quarta-feira, 30 de abril de 2008

O Homem e a Natureza

«Acredito que a teoria de Freud é, na sua própria substância, "sociológica", e que nenhuma nova orientação cultural ou sociológica é necessária para revelar essa substância. O "biologismo" de Freud é teoria social numa dimensão profunda, que tem sido obstinadamente nivelada pelas escolas neofreudianas». (Herbert Marcuse)
«Nós não desembarcámos neste planeta como alienígenas. A humanidade é parte da natureza, uma espécie que evoluiu ao lado de outras espécies. Quanto mais nos identificarmos com o restante da vida, mais rapidamente seremos capazes de descobrir as origens da sensibilidade humana e de adquirir o conhecimento sobre o qual fundamentar uma ética durável, um verdadeiro sentido de orientação. (...) Uma ética ambiental duradoura visará preservar não apenas a saúde, o bem-estar e a liberdade da nossa espécie, mas também o acesso ao mundo em que o espírito humano nasceu». (Edward O. Wilson)
Edgar Morin tem razão quando afirma que o desbloqueio da noção de vida tornou possível o desbloqueio da noção de homem, o que significa, entre outras coisas, que a revelação biológica comanda a revolução científica que abre os domínios da antropologia às ciências biológicas, mas, conceptualmente falando, a sua análise peca por negligência da filosofia. Embora «louve» de modo ingénuo e apressado as tentativas de alguns filósofos, tais como Marx, Engels, Spencer ou Freud, para firmar a ciência do homem sobre uma base natural, Morin, quando considera que a filosofia do homem sobrenatural foi uma das últimas resistências opostas à ciência do homem, parece querer romper com toda e qualquer filosofia, como se esta tivesse os seus dias contados.
Este positivismo doentio de Morin não lhe permitiu ver e avaliar o enorme contributo da filosofia para o desbloqueio da noção de homem, em especial o da tradição da antropologia filosófica oriunda de Max Scheler. Na sua obra "Os Graus do Orgânico e o Homem", H. Plessner, embora diga que a filosofia não tenha dado um contributo significativo para a antropologia, procura, sem sair da filosofia, indagar a partir de um ponto de vista biológico qual a estrutura fundamental de todo o ser orgânico. Segundo Plessner, o ser orgânico é uma crescente e gradual "centralização", bem como uma "posicionalidade". Chega-se assim a uma determinação do humano da qual a sua particularidade consiste numa potenciação muito específica dessas duas características do ser vivo.
A centralização e a posicionalidade atingem, no homem, a sua "peripécia", no sentido de que aquilo que em todos os sistemas orgânicos é somente uma centralização imanente em conexão com um campo imediatamente circundante alcança no homem uma centralização que é, ao mesmo tempo, distância em relação aos dois aspectos. Assim, a "peripécia" adquire o carácter da reflexividade, pela qual se tornam possíveis tanto a relação do homem consigo mesmo quanto a sua posse de um mundo objectivo. Culminando e aumentando continuamente o princípio da centralização, o homem caracteriza-se por uma centralização que se tornou uma concentração excêntrica. Esta faz do homem, no sentido objectivo, um ser «imperscrutável», o homo absconditus, o qual é para si mesmo «uma questão aberta». Sendo assim, o homem nunca se conhece nas suas últimas possibilidades mas somente nos actos e atitudes que se distinguem dele. Estes são, no entanto, determinados não só pela sua emancipação e liberdade fundamentais mas também pelas suas dependências em relação à natureza, à situação e aos vínculos históricos que o limitam exactamente na sua infinita soberania por eles simultaneamente pressuposta, traçando para a sua liberdade caminhos concretamente finitos.
A antropologia de Plessner, bem como a de A. Gehlen e de A. Portmann, é uma teoria do homem a partir da apreensão da sua natureza (antropologia de baixo) e opõe-se, tal como a de Morin, à antropologia a partir da esfera espiritual do homem (antropologia de cima). Mas, ao contrário da antropologia de Morin, a teoria do homem de Plessner não rompe com a filosofia, mas apenas com as filosofias idealistas e espiritualistas do homem. Aliás, Plessner sabe que não é possível uma ciência do homem que não seja simultaneamente filosófica e científica.
A breve referência à tradição da antropologia filosófica mostra que a filosofia integrou, muito antes da biologia moderna, que é uma biologia não-cartesiana, o homem no universo. Von Uslar mostrou que, nos sistemas filosóficos modernos, o problema da natureza do homem está colocado em relação com o problema do mundo e da natureza. Isto significa que os filósofos modernos pensaram que o próprio ser do homem deve ser compreendido à luz do ser do mundo de que faz parte integrante. Os três exemplos mais característicos em que o homem é visto como parte da natureza e simultaneamente como espelho do mundo são os sistemas filosóficos de Espinoza, Leibniz e Schelling.
Espinoza, Leibniz e Schelling vêem o homem como "parte da natureza" e, simultaneamente, como espelho do mundo. Embora possam ser consideradas, no plano antropológico, como "modelos insulares do homem", estas filosofias modernas não tratam o problema do homem isoladamente do problema da natureza. Nestes três grandes sistemas filosóficos, a questão da natureza humana, tão grata a Edgar Morin, está intimamente vinculada ao problema da realidade do mundo em geral. No entanto, a análise do problema geral da relação homem/natureza varia de autor para autor. De um modo geral, podemos dizer que, na resposta ao problema do portador da unidade e da totalidade do ser, a tónica se desloca da substância para o sujeito. Enquanto que para Espinoza esta unidade é inquestionavelmente a natureza, para Schelling ela coincide totalmente com a unidade do sujeito. Neste aspecto, Leibniz parece representar um meio termo. Com efeito, para Leibniz a unidade do ser manifesta-se já na representação. Da representação à unidade do sujeito, a distância é «curta» e, na história da filosofia, foi ocupada pela filosofia transcendental de Kant. Depois disso, temos a filosofia do idealismo alemão: Fichte, Schelling e Hegel.
Leibniz e Espinoza pensam que o problema da natureza do homem está intimamente associado ao problema da unidade do mundo e da natureza. Pensam também que a experiência da alma constitui um acesso para compreender o ser da natureza. Mas o caminho trilhado por cada um deles é inteiramente diverso. A fórmula de Espinoza «Homo pars naturae» insere o homem na totalidade do mundo. Para Espinoza, o homem não é uma entidade puramente subjectiva e espiritual que se contraporia à natureza, mas uma parte integrante da própria natureza. Assim, para Espinoza, o ser aparece a tal ponto como a potência geradora da natureza que o próprio Deus é, em última análise, natureza. A unidade do mundo explica-se, portanto, inteiramente a partir da potência geradora da natureza. O homem é apenas uma parte dela que experimenta a natureza em si mesma na dinâmica dos instintos e dos afectos. Ora, para Leibniz, a experiência da realidade feita no ser do homem é a da representação, isto é, do reflexo da totalidade cósmica em cada ser individual dotado de alma. Se na filosofia de Espinoza a potência geradora da natureza era concebida como uma necessidade absoluta, na filosofia de Leibniz domina a ideia de que seriam possíveis outros mundos inteiramente distintos do universo que realmente existe, não sendo sequer evidente que existe um mundo. Leibniz concebe o ser e a realidade a tal ponto como representação, espelho ou reflexo, que o próprio Deus mais não é que a plenitude da representação na totalidade das perspectivas. Assim, a natureza do homem consiste na representação e na «perspectividade», uma vez que a unidade do todo consiste na compatibilidade e relacionalidade recíproca que existe em todo o ser individual. Esta compatibilidade e relacionalidade estão representadas em cada indivíduo num reflexo caracterizado por uma perspectiva.
Ora, este percurso pela história da filosofia visa mostrar que o desbloqueio da noção de homem, que exige uma nova antropologia, é muito anterior à revolução biológica moderna que viu nascer uma biologia não-cartesiana. Contudo, a revelação biológica impulsionou de forma directa e quase imediata o nascimento da nova antropologia. Os dados novos que as ciências biológicas e biomédicas trouxeram reformaram, no sentido de Bachelard, completamente a noção de Homem. Se a metafísica clássica, nomeadamente a de Espinoza e a de Leibniz, prepararam de modo espectacular o terreno da nova antropologia, integrando o homem na unidade do cosmos, este movimento antecipatório da filosofia acabou por refluir com o surgimento do idealismo alemão que traçou uma linha divisória radical entre a filosofia e a ciência. A velha aliança tinha sido assim quebrada. Mas Marx e o marxismo trouxeram um novo impulso: a aliança entre filosofia e ciência foi parcialmente restabelecida no marxismo. Apesar da suposta ruptura epistemológica que atravessa o pensamento de Marx e que o divide em dois grandes períodos (Althusser), as obras de juventude e as obras de maturidade propriamente científicas, o Jovem-Marx estabeleceu de modo firme e seguro o projecto de uma scienza nuova: «A ciência natural acabará um dia por incorporar a ciência do homem, da mesma maneira que a ciência do homem integrará em si a ciência natural; haverá apenas uma única ciência».
Embora preparado pela filosofia ao longo das suas intermináveis lutas contra a tirania do pensamento religioso dogmático, que possibilitaram a compreensão do homem na sua finitude, independentemente de qualquer «força» estranha e transcendente, a unificação das ciências naturais e das ciências do homem começou pelas ciências biológicas. Morin considera que o desbloqueio biológico operou-se fundamentalmente em três frentes, a saber: a biologia molecular, a ecologia e a etologia. É certo que foram estas ciências que fizeram surgir brechas no seio de cada paradigma insular, mas, mesmo permanecendo no domínio da biologia, os movimentos de aberturas para os outros domínios até então interditos, e através dos quais se operam as primeiras conexões e emergências teóricas, foi iniciado, de modo surpreendente, pela biologia da evolução. Além da biologia da evolução, da biologia molecular, da ecologia e da etologia, duas outras ciências biológicas, a sociobiologia e a neurobiologia trouxeram, nas últimas décadas, um contributo de tal modo complexo e problemático que se torna necessário reformar todos os modelos antropológicos actuais, nomeadamente o de Morin, e fundá-los provisoriamente sobre novas bases biofilosóficas.
Consequentemente, consideramos que o desbloqueio biológico ocorreu, não em três, mas em seis frentes: a biologia da evolução, a biologia molecular, a ecologia, a etologia, a sociobiologia e as neurociências. Cada uma destas ciências biológicas desbloqueia uma determinada noção ou ideia, abrindo assim cada paradigma isolado para os domínios até então interditos. O desbloqueio de uma determinada noção compreende sempre simultaneamente uma ruptura e um acto epistemológico, no sentido preciso de Bachelard. A reforma de uma determinada noção implica sempre a ideia de que essa noção representa, na cultura científica, um obstáculo epistemológico que entrava o desenvolvimento científico. Assim, as noções de vida, de natureza, de animal, de sociedade e de espírito, que dominavam os anteriores paradigmas isolados, constituem verdadeiros obstáculos epistemológicos. Foi preciso esperar pela revolução biológica para vermos essas noções a ser submetidas a uma crítica severa e radical que, na maior parte das vezes, nem sequer a designação nominal conservou. Todas essas noções ideológicas funcionavam no interior de paradigmas ou modelos teóricos que teimavam manter-se isolados uns dos outros.
Ora, Prigogine demonstrou que essa imagem do saber compartimentado em áreas e domínios isolados uns dos outros não conseguiu resistir aos efeitos de impacto da revolução científica do século XX. Se hoje o conceito de ciência é, na sua essência, um conceito filosófico, no sentido de implicar uma aliança com toda a cultura e particularmente com a filosofia, o próprio conceito de filosofia precisa de ser revisto e reformado a tal ponto que possa, sem perder a sua autonomia e especificidade, integrar no seu seio a actividade científica. Como o nosso conceito de Filosofia já compreende a actividade científica, não temos qualquer necessidade de reduzir o seu diálogo com as ciências ao domínio da epistemologia, da gnoseologia ou da lógica. Assim como a ciência contemporânea é filosofia, assim também a filosofia é ciência. Só a sua «unificação» dialéctica nos permite o empreendimento ousado de desbloquear as noções ideológicas de vida, de natureza, de animal, de sociedade e de espírito, de modo a preparar um novo terreno do qual possa emergir um novo modelo teórico de Homem. Sem os métodos filosóficos seríamos incapazes de definir o homem como totalidade. Ora, é precisamente o conceito de "totalidade em evolução", mais precisamente de sistema, que devemos opor a cada uma das noções que entravavam o progresso científico. Dessa oposição da ideia de sistema a cada uma dessas noções surgirão ímpetos do génio científico que provocam impulsos inesperados no curso do desenvolvimento científico. Bachelard chamou-lhes actos epistemológicos, mas Foucault, já numa outra perspectiva, optou pelo termo irrupções no saber para os designar.
Anexo: Releia "Ateísmo e Filosofia Marxista" e, sobre H. Plessner, o "Riso e o Choro".
J Francisco Saraiva de Sousa

62 comentários:

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Espero que vejam neste post uma plataforma provisória de fuga aos modelos dominantes e como uma nova promessa teórica radical. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Uma questão sobre a qual pretendo meditar:

A cyberantropologia deve saber conquistar o seu campo de estudo em diálogo com a tradição filosófica.
As extensões do corpo em espaço virtual é um dos temas da antropologia virtual que pode ser analisado em confronto com a filosofia do corpo e a antropologia filosófica.
Sem esses estudos torna-se difícil avançar com um conceito profundo da cyberantropologia, a não ser defini-la como o estudo dos comportamentos on-line, sobre os quais me tenho debruçado num jogo de cintura, para usar uma expressão do agrado da Papillon. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Outro tema que merece ser analisado é este:

De que modo o computador encarado como "segundo eu" interfere nas nossas relações com os humanos, a vida, a natureza, os animais? Ora, sabemos predomina um "animismo computacional", portanto, uma nova noção de máquina. O computador é visto como uma máquina psicológica: não é uma entidade viva (não há vitalismo computacional) mas tem uma psicologia própria.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ora, se a cultura académica profissional relegava a filosofia para as salas de conferência, o advento da cultura do computador traz a filosofia de volta à vida quotidiana. Esta emergência da filosofia constitui aquilo a que chamo CyberFilosofia ou Filosofia Electrónica. Convém ler Marvin Minsky: "The Society of Mind".

André LF disse...

Olá, Francisco!
Por não estar familiarizado com a terminologia criada por Plessner, tive dificuldade de compreender a "peripécia", a "concentração excêntrica” e a relação desta com o homo absconditus.
Tenho entrado em contato com algumas concepções de Gehlen, pensador fascinante que, lamentavelmente, é ignorado no Brasil.
O problema, como sempre, é encontrar as obras de Gehlen traduzidas para o nosso idioma.
Nunca pensei no computador como "um segundo eu" e na sua interferência sobre o nosso mundo circundante. De fato, o computador tem uma "psicologia própria". A minha dúvida é se ele já tem o poder para "forjar subjetividades" à sua imagem e semelhança.

Denise disse...

Francisco,
Li com muito interesse e atenção este seu post e o anterior. Enriqueceu o meu conhecimento, parco, reconheço, de algumas filosofias sobre relação da humanidade com a natureza, e de outras noções de vida e de ser humano. Agradeço.
Este seu último texto contempla a questão do pensamento religioso versus pensamento científico. Aproveito o seu ateísmo científico para um diálogo que há muito desejo, uma vez que poderá permitir o repensar ou o consolidar de algumas ideias que tenho adoptado. Por outra, como espírita, necessito, obviamente, de escutar o contraditório porque, precisamente como espírita, recuso a «tirania do pensamento religioso dogmático».
O Espiritismo é uma doutrina de aspecto tríplice: filosófico, moral e científico. Consigo acompanhar os dois primeiros; a minha formação impede-me de me inteirar do último na sua plenitude. Gostaria, por isso, e a propósito do tema sobre o qual escreveu, de saber a sua opinião sobre a pertinência das seguintes afirmações retiradas de um dos livros da Codificação Espírita publicado em 1857. Isto, claro, se o Francisco, considerar esta minha questão uma questão minimamente aceitável ;-)
* A natureza jamais se opôs a si mesma. O brazão do Universo tem apenas uma divisão: unidade/variedade. A matéria é formada de um só elemento primitivo. Os corpos considerados como corpos simples não são verdadeiros elementos mas transformações da matéria primitiva. As diferentes propriedades da matéria são modificações que as moléculas elementares sofrem pela sua união e em certas circunstâncias. A mesma matéria elementar é susceptível de receber todas as modificações e de adquirir todas as propriedades. Por isso se diz que tudo está em tudo.
* Na matéria não há senão duas propriedades essenciais: a força e o movimento. As outras propriedades não são mais que efeitos secundários variando segundo a intensidade da força, a direcção do movimento e a disposição das moléculas
* É a mesma força que une os elementos da matéria nos corpos orgânicos e nos corpos inorgânicos. A matéria dos corpos orgânicos e dos corpos inorgânicos é a mesma.
* A causa da animalização da matéria é o princípio vital. A vida é um efeito produzido pela acção de um agente sobre a matéria. A vitalidade não tem o seu princípio num agente primitivo distinto mas numa propriedade especial da matéria universal. A vitalidade não se desenvolve senão com o corpo. Sem a matéria, o agente vital não é vida. A vitalidade está em estado latente quando o agente vital não está unido ao corpo. Quando os seres orgânicos morrem, a matéria inerte se decompões e toma nova forma; o princípio vital retorna à massa.

Desculpe o atrevimento. o meu segundo «eu» abusa um pouco das sua amizades cibernáuticas.
Sobre essas suas achegas, e já dentr da minha área de estudos, começam a surgir reflexões interessantes sobre as relações entre intimismo, escrita autobiográfica, autoficcionalização e blogosfera.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Olá André

Gehlen está traduzido em espanhol, embora haja duas traduções portuguesas (Moral e Hipermoral e A Alma na Era da Técnica). Tenho um post sobre a última.
Sim, já existem estudos sobre as subjectividades e identidades on-line. Plessner e Portmann são muito importantes. Infelizmente não há nada sobre eles em português. Sobre Plessner tenho dois posts. A excentricidade é tratada noutro post.

André LF disse...

Corrigindo-me:
Sempre penso no impacto que o computador no nosso mundo circundante. Porém ainda não o tinha concebido como um segundo eu.

André LF disse...

Obrigado, Francisco!
Depois vou ler os posts que vc mencionou

Denise disse...

Apesar da luminiscência do novo look, preferia a tonalidade mais intimista anterior :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Espero que já esteja melhor.
Coloca-me questões muito importantes e difíceis.
Quanto aos quatro princípios, os 3 primeiros podem ser reformulados em linguagem científica: átomos, forças e campos explicam isso.
O 4º princípio da "doutrina espírita" é claramente vitalista e, como tal, é rejeitado pela biologia molecular predominante (académica). Mas a versão espírita, se a entendo bem, parece defender o carácter não-individualizante do princípio vital, como se não possuisse a noção de pessoa ou de espírito (em sentido psíquico). Ora, a pneumatologia é fundamental para a nossa época que "esqueceu o espírito", como nos recorda o teólogo J. Moltmann.
Por amor de Deus, sabe que é sempre bem-vinda e que respeito as suas posições. Do debate de ideias nasce o espírito...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Parece que não é a única a queixar-se da luminosidade deste formato. Sou capaz de regressar ao outro, porque facilita mais a escrita e a leitura.

Denise disse...

Sim e não.
Sim: Segundo a Doutrina Espírita, o princípio vital é independente do conceito de indivíduo; é a força motriz dos corpos orgânicos, sejam eles vegetais ou animais.
Não: A Doutrina Espírita contempla a noção de pessoa e espírito ( no sentido psíquico e literal). Cada um de nós é um indíviduo singular e independente dos outros, com a sua história, a sua memória e o seu percurso.
Embora a parte espiritual do ser humano esteja sempre no «activo», necessita do princípio vital que anima a matéria que lhe configura corporeamente.

Obriada pelas portas abertas. Não com tod@s que consigo falar sobre o assunto e aprveito para captar outras ideias e outros saberes :)

Denise disse...

Regresse sim, Francisco. Dá um ar mais intimista, de tertúlia cibernáutica ;-)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Então, como a doutrina espírita encara a morte da pessoa? Se o princípio vital regressa ao "amórfico" quando o corpo é restituído à cadeia trófica, a pessoa também morre com o corpo? Porque, para todos os efeitos, o princípio vital parece ser anónimo, portanto, impessoal!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

Fiz no texto mais dois links que facilitam a leitura de Plessner.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Estes dois links que tratam da filosofia bioantropológica de Plessner são capazes de lhe interessar: estão na mesma linha de pensamento.

André LF disse...

Grato pela inserção dos links, Francisco :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Escreveu: "Embora a parte espiritual do ser humano esteja sempre no «activo», necessita do princípio vital que anima a matéria que lhe configura corporeamente."

Posso interpretar esta afirmação como pressupondo dois princípios: um "anímico", outro "vital", mas ambos impessoais depois da morte? Pensei que os espiritas invocassem as almas dos defuntos! Pelo menos, um espirita que conheço diz que ando sempre "bem acompanhado". Ele é "vidente" qualquer coisa (esqueci).

André

Daqui a pouco vou ver filme de terror. Ontem vi dois seguidos. Dois barretes! :)

Denise disse...

Há a distinção da matéria (o corpo; perecível), do espírito (o «eu»; princípio inteligente; imortal) e do princípio vital (que deriva do fluido universal e para onde regressa). Este princípio vital é o intermediário entre o espírito e a matéria.
A morte do corpo é encarada como a extinção desse princípio vital. Não ocorrerá, porém, a morte do espírito.
Julgo que alguém comparou a dualidade vida/morte com o funcionamento do aparelho eléctrico (matéria) que recolhe a electricidade em estado latente (princípio vital) e que apenas s manifesta quando colocada em "movimento" por uma causa concreta (espírito). Os três factores são essenciais para o bom funcionamento do aparelho na sua totalidade.

Denise disse...

E não, não estou melhor.
Mas, se páro, morro.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, então são 3 princípios básicos: o material, o vital e o espiritual, sendo o último imortal. Mas imortal no sentido individual, isto é, a alma de cada um que passa pela encarnação, ou na forma impessoal, quase colectiva, anónima?
Sim, parar é morrer! :)

Denise disse...

Obrigada pelos links, Francisco.
Creio ter acabado agorinha mesmo de responder à sua última questão.
Cuidado com os que se advogam espíritas. É uma palavra utilizada por vezes de forma leviana, sobretudo por charlatães (com o devido respeito pelo seu conhecido, que até pode ser espírita de verdade com algum grau de mediunidade...). Quanto a isso, duas dicas: não prometem nada; não pedem nada. Nada. :)
Anti-tirania-do-pensamento-religioso-dogmático. Total.

André LF disse...

Olá, Denise! A Doutrina Espírita reconhece a existência de eventos aleatórios na natureza? Não sou profundo conhecedor do Espiritismo. Li, há muito tempo, o Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo.
Depois das minhas breves incursões no Espiritismo, não consegui conciliar a existência do livre-arbítrio e dos eventos aleatórios com o atributo da onisciência divina. Não sei se fui claro.
Vc nos trouxe questões interessantes.
Aqui estamos em uma Ágora Virtual :)

Denise disse...

No sentido individual, Francisco. Quando desencarnar não me quero fundir consigo :))))

André LF disse...

Os filmes vão perturbar o seu sono, Francisco :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Como vou estar a ver o filme, desactivei a moderação de comentários: podem comunicar aqui na ágora virtual, como disse o André! Vou passando por aqui... :)

Denise disse...

Olá André,
Julgo que ao advogar que nada acontece por acaso a D. E. não poderá reconhecer a existência da aleatoriedade.
Se bem compreendi, há um conjunto de leis universais que regem tudo. Depois, há as movimentações que continuam a obra da criação - não me parece que Deus esteja preocupado em orquestrar os vôos das abelhinhas para a polenização, por exemplo :)))
E também há o nosso livre-arbítrio graças a qual nos é permitido respeitar ou não essas mesmas leis. Erramos sempre e é isso que nos faz crescer.
Da leitura que fez desses dois livros, parece-lhe uma doutrina perigosamente dogmática? Gostaria de saber a opinião de uma pessoa que, com conhecimentos, está «de fora».
Compreendo essas suas dúvidas. Eu mesma as tive. Mas acho que consegui compreender o conceito de liberdade, associando-o ao de eternidade e caminho para a perfeição, seja lá o que for isso. Muito diferente dos pressupostos judaico-cristãos.

Francisco,
De vez em quando gosto de ver um filme de terror. Regra geral deixam-me muito defraudada. O único que me atemorizou deveras, talvez porque o vi com apenas 10 anos, foi o Exorcista. Terrível.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O Exorcista foi um belo filme. Vejo uma mega-ursa a devorar humanos completamente desprevenidos e um pouco burrinhos, mas foi assim realizado.

Denise disse...

Ursas ncompletas, aanacondas gigantes e tubarões assassinos não metem medo. Resvalam para a comicidade pelo absurdo que reresentam. O Exorcista deixou-me com medo do escuro...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Este espirita de que lhe falei tem um centro espirita e é vidente qq coisa: vê os espíritos que nos acompanham e mais outras coisas. Disse-me que uma vez contou 24 espíritos que me acompanhavam e que naquele momento eram 11. Depois fiz uma experiência aleatória a partir do que ele disse e vi o cemitério de uma das almas defuntas. era austriaco e tinha morrido na Segunda Guerra Mundial. Antes tinha sonhado com uma morte estranha, tal como a dele.
Coincidências a la Jung?!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Ursa por vezes assusta dada a filmagem surpresa. O que assusta é a estupidez e a impotência dos humanos. Tudo avaria e ficam indefesos. Há uma série sobre uma rapariga filha do Diabo: cabe-lhe escolher o bem ou o mal. Tem poderes fantásticos!

Denise disse...

Se é do Porto, está a falar do CECA? Ou de algum consultório onde se pratica a extorsão de dinheiro em troca de promessas e conversas «mravilhosas»? Não é boa prática andar a exercer sem necessidade alguma as práticas da mediunidade... Falta de seriedade, diria. Mas não me quero precipitar.
Ao que parece, o Francisco anda bem acompanhado. Ou será o Francisco uma multidão, tal como Pessoa? O Francisco e os seus 24 selfs. Que ideia tão catita! :)))

Denise disse...

O último que vi intitulava-se «As sete pragas». Muito interessante e afinal até ternurento.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sete Pragas tb é interessante.
Sim, segundo me disseram, ele dá cursos e sessões espiritas. Outros fazem sessões sofisticadas.
Sim, aqui há um hábito muito divulgado nas elites: sessões nocturnas. Outros fazem viagens, são turistas mentais, e reunem-se algures no Porto, mas são provenientes de todo o país, sobretudo de Lisboa. É um negócio, não é?

Denise disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Denise disse...

Se me fala de elites, excursões, negócio e sessões nocturnas, já não sei se estaremos a falar do mesmo Espiritismo... Pergunte-lhe se o que ele advoga tem a ver com Kardec.

Quanto a Jung, é frequentemente citado pelos psicólogos e pelos psiquiatras espíritas.

Já ouviu falar da Associação Médico-Espírita (http://www.ameporto.org )? Fica sedeada aí no Porto e costuma organizar simpósios de carácter científico. Visite a página, a ver se conhece alguns dos excelentíssimos que integram os órgãos sociais.

Denise disse...

Vou parar e morrer um bocadinho Francisco. Bons sonhos, sem Ursas maiores.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Bons sonhos para si e as suas melhoras. (A Ursa matou-os a todos.) De facto, há muito oportunismo no Espiritismo, mas não conheço bem a realidade. Apenas sei da realização de sessões. Não sei se são reais ou falsas!

Denise disse...

Bom dia Francisco,
Deixo a panela ao lume para duas palavrinhas:
1ª - a palavra «oportunismo» não rima com o meu conceito de «Espiritismo». Estamos a falar de coisas muito diferentes.
2ª - Por sua causa sonhei com uma ursa. Era castanha, com dentes de sabre e olhos vermelhos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Bom Dia Denise

Não disse que o Espiritismo era oportunismo; apenas disse que pode haver pessoas que o usem de modo pouco transparente.
Depois vi partes de outro filme já visto: a tribo das panteras negras!

André

De facto, o computador é visto como uma máquina psicológica, capaz de grandes proezas cognitivas. Ele tende a ser distinguido dos humanos por não ter emoções. A inteligência é computacional; as emoções são humanas. De certo modo, há uma "desvalorização" da inteligência humana superada pela inteligência superior do computador. Pelo menos, as crianças e os jovens americanos parecem pensar assim, mas a interface computador/humano é muito interessante. Para mim, o computador é o meu melhor amigo: uma extensão de mim. Ou, se quiser, um "segundo self" que pode desabrochar numa multiplicidade de eus (selves), em função dos programas e dos sites frequentados, etc.
Mas o mais curioso é a emergência dos biomorfos: vidas artificiais no computador e na rede. portanto, no ciberespaço.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Amigos

Activei novamente a moderação de comentários, porque me facilita mais a resposta.

Denise disse...

Não sei se concordarei consigo quanto à inteligência computacional, Francisco. Apenas, porque não acredito que sejam separáveis emoção e inteligência. Logo, o computador não pode ser o seu melhor amigo, mas sim o meio pelo qual pode descobrir um dos seus "selfs" e, até, encetar novas amizades (acho mimoso este grupinho que se junta aqui nos debates aos seus textos), mesmo que virtuais, porque os sentimentos acabam por ser reais.

O verbo que utilizou não foi o «ser», mas o «haver», é verdade. E eu continuo a discordar. A não ser que substituamos «oportunismo» por «oportunidades» :)

Quanto a panteras negras, povaram os meus pesadelos durante a puberdade. As memórias que o Francisco me faz desencantar no velho baú empoeirado...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise

Foca um aspecto muito importante: a "distinção" entre "real e virtual". Sim, a psicologia dos sentimentos é real, embora não haja contacto real. De facto, é precisar pensar melhor estas categorias. O computador coloca muitos problemas que devem ser pensados de modo mais frio e distante do que o fazem os "fazedores de programas".

André LF disse...

Denise, grato pelos esclarecimentos. Da leitura que fiz de tais livros, não vejo um dogmatismo pernicioso na Doutrina Espírita. Reconheço, porém, a existência de alguns dogmas como a crença na reencarnação (que me faz lembrar da doutrina da transmigração das almas), no livre-arbítrio, na lei de causa e efeito, no mecanismo de expiação de faltas coletivas, etc. O Espiritismo possui um estreito vínculo com algumas concepções platônicas.
Esqueci de mencionar a minha leitura de alguns dos livros da série "Nosso Lar", obras psicogradas por Chico Xavier, um grande médium brasileiro. Não sei se estes livros estão publicados em Portugal.
O Brasil é o país com o maior número de espíritas no mundo. Entretanto, aqui o Espiritismo sofre um sincretismo afro-brasileiro o que lhe dá feições muito diversas.
Há aqui muitos Centros Espíritas e Federações, como a Federação Espírita de São Paulo, local em que se estuda a Doutrina Espírita com seriedade.

Francisco, não sei se conhece o o fenômeno da sincronicidade, definida por Jung como a coincidência acausal de um fenômeno físico e psíquico, motivado por uma relação de significado. Esta definição está um pouco vaga e merece maiores esclarecimentos. Jung escreveu um livro muito interessante, intitulado "A Sincronicidade". Que curiosa a história dos 24 espíritos. É de arrepiar!
Perturba-me a idéia de ter ao meu lado um acompanhante do além monitorando os meus passos.

André LF disse...

Denise, nunca consegui assistir ao Exorcista até o final do filme. Não sei se o filme é realmente assustador ou se sou eu que sou muito medroso.

André LF disse...

Francisco e os 24 heterônimos do além!

Denise disse...

Só espero conseguir acompanhar o seu raciocínio quando escrever sobre o assunto :)))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

Os 24 é o espirita que os vê, porque eu não vejo ou sinto nada. Não me deixo intimidar pelas amas defuntas, até porque, como ele diz, são boas.
Os livros de ciências ocultas que existem nas livrarias cá em Portugal são quase todos do Brasil. Desconheço essa literatura, mas o que existe aí também existe cá: os mesmos livros.
Nunca estudei bem Jung, nem tenho as obras completas dele; apenas algumas que nunca foram bem lidas, tal como leios os mestres.

Denise

Um dia destes faço um post sobre o assunto: os autores por vezes usam a linguagem com muito entusiasmo e esquecem da parte conceptual.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

Eu entrei em contacto com Arnold Gehlen via Konrad Lorenz. Depois procurei a obra de Gehlen e acabei a busca em Espanha, mais precisamente em Salamanca. Com efeito, os espanhóis são mais ousados do que os portugueses, tanto na filosofia como na teologia. Em Salamanca e Oviedo, encontrei as obras de um teólogo espanhol: Ruiz de la Peña que escreveu muito sobre escatologia, antropologia e cristologia. Por isso, os meus mestres estavam traduzidos em espanhol.
Contudo, as obras de Gehlen sobre a teoria das instituições foram negligenciadas pelos manos espanhóis: só estão acessíveis em alemão. Claro, Ruiz de la Peña ataca severamente os mestres, incluindo Bloch. Prefiro a antropologia teológica de Pannenberg e Kung! aliás, eles são bons a expor a história da filosofia. O primeiro tem um livro onde lê a história da filosofia à luz da ideia de Deus.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

Ontem tinha dito que não compreendeu bem os conceitos de centralização e de posicionalidade em Plessner. A posicionalidade diz respeito às relações dos organismos com o mundo: plantas, animais e homem. A posicionalidade do homem reside na excentricidade: nela o ser humano, como diz Plessner, toma consciência da centralidade da sua existência, e, enquanto situado no centro da sua existência, o ser humano é aquele ser vivo que conhece esse centro, tem experiência dele e, por isso, o transcende. Trata-se da autoconsciência vista como a relação que o homem tem com a sua existência como ser corpóreo. Portanto, entra em cena a ruptura, o hiato, na relação do homem com a sua existência. No fundo, a excentricidade funda-se no carácter aberto do mundo (Scheler e Gehlen). A diferença entre "ter um corpo" e "ser no corpo".

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise e André

Um último desafio:

O físico Stephen Hawking (1988) escreveu um livro: "A Brief History of Time". A ideia subjacente é a de que o tempo pode ter um começo. Ora, a ideia de uma história do tempo é paradoxal, porque pressupõe sempre um tempo: uma história só pode ter lugar no tempo. Há aqui um circulo lógico talvez vicioso e a afirmação de que o tempo nasce num determinado momento torna-se um problema filosófico. O grande físico não foi sensível a isso; porém foi arrogante e pretencioso quando na verdade carece de pensamento filosófico.

André LF disse...

Francisco, obrigado pela sua exposição didática acerca dos conceitos de Plessner. Desde que entrei em contato com Gehlen, e agora com Plessner, abriu-se um mundo novo para mim.
Lastimo ter deixado de estudar alemão, porque sinto a necessidade de ler as obras destes pensadores no idioma em que foram redigidas.
Concordo consigo quando afirma, a respeito da origem do tempo: "há aqui um circulo lógico talvez vicioso e a afirmação de que o tempo nasce num determinado momento torna-se um problema filosófico".
É uma aporia difícil de ser resolvida. Hawking se referia à possível origem de um tempo cronológico? Quando penso na noção que os gregos tinham sobre o tempo (Cronos e Káiros), sinto que esta questão sobre o tempo ganha novas cores.

André LF disse...

Fiquei curioso a respeito da antropologia teológica de Pannenberg e Kung.

Manuel Rocha disse...

Eu prefiro a ideia da diversidade dos tempos. Há entidades cuja compreensão não me parece que beneficie de sistemas padrão, mas adiante que se faz tarde.

Vou ter pesadelos por conta desses filmes horriveis de que falam, para já não mencionar o auto-retrato da Denise-Ranhosa que me aniquilou o interesse por mulheres nos próximos seis meses ( e depois, não sei...)

:))

Lá foi hoje que despachei a sua encomenda, Francisco, embora ainda incompleta. Ando curto de tempo. Amanhã volto sem sono para ler este seu post com a devida atenção.

Espero que tenham muitos pesadelos...

:))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

Infelizmente, a filosofia contemporânea abandonou a antropologia filosófica e os teólogos retomaram-na, pelo menos essa geração ilustre de teólogos. Agora estão a regredir em termos de pensamento, talvez com uma linha muito conservadora e passadista.
O problema do pensamento, a sua crise, está associado a muitas chamadas conquistas sociais: uma ideia perversa é a de igualdade igualitária. Perdemos a liberdade de pensamento, porque somos questionados em termos de reivindicações: ora somos machistas, ora sexistas, ora racistas e ora libertários, ora, ora...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Agora ando na onda do terror. Acabei de ver outro, mas ainda não fiquei aterrorizado. Vou ver o seu post. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Meus amigos

Um amigo telefonou-me a dizer que "os portugueses são invejosos", sendo por isso que estamos na eterna penúria material e espirutual.
De facto, o luso-sistema imunológico é inimigo da inteligência: combate-a sempre que a detecta! Boa Noite.

Denise disse...

Amigos, apontamentos breves antes de me refugiar no dulcíssimo vale dos lençóis:
1 - André, a D. E. recusa o conceito de «dogma», alegando que esses aspectos que refere são verificados experimental e filosofiamente, ainda que não reconhecidos pelas áreas do saber "canonizadas".
2 - André, Platão é, efectivamente, uma grande referência nos estudos espíritas.
3 - André, começam a surgir as primeiras publicações portuguesas, embora a grande maioria provenha, ainda do Brasil. Com o novo acordo ortográfico que se avizinha, esse pormenor já não será tão relevante.
4 -Fora essas referências sérias que ainda existem por aí, André, o Espiritismo no Brasil está proximar-se muito do camdomblé du soleil...
5 - Francisco, esses livros NÃO pertencem à secção das ciências ocultas; quanto muito religião...
6 - Francisco, fiquei curiosíssima quanto ao Pannenberg. De Jung li apenas «O Homem e os seus símbolos» e «Os arquétipos e o inconsciente colectivo».
7 - Quanto o livro do Hawking, sem a sua explicação, suporia tratar-se de um livro sobre a noção de Tempo na História da Humanidade. A ideia de que o tempo teve um começo é sugestiva, ainda que falaciosa; ou não... depende do conceito com que se está aí a aplicar a palavra «tempo». Sou mais de relatividades e prefiro o plural, como o Manuel.
8 - Meu Vizinho, agora essa de se desinteressar pela espécie feminina só por causa do meu auto-retrato (espero, a bem da sua saúde, que se esteja a referir ao auto-retrato monstruoso e não o parcelar)! Não caia na tentação da generalização, que eu sou apenas uma e tão ínfima poeira do universo. Mas se teimar, home!, há alternativas :)
8 - Já lhe disse, Francisco, tanta amargura só lhe faz mal.

Durmam bem, rapazes, e até amanhã.

Manuel Rocha disse...

Sim, mas…

Gostamos de falar do mundo, mas não há um Mundo, há pequenos mundos.Nem uma Vida, mas miríades delas. O conhecimento que temos desses mundos e dessas vidas continua a funcionar como produto mecânico da interacção das informações parcelares que adquirimos. A sabedoria orgânica, ainda é algo que não se sintetiza. Por isso a governança é o que é e a história continua a avançar aos solavancos sobre escombros de projectos desmoronados pelo imprevisto.
Não estou pois solidário com o optimismo de Prigogine. O saber compartimentado continua de boa saúde e a liderar a tomada de decisões na esfera pública. E a ciência a precisar de uma cura de humildade. Precisamos que a Filosofia seja capaz de antecipar a mais valia dessa atitude, de nos dar um sentido na “totalidade em evolução”. Mesmo que para isso precise de operar a mais difícil das rupturas, que seria a deixar de considerar o Homem como “centro” para se ocupar da valorização do Homem como “possibilidade” de um complexo inatingível.

Estes seus últimos posts andam magníficos, ó Filósofo ! Gosto de o ver centrado numa temática. Venha daí a minha encomenda que preciso de terminar o ciclo da “geografia da fome”…;)

PS. Tenho pensado no F Dias...Esperamos que esteja tudo bem com a saúde dele...:(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Denise e Manuel

Também tenho pensado no Fernando Dias. Não sabia que estava doente. Que melhor depressa, porque sentimos a falta dele!

Não estou a par dos livris espiritas. Sim, penso que classificam essa literatura na secção da religião, embora a D E não seja uma religião, suponho.

O tempo tratado pelo físico é o tempo físico... Ele podia ter lido com mais atenção Santo Agostinho e outros. Mas o tempo é um tema muito complicado.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Comecei a escrever o post: "Tomo boa nota desse seu desafio, mas proponho-lhe um negócio: em troca o Francisco faz-me um post em que analisa a relação entre desintegração cultural e miséria humana." O título será mesmo Desintegração Cultural e Miséria humana.