segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Estou cansado da chuva...

Ponte D. Luís I em noite de nevoeiro, Porto
A chuva tanto convida ao recolhimento meditativo como também dispersa a mente, pintando-a com as cores sombrias dos dias de chuva copiosa. Sampaio Bruno associou o tempo húmido do Porto à inclinação portuense para o pensamento. De certo modo, os dias de chuva incentivam esse recolhimento tão necessário à actividade de pensar; pelo menos, o temporal de ontem e a chuva de hoje levaram-me a reler a obra de Orlando Ribeiro. Já tinha pensado nela diversas vezes, mas a preguiça adiou indefinidamente o movimento de deslocar-me até à estante para retirar de lá as obras de Orlando Ribeiro. Mas hoje, ao chegar a casa, o meu olhar captou-as e retirei a mais conhecida, da qual retenho esta descrição da Cidade do Porto:

«O Porto velho, desenvolvido entre o sítio alcandorado da sé e da antiga câmara, através de ruelas tortuosas que conduzem ao cais do Douro e ao seu principal acesso (o Rio da Vila), acabou por se estender pelo planalto, com o seu casario dominado por torres de imponentes igrejas, tanto nos bairros construídos por ingleses (negociantes de vinho do Porto desde o século XVII) como por brasileiros, retornados e enriquecidos pela emigração. No velho burgo predominam as casas altas e esguias com a maior dimensão perpendicular à rua, providas de clarabóias para iluminação das divisões interiores. Aí se encontra, às vezes em arruamentos como o dos ourives, o comércio tradicional e ocasional. Nos largos e ruas principais o café, onde se aprazam encontros e combinam negócios. Todo o portuense da média e baixa burguesia tem aí o seu local de convívio. Em nenhuma outra cidade o azulejo reveste tanto fachadas modestas como imponentes igrejas. Daqui irradiou um estilo urbano (casas estreitas, clarabóias, azulejos, beirais salientes) que se encontra desde Viana do Castelo a Aveiro e de Vila Real a Viseu. Nos bairros residenciais antigos existe abundante comércio quotidiano. Mas a renovação do Porto, circundando o planalto pelo norte e pelo oeste, não escapou às formas modernas da construção de cimento armado e nelas aparecem novas lojas e cafés. Como concessão à tradição arquitectónica local, ornamentam as altas fachadas superfícies de granito polido, de belo efeito decorativo. Os carros eléctricos e autocarros, que têm como ponto de partida a Praça, ainda hoje o principal centro social do Porto, levam até lugares distantes, entre campos de milho, vinhas de enforcado e bouças» (Orlando Ribeiro).

J Francisco Saraiva de Sousa

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