«Está na natureza de uma tradição ser aceite e absorvida, por assim dizer, pelo senso comum, que adequa os dados particulares e idiossincráticos dos nossos outros sentidos ao interior de um mundo que habitamos conjuntamente e que partilhamos em comum. Nesta acepção genérica, o senso comum assinala que na condição humana da pluralidade os homens ponderam e controlam os seus dados dos sentidos particulares por referência aos dados comuns dos outros. Se dissermos que a pluralidade dos homens ou a natureza comum do mundo humano é a sua esfera específica de competência, o senso comum evidentemente operará sobretudo no domínio público da política e da moral, e é neste domínio que nos vemos em dificuldades quando o senso comum e os seus juízos óbvios deixam de funcionar, deixam de fazer sentido. «Historicamente, o senso comum é romano tanto de origem como em termos de tradição. Não é que os gregos e os judeus não tivessem senso comum, mas só os romanos o desenvolveram a ponto de o tornarem o critério superior na gestão dos assuntos públicos e políticos. Com os romanos, recordar o passado passou a ser uma questão de tradição, e foi no sentido da tradição que o desenvolvimento do senso comum encontrou a sua expressão politicamente mais importante. Uma vez que o senso comum se liga à tradição e é por ela alimentado, quando os modelos tradicionais deixam de fazer sentido e deixam de funcionar como regras gerais que permitem subsumir todos ou a maior parte dos casos particulares, o passado, a rememoração do que temos em comum como comum origem, fica sob a ameaça do esquecimento. Os juízos vinculados à tradição do senso comum recolhiam e salvavam do passado aquilo que fora conceptualizado pela tradição e era ainda aplicável às condições presentes. Este método "prático" de rememoração do senso comum não requeria qualquer esforço, mas recebíamo-lo, num mundo comum, como herança partilhada. Por conseguinte, a sua atrofia provocou imediatamente uma atrofia também da dimensão do passado e desencadeou o movimento arrastado e irreversível de esvaziamento que estende um véu de sem-sentido sobre todas as esferas da vida moderna.» (Hannah Arendt) J Francisco Saraiva de Sousa
3 comentários:
Julgo que esta série de posts dedicada ao voto dos mestres defuntos - os mortos queridos - coloca um desafio aos leitores: decifrar a mensagem, porque cada um deles, além do voto, lança um desafio a José Sócrates. O leitor devia decifrar esse desafio em contraposição à campanha de calúnias do PSD de Manuela Ferreira Leite e aos devaneios obscuros do Bloco de Esquerda. :)
O Francisco Louçã anda amalucado, como se o povo acreditasse nele e na sua política de nacionalizações. Ora, de probreza estamos fartos - o povo não quer ser novamente amordaçado pela esquerda tonta e irresponsável. Vota PS! :)
A MFLeite não conhece a história de Portugal! Mas afinal o que ela conhece? hmmmm... :O
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