terça-feira, 14 de junho de 2011

Prós e Contras: A Adolescência

Num país alucinado como o nosso, a vida é esplanar: pais sem filhos e filhos-órfãos, professores sem alunos e alunos sem professores, terapeutas-doentes e doentes-terapeutas, esplanam durante todo o ano, tal é a força-corpo-eléctrico do pensamento mágico. O debate Prós e Contras de hoje (13 de Junho) chocou-me, não pelas imagens de violência juvenil do recente caso mediático com que iniciou, mas pelo teor - ou falta dele! - das intervenções dos convidados: Eduardo Sá (psicólogo clínico), Rui do Carmo (Procurador da República), Madeira Pinto (Juiz Desembargador), Armando Leandro (Juiz Conselheiro), João Sebastião (sociólogo) e Margarida Gaspar de Matos. Estas figuras de rosto envelhecido e cansado já estão demasiado distantes da realidade da adolescência tal como é vivida neste tempo indigente que ajudaram a criar através do delírio burocrático-onanista-autista. E, curiosamente, desta vez, Fátima Campos Ferreira esqueceu os próprios jovens: a discussão da violência juvenil - bullying - foi confiada à geração grisalha cuja existência é uma crueldade que se escuda atrás dos malditos direitos humanos. Passei-me com duas afirmações. Uma de Armando Leandro: «A violência não é natural porque viola a dignidade - um dos direitos humanos». (Ah, o paradoxo do Juiz Conselheiro: as crianças até aos 18 anos (crianças sexuadas que já podem "fazer" bebés?) são seres não-concluídos e, no entanto, Armando Leandro fala dos direitos das crianças! Não admira que esses mesmos direitos tenham sido alargados aos animais que não falam!) A outra de Margarida Gaspar de Matos: «A violência é intolerável num Estado de Direito». É evidente que são dois enunciados ideológicos que justificam a situação de privilégio dos seus "sujeitos" e as relações assimétricas de poder: a geração grisalha que afundou o país no abismo - em nome dos malditos direitos humanos, os seus próprios direitos-privilégios adquiridos - continua demasiado apegada ao poder e às instituições públicas que capturou. O debate sobre a adolescência mostrou o nível zero dos seus conhecimentos sobre a matéria em discussão: todas as noções utilizadas e as medidas burocráticas propostas passaram ao lado da questão da adolescência e da violência para garantir a sua mediação burocrática e os seus "empregos-privilégios". Quando pessoas preocupadas unicamente com a sua mediação umbilical falam de estudos, elas não se referem aos estudos científicos disponíveis, mas a estudos administrativos destituídos de valor teórico que afogam todas as instituições na burocracia geradora de violência. As instituições são desviadas das suas missões primordiais para serem usadas como instrumentos ao serviço da tempestade da burocracia. Rui do Carmo apercebeu-se disso quando afirmou que «os problemas não se resolvem com a criação de mais leis»: a burocracia não resolve os problemas; pelo contrário, a burocracia agrava os problemas existentes e gera novos problemas quando os tenta resolver. A imagem da escola que emergiu deste debate - com a ajuda dos participantes da plateia - é a imagem da Anti-Escola: a função primordial de transmissão de conhecimentos é desalojada da escola para ser ocupada pelas tarefas dos mediadores-técnicos que precisam de emprego-ocupação-lúdica-remunerada para sobreviver. Em vez do professor que ensina matemática, por exemplo, temos a figura do professor-terapeuta-papá-amante - e ele não precisa de um terapeuta dos professores?, e assim sucessivamente, tal é a irracionalidade da burocracia! - que procura incutir nos alunos noções vazias, tais como desempenhos sociais, inteligência emocional, valores da treta, afectos, pseudo-vinculações e outras merdas do género. É engraçado ver como as pessoas que falam muito de estudos desconhecem os estudos sobre o Holocausto - e não só! - que mostram a conexão estrutural entre violência e organização burocrática. A banalidade do mal de Hannah Arendt! Felizmente, ainda há homens de bom-senso neste país alucinado: a prisão preventiva da jovem de 16 anos - neste momento, prisão domiciliária - foi uma decisão correcta do juiz. De resto, meus amigos, "perdi a pica" para desconstruir este debate, porque as "bobagens" proferidas só pioram as coisas, como diz a letra de uma música de Robbie Williams: já não suportamos a presença desta geração maldita (Trakl) que roubou o futuro de Portugal! (Photo: Imediações do Edifício Transparente, ET, OPorto.)

J Francisco Saraiva de Sousa

5 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Não resisti e fiz algumas alterações conceptuais significativas. Afinal, demoli... :)

Sofia Pracana disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sofia Pracana

Penso que expõe uma espécie de teoria do caos "emocional", cujo holismo conduz a soluções pouco eficazes. A receita do amor está muito gasta e não tem tido bons resultados. Com isto, não estou a excluir a importância das vinculações afectivas no desenvolvimento da criança.

Outro aspecto: Neste texto, não apresentei nenhuma teoria da violência: já a esbocei noutros textos numa outra perspectivas neurobiológica e genética.

Sim, e nalguns desses textos refiro aquilo a que chama infantilização com outro nome mais adequado - a puerilidade do homem.

Quando se atinge a maturação sexual, as outras funções começam a alcançar a seu pleno desenvolvimento, e aos 18 anos - aliás mesmo antes - já não podemos falar de crianças. Fazer da universidade uma creche é um absurdo. É necessário levar em conta a distinção entre a adolescência biológica e a adolescência social e ter coragem para desmistificar esta última, sobretudo quando ela é prolongada por razões económicas e sociais disfuncionais. Os mitos da sociedade existente devem ser demolidos.

Porém, o alvo da minha crítica é a burocracia e foi neste nível que coloquei a violência fundamental que abre as portas a outras violências, tendo em vista a crítica da sociedade existente. (O conceito de delinquência já está fora de prazo.)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E, sinceramente, a sua perspectiva reduz a violência a um estrato social muito restrito: mãe frágil, pai ausente... este tipo de explicação vale o que vale. E já reparou que recorre à figura do pai para impor a autoridade para depois condenar o "encarceramento" ou a punição: será que o amor tem o poder de curar um cérebro homicida ou violento? Não tem e sabe isso...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas apreciei a sua noção de filhos de ninguém. Afinal, a burocracia é o governo de ninguém. Há aqui uma outra articulação a fazer...

Cumprimentos