O realismo fantástico tal como foi elaborado por Louis Pauwels e por Jacques Bergier já não tem audiência e, por isso, a sua aplicação ao domínio da política portuguesa por parte das mentes fantásticas e senis do PSD de Manuela Ferreira Leite parece estar condenada ao fracasso. Depois do caso real do BPN que deu visibilidade a uma extensa teia de corrupção envolvendo figuras ligadas aos governos do PSD, os portugueses adquiriram uma imunidade natural que os protege dos produtos assombrados cuspidos pela imaginação fantástica e fantasmagórica das mentes laranjas desesperadas: asfixia democrática, controle da comunicação social, controle das forças policiais, controle das empresas, maçonaria, freeport, etc., são fantasmas inventados, conspirados e atribuídos pelo PSD ao PS e ao governo de José Sócrates, com o objectivo de difamar e denegrir a imagem do Primeiro-Ministro, bem como a sua imensa obra que arrancou Portugal do marasmo e da inércia. Pacheco Pereira não acredita na teoria da conspiração, porque ele próprio a utiliza para dar visibilidade aos fantasmas do seu partido: os conspiradores negam participar na conspiração que arquitectaram, mas nessa negação confirmam a conspiração em curso que só é travada quando os fantasmas se desfazem sob o efeito da força gravitacional da lei e da verdade. Pacheco Pereira recorre à noção de escassez para justificar ideologicamente a situação de penúria nacional, restituindo-nos sem disso ter consciência teórica a visão autoritária de Hobbes: a visão do homo homini lupus. Embora Marx e Engels estivessem mais interessados pelo excedente ou pela parte maldita, o conceito de escassez não é completamente estranho ao marxismo. Sartre retomou-o para mostrar que a história real dos homens não é necessária: a história tem como origem e fundamento inteligível um facto contingente, a escassez ou carência de recursos em relação ao número de bocas a alimentar. A ausência de reciprocidade deve-se à escassez que transforma o outro em inimigo. A escassez condena todas as sociedades humanas - e não apenas a sociedade portuguesa, como supõe erradamente Pacheco Pereira - a eliminar uma parte dos seus membros, reais e possíveis, antes de terem nascido ou depois de terem visto a luz do dia. A escassez obscuramente experienciada é interiorizada pelas consciências, criando um clima de violência, no qual decorre toda a história humana. Para Sartre, a inumanidade do homem para o homem tem uma causa historicamente permanente, mas ontologicamente acidental: a escassez não só imprime a inumanidade a todas as relações entre os homens, como também põe em movimento a dialéctica da história. Neste clima de conflito, a praxis individual está imediatamente ameaçada, na sua liberdade, pela praxis dos outros. Cada um de nós é projecto - apreensão global do ambiente em função da situação percebida e da finalidade desejada, mas no seio da escassez não é possível ocorrer a reciprocidade das liberdades: as consciências objectivam-se nas suas obras e esta objectivação torna-se alienação, na medida em que os outros a roubam e falseiam a sua significação, transformando a organização social em coisa - o prático-inerte, à qual os indivíduos se submetem como a uma necessidade material. A antipraxis ou antidialéctica caracteriza todas as relações interindividuais na servidão do prático-inerte, fazendo com que o homem seja o instrumento do homem em todos os lugares do mundo. Porém, a escassez permite a Sartre transitar do mundo sem esperança, onde a escassez torna os homens inimigos uns dos outros, para um mundo mais solidário, através da superação comum do isolamento das praxis individuais, das suas rivalidades, das suas sujeições recíprocas e do conjunto do prático-inerte. Ora, é precisamente a urgência política desta superação dialéctica do regime da escassez que distingue o PS do PSD: Pacheco Pereira encara a escassez como uma fatalidade natural necessária, da qual não podemos libertar-nos, condenados a nascermos livres e, ao mesmo tempo, a estarmos acorrentados pela escassez em todos os lugares do mundo (Rousseau), enquanto Sartre - na peugada de Hegel e de Marx - concebe a sua superação dialéctica, antecipando a aurora da abundância e da reciprocidade das consciências. A ideologia do PSD, tal como explicitada por Pacheco Pereira, desiste da luta contra a escassez predominante em Portugal e contra o clima de violência que a carência gera materialmente, condenando Portugal à falsa dialéctica da escassez e da conspiração. O PSD de Manuela Ferreira Leite é profundamente reaccionário: o seu único objectivo político é reduzido à mera luta material pelo controle dos escassos recursos nacionais, mediante a conquista do poder político, luta esta que visa eliminar os adversários políticos, falsificando fantasmagoricamente o significado da sua obra, sem levar em conta a possibilidade de um projecto colectivo, em torno do qual as consciências se unam numa vontade comum: a luta por um Portugal liberto da escassez e da conspiração. A luta do PSD não é a luta pela construção de um mundo melhor, mas sim a luta pela manutenção do controle e da concentração dos escassos recursos nacionais por parte de uma família ideológica alargada de clones. O PSD trama conspirações fantásticas para eliminar os seus adversários políticos que têm um projecto verdadeiramente nacional. O PSD gerou quase toda a corrupção nacional que bloqueia o futuro de Portugal. Lutar contra o PSD constitui um imperativo nacional: o nosso futuro depende da derrota eleitoral do PSD de Manuela Ferreira Leite, a assombração de um regime musculado de Direita. J Francisco Saraiva de Sousa
22 comentários:
Ah, no post anterior, quando refiro a filosofia do porco de Guerra Junqueiro, o porco era o porco do rei de Portugal. Criei a figura do pensamento gordo num trabalho publicado para dar uma moldura teórica elaborada a esta intuição do ilustre filósofo-poeta do Porto. Viva o Porto e o seu humor! :)
O pensamento gordo que domina a vida nacional é propenso à corrupção e ao cunhismo. No Norte, incluindo o Porto, controlado pelo PSD mais reaccionário em sintonia com o clero escuro e porco, afasta as pessoas em função da sua filiação partidário e religiosa.
A escassez parece justificar essa corrupção, mas ela própria é gerada por este sistema de selecção presente nas instituições do Estado e nas particulares: quem não encaixa nessa faixa política não tem oportunidade de arranjar emprego ou acesso a determinados centros de decisão. A suposta escassez de empregos ou de recursos é usada para impor essa obediência partidária.
O pensamento gordo que se coloca entre cada um dos portugueses e o emprego deve ser combatido, porque ele coloca pessoas incompetentes e ordinárias em empregos para os quais não foram moldadas. O resultado é que somos dirigidos por pessoas incompetentes, maldosas e vingativas.
A luta contra o pensamento gordo é um tema positivo para esta campanha eleitoral, até porque todos são de algum modo responsáveis pela sua existência.
As reformas das instituições implicam saneamento. Não há ensino universitário de qualidade enquanto pessoas porcas e medíocres estiverem no quadro docente. A Universidade portuguesa está em crise profunda e a abertura do ensino superior privado agravou mais a decadência do conhecimento. A situação é verdadeiramente vergonhosa: competitividade, qualificação, igualdade de oportunidades, mérito, enfim todo esse universo é estranho à universidade portuguesa. :(
A regionalização bem pensada e bem realizada pode ajudar a combater estas corrupções locais e, em rede, nacionais, porque pode garantir conhecimento local e vigilância.
A regionalização é outro tema positivo para esta campanha eleitoral. Aumentar a visibilidade da vida local atiça a vigilância! Centralizar tudo em Lisboa desvia a atenção das pessoas da sua região para uma quimera distante. Conhecimento local é uma arma crítica para combater o pensamento gordo e a corrupção autárquica.
Ah, algumas laranjas decapitadas cerebralmente procuram defender a honra da sua dama, acusando os socialistas de a terem colado ao salazarismo. Ora, isso é falso, porque Manuela Ferreira Leite se colou ao salazarismo - a direita mais reaccionária e retrógrada. Convém que os portugueses pensem nisso antes de votar: nunca depois do 25 de Abril houve um líder político tão salazarento e retrógrado com a Manuela das gafes verdadeiras. :(
Olá, Francisco! Vejo que as suas criações andam a todo vapor :)
Andei uns tempos afastado da blogosfera em decorrência do excesso de trabalho. Paralelamente à clínica, entrei em um projeto de Recursos Humanos. Parece-me que a Psicologia Clínica está em crise no Brasil. Ela perde espaço para as terapias alternativas e para o crescente número de psiquiatras. Enfrentamos uma árdua concorrência dos psiquiatras. Muitos se unem aos laboratórios e acabam exercendo um verdadeiro monopólio. Para nós, psicólogos, a situação é difícil. Também questiono a eficiência e a pertinência dos postulados das escolas clássicas da Psicologia. Talvez elas estejam ultrapassadas e aquém das exigências da atualidade.
Preciso de tempo para ler os seus textos, que sempre me instruem e me dão grande satisfação.
Um abraço!
Gostei da expressão "pensamento gordo". Aplica-se muito bem aos vermes da política brasileira. Estes se reproduzem por geração espontânea...
Olá André
Sim, a vida está cada vez mais difícil e agora ressurge uma direita muito neo-nazi: os mesmos fantasmas de um passado que pensávamos estar morto e enterrado regressam. A campanha eleitoral retoma esses fantasmas e o povo parece gostar dos fantasmas, mesmo numa situação de crise. Sim, a psicologia precisa mudar de rumo e ajudar a exorcizar estes fantasmas... :)
Boa mas terrível ideia:
A globalização dos fantasmas! O homem é dominado por uma inércia que urge combater...
Sim, é uma terrível ideia. Na realidade, há muitos tipos de fantasmas. Alguns são inofensivos e outros, terríveis :)
Alguns líderes políticos estão entre os fantasmas mais assustadores.
Ya, é o caso de Manuela Ferrreira Leite, a adversária do Partido Socialista. :)
Às 18 horas serão divulgados os resultados da última sondagem eleitoral que vou divulgar aqui. O PS está a subir! :)
Votar da direita (PSD ou PP) é votar no retrocesso! :(
Olá Maldonado
Seria bom ver a esquerda unida contra a direita e pronta a governar unida! Mas estou confiante que a direita vai ser derrotada. :)
A mentalidade da MFL é como a do Tonito de Santa Comba Dão:
O país não tem dinheiro, não se faz nada e espera-se que os empresários dêem riqueza ao mesmo.
Alguma vez?! A maioria dos nossos empresários vive à conta do Estado!
Não estou a falar das mini-micro-nano-empresas... :)
Sim, empresários da merda, capitalismo da merda, enfim neste país é tudo uma merda!
Concordo. Por isso em tempos escrevi um post a criticá-los:
http://a-terceira-via.blogspot.com/2009/02/obscena-tacanhez-dos-azeiteiros.html
E é nestes gajos que a MFL confia para criarem riqueza para o país?
Sim, concordo plenamente: a sociedade portuguesa é obscena, Manuela Ferreira Leite é um zombie e as empresas tugas não produzem riqueza e muito menos emprego. :)
Mas o problema é que a demagogia da direita pode convencer os incautos e os desesperados.
Não é à toa que o Paulinho das feiras agora dirige o discurso para os agricultores, como há uns anos o fez com os ex-combatentes do Ultramar...
O Paulinho das feiras navega todas as ondas - é um surfista da política portuguesa. E o incauto pode dar-lhe o voto, pensando que ele defende os mais desprotegidos.
Mas o maior perigo é este PSD ultraconservador: o cavaquismo é a tragédia nacional. :(
A MFL não convence nem comove ninguém. Penso eu de que! :)
É uma bruxa má, muito má, como a dos contos de fadas! Mas vai perder as eleições e depois condenada ao ostracismo. :)
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