O stress maternal poderá ser um factor que interfere potencialmente na androgenização dos machos, como demonstram os estudos de Ward (1972, 1992), Ward & Weisz (1980) e Dörner et al. (1983) realizados com animais de laboratório. Ward (1972) submeteu algumas ratazanas gestantes a períodos de stress, confinando-as e expondo-as a uma luz brilhante, a qual suprime a produção de androgénios nos fetos masculinos. As ratazanas macho nascidas de mães submetidas a stress, comparadas com os sujeitos de controlo, mostravam menos probabilidades de exibir comportamento sexual masculino e mais probabilidades de exibir comportamento sexual feminino quando recebiam injecções de estradiol e de progesterona. Num outro estudo, Ward & Stehm (1991) descobriram que o comportamento de jogo das ratazanas macho jovens, cujas mães tinham sido submetidas a stress durante a gestação, se assemelhava mais ao das fêmeas do que ao dos outros machos, já que mostravam menor quantidade de lutas. Estes dados mostram que os efeitos comportamentais provocados pelo stress pré-natal não se limitam a mudanças no comportamento sexual típico, envolvendo também outros comportamentos. Além destes efeitos comportamentais, o stress pré-natal reduz o tamanho do núcleo sexualmente dimórfico da área preóptica do hipotálamo, que normalmente é maior nos machos do que nas fêmeas e que desempenha um papel fundamental na regulação do comportamento sexual típico do macho (Anderson e al., 1986). Dörner elaborou uma explicação para as diferenças dos níveis das hormonas pré-natais dos homens homossexuais e dos homens heterossexuais, explicação esta que também deriva da pesquisa com ratazanas. Dörner et al. (1980, 1983a, 1983b) propuseram a teoria de que o stress maternal constitui um factor-chave na etiologia da homossexualidade masculina. O stress em ratazanas grávidas durante o período final da gravidez produz descendência masculina que apresenta níveis invulgarmente reduzidos de comportamento sexual tipicamente masculino e, de forma menos definida, níveis superiores de comportamento sexual tipicamente feminino, especialmente na frequência de produção da lordose quando posta em contacto com um macho reprodutor. Dörner et al. (1983b) apresentaram duas provas de como estes factos são relevantes para a orientação sexual humana. Primeiro, referem relatórios que afirmam um aumento de frequência da homossexualidade entre homens nascidos durante o período de tensão e imediatamente após a Segunda Guerra Mundial em comparação com os homens nascidos em tempo de paz. Em segundo lugar, afirmam encontrar uma maior incidência de eventos causadores de stress durante as gravidezes das mulheres cujos filhos acabaram por se tornar homossexuais do que nas gravidezes das mulheres cujos filhos se tornaram heterossexuais. Contudo, as provas apresentadas são frágeis, uma vez que os homens homossexuais e heterossexuais podem diferir naquilo que lhes é dito pelas suas mães acerca das suas gravidezes ou na maneira como recordam ou interpretam o que lhes foi contado. Assim, Michael Bailey et al. (1991) interrogaram mulheres que tinham tido, pelo menos, um filho homossexual e um filho heterossexual, tendo verificado que elas não relataram qualquer excesso de eventos causadores de stress durante as gravidezes que tivessem dado azo ao nascimento de filhos homossexuais. Apesar desta dificuldade, Ellis & Cole-Harding (2001) estudaram 7500 sujeitos e descobriram que o stress pré-natal tem um modesto mas significativo efeito sobre a orientação sexual dos machos, particularmente quando o stress ocorre durante o primeiro trimestre da gravidez. A exposição pré-natal ao álcool não parece ter impacto sobre a orientação sexual dos machos ou das fêmeas. Contudo, a exposição pré-natal à nicotina parece aumentar significativamente a probabilidade de lesbianismo entre as fêmeas, especialmente se a exposição ocorrer no primeiro trimestre, juntamente com stress pré-natal no segundo trimestre. Este estudo sugere, pela primeira vez, que a nicotina poderá ter efeitos de masculinização/desfeminização sobre a orientação sexual das fêmeas nascidas de mães fumadoras. Diante destas evidências e de outras (Ward, 1992; Ward & Weisz, 1980), até mesmo Bogaert (2006), um defensor da «fraternal birth order», não exclui a possibilidade do stress pré-natal poder representar uma via separada do desenvolvimento da homossexualidade masculina ou ser um factor significativo na alteração do desenvolvimento da orientação sexual. J Francisco Saraiva de Sousa
6 comentários:
Interessante: sobretudo o que vem a negrito!
Afinal, quando os pais, confrontados com a assunção da homossexualidade dos seus filhos, perguntam: "O que foi que eu fiz?", tem alguma ressonância! :)))
Mais uma piada, Papillon!? O stress é efectivamente um factor biologicamente activo, sobretudo em determinadas doenças. :)))
Sim e não, caríssimo.
Sim, porque o meu ânimo consagra-se ao sarcasmo.
Não, porque se há, "efectivamente", uma relação causal entre fumar tabaco durante o primeiro trimestre de gravidez e a orientação sexual da fêmea nada, então a progenitora detinha uma variável.
Ai Papillon
As lésbicas dizem: "Obrigada Mamã por teres fumado". Elas "orgulham-se" da sua condição! E ainda bem... Pluralismo sexual! :)))
Mas eu disse que as lésbicas n tinham orgulho de serem como são?
Ok, desisto. O F. das duas uma: ou está sempre noutra frequência (diversa da minha) ou tem mesmo algum problema no entendimento das "piadas". É q nem explicando. Nem com legendas.
A partir de agora, os meus comentários são o mais objectivos possível e sem ironia, para que seja possível o diálogo.
Ui a Papillon não percebeu a minha brincadeira lúdica. Penso que estes estudos são desconhecidos no meio, com excepção das que colaboraram comigo.
PAZ.... Ai ai ai ai Eu gosto da Papillon... :)))
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