quarta-feira, 9 de junho de 2010

Humanismo Quetzalcoatliano

A Serpente Emplumada - tradução literal de quetzal (pássaro) e cóatl (serpente) - é, pela sua singularidade e profusão, o símbolo das antigas culturas mesoamericanas. Em 1345, os astecas fundaram Tenochtitlán: o seu guia espiritual era a mensagem humanista de Quetzalcóatl, o grande profeta americano, ou melhor, o primeiro homem que se converteu em deus - não é um deus encarnado - para ajudar os seus semelhantes a orientar a sua existência na direcção do aperfeiçoamento espiritual e moral num mundo instável e entrópico. O pensamento náhuatl observa a ordem objectiva a partir da sua materialidade, sem se deixar aprisionar pela inércia aparente dessa ordem material: o homem pode libertar-se das ligações naturais que o aprisionam aos seus limites mortais, mediante o desenvolvimento da faculdade da reflexão. A Filosofia de Quetzalcóatl foi reconstruída e analisada de modo brilhante por Laurette Séjourné: os astecas adoptaram os ensinamentos de Quetzalcóatl como base moral da sua sociedade, mas usaram as suas leis de aperfeiçoamento interior para legitimar uma sangrenta razão de Estado: a união mística com a divindade, que o indivíduo só pode alcançar gradualmente mediante uma vida de contemplação e de penitência, passou a ser determinada pela maneira como se morre: o sacrifício humano, a transmissão da energia humana - o sangue - ao Sol. A revelação exaltante da Unidade eterna do espírito converteu-se em princípio de antropofagia cósmica: a libertação do eu diferenciado realiza-se assim por meio do assassinato ritual que fomenta as guerras.

Sobre a civilização asteca - a minha civilização pré-colombiana preferida - recomendo a leitura das seguintes obras:

Anawalt, Patricia (1981). Indian Clothing before Cortes: Mesoamerican Costumes from the Codices. Norman, Okl: University of Oklahoma Press.

Bray, Warwick (1968). Everyday Life of the Aztecs. New York: Putnam.

Brundage, Burr Cartwright (1972). A Rain of Darts. Austin, Texas: University of Texas Press.

Caso, Alfonso (1971). El Pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Económica.

Davies, Nigel (1974). The Aztecs. New York: Putnam.

Davies, Nigel (1980). The Toltec Heritage. Norman, Okl: University of Oklahoma Press.

Davies, Nigel (1982). The Ancient Kingdoms of Mexico. London: Penguin Books.

Duverger, Christian (1978). L'Esprit du Jeu chez les Aztèques. Paris: Mouton-EHESS.

Duverger, Christian (1979). La Fleur Létale: Économie du Sacrifice Aztèque. Paris: Éditions du Seuil.

Gibson, Charles (1964). The Aztecs under Spanish Rule. Stanford, California: Stanford University Press.

Hunt, Eva (1977). The Transformation of the Humming Bird. Ithaca, London: Cornell University Press.

Katz, Friedrich (1966). Situación Social y Económica de los Aztecas durante los Siglos XV y XVI. México: Universidad Nacional Autónoma de México.

León-Portilla, Miguel (1983). Toltecáyotl: Aspectos de la Cultura Náhuatl. México: Fondo de Cultura Económica.

Porter Weaver, Muriel (1972). The Aztecs, Maya and their Predecessors. New York: Seminar Press.

Ricard, R. (1933). La Conquête Spirituelle du Mexique. Paris: Institut d'Ethnologie.

Sanders, William T., Jeffrey R. Parsons & Robert S. Santley (1979). The Basin of Mexico: Ecological Processes in the Evolution of a Civilization. New York: Academic Press.

Séjouné, Laurette (1957, 1993). Pensamiento y Religión en el México Antiguo. México: Fondo de Cultura Económica.

Séjouné, Laurette (1959). Un Palacio en la Ciudad de los Dioses. México: Fondo de Cultura Económica.

Séjourné, Laurette (1962, 1993). El Universo de Quetzalcoatl. México: Fondo de Cultura Económica.

Simoni-Abbat, Mireille (1976,1988). Os Astecas. Porto: Vertente.

Soustelle, Jacques (1940). La Pensée Cosmologique des Anciens Mexicains. Paris: Hermann.

Soustelle, Jacques (1955, 1956). La Vida Cotidiana de los Aztecas en Vésperas de la Conquista. México: Fondo de Cultura Económica.

Soustelle, Jacques (1966). L'Art du Mexique Ancien. Paris: Arthaud.

Soustelle, Jacques (1967). Les Quatre Soleils. Paris: Plon.

Soustelle, Jacques (1970, 1983). Les Aztèques. Paris: PUF.

Sullivan, Thelma D. (1976). Compendio de la Gramática Náhuatl. México: Universidad Nacional Autónoma de México.

Vaillant, Georges (1951). Les Aztèques du Mexique. Paris: Payot.

J Francisco Saraiva de Sousa

18 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Lamento mas ainda não vou reformular a filosofia de Quetzalcóatl: atribuo grande importância ao rei de Tula e é a partir daí que vejo as transformações de quetzalcóatl e a degradação do seu misticismo. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Há uma contradição entre o ensinamento de quetzalcóatl e a razão de Estado dos astecas: os sacerdotes que se reclamam da linhagem de quetzalcóatl matavam as pessoas lá no alto no topo da pirâmide e depois vinha o banquete de carne humana. Falta de proteína animal? O canibalismo asteca fascina-me, bem como a angústia que se apoderou do seu universo.

Enfim, os conquistadores tinham os povos oprimidos do seu lado: a besta espanhola era de certo modo quetzalcóatl, o libertador. Afinal, viver calmamente sem ser alvo de um ataque canibal é uma boa ideia, mas o cenário de uma vida atormentada é deveras sedutor. O homem como presa do homem, a caça de humanos: fascinante!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Enfim, com a crise que aí vem, os europeus vão ver os vizinhos como potenciais presas. Quando não há dinheiro para matar a fome, mata-se o vizinho e come-se o vizinho. Ainda vamos ver o surgimento de receitas culinárias a ensinar como preparar a carne humana. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A dialéctica do ser faminto pode levar ao canibalismo: a cena parece ser a de um filme de terror, mas ela é sublime: matar o próximo faz parte do nosso código genético. O homem é assassino e, nesse acto, revela-se a sua liberdade.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A fome dos seres famintos deve ser dirigida para os alvos que a provocaram: todos aqueles que querem desmantelar o estado social.

Não aceito tretas moralistas: matar o outro não é crime.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A comparação de quetzalcóatl com cristo pode ir mais longe: há nos dois casos uma cena canibal, o que justifica de certo modo o canibalismo ritual dos astecas, cuja lei obrigava todos a assistir às cerimónias até ao fim - arrancar o coração das vítimas, lançar a cabeça pela escadaria e comer carne humana. Cristo tb nos dá o seu corpo e o seu sangue. Quetzalcóatl deu o seu sangue e renasceu como vénus, a estrela da manhã... É como se o homem - tal como os chimpanzés - tivesse fome de carne humana... comer o próximo: eis o desejo secreto do homem.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ora, na ausência de proteínas animais, não há tabu que resista à fome negra: as guerras floridas forneciam a carne necessária à dieta dos astecas. A hipótese ecológica é plausível!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

As "malucas" portuguesas andam todas a querer publicar livros: uma acordou poeta e levou seus poemas dedicados à tia, ao cão, ao vinagre, à pila, ao dedal, etc., à editora que o recusou.

Estas malucas são burras sem metáfora: Portugal é o oásis destas malucas. Por isso, estamos no fundo da crise. País louco este! :(((

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, agora descobri que um vizinho que sofre de fetiche ferrari é tb nazi: eu disse-lhe que pelas suas características corporais e faciais é um bom candidato a ser queimado nos crematórios nazis.

E isto é classe média elevada! Vejam como estamos em crise: é tudo maluco e cada um tem fetiches muito estranhos. Eles falam-me desses fetiches como se fossem banalidades normais! Bem, o que lhes falta é mente cultivada. Portugal afunda-se com estes loucos malucos...

Outra tem o fetiche de rezar feita vaca louca, no altar e na cama!!!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Enfim, vivo num hospício = Portugal. A minha imaginação já não consegue explicar todas estas manifestações de loucura fetichista e promíscua...

Desisto de compreender este gado!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Acho que seria mais estimulante viver no tempo dos astecas canibais que viver agora em Portugal: o horror - o medo de ser morto e comido - espevita a mente, mas a loucura do outro é um exílio.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Um casal tem o fetiche da escova de dentes: estou triste por ser o depositário de tantos fetiches. Eles riem-se... A mulher envia foros da vagina pelo telemóvel e... fazem coisas terríveis.

Eu que sou todo moderno fico "reaccionário" diante da promiscuidade que consome Portugal: os malucos falam das suas loucuras sem vergonha. E, numa classificação de 0 a 10, recebem a nota sexual - 10 - totalmente negativa. O seu desempenho sexual é um guião pornográfico: se abolirmos uma fase, ficam desorientados sem saber o que fazer a seguir. Já nem imaginação erótica têm: vazio total. Depois pedem a minha orientação... Tudo isto é ridiculo: não são pessoas, são gado doméstico amalucado.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Conheci um principe árabe, não vou dizer a nacionalidade, mas ele mostrou-me via web-cam a cidade e não só. Bem, como lhe achei graça, não vou editar um post sobre sexo arábico virtual. Já tenho uma amostra árabe muito significativa... A casa dele é um palácio fabuloso.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, acho graça ao facto de viver a noite e dormir o dia, embora eu goste de viver o dia e a noite, mas o calor obriga a preferir a noite. Ele que venha ao Porto... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, os meus amigos de Timor precisam tomar uma decisão de ruptura com o clube adversário do FCPorto, porque cyberdemocracia é todinha portista. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Espero que apreciem o novo desenho do blogue. Quando tiver tempo faço alterações em todos os meus blogues.

A filosofia de quetzalcóatl pode ser vista como uma filosofia existencial: estou a meditar os hieróglifos astecas.

Unknown disse...

acabo de conhecer o seu blog por mero acaso. parabéns. tem uns excelentes posts que tenho gostado de ler. vai já para os favoritos :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Regresse sempre! :)