«A ideia de que os homens nascem livres e iguais é, ao mesmo tempo, verdadeira e enganadora: os homens nascem diferentes. Eles perdem a sua liberdade social e a sua autonomia quando procuram tornar-se parecidos entre si». (David Riesman)
Fico muito angustiado quando sou confrontado com debates sobre a educação, e a angústia que sinto encontra-se «representada» neste belíssimo quadro de Remedios Varo de 1947. A minha carreira de estudante decorreu após o 25 de Abril e, desde o seu início até à sua conclusão, o que eu testemunhei ao longo dos anos foi uma mentira encenada por zombies. Se não tivesse nascido com esta minha paixão pelo conhecimento, na aquisição do qual dispenso intermediários burrecos, teria certamente desistido, alegando que não queria ser educado por zombies com orelhas de burro. Durante todo esse calvário de rituais absolutamente formais, alimentei a esperança de que a universidade seria melhor, mas, quando lá cheguei, a esperança tornou-se desilusão: os professores universitários - meros reforços da estupidez do secundário, eram mais ignorantes e ordinários que os professores do ensino pré-universitário. Mas essa desilusão transformou-se em busca de perfeição privada: o meu "excesso de ego" - usaram hoje esta expressão para me caracterizar! - salvou-me das forças obscuras desse antro comportamental que é a universidade portuguesa. Em Portugal, a educação afundou-se depois do 25 de Abril de 1974, e este afundamento começou primeiramente nas universidades que contagiaram a seguir todo o sistema de ensino e de educação. Hoje a situação é de tal modo insuportável que já não vislumbro uma saída fácil: estou perfeitamente convencido que não podemos melhorar a qualidade do ensino e da educação apostando nos mesmos professores que a destruíram: a mudança qualitativa não pode ser efectuada por estes professores ignorantes (80%?) - e pelos outros parasitas da pedagogia administrativa do Ministério da Educação - que capturaram o sistema educativo. A ralé portuguesa e as suas corporações de vigaristas capturaram o Estado e as suas instituições públicas: a escola de rigor e de exigência (Isabel Soares) foi uma das vítimas da vingança dessa ralé que não suporta a distinção e a diferença, a qualidade e o mérito. Em nome da igualdade violenta, as políticas da educação pós-25 de Abril nivelaram a sociedade portuguesa a partir dessa massa informe e inculta que é a ralé: o sistema de educação regrediu e, no seu lugar, instalou-se a barbárie institucionalizada.
Prós e Contras debateu hoje (31 de Janeiro) a educação e, como tinha passado a tarde a atacar uma professora catedrática - uma burra ordinária e vingativa - outros chamam-lhe "a Vaca ou Porca Velha" - que entrou no ensino universitário graças a uma grande cunha superior e à oferta de certos favores sexuais, dizendo-lhe que o teste que ela repete há mais de 7 anos revela a medida modesta do seu cérebro cognitivo, de resto substituído por um cérebro danificado e sexualmente frustrado (Cf. Reich), desejava poder assistir à noite a um bom debate que rasgasse novos horizontes para a educação. Porém, em vez desse debate sobre a educação e o modo de melhorá-la, escutei um debate sobre burocracia educativa: os participantes deste debate - Isabel Alçada (Ministra da Educação), Isabel Soares, Nuno Crato e Pedro Duarte - ainda não compreenderam que burocracia e cultura se repelem mutuamente. Nomeio esta incompatibilidade essencial - que Mário Nogueira e Albino Almeida vislumbraram quando disseram que não interessa a questão dos números - para mostrar que não podemos melhorar a qualidade da educação sem alterar o modelo de sociedade: a crítica do eduquês protagonizada por Nuno Crato não é suficientemente radical para ferir de morte o sistema educativo vigente, até porque não sabe explicar o facilitismo dos exames. É certo que o grau de exigência dos exames - isto é, a sua ausência - reflecte o estado de degradação do sistema de ensino, mas os professores não são alheios a esse estado de degradação generalizada: a sua incompetência diplomada - sim, os professores foram diplomados pelas universidades portuguesas! - e o seu papel activo no processo de burocratização da carreira docente devem ser questionados. A vida humana é gasta alternadamente em perpetuar-se e em transcender-se. Porém, quando opta exclusivamente pela sua sobrevivência, como sucede em Portugal desde que a ralé conquistou o poder, a vida humana degrada-se: o homem vive somente para não morrer e a sua existência é reduzida à condição humilhante e degenerescente de animal metabolicamente reduzido. A vida dos portugueses em geral e dos professores em particular deixou de ter justificação a partir do momento em que o seu esforço para perpetuar-se se divorciou da sua superação: a redução da questão da educação à questão dos professores ou à questão dos alunos exemplifica perfeitamente o modo de agir da burocracia, que, logo a seguir, opera a redução numérica: o idílio do economicismo. Com esta redução finalizadora, a educação é literalmente liquidada e a escola é impedida de desempenhar a sua real função. A noção de escola de tempo integral revela o grau elevado de instrumentalização da escola: privada de si mesma e impedida de desempenhar a sua missão, a escola é colocada ao serviço de interesses que lhe são absolutamente estranhos e hostis. A este conceito heterónomo de escola devemos opor o conceito de autonomia da escola. De certo modo, os participantes detectaram essa necessidade de reinventar a escola quando reclamaram a diminuição do centralismo (Isabel Soares) ou a descentralização da escola (Pedro Duarte). Porém, a segunda parte deste debate moderado por Fátima Campos Ferreira quebrou o consenso aparente, mostrando como ideias boas são usadas pelos agentes políticos para dar forma a realidades contrárias ao espírito dessas mesmas ideias: o discurso do PSD sobre o emagrecimento do Estado caiu por terra quando Pedro Duarte alinhou com as reivindicações tontas de António Guerreiro, a favor do financiamento público ilimitado do ensino privado e cooperativo. A autonomia da escola converte-se assim em destruição do ensino público: o PSD deseja privatizar o ensino mas sem emagrecer realmente o Estado. Toda a agenda política do PSD visa obrigar o Estado a demitir-se das suas funções públicas e a financiar os negócios privados, incluindo os seus prejuízos, como sucedeu no caso do BPN. Ora, numa perspectiva verdadeiramente liberal, o ensino privado deve bastar-se a si próprio (Isabel Soares), sem recurso ao financiamento do Estado: a redução do financiamento público das escolas privadas, muitas das quais resultantes de negociatas corruptas (Albino Almeida, Mário Nogueira), é uma medida racional e justa que Isabel Alçada soube defender, em nome do governo. António Guerreiro - o porta-voz dos parasitas do Estado - não pode negociar com o Estado os dinheiros públicos: a função do Estado não é financiar o sector privado de ensino, sobretudo em áreas cobertas pela oferta pública. Aliás, quase todo o sector privado do ensino, incluindo o ensino superior, contribuiu para a degradação acelerada da educação e para o aumento da corrupção. Porém, mesmo sem este desvio ideologicamente oportunista, o projecto da autonomia da escola esbarra contra a resistência dos agentes educativos heterónomos: os educadores devem ser educados (Marx) - integrando a sua sobrevivência na sua transcendência permanente - para poderem operar essa mudança qualitativa do sistema de educação.
J Francisco Saraiva de Sousa
2 comentários:
As pessoas enviam dados mas desejam anonimato. Ora, não edito material que desconheço sem uma garantia de veracidade. Sorry!
Estava com a intenção de escrever sobre o Egipto, mas ainda não terminei o Pirenne, aliás relacionado... :)
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