sábado, 5 de abril de 2008

Hans-Georg Gadamer e Hermenêutica Filosófica

«A filosofia de Gadamer completa a teoria ontológico-existencial da compreensão (de Heidegger) e, simultaneamente, constitui a base da sua superação, através da tónica na linguisticidade da compreensão». (Josef Bleicher)

Na Introdução de "Verdade e Método", Hans-Georg Gadamer define claramente o propósito da sua obra: «A hermenêutica aqui desenvolvida não é, por conseguinte, uma metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreender o que as ciências humanas são na verdade, para além da sua auto-consciência metodológica, e o que as liga à totalidade da nossa experiência do mundo». O objectivo de Gadamer não é, pois, negar a necessidade de uma obra metodológica no seio das ciências humanas, ou reavivar a velha disputa sobre o método entre as ciências naturais e as ciências humanas, mas descobrir que tipo de discernimento e que tipo de verdade se podem encontrar nas ciências humanas. Porém, os resultados da sua análise conduziram à descoberta de que a própria teoria das ciências humanas é verdadeiramente filosofia, porque toda a compreensão é hermenêutica. Isto significa que toda a compreensão é linguística e que a compreensão nas ciências humanas deve ser analisada através do meio da linguagem. A análise da natureza da compreensão coincide, portanto, com a análise da «hermenêutica universal». Gadamer mostrou que a experiência hermenêutica «ultrapassa o domínio de controle da metodologia científica» (Habermas).

Para Gadamer, o significado de um texto nunca se esgota nas intenções do seu autor, porque, quando a obra passa de um contexto histórico para outro, novos significados podem ser acrescentados e extraídos desse texto, muitos dos quais provavelmente não foram imaginados pelo seu autor ou pelo seu público contemporâneo. A instabilidade constitui parte integrante do carácter do próprio texto e da sua significação. Toda a interpretação é, portanto, situacional, modelada e limitada pelos critérios historicamente relativos de uma determinada cultura. Isto excluí desde logo a possibilidade de se conhecer o texto «como ele é».

Segundo Gadamer, toda a interpretação de uma obra do passado consiste num diálogo entre o passado e o presente. Isto significa que a experiência hermenêutica não é monológica, como a ciência, mas dialógica ou dialéctica num sentido diferente do da história universal de Hegel: «Tal como uma pessoa procura chegar a acordo com o seu parceiro (de diálogo) em relação a um objecto, também o intérprete compreende o objecto a que o texto se refere (...), ficando ambos em produtiva conversa, sob influência da verdade do objecto e ligados assim um ao outro numa nova comunidade», na qual «deixamos de ser aquilo que éramos». Perante o texto, o intérprete escuta prudentemente a sua voz não familiar, permitindo que ele questione as suas preocupações actuais. Porém, aquilo que o texto nos "diz" depende, por sua vez, do tipo de perguntas que somos capazes de lhe fazer, bem como do nosso ponto de vista na história e da nossa capacidade de reconstituir a "pergunta" para a qual o texto é uma "resposta", uma vez que o texto também é um diálogo com a sua própria história. Compreender um texto é, portanto, compreender a pergunta a que o texto vem dar resposta.

Toda a compreensão é sempre uma "compreensão diferente", isto é, a realização de novas possibilidades de sentido. Na dialéctica da pergunta e da resposta, um texto acaba por ser um acontecimento ao ser actualizado na compreensão, que representa uma possibilidade histórica. O horizonte de sentido é limitado e a abertura, tanto do texto como do intérprete, constitui um elemento estrutural na fusão de horizontes. Isto significa que o presente só é compreensível em função do passado, com o qual forma uma "viva continuidade" histórico-efectiva, e que o passado só pode ser apreendido do nosso ponto de vista parcial dentro do presente. O entendimento (a fusão de horizontes) ocorre quando o nosso "horizonte" de significados e suposições históricas se "funde" com o "horizonte" dentro do qual o próprio texto está situado. Nesse momento de fusão, entramos no mundo estranho do texto, ao mesmo tempo que o situamos no nosso próprio mundo, chegando a uma compreensão mais completa de nós próprios. Como diz Gadamer: o intérprete, em vez de "deixar o lar", "chega ao lar".

Tal como T. S. Eliot, Gadamer considera que todos os textos acabam sempre por voltar a casa, porque, sob toda história, abrangendo silenciosamente o passado, o presente e o futuro, flui uma essência unificadora conhecida como "tradição". Todos os textos pertencem a essa tradição, que nos fala tanto através do texto do passado que lemos, como por nosso intermédio no acto de compreensão. Passado e presente, sujeito e objecto, o estranho e o íntimo, estão assim unidos por um Ser que os abrange a todos. Para Gadamer, os nossos preconceitos ou "compreensões prévias" (Bultmann) não prejudicam a recepção do texto do passado, já que estas pré-compreensões derivam da própria tradição, da qual o texto com que nos confrontamos faz parte integrante. O preconceito é, pois, um factor positivo e não negativo. Esta reabilitação do preconceito e do carácter "preconceituoso" da compreensão (o círculo hermenêutico de Heidegger) levou Gadamer a criticar o Iluminismo, que, ao sonhar com um conhecimento totalmente desinteressado, conduziu ao moderno "preconceito contra o preconceito" e, portanto, à desvalorização do preconceito, da tradição e da autoridade vistos conjuntamente como o oposto da Razão.
Para Gadamer, os preconceitos criativos, que se opõem aos preconceitos efémeros e deformadores, são os que surgem da tradição e que nos colocam em contacto com a tradição. A autoridade da própria tradição, ligada à nossa auto-reflexão permanente, determina quais dos nossos preconceitos são legítimos, e quais dos nossos preconceitos não são legítimos. Por conseguinte, os preconceitos não constituem obstáculos à verdadeira compreensão do mundo, mas possibilitam o seu conhecimento, retirando do texto ou do fragmento de realidade tudo aquilo que tem apenas uma significação passageira e efémera. Cabe à hermenêutica filosófica realçar o momento histórico na compreensão do mundo e determinar a sua produtividade hermenêutica: a tarefa do intérprete não é reproduzir o texto no seu estado primitivo, mas alargar o seu próprio horizonte para que possa integrar o outro. Ora, esta fusão de horizontes na compreensão só é possível quando pomos à prova os nossos preconceitos no encontro com o passado e tentamos compreender partes da nossa tradição, levando em conta o conhecimento da história efectiva, o único capaz de nos ajudar na fusão controlada dos horizontes de sentido. Isto significa que a verdadeira experiência hermenêutica é a da nossa finitude humana, da nossa própria historicidade.

Mas qual a tradição, e a tradição de quem, que Gadamer tem em mente? Evidentemente, trata-se da tradição Ocidental. Esta questão é frequentemente formulada pelos críticos da hermenêutica filosófica de Gadamer, que geralmente alegam que a sua teoria só pode ser válida na suposição de existir apenas uma tradição "principal", da qual participam todos os textos "válidos". Acusa-se Gadamer de supor que a história é um fluxo contínuo, ininterrupto, livre de rupturas decisivas, de conflitos e contradições, da qual herdámos os nossos preconceitos, como se a história fosse um lugar onde podemos estar, sempre e em qualquer momento, à vontade, como se o texto do passado aprofundasse, em vez de dizimar, a nossa presente auto-compreensão e como se o estranho fosse sempre secretamente familiar. Na sua polémica com Habermas, Gadamer procurou mostrar que a sua concepção da história e da tradição reconhece as diferenças históricas. Porém, este reconhecimento é tendencialmente «superado» por uma compreensão que «liga a distância temporal que separa o intérprete do texto». A distância temporal não só «vai deixando desvanecer aqueles preconceitos de natureza particular e limitada, como leva aqueles que ocasionam a compreensão genérica a emergir claramente como tal». Isto significa que a tradição supera a própria distância temporal, dado dispor de uma autoridade a que nos devemos submeter. A tradição, afirma Gadamer, «tem uma justificativa que foge aos argumentos da razão».

Gadamer descreveu a história como «a conversação que somos», isto é, como um diálogo vivo entre o passado, o presente e o futuro, reservando para a hermenêutica a tarefa nobre de procurar eliminar pacientemente os obstáculos que se possam erguer a essa interminável comunicação mútua. Contra os que o acusam de ser tradicionalista, organicista ou anti-moderno, Gadamer responde que «a tradição está em constante mudança» e que a adesão à tradição mais não é do que a integração das «antecipações no material da realidade». A história vista como "diálogo interminável" constitui uma visão de abertura total ao passado, ao presente e ao futuro.
J. Francisco Saraiva de Sousa

34 comentários:

E. A. disse...

O Francisco sempre em alta produção e alta voltagem! :)

Sigo Gadamer, mas com limitações.
A interpretação é um evento e por isso é infinita, mas não considero que haja um garantido e pleno regresso ao núcleo de sentido. E isto porque, mesmo admitindo a noção de "tradição" entendida enquanto "tradição ocidental", há algo que escapa, uma inactualidade sentida de facto. Por exemplo, quando se lê/interpreta os gregos: há um reconhecimento imediato, um encontro, mas também há um reduto de estranheza que nos impele a vê-los como algo irremediavelmente perdido no curso, não linear, da história. Isto não deve paralisar o exercício hermenêutico, mas dá a ver os efeitos da erosão histórica que devem vir ao de cima nesta dialéctica transversal.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A minha alta voltagem é suicidária!

Gadamer tem uma paixão enorme pelos gregos, com estudos fantásticos sobre Aristóteles e Platão. Sim, há algo que se perde ou já se perdeu, mas o que admiro em Gadamer é esse diálogo interminável. Mas, ao contrário de Habermas, não vejo na sua hermenêutica a impossibilidade da crítica das forças opressivas da tradição, talvez porque o leio à luz de 11 de Setembro. A tradição é, para mim, a nossa matriz cultural de identidade. A concepção dele da história como conversação é deveras interessante. Também não o acompanho sempre, até porque derivo da matriz crítica.
A ontologia da obra-de-arte de Gadamer é gira...

E. A. disse...

Ok, mas a ideia de "diálogo interminável" é subsidiária das técnicas de interpretação de Marx, Nietzsche e Freud... não sei se admitir a "tradição" é admitir símbolos irredutíveis, logo cesura da corrente interpretativa.

E. A. disse...

Oh, suicidária, não! O Francisco é Übermensch! :)))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

Vejo a nossa leitura do passado como actualização da tradição; não a vejo como arena de símbolos irredutíveis, pelo menos num sentido estático e fechado. Ela muda constantemente em função das novas apropriações que fazemos dela à luz das nossas preocupações.
Se a percebi mal, corrija-me..., até porque também procuro pontos de fuga. Desejo libertar uma noção de tradição compatível com o que há de "bom" na Modernidade. Quando se diz que vivemos numa sociedade destradicionalizada, usa-se o termo num sentido demasiado conservador. Ora, não é esse o sentido que atribuo à tradição. O que se passa é a paragem do pensamento diante da facilidade do metabolismo: não há adesão à tradição, porque a vida já não exige esforço e pensamento. Logo a decadência e a corrupção que temo...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Se sofresse de depressão, já me tinha suicidado. Não me apetece viver...

E. A. disse...

Oh! O Francisco vive mais que todos! Vive em maior profundidade e em maior grandeza! Talvez o mundo seja demasiado pequeno para algumas pessoas. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, tem razão e da vez que o fiz não gostei: 4 ou 5 dias sem saber de mim, com pensamentos em canais, cursos de água e pontes. Fiquei perdido sem saber se atravessava ou não, até que acordei e comecei a fazer movimentos para saber onde estava: lá ou cá. E eis aqui estou! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Tinha sido superdopado e só ouvia a máquina de sinal vital e os restantes aparelhos. Agarrava-me a esses sons muito ritmicos...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Papillon é muito inteligente e erudita! Poucos pessoas novas são assim hoje em dia: tudo muito inculto e bruto. Não se localizam em nenhum mapa; apenas no aviário.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Hoje estou com esta sensação racional de nada querer, excepto a vitória do FCPorto, porque tive a reler trabalhos meus publicados. Ia recuperar um, mas fiquei com náusea e produzi Gadamer. Isto significa que algo estranho me povoa a mente! É a vida: fujo sempre para a frente e esqueço olhar para trás. Como diz o ditado: Faz o que eu digo e não o que eu faço!

E. A. disse...

só ouvia a máquina de sinal vital e os restantes aparelhos. Agarrava-me a esses sons muito ritmicos...


Interessante, a última vez que senti isso, foi sob o efeito de drogas e entrei em derrapagem, fui para ao hospital para levar oxigénio. Tenho medo da morte! Mas como já lhe disse, sou geneticamente alegre e vivífica.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Também sou vivo e louco. Mas não me apetece viver nem morrer. Sou um paradoxo! É aquele gene de que falei há tempos..., só pode ser... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Um belo discurso o de Pinto da Costa: um lutador, um grande dirigente, homem com pensamento e coragem, que supera a mediocridade nacional e o centralismo medíocre e cleptocrático de Lisboa.
Se ele dirigisse o Norte Unido, Portugal tornava-se uma grande nação: VENCEDORA e não eternamente DERROTADA! Abaixo a centro-cleptocracia!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Alberto J. Jardim já ameaça com a independência da Madeira. A este ritmo Portugal vai fragmentar-se devido à corrupção instalada em Lisboa! Terrível mas o povo, se for atiçado, luta contra Lisboa, a face da Corrupção nacional e da INJUSTIÇA.

Manuel Rocha disse...

Definitivamente, vocês estão a precisar de vir mondar alhos comigo...:)))

Garanto resultados anti-depressivos 100% biológicos...:))

Falemos deste excelente texto.

Um aspecto que não vi que tivesse sido tocado na interpretação dos textos foi a tradução e respectiva transposição de matrizes culturais em que a lingua não é a única difererença.

Vejo bem que se sublinhe a importância da tradição. Não porque seja sempre boa, mas porque eventualmente encerra justificações que podem ser importantes para a continuidade da história.

Sobre a história, não percebo se Gardner é determinista, mas parece-me que é importante reservar um lugar qualquer para a casualidade no processo histórico.

Espero que o seu FCP lhe dê muitas alegrias...

E. A. disse...

Tb gostei do discurso de Pinto da Costa: culto, seguro e corajoso! Homens assim, precisam-se! Que enfrentem lutas e que ambicionem vitórias! (À parte de desconhecer se é corrupto ou não, mas ainda assim é ilustre!)
Deixo as últimas estrofes da primeira Olímpica do grande poeta antigo que cantou as vitórias melhor que nenhum outro:


[...]
Great danger

does not come upon

the spineless man, and yet, if we must die,

why squat in the shadows, coddling a bland

old age, with no nobility, for nothing?

As for me, I will undertake this exploit,

and you — I beseech you: let me achieve it.'

He spoke, and his words found fulfillment:

the god made him glow with gifts —

a golden chariot and winged horses never weary.

He tore the strength from Oinomaos and took
the maiden to his bed.

She bore him six sons, leaders of the people,

intent on prowess.

Now in the bright blood rituals

Pelops has his share, reclining

by the ford of Alpheos.

Men gather at his tomb, near the crowded altar.

The glory of the Olympiads

shoots its rays afar in his races, where speed

and strength are matched

in the bruise of toil.

But the victor,

for the rest of his life,

enjoys days of contentment,

as far as contests can assure them.

A single day's blessing

is the highest good a mortal knows.

I must crown him now

to the horseman's tune,

in Aiolian rhythms,

for I believe

the shimmering folds of my song

shall never embrace
a host more lordly in power or perception of beauty.

Hieron, a god is overseer

to your ambitions, keeping watch,

cherishing them as his own.

If he does not abandon you soon,

still sweeter the triumph I hope

will fall to your speeding chariot,

and may I be the one to praise it,

riding up the sunny Hill of Kronos!

The Muses is tempering her mightiest arrow for me.

Men are great in various ways, but in kingship

the ultimate crest is attained.

Peer no farther into the beyond.

For the time we have, may you continue to walk on high,

and may I for as long consort with victors,

conspicuous for my skill among Greeks everywhere.


PÍNDARO

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Duas questões excelentes: a da tradução e a do determinismo histórico.
Quanto à "tradução e respectiva transposição de matrizes culturais em que a lingua não é a única diferença", não estou seguro da posição de Gadamer, até porque ele só se move no seio da tradição ocidental. Contudo, ele não vê a tradução como traição, devido ao processo de selecção dos preconceitos mais legítimos. Quanto à transposição intercultural, a teoria aplica-se no âmbito desse quadro cultural, embora Gadamer não veja o pensamento não-ocidental digno de ser pensado.

Quanto ao determinismo, ele não é determinista, pelo menos no sentido vulgar do termo.

Mas reconheço que estas questões possam ser pensadas de modo mais sistemático.

Já estamos a vencer por dois/zero. A malta está revoltada e feliz, orgulhosa do Porto e do seu dirigente. É isto que as elites de Lisboa não entendem. Mas, apesar da campanha anti-Pinto da Costa e anti-FCPorto, não há nenhum governante nacional que goze do prestígio do Pinto da Costa. Isso atormenta-os e a inveja levou-os a esta conspiração (não tenho dúvidas).

Papillon

Que belo poema em homenagem a Pinto da Costa! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Apesar do preconceito imerente a uma das tentativas de resposta, penso que, bem medidas as coisas, o diálogo de Gadamer pode ser alargado a toda a humanidade, até porque todos somos finitos. O entendimento ou fusão de horizontes pode ser mais difícil no diálogo alargado a todas as culturas. Por exemplo, que diálogo podemos estabelecer com o fundamentalismo islâmico? Muito difícil, porque eles representam a ameaça de regresso à Idade Média, absolutamente avessos à nossa Modernidade!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Quanto à ecologia, Gadamer, se ainda fosse vivo, alinhava com a sua abordagem: defendeu-a sempre e até mesmo uma concepção muito interessante de saúde. Aliás, Heidegger também andava numa linha próxima: habitar (n)o planeta, não destruí-lo.

Manuel Rocha disse...

O Islão como um todo, tal como o Ocidente, são realidades ainda assim muito diversas para delas fazermos leituras "globais". Cláudio Torres defendia há pouco tempo o ponto de vista da "reserva cultural" que o avanço relativo mais lento do Norte de África pode significar.
Há no Algarve um arquitecto que tem tentado recuperar a arquitectura em terra. Imagina onde foi buscar os mestres obreiros? A Marrocos. Aqui já não há quem saiba construir em taipa.O mesmo é válido noutros sectores. Ou seja, talvez nem tudo fosse mau na "idade média":) A "arte" poderia estar em conseguir um mix ganhador de futuros sustentados e livres sem preconceitos...;)

Parabéns pelo Porto...
Que foi que sucedeu ao seu PCosta ?!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Já somos tricampeões e o espectáculo está a ser maravilhoso: Pinto da Costa é um grande lider! Pena que não veja TV!
A nossa vitória é uma denúncia da mediocridade da justiça de Lisboa. Nenhum lider de Lisboa vale um "chavo": centro-cleptocracia. O povo odeia-os! Se eles pensassem e tivessem vergonha, mergulhavam no abismo da sua mediocridade e desapareciam da face da terra.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

PINTO DA COSTA tem mais de 50 mil pessoas a gritar por ele no Estádio do DRAGÃO! Qual é o dirigente nacional ou membro do governo que reune todo este mar de gente ALEGRE! Nenhum... A política nacional está desacreditada porque os políticos corrompem-se visivelmente: perderam PODER e recorrem ao aparelho repressivo do Estado (tribunais) para o conservar. Porém, o poder está na rua. Basta um lider carismático e eis Lisboa no limbo. Viva o FCPORTO! Viva PINTO da COSTA! Viva Portugal liberto da cleptocracia instalada em Lisboa!

E. A. disse...

Que festa grandiosa, sim senhor!
O Lisandro é muito giro! ("conheci-o" hoje!)

Agora vai dar a belíssima Rita Hayworth na rtp2. Bye!

Manuel Rocha disse...

Pronto, pronto !!

Parabéns !!

Se o P Costa se candidatar a formar governo, eu até voto nele, desde que o Francisco seja Ministro da Filosofia ...:))

Estaria a Papillon disponivel para Ministra da Cultura ? Isso e o F Dias na Saude e eu na Oposição e terriamos um elenco imbatível !

:))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel e Papillon

Vamos formar governo com o Fernando Dias! É uma festa gira: as pessoas merecem alegrias!

Papillon

O Lisandro tem namorada portuguesa, suponho! É um jogador correcto, lutador e inteligente.

Manuel

Temos marroquinos: o Tarik e sede em Marrocos! Aliás, Pinto da Costa aposta na juventude e na internacionalização. Uma boa marca de Portugal no mundo.

E. A. disse...

Calma Manuel, congratulei a vitória do Pinto da Costa com uma ode olímpica, o que n significa que confie 100% nele... :/

Obg Francisco, n me candidato ao lugar de "namorada de Lisandro", mas folgo em saber que ele é "correcto, e etc...". Vi hj o plantel e ele é o mais harmonioso. :) O Quaresma tem algo de "macho cobridor" tb interessante... lol tou a gozar!

Fernando Dias disse...

Parabéns pelo seu estado sentimental azul-e-branco e pelo seu fulgurante trabalho compreensivo e interpretativo sob o signo dos deuses e de Hans-Georg. Os deuses estão do seu lado e por isso o tentam, querendo levá-lo para o seu limbo como sempre fizeram com os grandes heróis, raptando-os muito jovens. Mas é preciso resistir-lhes, como fez Hans-Georg, que só regressou para junto deles 102 anos depois.

Obrigado por me terem considerado neste quarteto para qual não tenho palavras, e desculpem não ter participado e não ter estado à vossa altura a partilhar esses bons momentos, mas não pude por outros imperativos pessoais.

E. A. disse...

Estava agora a pensar:

O progresso tecnológico pode vir/vem a romper esse continuum que é a História para Gadamer e que suporta o seu pensamento e a sua noção de tradição. Um contraponto das novas escatologias e esta pretensão de Gadamer, pode ser examinado.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

Sim, nunca tinha pensado o problema da história em Gadamer, isoladamente. Há rupturas nesse contínuo, mas também há uma linha orientadora... Sim, algo se passa com a continuidade... O Manuel tinha colocado esse problema! Mas nunca o pensei "autonomizado"... :(

E. A. disse...

Mas acho que o problema reside aí: na concepção de história. Porque se ele pretende uma autoridade, a "essência unificadora" que é a tradição, que resiste ao devir e aos preconceitos circunstanciais, então parece decorrer de uma predição... Um pouco limitado, a meu ver. De outro lado, a impossibilidade de pensar o pensamento não-tradicional é paradoxal. Porque como lhe tinha dito, num comentário mais acima, o facto do pensamento antigo surpreender de algum modo os cristianizados, n quer dizer que n os interpretemos. Apenas nos são menos distantes que estudar os egípcios ou os persas.
Não recuso a noção de tradição! Mas considerá-la pedra-de-toque no exercício hermenêutico é forçar preconceitos (e não "criá-los"), mesmo antes de eles se declararem!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Então, a Papillon defende a posição clássica da teoria crítica. Contudo, nós ainda nos reconhecemos nos nossos textos e temos esse sentide de pertença. O conceito de tradição precisa ser reformulado de modo a evitar a linha conservadora. Gadamer dialogova com todos, menos com Derrida. Para ele, isso mostrava a firmeza da sua linha de pensamento.
Existem rupturas ao nível do modo de produção que se reflectem nas superestruturas, mas ainda sem uma ruptura identitária. É preciso pensar melhor nesta hora de ameaça... e muito tecnológica e global.

E. A. disse...

Sim, precisamente! Ter uma boa contra-hipótese aos profetas da singularidade tecnológica! Mas, para isso, é preciso enunciar correctamente a noção de substrato teórico, ou tradição, para n se criar um embargo acrescido.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ok Papillon

Vou dedicar os próximos posts à recuperação da Tradição com recurso à tecnologia. A posição de Gadamer é a de que o iluminismo é ele próprio uma tradição. Apenas vou impugnar as teorias da modernização e mostrar os seus limites. Ancoragem ou fundamentação? Ou "A Nova Base da Tradição?"