quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Edward Hopper: Summer Evening, 1947

1 comentário:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Vou reproduzir aqui uma das muitas conversas no facebook:

Eduardo: Gostava que me explicassem onde há solidão aqui?... Primeiro não há uma mulitão, contrastando com um indivíduo solitário! Segundo a composição é feita através de olhares em zigue zague, o ponto de partida é uma mulher que lê um livro completamente absorta pela leitura, depois a nossa atenção é levada para uma segunda mulher que de soslaio olha a leitora, ou a paisagem que pasa por detrás dela, mais adiante um terceiro personagem masculino, olha para o último e este olha para a porta da carruagem, como se toda a acção viesse dali.
O que encontramos aqui é um pequeno conto, da qual Hooper só nos dá o primeiro parágrafo, o observador torna-se cumplice da leitura e desenvolverá a sua própria interpretação e é neste jogo entre a realidade tangível e a realidade possível que Hopper tece o seu génio...

Eu: Eduardo: Eu não disse que Hopper era somente o pintor da solidão, embora haja solidão nalguns dos seus quadros de interiores e de exteriores. Este quadro não trata de interacção - não há praxis social nesta cena. Os olhares mostram que cada um está por sua conta: não há fusão, o que justifica falar em solidões acompanhadas.
E há a questão de saber o que significa a leitura em espaço público. Ler é uma tarefa solitária e, se a pessoa estiver mesmo concentrada, afasta-se da esfera pública e fecha-se em si mesma em diálogo interior com a obra.

Marta Sofia: No meu comentário sobre este quadro também não referi solidão, apenas um desprendimento emocional da figura feminina em destaque, que entrou no universo do livro que lê alheando-se da realidade que a rodeia, típico dos passageiros numa viagem de trasportes públicos, o que não significa que seja mau, ou solidão, este alheamento.

Eu: A solidão não é má em si - o isolamento social e emocional - sim esse é negativo.

Marta Sofia: Igor (Eu), não me parece que aqui haja uma solidão acompanhada porque solidão implica sofrimento, o que não creio que neste caso exista emalgum dos personagens.

Eduardo: É engraçado como Hopper começa uma estória, onde aos poucos cada um vai defenindo o seu enredo... nisto foi um grande mestre!... Se entrarmos nas suas telas sem qualquer leitura préconcebida, começamos a fabricar narrativas que resultam do nosso olhar, mais do que ali está exposto. É aqui que Hopper se torna magistral e cinematográfico... talvez o Grande Criador de Atmosferas.

Eu: Ya, é um grande mestre. Ajuda-nos a clarificar os conceitos. Se a solidão for vista como sofrimento (no sentido físico), então não há solidão: há pessoas sozinhas e, o que é bom, a ler - o que não se faz cá na terra! :)

Marta Sofia: Obrigada por me fazerem pensar, mais uma vez, e adquirir novos conhecimentos sobre este belo e complexo campo da arte. Tenho de me ausentar por agora! Fiquem bem!