quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Edward Hopper: Nighthawks, 1942

O quadro Nighthawks (1942) de Edward Hopper transmite um sentimento de solidão, abandono e tristeza por causa da sua vacuidade e da presença de figuras humanas não-comunicativas. Apesar de não ver este quadro como uma cena de solidão, Hopper reconheceu ter pintado, pelo menos inconscientemente, a solidão de uma Grande Cidade. O elemento de solidão não pode ser desprezado na apreciação crítica da pintura de Hopper. Há efectivamente solidão nas cidades e nas multidões anónimas urbanas, e Hopper capta-a muito bem tanto nos seus quadros de cenas interiores como nos seus quadros de cenas exteriores e de paisagens: a solidão constitui o elemento crítico da pintura de Hopper. As próprias composições revelam essas solidões humanas confinadas ou cercadas nos e pelos espaços interiores ou exteriores. O convívio é, na sua pintura, um encontro de solidões. A frase de Pascal - «o silêncio eterno destes espaços infinitos apavora-me» - adquire outro sentido na pintura de Hopper: aqui já não é o espaço infinito que apavora o homem, mas o espaço finito - a grande cidade - construído pelo homem para cercar o próprio homem. A pintura de Hopper exerce um profundo efeito psicológico sobre os seus receptores - um efeito algo semelhante ao efeito exercido pela pintura metafísica de Giorgio de Chirico. A única diferença reside no facto desse efeito ser obtido de modo diferente por cada uma destas pinturas: o efeito da pintura de Chirico é obtido fazendo o irreal parecer real, enquanto o efeito da pintura de Hopper está enraizado na apresentação de cenas americanas reais, concretas e singulares.

J Francisco Saraiva de Sousa

1 comentário:

Anónimo disse...

Gosto muito do Hopper e da solidão [praticamente um pleonasmo] e adorei o seu texto.