quinta-feira, 24 de novembro de 2011

História Económica de Portugal?

«Nos últimos dois séculos, a economia portuguesa registou importantes transformações estruturais que se traduziram no crescimento da produtividade da mão-de-obra e, consequentemente, no crescimento do rendimento nacional por habitante. Contudo, os progressos registados na economia portuguesa não foram suficientes para que o país vencesse o fosso que o tem separado dos níveis médios de produtividade e de rendimento dos países mais desenvolvidos da Europa. Crescimento e atraso têm convivido de forma persistente na história económica de Portugal.
«Os dois lados do desenvolvimento económico português não mereceram até tempos mais recentes, por parte dos historiadores, o mesmo grau de atenção. De facto, a maioria dos estudos sobre a economia portuguesa é ainda centrada em tentativas de explicação do atraso económico do país, sendo claramente relegada para um plano secundário a preocupação em explicar a profunda alteração que a economia sofreu. A desigualdade de tratamento do progresso e do atraso é mais evidente nos estudos sobre o século xix, mas está também presente nos trabalhos sobre o período entre as duas guerras mundiais ou, o que é mais surpreendente, nos estudos sobre o período de rápido crescimento entre sensivelmente 1945 e 1973.» (Pedro Lains, 2008)


Chamaram a minha atenção para a publicação da História Económica de Portugal de Leonor Freire Costa, Pedro Lains e Susana Munch Miranda (A Esfera dos Livros, 2011), como se esta obra cobrisse de algum modo aquilo a que chamei O Fracasso da Historiografia Portuguesa. Confesso que ainda não li a obra que trata da "evolução económica" de Portugal de 1143, data da fundação do reino, até 2010. Mas li um artigo de Pedro Lains, donde saquei a citação em epígrafe, e não me identifico - teoricamente falando - com a abordagem teórica que preside à elaboração da História Económica de Portugal: o paradigma económico usado viola o espírito das épocas passadas, supondo uma continuidade lá onde ela não existe de todo, e as conclusões são decepcionantes. Pedro Lains dá por adquirido aquilo que é questionável: a sua visão teórica da economia, o que o leva a menosprezar o debate teórico em torno da economia e a extrapolar para o passado aquilo que pertence ao nosso tempo indigente. Em face destas lacunas cruciais, duvido que a sua obra tenha sido capaz de periodizar correctamente a História de Portugal: a ideologia do crescimento da produtividade e do rendimento apaga todas as diferenças históricas, sendo incapaz de explicar o próprio atraso da economia portuguesa quando comparada com as economias desenvolvidas. Não sei quando terei oportunidade de ler o livro, porque, depois de ter escutado a entrevista de Pedro Lains na SicNotícias (23 de Novembro), não fiquei entusiasmado para ir comprá-lo. Do artigo de Pedro Lains partilho aqui as Referências bibliográficas, onde predominam as referências neoliberais:

ALDCROFT, Derek, Europe’s Third World. The European Periphery in the Interwar Years, Aldershot, Ashgate, 2006. 
AMARAL, Luciano, How a Country Catches Up. Explaining Economic Growth in Portugal in the Post War Period, 1950 to 1973, dissertação de doutoramento, Instituto Universitário Europeu, Florença, 2002. 
BATISTA, D., MARTINS, C., PINHEIRO, M., e REIS, J., «New estimates for Portugal’s GDP, 1910-1958», in História Económica, n.º 7, 1997, pp. 1-128.  
CABRAL, M. Villaverde, O Desenvolvimento do Capitalismo em Portugal no Século XIX, Lisboa, A Regra do Jogo, 1981 (1.ª ed., 1976). 
CASTRO, Armando,  A Revolução Industrial em Portugal, Porto, Limiar, 1978 (1.ª ed., 1947). 
COSTA, B. C. Cincinnato da, e CASTRO, Luís de (orgs.), Le Portugal ou Point de vue agricole, Lisboa, Imprensa Nacional, 1900. 
CRAFTS, Nicholas e TONIOLO, Gianni (orgs.),  Economic Growth in Europe since 1945. Cambridge, Cambridge University Press, 1996. 
GODINHO, V. Magalhães, Estrutura da Antiga Sociedade PortuguesaLisboa, Arcádia, 1980 (1.ª ed., 1975).  
GOMES, M. de Azevedo, A Situação Económica da Agricultura Portuguesa, Lisboa, Museu Comercial, 1920. 
GOMES, M. Azevedo, BARROS, H. de, e CASTRO CALDAS, E. de, «Traços principais da evolução da agricultura portuguesa entre as duas guerras mundiais», in Revista do Centro de Estudos Económicos, n.º 1, 1944, pp. 21-203. 
LAINS, Pedro, Os Progressos do Atraso. Uma Nova História Económica de Portugal, 1842-1992,  Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2003. 
LAINS, Pedro, «The power of peripheral governments. Coping with the 1891 financial crisis in Portugal», Historical Research (no prelo). 
LAINS, Pedro e SILVA, A. Ferreira da (orgs.),  História Económica de Portugal, 1700-2000, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2005, 3 vols. 
LAINS, Pedro, e SOUSA, P. Silveira e, «Estatística e produção agrícola em Portugal», in Análise Social, vol. 33, 1998, pp. 935-968. 14
LANDES, David S., The Wealth and Poverty of Nations. Why Are Some So Rich and Others so Poor?¸ New York, W.W. Norton, 1998. 
LEITÃO, Nicolau Andresen, «A flight of fantasy? Portugal and the first attempt to enlarge the European Community, 1961-1963», Contemporary European History, vol. 16 (1), 2007, pp. 71-87. 
LOPES, J. da Silva, A Economia Portuguesa desde 1960, Lisboa, Gradiva, 1996. 
MARTINS, J. P. de Oliveira, Portugal Contemporâneo, Lisboa, Guimarães Editores, 1979 (1.ª ed., 1881). 
MATEUS, Abel, A Economia Portuguesa desde 1910. Crescimento no Contexto Internacional, 1910-1998,  Lisboa, Editorial Verbo, 2001 (1.ª ed. 1998). 
Memórias Económicas da Academia Real das Ciências de Lisboa, 1789 -1815 (ed. de J. L. Cardoso), Lisboa, Banco de Portugal, 1991, 5 vols. 
MOURA, F. Pereira de,  Por Onde Vai a Economia Portuguesa?, Lisboa, Seara Nova, 1973 (1.ª ed., 1969). 
MOURA, F. Pereira de, PINTO, L. M. Teixeira, e NUNES, M. Jacinto, «Estrutura da economia portuguesa», in Revista do Centro de Estudos Económicos, n.° 14, 1954, pp. 9-219. 
NEVES, J. César das, The Portuguese Economy. A Picture in FiguresLisboa, Universidade Católica Portuguesa, 1994. 
NEVES, J. César das, «Portuguese post-war growth. A global approach»,  in N. Crafts e G. Toniolo (orgs.),  Economic Growth in Europe since 1945, Cambridge, Cambridge University Press, 1996. 
PEREIRA, J. de Campos, Economia e Finanças. A Propriedade Rústica em Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1915. 
PEREIRA, M. Halpern,  Livre-Câmbio e Desenvolvimento EconómicoLisboa, Sá da Costa Editora, 1983 (1.ª ed., 1971).  
PEREIRA, M. Halpern, Diversidade e Assimetrias. Portugal nos Séculos XIX e XX, Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2001. 
PERY, Gerardo, Geografia e Estatística Geral de Portugal e ColóniasLisboa, Imprensa Nacional, 1875.  
PINHEIRO, Maximiano (org.),  Séries Longas para a Economia Portuguesa, Lisboa, Banco de Portugal, 1997, 2 vols.  
PINTADO, Xavier,  Structure and Growth of the Portuguese EconomyLisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2002 (1.ª ed., 1964).  
PINTO, A. Costa e REZOLA, M. Inácia, «Political catholicism, crisis of democracy and Salazar’s New State in Portugal»,  Totalitarian Movements and Political Religions, Vol. 8 (2), 2007, pp. 353–368. 15
POLLARD, Sidney, Peaceful Conquest. The Industrialization of Europe, 1760-1970, Oxford, Oxford University Press, 1994 (1ª ed. 1981).  
QUENTAL, Antero de, «Causas da decadência dos povos peninsulares nos últimos três séculos», in Joel Serrão (org.), Antero de Quental. Prosas Sócio-Políticas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1982. 
REIS, Jaime, O Atraso Económico Português em Perspectiva Histórica, 1850-1930, Lisboa, Imprensa Nacional, 1993.  
ROSAS, Fernando,  Salazarismo e Fomento Económico, 1928-1948. Primado do Político na História Económica do Estado Novo, Lisboa, Editorial Notícias, 2000. 
SÉRGIO, António (org.), Antologia dos Economistas Portugueses. Século XVII. Obras em Português, Lisboa, Biblioteca Nacional, 1924. 
SERRÃO, Joel, «Prefácio», in J. Serrão e G. Martins (orgs.), Da Indústria Portuguesa. Do Antigo Regime ao Capitalismo, Lisboa, Livros Horizonte, 1978. 
SILVA, L. A. Rebelo da, Compêndio de Economia Rural para Uso das Escolas Populares, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868. 
SOARES, R. Morais,  Relatório da Direcção-Geral do Comércio e Indústria, Lisboa, 1873. 
VALÉRIO, Nuno, (org.),  Estatísticas Históricas Portuguesas, Lisboa, Instituto Nacional de Estatística, 2001, 2 vols.

J Francisco Saraiva de Sousa

4 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

De vez em quando a Itália acordava e vinha visitar-me. Agora tem presença permanente na minha audiência. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas os países europeus com presença constante são do Norte! Os USA estiveram sempre presentes em força. De resto, os países de língua portuguesa são constantes. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Como o blog está em 6º lugar nas buscas mundiais, vou ter instalado um sistema interno de maior confiança. Já espreitei... vamos ver como funciona. Em função disso, posso ir ao encontro das apetências do público. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

menschliches Skelett