segunda-feira, 28 de junho de 2010
Prós e Contras: O Fim das SCUT
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Vinicius de Moraes: A Morte
terça-feira, 22 de junho de 2010
Prós e Contras: Visões do Futuro
sexta-feira, 18 de junho de 2010
Os Toltecas e Tula
As grandes cidades clássicas do México - Xochilcalco, Monte Albin, El Tajin, Teotenango e, em especial, Teotihuacán cujo declínio começou no século VIII - foram pouco a pouco abandonadas entre os séculos IX e XI: os povos de língua náhuatl entram finalmente em cena, vindo a desempenhar um papel predominante na história do México. Oriundos do Norte, os toltecas fundaram a sua cidade - Tula - em 856 d.C.: os primeiros imigrantes toltecas, ainda bárbaros e pouco numerosos, aceitaram durante mais ou menos um século a hegemonia da classe sacerdotal originária de Teotihuacán e fiel à tradição teocrática da era clássica da história do México. Os relatos histórico-míticos do rei-sacerdote Quetzalcóatl - a Serpente Emplumada - fornecem alguma consistência a esta coexistência pacífica: além de falar uma língua diferente do náhuatl, o rei-sacerdote proibia os sacrifícios humanos, celebrava o culto do deus da chuva e era profundamente bom e virtuoso em todas as circunstâncias. Porém, a chegada de sucessivas vagas migratórias provenientes do norte acabou por romper este equilíbrio frágil: o ciclo épico de Tula relata uma série de conflitos, de guerras civis e de encantamentos, graças aos quais Tezcatlipoca conseguiu banir Quetzalcóatl em 999. O rei derrotado parte para o exílio em direcção ao misterioso "país negro e vermelho" - Tlillan Tlapallan, supostamente situado além do "mar divino", por trás do horizonte oriental. Os Templos Toltecas deixaram de ser santuários de dimensões reduzidas onde só entravam os sacerdotes e passaram a integrar amplas salas com colunatas onde os guerreiros se reuniam em torno do monarca: o rei, emanação da aristocracia militar privilegiada, detém, juntamente com a sua elite guerreira, os poderes que na era clássica pertenciam à classe sacerdotal. Do Planalto Central do México, a civilização tolteca irradiou-se para o oeste, até Michoacán, para o leste, até às costas do Golfo do México, e para o sudeste, até às montanhas de Oaxaca e o Yucatán.
A fase de expansão de Tula vai de 950 a 1150 d.C. e corresponde ao chamado horizonte mazapa - a cerâmica típica deste período: Tula era nesta altura uma grande cidade que cobria aproximadamente treze quilómetros quadrados. As escavações de Charnay e de Jorge Acosta, bem como o Projecto Tula da Universidade de Missouri, permitem identificar três centros cerimoniais principais: o centro mais antigo, conhecido como Tula Chico, um segundo centro chamado Plaza Charnay e o principal grupo de monumentos, a acrópole. A acrópole é formada por uma ampla praça central, flanqueada no lado este pela estrutura conhecida como Edifício C, no lado oeste pelo campo do jogo da bola, explorado por Eduardo Matos, e no lado norte pela pirâmide principal, o Templo de Quetzalcóatl, em cuja parte superior estão os famosos atlantes (ver imagem). A entrada do templo é marcada por uma grande colunata reconstruída por Acosta, e os atlantes que rematam a pirâmide sustentavam o tecto de vigas do templo: os atlantes representam o deus da Serpente Emplumada enquanto personificação de Vénus, a Estrela da Manhã, estando vestido de guerreiro e armado com o atlalt, que não é uma pistola de raios laser, trazida para Tula por um extraterrestre, como supõe Erich von Däniken, mas um mero lança-dardos ou flechas. O culto a Vénus como uma personalidade dual - as Estrelas da Manhã e da Tarde - desempenhou um papel fundamental na religião dos antigos mexicanos: Quetzalcóatl, como Estrela da Manhã, era um guerreiro que nos códices aparece com raios róseos e brancos sobre o corpo, que supostamente representavam os prisioneiros de guerra destinados ao sacrifício. Tal como foi adoptado pelos toltecas, Quetzalcóatl realiza actos de sacrifício humano, sendo algumas vezes representado a arrancar os olhos de um prisioneiro. Em Tula, Quetzalcóatl foi guerreiro e divindade tutelar de uma sociedade guerreira, tão ligada ao sacrifício como qualquer outro deus tolteca. As guerras travadas pelos soldados toltecas serviam para obter tributo e, ao mesmo tempo, cativos para os altares dos seus deuses: o muro de crânios de Tula sugere que o sacrifício fazia parte do processo de guerra e de conquista. Nas fachadas da grande pirâmide estão esculpidos frisos nos quais há procissões de jaguares alternadas com águias que mordiscam corações sangrentos, e, atrás do templo, encontra-se o Muro da Serpente (Coatelpantli), cujos relevos mostram uma série de serpentes a devorar corpos humanos inteiros, com os crânios fora da boca. Situado a norte da praça principal, encontra-se o Corral, cuja parte central redonda é dedicada à Serpente Emplumada: o seu pequeno altar tem um friso esculpido que mostra a procissão de guerreiros toltecas, abaixo da qual aparece a inevitável fileira de crânios. A cultura artística tolteca revela uma dedicação total à guerra e o Estado tolteca era motivado pela necessidade de impor tributo, em particular na forma de bens sumptuosos como o jade, as plumas e as peles de ocelote, para sustentar o rei e o seu palácio e enriquecer a elite militar. Em 1168, a cidade de Tula sucumbe às dissensões internas e à invasão de novos imigrantes provenientes do norte, entre os quais os astecas da longínqua Aztlán, acabando por ser saqueada e abandonada.
Sobre a civilização tolteca aconselho os seguintes livros:
Davies, Nigel (1977). The Toltecs: Until the Fall of Tula. Norman, Okl.: University of Oklahoma Press.
Davies, Nigel (1980). The Toltec Heritage: From the Fall of Tula to the Rise of Tenochtitlan. Norman, Okl.: University of Oklahoma Press.
Diehl, Richard A., org. (1974). Studies of Ancient Tollan: A Report of the University of Missouri Tula Archaelogical Project. Columbia, Missouri: University of Missouri Press.
Matos, Eduardo, org. (1974). Proyecto Tula, 2 vols. México: Instituto Nacional de Antropología e Historia.
Séjourné, Laurette (1962). El Universo de Quetzalcóatl. México: Fondo de Cultura Económica.
Thompson, Eric (1982). História y Religión de los Mayas. México: Siglo XXI.
J Francisco Saraiva de Sousa
quarta-feira, 16 de junho de 2010
Teotihuacán: a Cidade dos Deuses
terça-feira, 15 de junho de 2010
Orientação Sexual e Dimensões do Pénis
domingo, 13 de junho de 2010
Civilização Olmeca
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Civilização Asteca: Uma Cronologia
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Humanismo Quetzalcoatliano
A Serpente Emplumada - tradução literal de quetzal (pássaro) e cóatl (serpente) - é, pela sua singularidade e profusão, o símbolo das antigas culturas mesoamericanas. Em 1345, os astecas fundaram Tenochtitlán: o seu guia espiritual era a mensagem humanista de Quetzalcóatl, o grande profeta americano, ou melhor, o primeiro homem que se converteu em deus - não é um deus encarnado - para ajudar os seus semelhantes a orientar a sua existência na direcção do aperfeiçoamento espiritual e moral num mundo instável e entrópico. O pensamento náhuatl observa a ordem objectiva a partir da sua materialidade, sem se deixar aprisionar pela inércia aparente dessa ordem material: o homem pode libertar-se das ligações naturais que o aprisionam aos seus limites mortais, mediante o desenvolvimento da faculdade da reflexão. A Filosofia de Quetzalcóatl foi reconstruída e analisada de modo brilhante por Laurette Séjourné: os astecas adoptaram os ensinamentos de Quetzalcóatl como base moral da sua sociedade, mas usaram as suas leis de aperfeiçoamento interior para legitimar uma sangrenta razão de Estado: a união mística com a divindade, que o indivíduo só pode alcançar gradualmente mediante uma vida de contemplação e de penitência, passou a ser determinada pela maneira como se morre: o sacrifício humano, a transmissão da energia humana - o sangue - ao Sol. A revelação exaltante da Unidade eterna do espírito converteu-se em princípio de antropofagia cósmica: a libertação do eu diferenciado realiza-se assim por meio do assassinato ritual que fomenta as guerras.
Sobre a civilização asteca - a minha civilização pré-colombiana preferida - recomendo a leitura das seguintes obras:
Anawalt, Patricia (1981). Indian Clothing before Cortes: Mesoamerican Costumes from the Codices. Norman, Okl: University of Oklahoma Press.
Bray, Warwick (1968). Everyday Life of the Aztecs. New York: Putnam.
Brundage, Burr Cartwright (1972). A Rain of Darts. Austin, Texas: University of Texas Press.
Caso, Alfonso (1971). El Pueblo del Sol. México: Fondo de Cultura Económica.
Davies, Nigel (1974). The Aztecs. New York: Putnam.
Davies, Nigel (1980). The Toltec Heritage. Norman, Okl: University of Oklahoma Press.
Davies, Nigel (1982). The Ancient Kingdoms of Mexico. London: Penguin Books.
Duverger, Christian (1978). L'Esprit du Jeu chez les Aztèques. Paris: Mouton-EHESS.
Duverger, Christian (1979). La Fleur Létale: Économie du Sacrifice Aztèque. Paris: Éditions du Seuil.
Gibson, Charles (1964). The Aztecs under Spanish Rule. Stanford, California: Stanford University Press.
Hunt, Eva (1977). The Transformation of the Humming Bird. Ithaca, London: Cornell University Press.
Katz, Friedrich (1966). Situación Social y Económica de los Aztecas durante los Siglos XV y XVI. México: Universidad Nacional Autónoma de México.
León-Portilla, Miguel (1983). Toltecáyotl: Aspectos de la Cultura Náhuatl. México: Fondo de Cultura Económica.
Porter Weaver, Muriel (1972). The Aztecs, Maya and their Predecessors. New York: Seminar Press.
Ricard, R. (1933). La Conquête Spirituelle du Mexique. Paris: Institut d'Ethnologie.
Sanders, William T., Jeffrey R. Parsons & Robert S. Santley (1979). The Basin of Mexico: Ecological Processes in the Evolution of a Civilization. New York: Academic Press.
Séjouné, Laurette (1957, 1993). Pensamiento y Religión en el México Antiguo. México: Fondo de Cultura Económica.
Séjouné, Laurette (1959). Un Palacio en la Ciudad de los Dioses. México: Fondo de Cultura Económica.
Séjourné, Laurette (1962, 1993). El Universo de Quetzalcoatl. México: Fondo de Cultura Económica.
Simoni-Abbat, Mireille (1976,1988). Os Astecas. Porto: Vertente.
Soustelle, Jacques (1940). La Pensée Cosmologique des Anciens Mexicains. Paris: Hermann.
Soustelle, Jacques (1955, 1956). La Vida Cotidiana de los Aztecas en Vésperas de la Conquista. México: Fondo de Cultura Económica.
Soustelle, Jacques (1966). L'Art du Mexique Ancien. Paris: Arthaud.
Soustelle, Jacques (1967). Les Quatre Soleils. Paris: Plon.
Soustelle, Jacques (1970, 1983). Les Aztèques. Paris: PUF.
Sullivan, Thelma D. (1976). Compendio de la Gramática Náhuatl. México: Universidad Nacional Autónoma de México.
Vaillant, Georges (1951). Les Aztèques du Mexique. Paris: Payot.
J Francisco Saraiva de Sousa