Jean-Paul Sartre considera «o marxismo como a insuperável filosofia do nosso tempo». «Se a filosofia deve ser, a uma só vez, totalização do Saber, método, Ideia reguladora, arma ofensiva e comunidade de linguagem; se essa "visão do mundo" é também um instrumento que trabalha as sociedades carcomidas, se essa concepção singular de um homem ou de um grupo de homens torna-se a cultura e, às vezes, a natureza de uma classe inteira, fica bem claro que as épocas de criação filosófica são raras. Entre os séculos XVII e XX, vejo três que designarei por nomes célebres: existe o "momento" de Descartes e de Locke, o de Kant e de Hegel e, por fim, o de Marx. Essas três filosofias tornam-se, cada uma por sua vez, o húmus de todo o pensamento particular e o horizonte de toda a cultura, elas são insuperáveis enquanto o momento histórico de que são a expressão não tiver sido superado. Com frequência, tenho observado o seguinte: um argumento "antimarxista" não passa do rejuvenescimento aparente de uma ideia pré-marxista. Uma pretensa "superação" do marxismo limitar-se-ia, na pior das hipóteses, a um retorno ao pré-marxismo e, na melhor, à redescoberta de um pensamento já contido na filosofia que se acreditou superar». (Jean-Paul Sartre) «A cultura, quanto a mim, é a consciência em perpétua evolução que o homem tem de si mesmo e do mundo no qual vive, trabalha e luta. Se esta tomada de consciência é justa, se não é sistematicamente falseada, nós deixaremos, a despeito dos nossos erros e das nossas ignorâncias, uma herança válida aos que nos seguem. Mas, se subordinarmos o nosso trabalho a imperativos belicosos, faremos dos nossos filhos, que consumirão verdades envenenadas, fascistas ou desesperados. Tomemos cuidado, esse perigo é ameaçador: o número daqueles que, no nosso país, se chamam blusões-negros, aliás hooligans, é crescente. Nós podemos e devemos dizer, desses jovens - sejam quais forem os seus crimes - que somos nós os responsáveis, que, durante estes últimos quinze anos, nós não lhes soubemos dar essa consciência lúcida de si próprios, da sua classe, das alienações de que sofrem, que deixámos essas violências nuas e selvagens por falta de os esclarecer e de os dirigir». «A cultura não tem de ser defendida. Nem pelos militares, nem pelos políticos, e aqueles que se armam em seus defensores são, na verdade, quer queiram quer não, defensores da guerra. Quando os soldados do imperialismo defendem o Pártenon, na realidade é o Pártenon que defende o imperialismo. Não se deve proteger a cultura, o único serviço que ela espera, somos nós, os intelectuais que temos obrigação de o fazer: é preciso desmilitarizá-la». (Jean-Paul Sartre)
J Francisco Saraiva de Sousa
1 comentário:
O segundo texto de Sartre é muito importante, porque atribui a responsabilidade pela mentira cultural dos jovens a toda esta geração geriátrica que declina na morte negra.
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