para quê — se ela é feita de nulidades, de coisas vãs ou ridículas?"
(in O Padre - 1901, Raul Brandão)

... disse...

Claro que não subscrevo totalmente esse texto, sobretudo o final, era apenas para para fazer o tal paralelo temporal.
Sim, uma arquitectura e um urbanismo, novos, ecológicos, no sentido lato da palavra, e integrados são possíveis, já me mostraram exemplos disso no papel, e já existem algumas aplicações práticas, embora a massificação desse conceito esteja longe de reflectir uma maior consciencialização sobre o assunto, pode tornar-se, como noutros casos, uma imagem de marca absorvida pelo mercado que a traí nos seus fundamentos, mas nesta como noutras mudanças, pequenos passos são preciosos..

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

(Z)

Sim, um bom texto de Raul Brandão, mas não devemos desistir de lutar contra esse modo de ser nacional. Ainda hoje vendo as pessoas na sua folia pensava se merecem o ar que respiram... A vida nacional está pesada e sem vida: desistir de sonhar por causa da pseudosegurança não é bom. Fica-se sempre na mesma... Porém, Raul Brandão descreveu bem o que se passa desde sempre em Portugal.