sexta-feira, 4 de novembro de 2011

João Ameal: Notícia sobre a História de Portugal

João Ameal (1902-1982): Historiador Português
«Quanto a nós, a História não é apenas ciência, arte ou ética; é, ao mesmo tempo, as três coisas - e ainda qualquer coisa mais. /A História é vida - tal o axioma inicial a propor. E não apenas vida dos outros - de outros tempos, de outros seres - mas a nossa vida, antes de nós. Longe está de abraçar o próprio destino quem julgue que a sua história terrena começa no nascimento e acaba na morte. A nossa história é toda a História. A história dos homens é a História do Homem - e a história de cada homem. Em cada homem, está, por isso, a História inteira - que colaborou na sua formação e veio até ele como impulso que nele se resolve e condensa. A História nos fez; agora, somos nós que a fazemos. Escrever a História é buscar-nos, compreender-nos, definir-nos, sentir-nos solidários de um imenso movimento que nos inclui e nos leva. Nada mais vivo, sem dúvida, visto ser aquilo que em nós é anterior a nós e que nos sobreviverá. /Uma ciência? Uma arte? Uma ética? Tudo isso, e mais que tudo isso. Se nos pedissem que arriscássemos uma definição, sugeríamos esta: a História constitui, para o verdadeiro historiador, - um exame de consciência.» (João Ameal)

Finalmente, resolvi ler a História de Portugal de João Ameal, publicada pela primeira vez em 1941. João Ameal tem uma vasta obra publicada, mas, talvez por causa das suas opções políticas - um monárquico que caminhou durante algum tempo ao lado de Salazar, essa obra caiu no esquecimento. Filosoficamente, João Ameal é um pensador profundamente reaccionário, como testemunham as suas obras dedicadas ao tomismo. No entanto, apesar de ser uma figura anacrónica do pensamento contemporâneo, resultado mais do voluntarismo tão típico dos vigaristas portugueses do que de uma sólida formação teórica, a sua obra merece ser lida, até porque está bem escrita. A História de Portugal de João Ameal é, como seria de esperar, uma história política. Em Portugal, um país pouco dado ao pensamento filosófico e científico, os historiadores manifestam uma clara preferência pela história política. Esta preferência justifica-se por um traço fatal do carácter nacional: o português gosta de opinar e de bisbilhotar a vida alheia sem fazer uso do pensamento disciplinado pelo conceito e pela matriz teórica a que pertence. A história política permite à personalidade nacional manifestar livremente esta sua aversão ao pensamento conceptual, de modo a satisfazer o seu impulso bisbilhoteiro, o qual é profundamente malévolo. A mediocridade visceral faz de cada português um carrasco maldito que procura o sentido da sua vida dizendo mal dos outros e das suas obras. O português típico é, geneticamente, avesso à modernização de Portugal: onde há um português típico há um malvado. A maldição de Portugal está ligada a este vasto sector de portugueses típicos, cuja inveja - alimentada pela miséria mental - paralisa o desenvolvimento do país: quer dizer que a maldição de Portugal são os próprios portugueses, cujos cérebros constrangidos por um envelope genético contendo genes arcaicos são responsáveis pelo atraso estrutural nacional. Não adianta iludir a realidade: o arcaísmo mental dos portugueses é um traço genético complexo, cuja manifestação comportamental tende a agravar-se quando se suaviza o mecanismo de punição capaz de suster os seus efeitos malévolos. O temperamento nacional - o conjunto de traços determinados pela genes - implica necessariamente um regime musculado para o domesticar, de modo a tornar a vida social possível. O fracasso consecutivo do sistema de educação não nos permite saber se esse traço arcaico nacional pode ser mitigado pela acção de factores culturais: o que sabemos é que a democracia não consegue enraizar-se em Portugal. Em Portugal, a democracia é uma experiência falhada. (Posso corroborar esta hipótese biológica através do estudo exaustivo de um sector particular da população portuguesa: a comunidade homossexual cujos comportamentos exibidos resultam dessa patologia nacional que se agrava com o envelhecimento. O culto do corpo musculado estabeleceu uma ponte entre os homens heterossexuais e homossexuais portugueses, dando origem ao aparecimento de uma cloaca comportamental que investiguei exaustivamente: o défice de masculinidade tornou-se evidente e anda associado a défices mentais preocupantes.)


A História de Portugal de João Ameal é uma obra volumosa (846 páginas) que esboça a história política da família portuguesa (sic), «sob a égide daquilo que é a primeira verdade histórica de Portugal: a fé em Cristo e o serviço da Sua Doutrina». Não pretendo realizar aqui uma reflexão filosófica em torno da problemática teórica da história política, tal como foi praticada por Seignobos e Lavisse, cujos traços condenados por Marc Bloch e Lucien Febvre foram sintetizados por Jacques Julliard nestes termos: «A história política é psicológica e ignora condicionalismos; é elitista, biográfica mesmo, e ignora a sociedade global e as massas que a compõem; é qualitativa e ignora o serial; visa o particular e ignora a comparação; é narrativa e ignora a análise; é idealista e ignora o material; é ideológica e não tem disso consciência; é parcial e não sabe que o é; atém-se ao consciente e ignora o inconsciente; é pontual e ignora o longo prazo; numa palavra, porque esta palavra resume tudo na gíria dos historiadores, é factual. Enfim, a história política confunde-se com a visão ingénua das coisas, visão que atribui a causa dos fenómenos ao seu agente mais evidente, mais elevado na escala, e que avalia a sua importância real de acordo com a repercussão na consciência imediata do espectador». Bem sei que o propósito de Julliard é reabilitar a história política, livrando-a da má fama que desfrutava entre os novos historiadores, mas a sua súmula é suficiente para denunciar o carácter factual, isto é, ideológico, da História de Portugal de João Ameal, a qual diz observar «as justas proporções entre os vários períodos e as várias figuras». É uma moda francesa a de atribuir aos autores franceses aquilo que foi realizado por autores alemães: quem destronou a história política como história dos vencedores foi Karl Marx, cujo conceito de modo de produção como estrutura global a-dominante permite pensar a autonomia relativa das suas estruturas regionais, de modo a possibilitar a história de cada uma delas. Mas o que pretendo destacar aqui é a necessidade de revisitar a polémica em torno da história política, porque a história política da família portuguesa de João Ameal não se confunde com a "visão ingénua das coisas": o que está em questão é precisamente o conceito de ideologia que, ao contrário do que parece pensar Julliard, talvez na peugada dos primeiros escritos de Althusser contra o "vivido" da fenomenologia, de ingénua não tem nada. Formulo, portanto, a seguinte tese negativa: a ideologia nunca é uma visão ingénua das coisas. (Ou seja: Se há ingenuidade no fenómeno ideológico, ela não se situa na produção mas antes na recepção dos produtos ideológicos. Quase sou tentado a dizer: os membros pouco instruídos da humanidade são seres humanos incompletos. Regresso ao século XVIII? Reparem que me movo mais no campo dos modos de ser, ver e ler do que no campo das intenções!) A leitura crítica da História de Portugal de João Ameal permite não só explicitar esta tese, com recurso à empiria, como também definir a ideologia que opera a ligação imaginária entre os "factos seleccionados", de modo a fazer a apologia da história dos vencedores portugueses movidos pela fé em Cristo. O portuguesismo que Ameal defende é o resultado infértil de uma cópula fatal entre política e religião. A ideologia - inscrita desde logo na materialidade das práticas sociais e das suas cristalizações institucionais - produz efeitos práticos, neste caso produziu uma sociedade bloqueada.


J Francisco Saraiva de Sousa 

5 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os portugueses falam muito e de modo leviano, mas a verdade é que temem ser desmamados pelo euro... Escolheram o insustentável e vão pagar o preço justo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não se iludam: eu sou mais do que o Nietzsche português: Ich bin Ich! E sou um teórico crítico terrível...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, João Ameal foi o 2º visconde e o 3º conde de Ameal.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

De facto, gerou em Portugal - e no mundo tb - uma sociedade de loucos: os portugueses julgam-se inteligentes e bonitos quando na verdade são burros e feios. A igualdade engoliu-se a si mesma: ideia a anular.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os burros comportam-se deste modo: lêem o que escreves e depois feitos baratas tontas tentam construir um lugar-comum que julgam ser bonito. Isto assim não pode continuar...