quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Os Fantasmas do PSD

O realismo fantástico tal como foi elaborado por Louis Pauwels e por Jacques Bergier já não tem audiência e, por isso, a sua aplicação ao domínio da política portuguesa por parte das mentes fantásticas e senis do PSD de Manuela Ferreira Leite parece estar condenada ao fracasso. Depois do caso real do BPN que deu visibilidade a uma extensa teia de corrupção envolvendo figuras ligadas aos governos do PSD, os portugueses adquiriram uma imunidade natural que os protege dos produtos assombrados cuspidos pela imaginação fantástica e fantasmagórica das mentes laranjas desesperadas: asfixia democrática, controle da comunicação social, controle das forças policiais, controle das empresas, maçonaria, freeport, etc., são fantasmas inventados, conspirados e atribuídos pelo PSD ao PS e ao governo de José Sócrates, com o objectivo de difamar e denegrir a imagem do Primeiro-Ministro, bem como a sua imensa obra que arrancou Portugal do marasmo e da inércia. Pacheco Pereira não acredita na teoria da conspiração, porque ele próprio a utiliza para dar visibilidade aos fantasmas do seu partido: os conspiradores negam participar na conspiração que arquitectaram, mas nessa negação confirmam a conspiração em curso que só é travada quando os fantasmas se desfazem sob o efeito da força gravitacional da lei e da verdade.
Pacheco Pereira recorre à noção de escassez para justificar ideologicamente a situação de penúria nacional, restituindo-nos sem disso ter consciência teórica a visão autoritária de Hobbes: a visão do homo homini lupus. Embora Marx e Engels estivessem mais interessados pelo excedente ou pela parte maldita, o conceito de escassez não é completamente estranho ao marxismo. Sartre retomou-o para mostrar que a história real dos homens não é necessária: a história tem como origem e fundamento inteligível um facto contingente, a escassez ou carência de recursos em relação ao número de bocas a alimentar. A ausência de reciprocidade deve-se à escassez que transforma o outro em inimigo. A escassez condena todas as sociedades humanas - e não apenas a sociedade portuguesa, como supõe erradamente Pacheco Pereira - a eliminar uma parte dos seus membros, reais e possíveis, antes de terem nascido ou depois de terem visto a luz do dia. A escassez obscuramente experienciada é interiorizada pelas consciências, criando um clima de violência, no qual decorre toda a história humana. Para Sartre, a inumanidade do homem para o homem tem uma causa historicamente permanente, mas ontologicamente acidental: a escassez não só imprime a inumanidade a todas as relações entre os homens, como também põe em movimento a dialéctica da história. Neste clima de conflito, a praxis individual está imediatamente ameaçada, na sua liberdade, pela praxis dos outros. Cada um de nós é projecto - apreensão global do ambiente em função da situação percebida e da finalidade desejada, mas no seio da escassez não é possível ocorrer a reciprocidade das liberdades: as consciências objectivam-se nas suas obras e esta objectivação torna-se alienação, na medida em que os outros a roubam e falseiam a sua significação, transformando a organização social em coisa - o prático-inerte, à qual os indivíduos se submetem como a uma necessidade material. A antipraxis ou antidialéctica caracteriza todas as relações interindividuais na servidão do prático-inerte, fazendo com que o homem seja o instrumento do homem em todos os lugares do mundo.
Porém, a escassez permite a Sartre transitar do mundo sem esperança, onde a escassez torna os homens inimigos uns dos outros, para um mundo mais solidário, através da superação comum do isolamento das praxis individuais, das suas rivalidades, das suas sujeições recíprocas e do conjunto do prático-inerte. Ora, é precisamente a urgência política desta superação dialéctica do regime da escassez que distingue o PS do PSD: Pacheco Pereira encara a escassez como uma fatalidade natural necessária, da qual não podemos libertar-nos, condenados a nascermos livres e, ao mesmo tempo, a estarmos acorrentados pela escassez em todos os lugares do mundo (Rousseau), enquanto Sartre - na peugada de Hegel e de Marx - concebe a sua superação dialéctica, antecipando a aurora da abundância e da reciprocidade das consciências. A ideologia do PSD, tal como explicitada por Pacheco Pereira, desiste da luta contra a escassez predominante em Portugal e contra o clima de violência que a carência gera materialmente, condenando Portugal à falsa dialéctica da escassez e da conspiração. O PSD de Manuela Ferreira Leite é profundamente reaccionário: o seu único objectivo político é reduzido à mera luta material pelo controle dos escassos recursos nacionais, mediante a conquista do poder político, luta esta que visa eliminar os adversários políticos, falsificando fantasmagoricamente o significado da sua obra, sem levar em conta a possibilidade de um projecto colectivo, em torno do qual as consciências se unam numa vontade comum: a luta por um Portugal liberto da escassez e da conspiração. A luta do PSD não é a luta pela construção de um mundo melhor, mas sim a luta pela manutenção do controle e da concentração dos escassos recursos nacionais por parte de uma família ideológica alargada de clones. O PSD trama conspirações fantásticas para eliminar os seus adversários políticos que têm um projecto verdadeiramente nacional. O PSD gerou quase toda a corrupção nacional que bloqueia o futuro de Portugal. Lutar contra o PSD constitui um imperativo nacional: o nosso futuro depende da derrota eleitoral do PSD de Manuela Ferreira Leite, a assombração de um regime musculado de Direita.
J Francisco Saraiva de Sousa

22 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, no post anterior, quando refiro a filosofia do porco de Guerra Junqueiro, o porco era o porco do rei de Portugal. Criei a figura do pensamento gordo num trabalho publicado para dar uma moldura teórica elaborada a esta intuição do ilustre filósofo-poeta do Porto. Viva o Porto e o seu humor! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O pensamento gordo que domina a vida nacional é propenso à corrupção e ao cunhismo. No Norte, incluindo o Porto, controlado pelo PSD mais reaccionário em sintonia com o clero escuro e porco, afasta as pessoas em função da sua filiação partidário e religiosa.

A escassez parece justificar essa corrupção, mas ela própria é gerada por este sistema de selecção presente nas instituições do Estado e nas particulares: quem não encaixa nessa faixa política não tem oportunidade de arranjar emprego ou acesso a determinados centros de decisão. A suposta escassez de empregos ou de recursos é usada para impor essa obediência partidária.

O pensamento gordo que se coloca entre cada um dos portugueses e o emprego deve ser combatido, porque ele coloca pessoas incompetentes e ordinárias em empregos para os quais não foram moldadas. O resultado é que somos dirigidos por pessoas incompetentes, maldosas e vingativas.

A luta contra o pensamento gordo é um tema positivo para esta campanha eleitoral, até porque todos são de algum modo responsáveis pela sua existência.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

As reformas das instituições implicam saneamento. Não há ensino universitário de qualidade enquanto pessoas porcas e medíocres estiverem no quadro docente. A Universidade portuguesa está em crise profunda e a abertura do ensino superior privado agravou mais a decadência do conhecimento. A situação é verdadeiramente vergonhosa: competitividade, qualificação, igualdade de oportunidades, mérito, enfim todo esse universo é estranho à universidade portuguesa. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A regionalização bem pensada e bem realizada pode ajudar a combater estas corrupções locais e, em rede, nacionais, porque pode garantir conhecimento local e vigilância.

A regionalização é outro tema positivo para esta campanha eleitoral. Aumentar a visibilidade da vida local atiça a vigilância! Centralizar tudo em Lisboa desvia a atenção das pessoas da sua região para uma quimera distante. Conhecimento local é uma arma crítica para combater o pensamento gordo e a corrupção autárquica.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, algumas laranjas decapitadas cerebralmente procuram defender a honra da sua dama, acusando os socialistas de a terem colado ao salazarismo. Ora, isso é falso, porque Manuela Ferreira Leite se colou ao salazarismo - a direita mais reaccionária e retrógrada. Convém que os portugueses pensem nisso antes de votar: nunca depois do 25 de Abril houve um líder político tão salazarento e retrógrado com a Manuela das gafes verdadeiras. :(

André LF disse...

Olá, Francisco! Vejo que as suas criações andam a todo vapor :)
Andei uns tempos afastado da blogosfera em decorrência do excesso de trabalho. Paralelamente à clínica, entrei em um projeto de Recursos Humanos. Parece-me que a Psicologia Clínica está em crise no Brasil. Ela perde espaço para as terapias alternativas e para o crescente número de psiquiatras. Enfrentamos uma árdua concorrência dos psiquiatras. Muitos se unem aos laboratórios e acabam exercendo um verdadeiro monopólio. Para nós, psicólogos, a situação é difícil. Também questiono a eficiência e a pertinência dos postulados das escolas clássicas da Psicologia. Talvez elas estejam ultrapassadas e aquém das exigências da atualidade.
Preciso de tempo para ler os seus textos, que sempre me instruem e me dão grande satisfação.
Um abraço!

André LF disse...

Gostei da expressão "pensamento gordo". Aplica-se muito bem aos vermes da política brasileira. Estes se reproduzem por geração espontânea...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá André

Sim, a vida está cada vez mais difícil e agora ressurge uma direita muito neo-nazi: os mesmos fantasmas de um passado que pensávamos estar morto e enterrado regressam. A campanha eleitoral retoma esses fantasmas e o povo parece gostar dos fantasmas, mesmo numa situação de crise. Sim, a psicologia precisa mudar de rumo e ajudar a exorcizar estes fantasmas... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Boa mas terrível ideia:

A globalização dos fantasmas! O homem é dominado por uma inércia que urge combater...

André LF disse...

Sim, é uma terrível ideia. Na realidade, há muitos tipos de fantasmas. Alguns são inofensivos e outros, terríveis :)
Alguns líderes políticos estão entre os fantasmas mais assustadores.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ya, é o caso de Manuela Ferrreira Leite, a adversária do Partido Socialista. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Às 18 horas serão divulgados os resultados da última sondagem eleitoral que vou divulgar aqui. O PS está a subir! :)

J. Maldonado disse...

Votar da direita (PSD ou PP) é votar no retrocesso! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá Maldonado

Seria bom ver a esquerda unida contra a direita e pronta a governar unida! Mas estou confiante que a direita vai ser derrotada. :)

J. Maldonado disse...

A mentalidade da MFL é como a do Tonito de Santa Comba Dão:
O país não tem dinheiro, não se faz nada e espera-se que os empresários dêem riqueza ao mesmo.
Alguma vez?! A maioria dos nossos empresários vive à conta do Estado!
Não estou a falar das mini-micro-nano-empresas... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, empresários da merda, capitalismo da merda, enfim neste país é tudo uma merda!

J. Maldonado disse...

Concordo. Por isso em tempos escrevi um post a criticá-los:

http://a-terceira-via.blogspot.com/2009/02/obscena-tacanhez-dos-azeiteiros.html

E é nestes gajos que a MFL confia para criarem riqueza para o país?

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, concordo plenamente: a sociedade portuguesa é obscena, Manuela Ferreira Leite é um zombie e as empresas tugas não produzem riqueza e muito menos emprego. :)

J. Maldonado disse...

Mas o problema é que a demagogia da direita pode convencer os incautos e os desesperados.
Não é à toa que o Paulinho das feiras agora dirige o discurso para os agricultores, como há uns anos o fez com os ex-combatentes do Ultramar...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Paulinho das feiras navega todas as ondas - é um surfista da política portuguesa. E o incauto pode dar-lhe o voto, pensando que ele defende os mais desprotegidos.

Mas o maior perigo é este PSD ultraconservador: o cavaquismo é a tragédia nacional. :(

J. Maldonado disse...

A MFL não convence nem comove ninguém. Penso eu de que! :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É uma bruxa má, muito má, como a dos contos de fadas! Mas vai perder as eleições e depois condenada ao ostracismo. :)