«O racional pode chegar a ser real, o real pode converter-se em racional; tudo depende da fenomenologia, isto é, da história dos fenómenos da verdadeira acção. Esta é uma acção do verdadeiro ou terminação da sua pré-história que todavia perdura; é a transformação do mundo segundo a sua tendência material e dialéctica; é a concordância da teoria-praxis humana com uma realidade coincidente consigo mesma. A contemplação passiva não tem aqui lugar algum; pelo contrário, o saber, que teoricamente não tem fronteiras, deve também na prática realizar-se na libertação socialista das fronteiras, fazendo saltar a servidão e dominando a necessidade. Aqui, em especial, o marxismo distingue-se de todas as filosofias anteriores, também da hegeliana, que lhe é a mais próxima. Porque, com um salto para o novo, que a história não tinha conhecido até então, começa com Marx - continuando e, ao mesmo tempo, superando Hegel - a transformação da filosofia em filosofia da transformação. A filosofia já não será tal se não for dialéctico-materialista; igualmente, é preciso deixar claro, para hoje e para sempre, que o materialismo dialéctico não será tal se não for filosófico, isto é, se não avançar para grandes horizontes abertos. Este avanço é um trabalho teórico e prático contra a alienação em prole da desalienação, isto é, da exteriorização da pátria donde o núcleo ou o essencial do homem e do mundo é capaz de começar a manifestar-se. E precisamente neste tempo, nesta Terra, no reino do nosso conteúdo de liberdade finalmente realizável. A isto conduz também, inconscientemente, a pré-história; mas a história conscientemente instaurada possui o seu tema determinante no conteúdo total, pensado sem cessar e mediatamente antecipado, do reino da liberdade. Algumas realizações parciais do plano, algumas figurações realístico-simbólicas têm dado a conhecer até agora este verdadeiro para onde e para quê. É difícil fazer o simples (B. Brecht), o ser-para-si cujos caminhos devem ser duramente conquistados, cujas excelências exigem coragem. Quanto mais urgente é o domínio dos meios que conduzem a esta meta, mais clara é esta como objectivação dos sujeitos e como mediação subjectual dos objectos. Esta meta da existência humanizada, sempre próxima no sonho das aspirações do homem, esteve sempre utopicamente distante da sua existência real. O movimento real para a sua realidade começou agora, conscientemente, contra a alienação de todos os homens e das coisas, a favor de que o ser-si-mesmo chegue a si. Ao libertar a sociedade de todos os condicionalismos existenciais que levam em si a marca do trabalho alienado, o socialismo irá libertá-la de toda a alienação e criar assim o fundamento para que toda a Terra seja a pátria da humanização. Esta é a antiquíssima intenção para a felicidade: que o interior se faça exterior, que o exterior chegue a ser o interior; intenção que não embeleze e encerre, como em Hegel, o mundo existente, mas que se alie às propriedades da realidade ainda-não-existente, que são portadoras de futuro». (Ernst Bloch) J Francisco Saraiva de Sousa
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