Na segunda metade do II milénio antes da nossa era, surgiram na Mesoamérica os primeiros centros cerimoniais, principalmente em La Venta e San Lorenzo, nos actuais Estados de Tabasco e Veracruz, adornados com pirâmides e palácios construídos em redor de praças cobertas com mosaicos: o povo misterioso que transformou a estrutura social do México vivia na região costeira do Golfo do México. Nesta terra quente e húmida abundava a borracha, razão pela qual os seus habitantes foram chamados "olmecas", que significa "povo da borracha" - "povo del bule" - em náhuatl, a língua dos astecas. Antes do seu desaparecimento em 400 a.C., os olmecas já tinham difundido a sua cultura por uma extensa área da Mesoamérica, desde o vale do Balsas até El Salvador e a Costa Rica, do litoral do golfo até às montanhas de Oaxaca e ao litoral do Pacífico. Pirâmides e altares, estelas esculpidas, baixo-relevos, jades e jadeístas cinzelados e, sobretudo, a escrita hieroglífica e a contagem do tempo: eis os traços essenciais que os olmecas legaram a todas as grandes civilizações do período clássico do México. A descoberta desta primeira civilização não foi um triunfo repentino da arqueologia: o significado dos primeiros vestígios da civilização olmeca permaneceu durante muito tempo sem ser compreendido. Em 1840, John Lloyd Stephens - um explorador norte-americano - descobriu e descreveu os maias da selva do Petén guatemalteco e da Península de Yucatán no México. Os especialistas e o público inteligente convenceram-se - durante um século - que os maias tinham sido os fundadores da civilização mexicana. Vinte anos depois de Stephens ter publicado a sua magnum opus sobre os maias, José María Melgar descobriu em 1862 a primeira cabeça colossal de pedra olmeca que pesava aproximadamente vinte toneladas: as feições negróides dessa cabeça não tinham nenhuma relação com qualquer objecto maia conhecido, mas, em vez de identificar uma nova cultura, Melgar procurou dar apoio às teorias sobre os navegadores negros que tinham supostamente visitado a América. A revelação da cultura olmeca foi adiada - ou melhor, esquecida - até que, em 1905, Eduard Seler - um estudioso alemão - sugeriu que essa cabeça era produto de uma cultura mais universal cuja área de influência não se limitava ao litoral da costa do Golfo. Os novos objectos olmecas descobertos durante esse período não geraram muitos comentários entre os especialistas. Franz Blom - antropólogo dinamarquês - e o jovem norte-americano Oliver La Farge descobriram em 1925 La Venta, o sítio arqueológico olmeca mais importante, juntamente com Tres Zapotes e San Lorenzo, donde desenterraram uma segunda cabeça e onde descobriram o grande altar de pedra - o Altar 4 -, mas a obsessão maia que lhes impregnava a mente impediu-os de identificar uma nova cultura anterior à civilização maia. Marshall H. Saville - director do Museum of the American Indian de New York - foi o único que abordou, num estudo publicado em 1929, estas novas descobertas como parte de uma nova cultura a que deu o nome de "olmeca". A cultura olmeca adquiriu uma nova dimensão universal - não confinada à quente e húmida costa do sul de Veracruz - quando George Vaillant - conservador do American Museum of Natural History de New York - descobriu em 1928 uma pequena orelheira de jade com a figura de uma besta agachada, metade homem e metade jaguar, que recordava exactamente o que Blom tinha achado em La Venta: as formas artísticas olmecas estavam imbuídas pelo culto ao jaguar. A descoberta de relevos de tipo olmeca em Chalcatzingo, no Estado de Morelos, confirmou logo a seguir a natureza panmexicana da misteriosa nova cultura que os especialistas procuravam ignorar. Matthew W. Stirling - arqueólogo - desempenhou nos estudos olmecas o mesmo papel que Stephens tinha desempenhado em relação aos maias um século antes. Em 1939, Stirling descobriu na base do montículo maior de Tres Zapotes uma estela - a estela C - com uma fileira vertical de números de barras e pontos, que aparentemente registava uma data mediante o método utilizado pelos maias. No lado oposto da pedra havia uma máscara de jaguar muito estilizada, tipicamente olmeca: Stirling descobriu que os números da pedra registavam uma data 260 anos anterior à mais antiga data esculpida em qualquer monumento de um sítio maia. Escolas de pensamento opostas discutiram o problema colocado pelas descobertas de Stirling: a causa olmeca foi defendida por dois mexicanos, Alfonso Caso e Miguel Covarrubias. Em 1942, a Sociedad Mexicana de Antropología realizou uma mesa redonda para discutir a prioridade histórica da cultura olmeca em relação à cultura maia. Embora os especialistas estivessem dispostos a aceitar que os olmecas eram, na realidade, a primeira civilização do México, Eric S. Thompson defendeu energicamente o seu povo preferido - os maias, tendo conseguido com a sua argumentação hábil e erudita fazer recuar Stirling. Porém, em 1957, o laboratório da Universidade de Michigan confirmou a maior antiguidade dos olmecas: o carbono 14 mostrou que as datas para La Venta iam de 800 a 400 a.C. A cultura olmeca acabou por triunfar e impor-se a toda a comunidade científica graças à utilização da técnica de radiocarbono. Sobre a civilização olmeca - a primeira grande civilização da Mesoamérica - aconselho os seguintes livros: Bernal, Ignacio (1968). El Mundo Olmeca. México: Ed. Porrúa.
Coe, Michael D. (1968). America's First Civilization. New York: American Heritage Publishing Co.
Coe, Michael D., & Diehl, Richard A. (1980). In the Land of the Olmec, 2 vols. Austin, Texas, London: Texas University Press.
Covarrubias, Miguel, & Chan, Román Piña (1964). El Pueblo del Jaguar. México: Museo Nacional de Antropología.
Flannery, Kent (1976). The Early Mesoamerican Village. New York: Academic Press.
McNeish, Richard (1967-1972). The Prehistory of the Tehuacán Valley, 5 vols. Austin, Texas, London: University of Texas Press.
Milbraith, Susan (1979). A Study of Olmec Sculptural Chronology. Washington, D.C.: Dumbarton Oaks.
Soustelle, Jacques (1986). Los Olmecas. México: Fondo de Cultura Económica.
Wicke, Charles R. (1971). Olmec: An Early Art Style of Pre-Columbian Mexico. Tucson, Arizona: University of Arizona Press. J Francisco Saraiva de Sousa
4 comentários:
Estas estátuas são maníficas! E todas diferentes, eram retratos realistas dos militares! Verdadeiramente impressionante! Mas pouco se sabe e mto se especula...
Ya, é uma arte monumental que desafia a nossa imaginação. :)
Falta-me falar do mundo de Teotihuacán, de Tula e da era tolteca. Depois disso já posso começar a aprofundar temas específicos.
Ando muito, muito, mesmo muito, preguiçoso. :(
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