quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Simone de Beauvoir vota em José Sócrates

«"Animal racional", "caniço pensante", o homem evade-se da sua condição natural sem, entretanto, libertar-se dela; deste mundo, do qual é consciência, o homem também faz parte; ele afirma-se como pura interioridade, da qual nenhum poder exterior conseguiria apoderar-se, ao mesmo tempo que se experimenta como coisa, esmagada pelo peso obscuro de outras coisas. A cada instante, ele pode apreender a verdade intemporal da sua existência, mas, entre o passado que não é mais e o futuro que não é ainda, esse instante em que existe não é nada. Este privilégio que só ele detém - de ser um sujeito soberano e único no seio de um universo de objectos - partilha-o com todos os seus semelhantes; por sua vez, objecto dos outros, ele não é, na colectividade da qual depende, nada além de um indivíduo». (Simone de Beauvoir)
«Há no interior de si mesmo um perpétuo jogo do negativo; e por aí ele foge, escapa à sua liberdade. /Nada é previamente decidido: é porque o homem tem algo a perder, e que pode perder, que pode também ganhar. /Portanto, faz parte da condição
(ambígua) do homem o facto de poder não realizar esta condição. Para a realizar, é necessário que se assuma como ser que "se faz carência de ser a fim de que haja ser"; mas o jogo da má-fé permite parar em qualquer momento; pode hesitar em fazer-se carência de ser, recuar diante da existência; ou então afirmar-se mentirosamente como ser, ou afirmar-se como nada; pode realizar a sua liberdade apenas como independência abstracta ou, pelo contrário, recusar com desespero a distancia que nos separa do ser. Todos os erros são possíveis, já que o homem é negatividade; e são motivados pela angústia que o homem experimenta diante da sua liberdade.» (Simone de Beauvoir)
«Existir é fazer-se carência de ser, é lançar-se no mundo». «A moral é o triunfo da liberdade sobre a facticidade, e o sub-homem só realiza a facticidade da sua existência; em lugar de engrandecer o reino humano, opõe aos projectos dos outros homens a sua existência inerte». «Querer-se livre e querer que haja ser é uma só e mesma escolha: a escolha que o homem faz de si mesmo enquanto presença no mundo». «Querer que haja ser é também querer que existam homens por quem e para quem o mundo seja dotado de significações humanas. Não se pode revelar o mundo a não ser sobre um fundo de mundo revelado pelos outros homens. Nenhum projecto se define senão por sua interferência com outros projectos». «O homem não pode encontrar senão na existência dos outros homens uma justificação da sua própria existência». «A liberdade só se realiza enquanto engajamento no mundo: de tal forma que o seu projecto para a liberdade se encarna para o homem em condutas definidas. /Querer a liberdade, querer desvendar o ser - eis uma única e mesma escolha». «O oprimido não pode realizar a sua liberdade senão na revolta, já que o próprio da situação contra a qual se revolta é precisamente o facto de lhe impedir qualquer desenvolvimento positivo. É somente na luta social e política que a sua transcendência se ultrapassa até ao infinito.» «A moral, reclamando o triunfo da liberdade sobre a facticidade, reclama também a supressão dos opressores.» «O homem é o ser das distâncias, movimento para o futuro, projecto.» «A violência só se justifica quando abre possibilidades concretas a essa liberdade que pretendo salvar». «Querer impedir um homem de errar é proibi-lo de consumar a sua própria experiência, é privá-lo da sua vida». «Um homem só se entrega a uma Causa fazendo-a a sua Causa».
«A vida é gasta alternadamente em perpetuar-se e em ultrapassar-se. Se ela apenas se mantém, então viver é tão-somente não morrer e a existência humana não se distingue de uma vegetação absurda. Uma vida justifica-se apenas se o seu esforço para se perpetuar estiver integrado na sua superação e se essa superação não tiver outros limites além daqueles que são colocados pelo próprio sujeito. (...) /Cada um deve conduzir a sua luta em conexão com a luta dos outros e integrando-a no desígnio geral. (...) /Porque uma liberdade não pode ser desejada autênticamente se não for desejada como movimento indefinido através da liberdade de outrem. (...) Uma liberdade que não tem como objecto senão negar a liberdade deve ser negada. E não é verdade que o reconhecimento da liberdade do outro limite a minha própria liberdade: ser livre não é ter o poder de fazer não importa o quê, é poder ultrapassar o dado para um futuro aberto. A existência do outro, na medida em que é liberdade, define a minha situação e é ela mesma a condição da minha própria liberdade.» «Querer-se livre é também querer livres os outros». (Simone de Beauvoir)
«Há dois tipos de oposição. O primeiro é uma recusa radical dos próprios fins colocados por um regime: é a oposição do antifascismo ao fascismo, do fascismo ao socialismo. No segundo tipo, o opositor aceita o fim objectivo, mas critica o movimento subjectivo que o visa; pode mesmo não desejar uma mudança de poder, mas julga necessário efectuar uma contestação que fará surgir o subjectivo como tal. Ao mesmo tempo, exige uma perpétua contestação dos meios pelo fim, do fim pelos meios. Ele deve estar atento para não arruinar pelos meios que emprega o fim a que visa; e, em primeiro lugar, para não se colocar ao serviço dos opositores do primeiro tipo. Mas, por delicado que seja, o seu papel não é menos necessário. Com efeito, por um lado, seria absurdo contradizer uma acção libertadora sob pretexto de que ela implica o crime e a tirania, porque, sem crime e sem tirania, não poderia haver libertação do homem: não se pode escapar a esta dialéctica que vai da liberdade à liberdade através da ditadura e da opressão. Mas, por outro lado, seria imperdoável deixar o movimento libertador fixar-se num momento que só é aceitável se passa ao seu contrário; é preciso impedir a tirania e o crime de se instalar triunfalmente no mundo. A conquista da liberdade é a sua única justificação e contra eles deve-se, portanto, manter viva a afirmação da liberdade.» (Simone de Beauvoir)
J Francisco Saraiva de Sousa

3 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

As citações de Beauvoir fazem parte de uma obra do seu período existencialista, anterior ao seu encontro com Marx - o existencialismo é definido como uma filosofia da ambiguidade, neste período.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

PS a ganhar terreno em todas as sondagens:

O empate parece estar desfeito e o sonho socialista de obter uma maioria absoluta renascido. A sondagem da Marktest para a TSF e Económico, que aponta para que o PS tenha 40% dos votos contra 31,6% do PSD, é a mais expressiva de uma tendência que já se adivinhava com os últimos barómetros.

É preciso votar em força no PS para lhe dar maioria absoluta neste período de crise económica profunda. Sem essa maioria socialista, Portugal fica entregue aos caprichos da direita ultraconservadora do PSD e da esquerda extremista e aventureira.

Vota PS! Dá-lhe novamente a maioria absoluta! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Almeida Santos: “Sócrates é o melhor após o 25 de Abril”