No "Prós e Contras" de hoje (7 de Abril de 2008), Fátima Campos apresentou mais um debate sobre a terceira travessia do Tejo. O governo já decidiu politicamente, com base num estudo técnico realizado pelo LNEC, que a solução adoptada é Chelas/Barreiro e não, como desejava José Manuel Viegas, Beato/Montijo. Apesar da decisão já ter sido tomada, Fátima Campos resolveu fazer mais um frente-a-frente que, no palco, contou com a presença de José Manuel Viegas e Jorge Costa (deputado do PSD), que defenderam a solução Beato/Montijo ou simplesmente o adiar da decisão, e de Carlos Matias Ramos (LNEC) e o representante da Rave, além da presença via satélite do Ministro das Obras Públicas, Mário Lino, posteriormente substituído pela sua secretária de Estado, Ana Paula Vitorino, devido a falha eléctrica, que defenderam a solução tomada pelo governo. Fernando Santos (bastonário da Ordem dos Engenheiros) elogiou a realização de estudos técnicos comparativos e o seu debate público, vendo nisso uma maior democraticidade nas decisões políticas. O debate de hoje foi supostamente um debate entre engenheiros, pouco aberto às intervenções de outros especialistas, em particular a da arquitecta paisagística Cristina Castelo Branco, que mostrou uma imagem de simulação horrível do impacto da ponte sobre a paisagem de Lisboa, como se fosse uma esteta de formação. Contudo, estes debates técnicos não atraem a atenção do público em geral, apesar de não serem tão técnicos quanto parecem. A ideia viva que fica deste debate e de outros do género, envolvendo sempre as mesmas pessoas e os mesmos técnicos, é a de que os «vencidos», neste caso José Manuel Viegas, apoiado pelo deputado do PSD que deseja adiar as obras decididas por este governo, não se conformam com o facto de serem excluídos e, com ar amargurado e chorão, tentam «manchar», mediante uma argumentação pouco transparente e racional, os «vencedores premiados», neste caso António Reis (professor de Pontes). Esta amargura também foi exibida por Cristina Castelo Branco e a autor da foto simulada que, no fundo, estavam ali para exigir a sua presença e colaboração nos estudos feitos pelo LNEC. A dinâmica oportunista do "tacho" mostra a falta de transparência destes estudos e debates públicos. Em vez de um programa dedicado à clarificação da solução Chelas/Barreiro, tivemos um recuo a uma situação pré-decisão, sem que a caixa-negra dos cálculos tenha sido iluminada. Ausência total de verdade e de pensamento! O aspecto mais humorístico foi quando António Reis disse que, como professor e autor de pontes, também abordava as questões estéticas, para mostrar que o blá blá blá de Carolina Castelo Branco, bem como o facto de ser "professora universitária" ou ter frequentado uma escola de engenharia, não era desejado pelos engenheiros! (Sempre o luso-recurso ao "título" para encobrir a falta de confiança nas suas próprias competências e conhecimentos: os membros das pseudo-elites reduzem-se a títulos sem self ou com self corrompido.) Portugal assumiu compromissos internacionais e deve, como disse o ministro, cumpri-los, sem cair no lema nacional: "Adiar, à pressa e falta de reflexão". Mas o que interessava saber nesta hora indigente era quanto custa realmente este empreendimento e a construção do aeroporto na margem Sul, como vai ser pago e quem vai pagar estas mega-obras lisboetas. Outra questão associada seria a de saber que obras estão previstas para as outras regiões de Portugal, porque as obras construídas em Lisboa, agora cidade-região, são pagas por todos os portugueses mas não beneficiam todos os portugueses, excepto os que vivem na doravante cidade das duas margens. Falta informação política relevante de fundo: um plano de desenvolvimento integral de Portugal e não apenas de Lisboa. A política neste país medíocre é feita de mentiras e o seu veículo privilegiado é a TV, não a televisão portuguesa mas a televisão lisboeta. O Portugal que não está presente nas decisões ditas nacionais devia meditar se vale a pena gostar da bandeira nacional manchada pelo sangue da corrupção nacional! Pessoalmente, desisti de sonhar para Portugal/Lisboa e de depositar confiança em políticos que usam a mentira como ideologia pessoal. Já não ouvi o blá blá blá final da secretária de Estado: era já muito blá blá blá lisboeta para os meus ouvidos habituados a escutar grandes pensamentos e não verborreia lisboeta. J Francisco Saraiva de Sousa
terça-feira, 8 de abril de 2008
Prós e Contras: Ponte Chelas/Barreiro: O Debate
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
"...um plano de desenvolvimento integral..." ?
Deixou-me a reflectir planeamento.
Uma das condições para o seu exercicio é o controlo efectivo das variáveis que interferem na modelação do território. O controlo de boa parte delas passou para Bruxelas há já alguns anos. Acho que ainda não nos habituamos a essa situação e o resultado é uma espécie de "navegação com terra à vista" ou seja, sobreposição de medidas que há uns anos se chamavam de "curto prazo" mas que têm impactos estruturais que não são reflectidos no processo de decisão.
Há uma tradição pensante que torna determinadas questões "indiscutíveis", tipo: "precisamos de uma novo aeroporto e de um TGV". Ponto. "Porquê" é uma justificação que se procura à posteriori, não a causa da decisão. Para essa conta a natureza balofa destas economias que se desmoronam se se deixar de "soprar" para dentro do "balão" .
Manuel
Nunca coloquei em causa a competência dos nossos engenheiros construtores. Temos boas provas da sua competência! Contudo, estas discussões nem sempre são técnicas: muitos desentendimentos pessoais e quem fica de fora não aceita e volta ao ataque.
Sim, as razões deviam ser discutidas e o redenamento do território e o desenvolvimento económico e o nosso futuro. Mas nada disso é explicitado claramente: tudo meros cálculos inseguros, sujeitos a derrapagem! Fico sempre sem saber o que se pretende efectivamente...
E se as obras discutidas são necessárias! Porque há tantas outras prioridades que fazem de um país uma grande nação! E nada... São as mais-valias ilícitas, as extra (Marx) da corrupção!
Pois...
Porque antes da discussão técnica importava que se discutisse a sustentabilidade do paradigma que lhe está subjacente.
Mas nessas matérias, opta-se por "chutar para a frente"...logo se vê...e entretanto ficamos discutindo os detalhes dos respectivis fait.divers: as vistas, as amarrações, os custos.
Será tudo importante, ok, mas ...e qual é o quadro de referencia estratégica que leve em conta a sustentabilidade do modelo ?!
Como sabe a resposta está pronta: "convergência com a UE" !
Assume-se duma assentada duas coisas sem discussão: a bondade do modelo "UE" e que está garantida a respectiva sustentabilidade. E se a primeira resposta é discutível a segunda não me oferece dúvidas: no actual contexto, não é !
Exacto, é isso mesmo. Já não há verdadeira política! Tudo uma mega-receita inquestionável! Falta de imaginação! E o ambiente? O estudo será feito a posteriori...
parabens por este texto. A ponte acho que vai custar 1,7 biliões (!!!). Ao contrario do que dizes Francisco nem é uma ponte de Lisboa mas sim para o Barreiro (aos lisboetas nao interessa nada a ponte). O governo vai injectar 1,7bilioes no barreiro com tantos hospitais bons a serem necessarios... enfim, andamos a apertar o cinto este tempo todo...
abraço
Concordo contigo Renato: Tantas coisas para fazer e o governo só se preocupa com estas mega-obras, cujo interesse ou necessidade estão ainda por explicar.
Abraço
Enviar um comentário