segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Democracia e Dignidade da Política


Este trabalho integra diversos comentários e textos já editados nos meus dois blogues. Eles foram reordenados e reformulados de modo a darem uma visão de conjunto das linhas de força que sustêm a nossa crítica da lusofonia medíocre. O título escolhido aponta desde logo para aquilo de que carece a democracia trapalhona portuguesa: democracia real e dignidade da política. Os caminhos trilhados giram geralmente em torno da educação e da cultura.


1. DEMOCRACIA AMEAÇADA. A tese do medo de existir de José Gil está mal elaborada conceptual e politicamente: tomo-a como um esforço inconsequente para pensar a miséria de Portugal.
O português é um animal fechado num horizonte metabólico e, nesse mundo reduzido, não precisa de pensar e exercitar o pensamento para sobreviver ou mesmo existir. Aliás, nem sequer precisa de trabalhar e muito menos criar para viver, desde que tenha um emprego estatal (funcionário público) ou apoio financeiro. A sua vida gira em torno do metabolismo e até mesmo o seu comércio com o mundo e os outros é metabolicamente reduzido. O português carece de dimensão cognitiva liberta da vida metabólica e, como tal, é subhumano.
A democracia não ajudou Portugal a libertar-se destes animais humanos reduzidos; pelo contrário, tornou-os mais preguiçosos e indisciplinados, facilitando-lhes o acesso à vida metabólica envolvida em pseudo-diplomas ou pseudo-competências. Portugal é fecundo em animais reduzidos diplomados que não conseguem libertar-se para a dimensão do pensamento.
A democracia corre sérios riscos numa sociedade organizada no horizonte do metabolismo e, ao contrário do que se diz, a democracia não está garantida. Uns apoderam-se metabolicamente do poder e governam-se bem. Os outros ficam satisfeitos com a governação desde que fomente a sua vida metabólica. Os primeiros, os abusadores do poder, são os primeiros a dar o mau exemplo do que seja a democracia e reduzem-na ao chamado princípio ou direito do contraditório. Se tu dizes «x», eu vou dizer «y», embora não conheça nem «x» nem «y» e não saiba a razão de ser de tudo isto. Qualquer português aprende que para ser democrático deve defender as suas opiniões e dialogar é confrontar opiniões metabolicamente reduzidas. Os interesses desaparecem da avaliação das opiniões, porque todos estão fechados no horizonte metabólico que partilham. Ter direito à vida é comer e satisfazer necessidades metabólicas associadas e, em democracia (sic), partilha-se esse direito com os outros.
Com a democracia, a qualidade do ensino foi degradada e a investigação simplesmente não existe. Portugal democrático destruiu o ensino e a cultura e colocou no seu lugar uma terrível mentira: os burricos diplomados que teimam em conservar o seu metabolismo visível e a perpetuá-lo no tempo. Usam e abusam do poder. Tudo é uma farsa planeada e conservada pelo poder luso-metabólico e, nesta farsa que é a nossa vida em comum, não há lugar para o futuro. Portugal carece de futuro.
O português seja diplomado ou analfabeto olha para o mundo com um olhar metabólico. Aliás, o mundo é pura abstracção: o que existe são as farsinhas de cada um e a farsa relatada pelos jornalistas metabolicamente reduzidos. Tudo isto é o horror puro e brutal. Portugal é um país de terrorismo metabólico que nega a vida ao pensamento e à democracia. Até mesmo a democracia vigente é uma terrível mentira. Ela alimenta-se da corrupção dos colarinhos brancos que encabeçam as pseudo-elites nacionais.


1.1. EXCURSO: DEMOCRACIA E POVO. Todos devem conhecer a crítica platónica da democracia (sic). Embora a democracia possa conduzir à anarquia ou, como preferimos dizer, ao relativismo total da opinião, ela também pode ser utilizada pelos abusadores do poder para manter o seu metabolismo visível, como se não houvesse futuro depois deles.
Na sua acepção genuína, a democracia só tem sentido para aqueles que prezam a liberdade de pensamento e de expressão e que não sabem viver sem pensar cooperativamente com os outros. Mas a maioria dos homens não é amiga do pensamento e, por isso, a democracia tem pouco significado para esses homens metabolicamente reduzidos. Eles vivem facilmente tanto num regime ditatorial como num regime democrático. Não precisam do pensamento para viver e a democracia torna-os ainda mais preguiçosos e intelectualmente amnésicos.
A questão colocada por Espinosa continua a ser pertinente: os homens preferem mais a escravatura do que a liberdade. Porquê? A resposta só pode ser dada por uma antropologia filosófica que pense radicalmente a animalidade do homem. Com efeito, numa sociedade metabólica, cujos destinos são mais ditados pela necessidade do que pela libertação, não há necessidade de pensamento autónomo.


1.2. EXCURSO: DEMOCRACIA ONLINE. Encaro a Internet como um imenso fórum de troca de ideias e de elaboração de propostas interessantes produzidas espontaneamente pelos cidadãos comuns. Embora muitos blogues exibam padrões pouco adequados, mais centrados em questões pessoais do que em questões de interesse comum, muitos exibem efectivamente elevada qualidade e seriedade.
A Internet não deve ser vista apenas como um meio de lançar informação política de modo barato e sem o recurso à classe falsificadora de jornalistas incompetentes, que intoxicam mais do que informam os cidadãos, mas também como uma fonte de novas ideias que devem ser escutadas pelos políticos que pretendem servir efectivamente a causa pública.
Ela é um barómetro não mediado daquilo que os seus utentes pensam da acção dos seus governantes, bem como daquilo que gostariam que estes realizassem. Apesar do seu lado escuro, a Internet é um espaço de debate livre dos constrangimentos institucionais que cerceiam a troca e a partilha de ideias, de resto um passo significativo na direcção de uma democracia mais participativa e mais amiga da cidadania. Pelo menos, garante a liberdade de expressão daqueles que estão afastados do poder e da sua corrupção.


2. TERRORISMO DA OPINIÃO. Os programas nacionais de comentário político revelam o estado nacional da luso-alma, cuja compreensão requer infelizmente uma abordagem psicopatológica.
A Televisão portuguesa torna visível a luso-alma e revela todos os seus meandros e labirintos. Professores universitários sem currículo, jornalistas sem formação ou políticos reduzidos trocam opiniões mal elaboradas, sem qualquer compromisso com a verdade. Fazem o jogo da trapaça e, neste aspecto, protegem-se uns aos outros: omitem sistematicamente a verdade. Procuram desesperadamente manipular a opinião pública e não respeitam os telespectadores. Os portugueses são tratados pelas suas pseudo-elites como idiotas culturais. É isso que significa «povo» em português: conjunto de idiotas culturais.
Contudo, mesmo que o povo seja idiota, este facto mostra a falsidade das elites nacionais que dirigem o país. Mais idiota do que o ignorante é aquele que abusa de um título ou de um estatuto para se afirmar como agente cultural, quando na verdade é um analfabeto funcional, mais um cérebro metabólica e visceralmente reduzido. Eles são tão vampirescos que chegam ao ponto de inventar uma genealogia sociológica, como se tivessem crescido no seio de elites não existentes em Portugal.
Um país de mentirosos e de invejosos, em que o conhecimento e a sabedoria foram destronados a favor de opiniões viscerais! Diante deste cenário de maldade intencional não existe outra saída a não ser encarar seriamente a alma nacional como neuropatológica.
O regresso da opinião tolinha e da vida quotidiana medíocre é sinal de degenerescência e de declínio cultural. Outro sinal é o autoritarismo: quando não existem argumentos racionalmente motivantes recorre-se à força e à autoridade. A democracia é estranha à alma portuguesa.


2.1. EXCURSO: PACHECO PEREIRA. Apesar de ser oriundo da área da filosofia, Pacheco Pereira, quando lhe lembram a sua matriz disciplinar, com o objectivo de minar a credibilidade da sua argumentação, não reage com uma defesa da filosofia.
É curioso observar que, num país pouco dado ao pensamento, se faça a associação entre filosofia e «palavreado oco». Afinal, as comadres da conversa interminável e oca do pseudo-jornalismo nacional são os próprios comentadores e/ou jornalistas. Falam sem saber o que dizem e nunca ninguém os confronta com a sua própria mediocridade e com a realidade. O jornalismo português é conversa tola e não merece ser processado, a menos que se sofra de depressão.
Pacheco Pereira é incapaz de desconstruir a mediocridade das pseudo-elites nacionais, com argumentos substancialmente filosóficos e, portanto, políticos, como diria Althusser.


3. LUSO-PENSAMENTO GORDO. Os portugueses gordos não pensam: comem e cagam, como se todo o seu cérebro estivesse confinado no cérebro visceral da luso-merda.
As comissões bioéticas deste pobre país são geralmente compostas por papistas e homens de pensamento reduzido, que exteriorizam facilmente as suas flatulências oralmente. Como sempre, são homens de Igreja, agarrados aos saiotes dos padres. Sem nunca terem lido seriamente a Bíblia, citam-na abundantemente para confirmar e provar as suas opiniões medíocres sobre temas bioéticos que não dominam, por vezes misturadas com afirmações de filósofos, tiradas dalgum luso-livro de citações célebres, mas não plenamente compreendidas. Corte e costura é o estilo predominante da luso-retórica.
Além desta falta de honestidade intelectual e moral, usam títulos e cátedras para reforçar a autoridade das suas opiniões grosseiras de segunda mão. Neste aspecto, auto-revelam-se como iletrados: as categorias bíblicas não são trans-históricas e é muito difícil encontrar nelas «soluções» para situações que estavam para além da sociedade arcaica que as elaborou. Tudo o que diz respeito à vida e à investigação biomédica que se faz actualmente nem sequer tem nome nos textos bíblicos. Apesar disso, os oportunistas dependentes da Igreja servem-se da autoridade da Bíblia para defender disparates improvisados e pouco dignos. Açambarcaram a bioética, sem formação filosófica e científica, para impedir o Futuro e exibir o seu feio metabolismo.
Os luso-incompetentes estão a destruir a cultura nacional e sobretudo as humanidades, com a ajuda do ministério da educação! Os luso-burricos colonizam o futuro de Portugal: quer dizer, negam Portugal, como se tudo lhes pertencesse, até mesmo o futuro. Ainda por cima defendem hipocritamente o direito à vida, contra o aborto, ao mesmo tempo que negam qualquer possibilidade de vida com dignidade.
Infelizmente, a bioética é mais um baluarte da luso-mediocridade.


3.1. EXCURSO: CIÊNCIAS LUSO-SOCIAIS E ENSINO UNIVERSITÁRIO. Estamos cansados das pseudo-ciências sociais, incluindo a economia, tal como praticadas em Portugal.
O projecto de uma ciberantropologia não é possível no âmbito das pseudo-ciências sociais e humanas que estão a destruir a dignidade da cultura. Deve ser um projecto filosófico enraizado no pensamento e na tradição Ocidental. Tretas luso-sociológicas ou luso-psicológicas são disparates. Os portugueses distorcem todas as grandes teorias ao adaptá-las à sua luso-inteligência reduzida. Não produzem conhecimentos, mas opinam levianamente, como se o conhecimento fosse opinar sem fundamentação e orientação teóricas. Essa é a formação que recebem nas Faculdades de Letras ou de Ciências Sociais e Humanas, mas estas faculdades são a matriz da mediocridade nacional.
O Ministro da Ciência devia suspendê-las e reformulá-las completamente. Os seus professores deviam ser reformados compulsivamente, porque, ao contrário do que diz Adriano Moreira, eles são responsáveis pela desgraça do ensino universitário português público. Pandas e Tias do Chá deviam estar a arder no Inferno de Dante. O Ensino privado deve ser extinto: é um covil de trapaceiros e de falsificadores de diplomas.
Sem dizer a verdade completa não é possível mudar Portugal. A verdade ilumina a solução final: as reformas devem começar por abolir os funcionários responsáveis pela vergonha nacional. Esta é a nossa realidade, cuja mudança exige a abolição das pessoas que a protagonizaram desde o 25 de Abril. Se o governo não tomar consciência de que as reformas requerem mudança radical de pessoas, está condenado a não alterar nada, como sucede sempre em Portugal. Matar as luso-moscas é já mudar substancialmente o rumo de Portugal.


4. ARISTÓTELES E A DIGNIDADE DA POLÍTICA. O conceito aristotélico de política deve ser repensado, retomado e reavivado: a política como acção e cidadania.
Regressar a Aristóteles é retomar a filosofia política e, ao mesmo tempo, rejeitar em bloco a chamada ciência política. Esta última mais não é do que uma técnica de adaptação colocada ao serviço de qualquer tipo de poder instituído.
Numa sociedade que condena a maioria das pessoas à luta pela mera sobrevivência, torna-se urgente repensar a política como uma esfera potencial de participação e de mudança social qualitativa.
O declínio dos partidos políticos e da política oficial mostra que a política é vista como uma tarefa metabolicamente reduzida: os governantes não governam, governam-se. A política portuguesa metabolicamente reduzida e exercida sem aptidões especiais está completamente desacreditada. Perdeu a pouca dignidade que tinha e converteu-se em fonte de rendimento para homens e mulheres de inteligência reduzida e destituídos de conhecimentos.
O descrédito da política portuguesa deve-se fundamentalmente ao PSD e seus governos pseudo-competentes: um partido formado por corpos maquiavélicos sem a erudição e a inteligência maquiavélica. O PSD bebe actualmente o seu próprio veneno e o CDS está em queda acelerada. O PS não está a aproveitar a oportunidade de fazer algo pelo futuro de Portugal.
O governo fala em investigação, depois na qualidade do ensino, mas não se vê nada de qualitativamente novo: diplomas ou pseudo-diplomas são falsas cifras que dão emprego a meia dúzia de idiotas. A investigação antes do ensino de qualidade é uma ideia estranha e sintomática, própria daqueles que desconhecem o assunto.
Uma ideia simples era reintroduzir novamente a política no ensino, com um programa ousado e criativo, sem sobrecarga histórica vazia, aberta à participação e ao debate filosófico de temas actuais.
A democracia não é um sistema garantido e, considerada como tal, é falsa: a democracia é uma luta permanente pela sua conquista virtual e esse espírito de luta virtuosa pode ser aprendido, não pelo exemplo de políticos metabolicamente reduzidos e sem cultura, mas pelo esforço do pensamento conceptualmente dirigido.
Mais outro pensamento: as áreas do conhecimento não pertencem a ninguém e quem se julga detentor de uma área, dizendo «esta é a minha área, no sentido sou eu», é um tremendo idiota. Os portugueses sofrem frequentemente deste tipo de idiotia e dividem o conhecimento como se estivessem a dividir um bolo irreal, isto é, a ausência de conhecimentos e a fragilidade do seu self
O PS deve projectar a educação com verdade e não com falsidade: o choque tecnológico deve começar pelo ensino antes de chegar à investigação.


4.1. EXCURSO: O CONTRA-IMAGINÁRIO DE JOSÉ SÓCRATES. O choque noológico deve preceder o choque tecnológico proposto por José Sócrates. Sem uma revolução no ensino não pode haver explosão das competências. Apresento a seguir algumas ideias simples fundamentadas de modo desigual:



1. Reintroduzir o ensino da Política nos programas nacionais. O terrorismo e o desinteresse pela política combatem-se na frente cultural: regressar às origens do pensamento ocidental é reanimar a tradição e dar-lhe vida. As soluções burocráticas são mais caras, ineficazes e degradantes. A degradação da política portuguesa patente nas eleições autárquicas de Lisboa pode ser evitada. O PS tem obrigação de mudar qualitativamente a educação.
2. Reforma curricular e mudança da equipa ministerial. A reforma curricular feita com inteligência e sabedoria pode ajudar a combater o insucesso escolar e a desistência escolar e a evitar os erros das provas realizadas pelas equipas do ministério da deseducação, além de tornar a escola mais atractiva. A sociologia da ministra da educação consiste em evitar o olhar olhos-nos-olhos com os seus interlocutores, de resto uma má-sociologia.
3. Dignificar o trabalho, de modo a evitar a noção errada do ensino superior para o emprego, ou melhor, o desemprego, e a combater os sindicatos metabolicamente reduzidos. A ideia de que o curso universitário é quase uma obrigação é estúpida e degrada a cultura superior, subjugando-a ao reducionismo metabólico. Existem outros ensinos a explorar e outras carreiras interessantes, adaptadas às competências e aos interesses de cada um. Somos todos diferentes. A igualdade é uma ideia absurda. O trabalho é fonte de saúde e todos devem ter acesso ao trabalho.
4. Dignificar o ensino universitário e despedir os incompetentes que o controlam como se estivessem em casa. Ainda confio no ministro da ciência.
5. Educação da inteligência emocional e social é outra reforma necessária, para evitar a má-educação dos portugueses e a sua falta de aptidão social.
6. Reformular a política empresarial e evitar subsidiar empresas privadas. Tais empresas que dependem dos subsídios estatais são inúteis e não criam riqueza. A economia precisa arrancar com força e não apenas com pequenos indícios de crescimento.
7. Reformular a ideia de competição saudável: o mérito em vez da cunha ou do laço familiar. Esta ideia é completamente estranha entre portugueses.
8. Pôr termo aos direitos adquiridos que se perpetuam como direitos hereditários, transmitidos de pais para filhos e familiares. Seria necessário fazer um levantamento destas situações: quem é quem a quem e porque está em tal lugar, em vez de um indivíduo competente. Os concursos devem ser limpos e não-viciados.
9. Evitar a intervenção do Estado em assuntos privados e substituir os juízes e magistrados públicos. A reforma radical da justiça é urgente. O governo deve evitar invadir a esfera privada dos cidadãos. Os magistrados e juízes portugueses são mesmo néscios.
10. Ter cuidado com o destino e a gestão dos apoios comunitários. Os oportunistas já elaboram acções de formação e coisas do género, pensando que o governo vai gastá-las na formação metabolicamente reduzida. Aliás, esse dinheiro deveria ir para as regiões mais pobres e não para abastecer os clientes habituais. O choque tecnológico corre o risco de perpetuar a luso-merda.
11. Acabar com a arrogância e discursos tolos. Cria inimigos e é pouco democrático..
12. Combater todos os tipos de exclusão social e educar todos para o trabalho e a responsabilidade. A exclusão social ultrapassa o entendimento do Presidente da República, que parece reduzi-la à pobreza e terceira idade.
13. Acabar com a irresponsabilidade e imbecilidade do jornalismo nacional. Ui, que horror de jornalistas!

A política socialista deveria ser uma política justa que garanta a igualdade de oportunidades, o mérito, a justiça e a liberdade na responsabilidade e na participação na esfera pública. Esta é a política do bom senso e não a política suja de interesses pseudo-tecnocráticos. O bom senso partilha-se. O mundo é comum e todos devem participar na governação do bem comum e do futuro. Como diz Arendt, a natalidade é fundamental para a política. É melhor ler Aristóteles, Agostinho, Maquiavel, Hobbes, Montesquieu, Stuart Mill, Marx e Arendt do que Bernstein e seu socialismo reformista. E, no final, ler Sócrates e Platão, que trazem o pensamento para a política.


4.2. EXCURSO: LUSO-JUVENTUDE DIPLOMADA. Portugal tem vivido nas últimas décadas tempos de mudança. Essa mudança geral foi recentemente caracterizada, num programa da RTP, como uma passagem da sociedade fechada à sociedade aberta, conceitos que Karl Popper retomou de Henri Bergson para elaborar a sua filosofia política liberal.
Uma mudança que não foi mencionada e que é bem conhecida pelos cibernautas dedicados à busca de sexo online diz respeito aos jovens. A psicologia evolutiva descobriu que os homens preferem parceira(o)s mais jovens do que as mulheres, independentemente da orientação sexual. Os nossos estudos interactivos confirmam a existência dessa diferença sexual numa amostra portuguesa, mas revelam outro facto. Apesar dos homens portugueses preferirem parceir(a)os mais novos do que eles, começam a evitar a companhia dos jovens, alegando que não os suportam. Muitos chegaram ao ponto de recusar encontros casuais com eles. Os jovens começam a não ser desejados como parceiro(a)s sexuais, devido à sua «cabeça vazia».
Passando do plano da sexualidade para o da formação cultural, verificamos que os jovens estão efectivamente anestesiados e seduzidos pela ilusão da manada. Comportam-se como gado doméstico: perderam completamente o bom senso, o sentido de estar vivo e o sentido de ser humano. Não sabem viver em sociedade. Passam nas universidades sem deixar vestígios: entram e saem ignorantes, sem qualquer aptidão. Reivindicam mas não têm nada para dar, a não ser comportamentos veladamente agressivos e sintomáticos.
Este assunto é preocupante e não pretendo desanimar, até porque sou optimista. Mas precisamos melhorar urgentemente a qualidade do ensino e da cultura em Portugal. Neste aspecto, passámos de uma sociedade de privilégios para uma sociedade de moléculas conceptualmente anestesiadas que se aglutinam para digerir e, depois, evacuar, num ciclo repetitivo. Aquilo a que chamo frequentemente sociedade metabólica, semelhante a um aviário, que abdica do pensamento, dado não precisar dele para subsistir. Estas criaturas metabolicamente reduzidas são diplomadas... e ameaçam invadir a esfera pública através dos partidos políticos decadentes. (À geração dos falsos diplomas sucede uma geração tremendamente ignorante e irresponsável.


4.3. EXCURSO: LISBOA GORDA. Os portugueses não têm medo de existir, porque, para eles, a existência é reduzida à conservação do metabolismo. Mas temem o pensamento e a distinção, porque sabem que são meras moléculas metabólicas, incapazes de se impor pelo mérito e pelo conhecimento.
Lisboa é a capital do luso-metabolismo e, como tal, é uma cidade que engorda à custa do emagrecimento do resto do país. O Porto, a cidade da iniciativa e da cultura, é alvo da inveja lisboeta. Estamos todos cansados da televisibilidade de Lisboa e da sua gente parola. A inveja é fomentada pela luso-inteligência reduzida, cujo centro nevrálgico reside em Lisboa, a cidade dos parolos.
O cenário das últimas eleições em Lisboa foi triste: os resultados não fazem sentido. Os eleitores lisboetas deviam ser abolidos, juntamente com os eleitos. A incompetência e a corrupção são sempre recompensadas eleitoralmente. Portugal é um país de trapaceiros.
Não há futuro em Portugal, a menos que as pseudo-elites da culinária de Eça de Queiróz sejam condenadas ao desaparecimento. Um país não se renova com as mesmas pessoas que não têm vergonha e, por isso, teimam em persistir. Os incompetentes são e serão sempre incompetentes e invejosos. Abolir a incompetência nacional é fazer desaparecer para sempre essas moléculas televisíveis. Não há reforma sem a abolição das pessoas medíocres que tomam decisões em Portugal
Mas, como os portugueses fazem sempre escolhas eleitorais erradas, o melhor é esquecer Portugal e inventar um novo país com estrangeiros ou qualquer outra coisa, menos as luso-carpaças.
Portugal está cada vez mais feio, mas a cidade do Porto é simplesmente bela, a cidade não os seus habitantes.


5. LUSO-JUSTIÇA E CORRUPÇÃO: O caso Apito Dourado cheira muito mal. Quando o sistema de justiça não funciona por razões de ordem jurídica e por incompetência dos seus funcionários gordos e metabolicamente reduzidos, alguns magistrados precisam de encobrir a sua inércia e o seu colesterol com bodes expiatórios.
O caso Apito Dourado é um exemplo disso: a magistrada sem rosto quer mostrar serviço e, ao mesmo tempo, beneficiar os amiguinhos de creche. Desautoriza os outros magistrados e abre novamente processos. Eles não querem que Portugal seja conhecido no estrangeiro pelo seu futebol, mas pela sujidade da sua pseudo-justiça.
Os lisboetas não suportam a qualidade e perseguem a coragem de ser a qualquer preço: a sua inveja de cariz salazarista e a sua maldade radical são, como disse inadvertidamente Cavaco Silva, fontes de bloqueio.
Mais vale abolir a justiça oficial portuguesa do que abdicarmos do futebol. Se a magistrada quer mostrar serviço comece por varrer a casa da justiça antes de fazer aquilo que não sabe: ser corajosamente competente e moralmente digna. Mexer no livro de Carolina Salgado é indigno: roupa suja deve ser queimada e não exposta por uma Editora sem escrúpulos.
A justiça oficial portuguesa mete muito nojo. Falta-lhe a dimensão filosófica, cognitiva e moral. Leiam John Rawls, Ronald Dworkin, Heidi M. Hurd ou, pelo menos, Hans Kelsen, para já não falar de Jürgen Habermas. Aprendam a ser sensatos antes de querer fazer in-justiça. Ressuscitem Salazar e terão o «glorioso vermelho» condenado eternamente pela justiça Divina.
Estamos todos cansados deste sistema corrupto de justiça! Portugal merece melhor!

5.1. EXCURSO: FUTEBOL CLUBE DO PORTO. Os nossos rivais e inimigos recorrem a um imaginário zoológico em vias de extinção e demasiado óbvio: O Benfica é simbolizado pela águia, um animal estúpido, e o Sporting, pelo leão, um animal preguiçoso. Ambos são herdeiros da estirpe maldita e ambos soçobram na agonia da noite. O Dragão Azul vigia-os de perto e triunfa... A sua promessa cumpre-se.
Nós, os dragões azuis, somos a profecia que se auto-realiza. Contra tudo e todos, somos vitoriosos e não há macaco que nos vença, mesmo com o recurso aos meios de comunicação social, afundados na infertilidade pessoana e no seu universo sem fundo e triste, e com a ajuda «legal» dos vampiros, que maquinam em quartos escuros actos malignos. O nosso poeta não é Camões ou Fernando Pessoa, mas Georg Trakl, o profeta da nova humanidade azul.

O Outono do Solitário
Volta o escuro outono cheio de fruta e opulência,
Brilho amarelado dos belos dias de verão.
Um puro azul emerge de capa em decadência;
O voo das aves traz ecos de lendas ao serão.
Pisadas estão as uvas. Na tranquila ambiência
Pairam leves respostas à velada questão.
Aqui e além há cruzes em colinas sem gente;
Na florestas de fogo um rebanho ainda erra.
A nuvem passa sobre o lago transparente;
Descansa o gesto calmo do homem da serra.
A asa azul da noite roça levemente
Um telhado de palha seca, a negra terra.
Em sobrolhos de cansaço aninham-se já estrelas;
Em frias casas entra um surdo cumprimento
E anjos saem silenciosos de janelas
Azuis - olhos de amantes em doce sofrimento.
Sussurram canas; e um horror ósseo nasce delas,
Quando salgueiros orvalham gotas negras num lamento.

Ou então:

Sonho e Anoitecer do Espírito
Oh, estirpe maldita. Quando todos os destinos se consumam em quartos tocados de mácula, entra na casa a Morte com passos de podridão. Ah, se fosse primavera lá fora e um pássaro cantasse alegremente na árvore em flor. Mas o parco verde nas janelas dos filhos da noite seca e fica cinzento, e os corações em sangue maquinam ainda actos malignos. Oh, os caminhos primaveris das meditações crepusculares do solitário. (...)
A Filosofia do Futebol Clube do Porto cumpre-se na azulidade da noite, em cada jogo e aparição, sem invocar o defunto Salazar. Ao contrário dos seus arqui-inimigos, o FCP nasceu sem mácula, num berço azul como o Céu. Daí o nosso desprezo pelas maquinações lisboetas que consomem canibalisticamente Portugal, sem o projectar no Mundo. De Portugal o Mundo só conhece o Vinho do Porto e o FCPorto, embora comece também a despertar para o São João do Porto.


6. O LUSO-BURRICO. A maior parte das figuras nacionais devia usar umas orelhinhas de burrico, porque, como os verdadeiros burros, não sabem que as áreas neuro-cognitivas do seu cérebro regrediram e também não querem aprender. A sua vida é completamente metabólica. Aliás, o burrico nacional é um imenso tubo digestivo, com entradas e saídas, altamente poluentes e, por vezes, infecciosas.
Com efeito, a burrice transmite-se não só pelos luso-genes deletérios mas também pela via da burrico-socialização. Contrariamente ao que diz Adriano Moreira, as universidades portuguesas, mais as privadas do que as públicas, salvo raras excepções públicas, são centros de burrico-emprego, de burrico-socialização e de perpetuação da terrível mentira nacional.
A aliada fiel da burrice é, como já todos sabem, nomeadamente Klein, a inveja e a intriga.
Esta tese poderia ser comprovada mediante a visualização de neuro-imagens obtidas por ressonância magnética funcional de luso-cérebros a executar determinadas tarefas. Mas, como essa utilização seria cara, o melhor é observar os comportamentos indicadores de burrice.

6.1. EXCURSO: ATROFIA COGNITIVA (Uma síndrome portuguesa). A inveja nacional e os comportamentos relacionados só podem ter uma explicação: atrofia mental e cognitiva, a qual pode ter uma explicação neurobiológica.

Os sinais de alarme desta atrofia são particularmente evidentes nos indivíduos que se empregam, sem no entanto trabalharem, nas áreas da educação, da justiça e da comunicação.

Os professores fazem tudo menos ensinar e não ensinam porque não aprenderam e, por isso, não possuem conhecimentos para transmitir.

Os magistrados não têm cultura jurídica e isenção para exercer funções de responsabilidade. A noção de justiça é-lhes completamente estranha.Os jornalistas e comentadores não têm consciência do que dizem e fazem. São completamente tolos e falam como comadres, repetindo o que ouviram dizer como se isso resultasse de um processo de elaboração intelectual.

O professor, o magistrado público e o jornalista são aqueles indivíduos conhecidos que ocupam cargos, sem possuir conhecimentos e competências para os desempenhar. Em vez de exercerem com competência os seus cargos, limitam-se a monitorizar uns aos outros, de modo a não deixarem os outros fazer bons trabalhos.

Como se pode mudar o país com estas figuras? Eis o dilema do governo de José Sócrates.

6.2. EXCURSO: MISÉRIA DE PORTUGAL. Não há futuro em Portugal e isto por uma razão simples: mediocridade generalizada instalada sobretudo nos centros de decisão. Pseudo-elites em todas as esferas da sociedade: politico-jurídica, económica, comunicativa e educativa. A aliada desta inteligência reduzida é a luso-inveja. E o resultado é sempre o mesmo: a reprodução da mediocridade que condena Portugal à inércia do mesmo e ao isolamento daqueles que poderiam ajudar a mudar o status quo português.

Nunca houve verdadeiramente filosofia em Portugal. As faculdades de filosofia estão repletas de pessoas destituídas de conhecimentos e de competências. Quem não exibe competências vai para letras e, depois de licenciado, instalado e integrado, dedica-se a vedar o acesso aos outros. A mediocridade teme ser confrontada com a sua própria mediocridade.

Este aspecto é muito negligenciado por todos e sobretudo pelos governantes: eles não sabem que o que dá vida ao Ocidente nasceu na Grécia antiga. A filosofia distingue o Ocidente das outras civilizações. Os terroristas sabem usar a nossa ciência e a nossa tecnologia, mas não querem aprender filosofia e muito menos aderir à democracia. E o pior é que este horror pelo conhecimento está instalado no poder. Este é o problema que José Sócrates teima em não compreender.

6.3. EXCURSO: LUSO-CULTURA DECADENTE. A cultura ocidental está em decadência e, em Portugal, essa decadência acentuou-se paradoxalmente após o 25 de Abril, talvez devido ao facto das universidades terem sido assaltadas pelos pseudo-diplomas resultantes das passagens administrativas e pelos diplomas de compadrio político e familiar. As novas pseudo-elites foram educadas na facilidade e numa universidade que fomenta o horror activo pelo conhecimento. O fim das ideologias e a apologia do pragmatismo significam, para estas mentes reduzidas, o advento da opinião e da conversa barata, daquilo a que chamámos noutra ocasião a tirania da opinião ou do pensamento refractário à orientação conceptual.

Exorcismos contra a luso-mediocridade:

O Ser é Abismo: carece de fundamento, de sentido, de finalidade e de valor.
Esta verdade insondável só podia ser descoberta no momento em que o homem se descobriu como sendo um indivíduo por oposição a uma sociedade que o manteve adormecido durante milénios. A descoberta do Eu é, num só e mesmo acto, a descoberta da sociedade como tirania. O indivíduo e a sociedade são realidades opostas e irreconciliáveis: o indivíduo só pode afirmar-se contra a sociedade e a sociedade só pode afirmar-se contra o indivíduo. Nesta luta desigual, a razão é a única «arma» que o indivíduo tem ao seu dispor, para poder ser autónomo. Contudo, quando procura a sua autonomia, o indivíduo descobre que está profundamente só no mundo. A solidão, aliada ao sentimento de impotência perante o seu próprio destino e o desenrolar dos acontecimentos, mergulha-o na loucura. Indivíduo, razão e loucura são conceitos e realidades inseparáveis.

A teoria crítica visa a reconciliação entre indivíduo e sociedade, mas prefere sacrificar a sociedade.

Os valores não se ensinam (Natália Correia): respiram-se como respiramos o ar puro de um pinhal não contaminado pela miséria humana. Há lugares onde não se pode respirar valores e um desses lugares é a escola.A totalidade do ente não se deixa capturar pelo conceito e muito menos pela sua manipulação técnica. Quando se julga que se domina completamente a natureza, ela encarrega-se de mostrar que não é assim: a sua revolta é a revolta contra o tirano que a tenta submeter.

Os pensamentos que se levam demasiado a sério são geralmente falsos e os que acreditam piamente neles, fazendo deles regras de conduta, são idiotas e inumanos. A vida é muito mais importante que um pensamento bem pensado. Diante da sua riqueza infinita, o pensamento torna-se falso.

Quem leva muito a sério o que pensa deixou de acreditar na vida e, sobretudo, numa vida de qualidade.

Os meios de comunicação de massas são os maiores adversários do pensamento irreconciliável e autónomo. Ali onde eles gritam, o pensamento cala-se de vez.

Pensar é mergulhar na solidão, longe da praça pública, onde os átomos sociais repetem até à náusea as mentiras e os slogans de todos os dias.

A racionalidade burocrática é um procedimento técnico que nos obriga a não dizer a verdade. O procedimento está de tal modo elaborado que não permite outra resposta que a glorificação do próprio sistema burocrático. Burocracia é sinónimo de mentira.

As ciências da educação são uma invenção da burocracia.

A burocracia silencia a verdade de modo a perpetuar o sistema que a alimenta.As pedagogias que visam fomentar o espírito crítico esquecem-se que este não pode ser ensinado.

O «estágio integrado», em vez de preparar professores competentes, cria professores incompetentes e dependentes, incapazes de dar uma aula.Não se ensina a ser professor. A burocracia cria professores em série para que não haja verdadeiramente professores.

Além da competência científica, um professor deve ser um indivíduo saudável. O que falta no ensino é sanidade mental e cognitiva.

Uma biblioteca privada deve ser um reflexo do perfil psicológico e cultural do seu proprietário; caso contrário, é um mero aglomerado de livros.

Uma mulher chega a uma livraria e pergunta ao empregado:
– “Quais são os livros mais vendidos neste momento?”
O empregado responde:
– “São as obras de Vattimo e as de Lyotard...”
– “Então, dê-me todas essas obras...”. responde a mulher.

Esta mulher saiu radiante da livraria. Afinal, levava no saco as obras mais vendidas!A burocracia cria dependência: os indivíduos são condicionados a esperar que o sistema resolva os seus próprios problemas.

Ao deixarem de ter problemas, os indivíduos sujeitos à burocracia tornaram-se problemáticos – indivíduos mentalmente perturbados, incapazes de pensar.Actualmente, já não se pode distinguir entre a sociedade e os asilos como instituições totais: a sociedade pós-moderna é um imenso asilo de alienados mentais.O feminismo tornou-se um movimento, ou melhor, uma atitude totalitária. Quem denuncia o comportamento impróprio de uma mulher é imediatamente rotulado de misógino, machista ou homossexual. As mulheres vencem actualmente ao abrigo deste procedimento repressivo.

O feminismo é uma tremenda mentira.

Sem coragem não há verdadeiramente filosofia. A filosofia é precisamente a coragem de chamar as coisas pelo seu próprio nome.

A mulher dita emancipada é escrava do sexo.

O homem sem coragem é cúmplice da mentira feminista.

Há quem compre livros ao metro! Os livros converteram-se em ornamentos decorativos.

A filosofia herdou de Marx um presente envenenado: o conceito de ideologia.Ninguém sabe bem o que significa Metafísica. No entanto, o termo soa demasiado bem para que seja esquecido.

Só nos resta pensar contra o homem.

O homem moderno procura o sentido nos lugares e nas actividades errados. O sentido é o que está mais próximo do homem.

O idealismo é a fúria do sistema dominante contra a vida.

A Metafísica renasce a partir do momento em que recuperar a memória do sofrimento.A ideologia é a finitude da filosofia. Poderá a filosofia recuperar o seu vigor depois de se saber finita?

Fechada em si mesma, a Presença é a instrumentalidade: a eucaristia entendida como presença de uma ausência é a tentativa de manipular e submeter Deus.

A Filosofia só pode ser pensada como ontologia negativa: o Ser é o que “ainda-não-é”.O leigo diz que a ciência não pode dar sentido à vida, mas também não lhe tira o sentido.

Weber falou do desencantamento do mundo. Marx, pelo contrário, diz que o mundo actual é absolutamente encantado, na medida em que tudo se converteu em mercadoria e esta mais não é do que um fetiche.Não há futuro em Portugal: a mediocridade do povo português é de tal ordem que não só não trabalha como não deixa os outros trabalhar. As universidades são antros de mediocridade e de golpes baixos: ser inteligente e culto é condição não grata. O estrelato provinciano é composto por gente que teme a sua própria sombra. A loucura é o seu traço de carácter mais evidente.Em Portugal, não há povo; há zé-povinho – parolo e estúpido, fácil de ser manejado e domesticado pelos medíocres. O seu preço é baixo: basta uma garrafa de vinho reles para conquistar a alminha do zé-povinho e dos seus lideres apagados e trapaceiros.

A saudade é uma invenção portuguesa e não poderia ser de outro modo, porque só os portugueses são capazes de ansiar por aquilo que nunca tiveram: uma cultura moderna, voltada para o futuro.

O português é muito pouco criativo: copia aquilo que não presta.

A saudade portuguesa traduz a incapacidade do português para criar uma cultura própria: o passado português é um mito.

É uma fatalidade viver em Portugal: a única cidade bela do país – o Porto – é também uma das mais medíocres. Repovoado por novas gentes o Porto poderia ser um império.

Descartes esqueceu-se de afirmar que o homem, tal como qualquer outra forma de vida, é um animal mortal. O cogito não tolera a morte e com razão, porque a morte é a sua aniquilação.

Só os loucos continuam ainda a dizer que o homem é um ser livre: os que os levam a sério estão internados nos hospitais psiquiátricos, dependentes de drogas e de tratamentos que testemunham a sua não liberdade essencial.

A libertação não é compatível com uma filosofia da liberdade. Se somos livres, não precisamos de nos libertar; mas, se não somos livres, devemos lutar contra aquilo que não nos deixa ter e usufruir uma vida sem angústia.

A liberdade é uma ideologia que glorifica a sociedade não livre.

As temáticas mais verdadeiras de Heidegger herdou-as ele do marxismo, em particular de Georg Lukács.

Só uma guerra intestina nos pode livrar das pseudo-elites e das suas acções malévolas. Como dizia Heráclito: a guerra é o pai de todas as coisas, e, sem ela, não há mudança. Para mudar, Portugal deve livrar-se das luso-moscas que o dirigem, no governo ou na oposição.

Os governos do PSD destruíram a cultura e o ensino, mumificaram Portugal com betão, criaram a sua TV, aniquilaram património, criaram recibos verdes e falsificaram as contas públicas em nome do rigor.

A economia é a ideologia preferida dos abusadores do luso-poder, que a apresentam como se não fosse uma ideologia.

As pseudo-elites nunca leram um livro, nem sequer na retrete.

Antero de Quental conhecia bem a causa do atraso dos povos ibéricos: a Igreja Católica Portuguesa, que conspira constantemente contra a liberdade, através de homilias ou dos seus rapazes.

Um comentador político pergunta ao outro: onde descobriste essa frase de Alexandre Herculano? O programa chegou ao fim sem resposta à questão. Sintomático: os lusos-universitários recolhem afirmações consideradas «bonitas», fazem teses extensas, mas não sabem pesquisar. Aliás, em Portugal, investigar significa apropriar-se indevidamente de pequenas frases roubadas aos outros, sacar ficheiros da Internet e depois montar um texto, evidentemente sem ideologia.

Em Portugal, a Internet fomenta mais do que combate a luso-ignorância activa (Lacan).


6.4. EXCURSO: GOVERNO DE NINGUÉM. Acho imensa graça aos blogs que reflectem sobre cybercultura, porquanto a ideia mais simples parece não ser detectada: A Internet é cultura. Outra coisa diferente é saber se ela contribui para a formação cultural. Este é o aspecto que deve ser debatido. Um site pornográfico é cultura. Um site comercial é cultura. Até as páginas governamentais são cultura. Fornecem informação mas podem não contribuir para a formação cultural, pelo menos no sentido superior implicado num tal conceito.

A formação cultural não é alcançada com escritos que usam procedimentos e muitos bloguistas pensam que usar essa linguagem pseudo-técnica dá credibilidade ao conteúdo dos seus textos, sem se aperceberem de que, onde predomina o procedimento, não há conteúdo elaborado conceptualmente. As linguagens dos procedimentos são burocráticas e, como tais, avessas ao pensamento genuíno.

Pensar não é seguir procedimentos ou algoritmos... Planificação do que quer que seja é basura. É certo que não podemos prescindir da burocracia, mas podemos simplificá-la e restringir o seu alcance. A impessoalidade da burocracia é fundamentalmente ausência de pensamento e de coragem de ser. Por isso, certos escritos sobre cybercultura deixam-me perplexo: são vazios e quem os emitiu não deve ter coragem de ser.

As pessoas que precisam de «tirar estilo» são débeis e raramente pensam autonomamente. Copiam, seguem procedimentos, obedecem, fingem ser o que não são, enfim anulam-se: são pessoas canceladas.

É, por isso, que as ditas políticas da cultura, do ensino e da ciência aniquilam aquilo que pretendem promover: secam a fonte da criatividade e congelam o pensamento. Escutar os seus portavozes é uma diversão terrível: eles nunca leram nada e querem promover a leitura! Enganam-se a si mesmos e talvez alguns idiotas mas não enganam aqueles que simplesmente pensam.

A burocracia é má cultura e os agentes culturais não devem imitar esse estilo de emissão padronizada de fórmulas congeladas, que nem sequer compreendem. Isso é um crime... muito grave e provavelmente fatal.



J Francisco Saraiva de Sousa





3 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Este trabalho procura estabelecer um diálogo produtivo com o pensamento de Hannah Arendt, sem no entanto a mencionar. E aponta para o papel da violência revolucionária na recriação da luso-sociedade, na linha dos grandes mestres, tais como Karl Marx, Georg Lukács, Merleau-Ponty, Herbert Marcuse, Jean-Paul Sartre, Ernst Bloch ou mesmo Hannah Arendt.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Hummm...

Começo a convencer-me da plausibilidade da tese segundo a qual os portugueses temem o poder político e, por isso, preferem permanecer mudos. Mas, como sou um luso-homem livre, não temo as perseguições políticas e, se faço crítica, não é para destruir mas para libertar novas alternativas sociais e políticas. Reconheço os aspectos positivos da governação socialista (até sou socialista), mas isso não me impede de apontar para novos rumos. José Sócrates deve apresentar um projecto claro de Futuro para Portugal..., caso contrário, começamos a ficar desiludidos e sem alternativas políticas, porque dos outros partidos não se vislumbra nada de bom.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A violência revolucionária é aquela violência que se usa para mudar radicalmente a estrutura do poder político, de modo a implementar uma nova sociedade mais autónoma e livre daqueles que usam abusivamente o poder para manter os seus privilégios em detrimento da maioria da população. Só com esse objectivo em mira é que a violência pode, como acentua Merleau-Ponty e posteriormente Marcuse, ser considerada legítima, por oposição à situação de violência vigente que visa conservar uma sociedade injusta. Até mesmo Álvaro Pais já distinguia entre guerras justas e guerras injustas. A violência só é legítima quando visa a libertação da maioria da opressão que lhe é imposta por uma minoria de incompetentes cuja tarefa consiste em usar o poder do Estado e dos seus aparelhos repressivos para defender os seus interesses mesquinhos, mesmo que isso se faça à custa da humilhação dos excluídos e dos oprimidos. No entanto, num mundo ameaçado pelo terrorismo exógeno, a violência não deve ser física mas pacífica e resistente: a denúncia pública dos seres metabolicamente reduzidos pode constituir um meio eficaz para os arrancar da esfera pública e, quando eles não mostram vergonha na cara, devem ser condenados ao ostracismo social ou, pelo menos, afastados dos centros de decisão. Sem esta coragem da denúncia, não há reforma que vigore neste país, porquanto os corruptos têm mil faces como os feijões e perderam toda a postura de dignidade humana.