sábado, 22 de março de 2008

Violência Escolar e Barbárie

"Mundus vult decipi". "O mundo quer ser enganado", mas a tarefa do pensamento independente é desenganar o mundo.
Não pretendia escrever tão cedo sobre o estado do ensino e da educação em Portugal e muito menos antes da Páscoa, mas o caso que ocorreu na Escola Carolina Michäelis e que foi divulgado no Youtube e, posteriormente, em todos os noticiários e meios de comunicação social, é deveras chocante: uma professora foi brutalmente agredida, física e verbalmente, por uma aluna, por causa do uso dos telemóveis nas salas de aula. A violência é uma rotina diária nas escolas públicas ou mesmo privadas, e, no entanto, nada foi feito para pôr termo a esta violência escolar que se instalou gradualmente nas escolas desde o 25 de Abril de 1974. Os próprios professores têm encoberto esta realidade e, muitas vezes, são os primeiros a «sacrificarem» o colega que se queixa da «indisciplina», sobretudo quando têm filhos a estudar, e a comportarem-se como «lobos» (Hobbes).
É preciso dizer que actualmente os professores não dão aulas: os alunos não estão sentados, circulam à vontade pela sala de aula, dizem constantemente palavrões, fazem gestos grosseiros, conversam uns com os outros, vão para as janelas, donde lançam provocações para o exterior, gritam, jogam diversos jogos, enviam e recebem mensagens via telemóvel, insultam frequentemente os professores, recusam participar nas tarefas escolares, gozam descaradamente os professores, não obedecem às «ordens», não podem ser contrariados, copiam descaradamente, vestem-se de modo inadequado, agridem os professores e os colegas, envolvem-se em comportamentos sexuais, drogam-se, enfim comportam-se como delinquentes. Os professores foram desautorizados e perderam autoridade e a escola converteu-se num antro comportamental.
Muitas são as razões que ajudam a compreender a degradação acelerada do ensino e da educação: todas as reformas da educação efectuadas depois do 25 de Abril contribuíram para a sua destruição. As ciências da educação deram a machadada fatal: os professores começaram a ser funcionalizados e os alunos ilibados de responsabilidades, a avaliação tornou-se um processo oneroso e burocrático, os programas perderam credibilidade científica, os manuais escolares infantilizaram-se, os pais foram convocados não para se responsabilizarem pela educação dos filhos mas para garantir a sua passagem automática e envernizar ainda mais a vida dos professores, as reuniões de avaliação transformaram-se em sessões de votação de notas, a disciplina foi abolida para não traumatizar as «crianças», a brincadeira foi incentivada em vez do esforço, as notas foram uniformizadas de modo a impossibilitar a distinção, a punição foi abolida, numa palavra, a escola foi macabramente transfigurada. Mas todos estes factores são relativamente bem conhecidos (embora não compreendidos) e estupidamente justificados em nome da democratização, da universalização ou da massificação do ensino, a qual nivela a partir de baixo. Portanto, assistimos nas últimas décadas ao regresso à barbárie: a escola não ensina nem educa, os alunos entram e saem selvagens e os professores ficam «loucos».
Para não prolongar mais este post, deixo alguns desafios teóricos: 1) a criação de escolas mistas e 2) o predomínio das mulheres no ensino. O impacto destes factores deve ser estudado e, enquanto não tivermos estudos sérios sobre as causas da degradação do ensino e da educação, isto é, um livro negro do ensino em Portugal, não adianta fazer reformas: a única reforma racional é enviar a polícia para as escolas e punir severamente os alunos, recorrendo aos velhos instrumentos de tortura escolar usados nos tempos em que a escola formava cidadãos disciplinados, educados, responsáveis e competentes. Neste clima de terror e de humilhação, mais vale suspender todas as reformas e repensar a escola que se pretende para o futuro. Sem punição não há educação: o que «traumatiza» não é a dor ou o sofrimento, mas o prazer imediato que impede os mocinhos satisfeitos de conhecerem a alegria, lançando-os nos comportamentos agressivos. Estes alunos não são inteligentes, como muitos dizem, mas crianças barbaras e violentas, portanto, os coveiros da cultura. (Leia estes posts: Natal, Dor e Prazer e JOVENS ANESTESIADOS.) Infelizmente muito daquilo que dissemos do ensino pré-universitário, também sucede nas universidades: os alunos universitários não comparecem às aulas, não estudam, abusam do álcool e de outras drogas e passam todo o seu tempo nas chamadas praxes académicas macabras.
J Francisco Saraiva de Sousa

45 comentários:

Ordepuir disse...

Como já afirmei, em outro local, não me parece que a culpa seja, só, do "sistema", da "tutela" ou dos alunos. A culpa é também dos pais, da educação fora da escola, antes e depois da escola, a educação em casa!

Uma das principais razões da, crescente, desautorização dos professores advém, da desautorização dos pais. Hoje em dia vive-se, em muitas casas portuguesas (não em todas) uma completa "ditadura" das crianças e adolescentes, que controlam os pais, e os vergam a sua vontade. Se não há em casa uma autoridade forte, as crianças e adolescentes, nunca vão encaram um professor como uma autoridade, alguém que se tem de respeitar, pois se não devem respeito aos pais, muito menos aos professores...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Rui Pedro Melo

Sim, a educação em casa é também terrível. Infelizmente, existem casos em que um dos pais, geralmente a mãe, também é maltratada pelos filhos. A ideia nefasta é a suposta "igualdade" entre crianças e adultos, muito incentivada pelas indústrias da juventude. Um problema de sociedade e nós aqui em Portugal não deviamos importar modelos que fracassaram no estrangeiro...

lp disse...

Notável! Nem uma única palavra é dedicada às orientações e medidas deste Ministério da Educação, que têm contribuido (e muito!) para a degradação da escola pública! Basta pensar no novo Estatuto do Aluno que desresponsabilza os alunos, assim como na avaliação que se quer impôr aos professores e que os responsabiliza quase em absoluto por atitudes e resultados que não dependem só deles.
O Francisco limita-se a abordar aspectos teóricos do ensino e da pedagogia (e que eu reconheço como prejudiciais) e remete as causas da degradação da escola para o remoto 25 de Abril(!) - como qualquer saudosista faria - assim como para os governos que se foram sucedendo, mas sem apontar nomes. Àcerca do actual governo, da burocratização do ensino promovida por este governo, não diz nada! Percebe-se... Eu pelo menos já percebi há alguma tempo.
Se os professores se mostram passivos perante a violência escolar é porque sentem que estão sozinhos e sem meios para enfrentar o problema. De facto, quando este governo, por exemplo, determina que os alunos não chumbam por faltas, o que podem fazer os professores para penalizar os faltosos? Nada! Os professores agora ficam é obrigados a fazer-lhes uma (ou mais) prova de recuperação. É a pedagogia das «infinitas oportunidades» para quem não assume as suas reponsabilidades. Ou seja, os professores sentem que não podem fazer nada, enquanto os alunos sentem que podem fazer o que quiserem que daí não resultam grandes consequências, sendo premiados no final com uma passagem administrativa.
Depois, quando este governo insulta, desautoriza e desprestigia constantemente a classe docente (o que é algo que se verifica também nos posts alinhados do Francisco, que classifica os professores como corruptos e mediocres), do que é que se está à espera senão do desaparecimento da pouca autoridade que ainda restava aos professores? A manifestação de 100000 professores que Francisco tanto criticou, teve que ver também com isto; teve que ver com o ataque, em curso, à dignidade de toda uma classe profissional e desvalorização das suas funções.
Os professores não dão aulas? Pelo que eu sei isso é bem evidente nos cursos das «novas oportunidades», que só pretendem mascarar os números da frequência escolar e dos graus escolares alcançados - uma estratégia e um plano que este governo pretende alargar a todo o ensino. A política deste Ministério da educação quer apresentar números, estatíticas que não reflectem a realidade nem qualquer melhoria do ensino. Mas é assim que a Lurdes e o Valter os apresentam para enganar quem gosta de ser enganado (a começar pelos militantes mais fervorosos do PS).
Quanto à infatilização do ensino, ainda outro dia disse aqui que as encenações e sessões de propaganda do Sócrates em torno das escolas equipadas com quadros electrónicos e ligações de 100 Mbps à internet eram um mais um sinal disso mesmo: de um «ensino» pouco preocupado em formar e qualificar, mas antes em ter os alunos entretidos e adaptados à «modernidade» cheia de alta tecnologia, mas vazia de valores e de ensino. A resposta do Francisco: são os professores mediocres que não ensinam! Pois...
Apesar disto tudo, o que se viu sempre da parte do Francisco foi o apoio às ditas «reformas» deste governo e Ministério. Porque é preciso reformar, mesmo que isso seja sinónimo de deformar. De qualquer forma, nota-se uma certa mudança no discurso do Francisco, que agora diz não adiantar fazer reformas e defende um regresso à escola autoritária dos outros tempos (o que não me surpreende, diga-se). Ou é o 8 do PS ou o 80 das práticas da ditadura! O que parece interessar é apenas o exercício do poder, o mostrar que se tem poder, e não a resolução dos problemas através do diálogo, da participação e da responsabilização das pessoas.
«A tarefa do pensamento independente é desenganar o mundo». Pois é. E isso começa por desenganar o mundo àcerca das intenções e políticas deste governo, o que é algo que parece não interessar ao Francisco. E acaba em desenganar aqueles que entram neste blogue e se iludem àcerca dos principios ideológicos do seu autor, que no plano teórico parece socialista e um grande defensor da cultura, mas na prática verifica-se que está alinhado com o poder neoliberal e tecnocrático que ocupa actualmente as cadeiras do governo.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

lp

Não dedicou uma única palavra sobre o caso da professora agredida!
A violência nas escolas é muito antiga e começou após o 25 de Abril. A tal igualdade (professores e alunos, pais e filhos) reclamada por certas pessoas resultou numa crise da autoridade. O Estado deve recuperar essa autoridade; caso contrário, o poder está ameaçado.
Não havendo autoridade e competências, não pode haver ensino e educação. E as crianças tornam-se adultos incapazes de participar no mundo público: Ameaça Total à cultura ocidental.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Estranhamente, pretende apagar 30 anos de história, como se este governo fosse responsável pela crise.

BEJA TRINDADE disse...

"A violência nas escolas é muito antiga e começou após 25 de Abril"

Nesta pequena frase, há aqui uma grande contradição, aliás, os textos do amigo Francisco, são férteis em contradições essencialmente na vertente política.

Já nos anos 60 havia violência nas escolas, recorda-me de um mestre de oficinas sair com um martelo embrulhado num papel, com receio das ameaças de um aluno, isto em plena ditadura salazarista.

Agora na verdade o nosso amigo Francisco, por aquilo que venho observando, deve ter muito rancor ao 25 de Abril, lá terá as suas razões, mas por favor não se disfarce de socialista
por está muito mal disfarçado.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Beja Trindade

"... deve ter muito rancor ao 25 de Abril, lá terá as suas razões, mas por favor não se disfarce de socialista
por está muito mal disfarçado."

Rancor? Não! O 25 de Abril tal como "findou" trouxe a liberdade e a democracia. Significa o fim de uma ditadura! Só posso estar satisfeito e feliz com tal desfecho! :)
Insinua, aliás na peugada de lp, que não sou "socialista". Meu amigo, é mais fácil não ser socialista e aproveitar o sistema de corrupção! Mas, como sou marxista liberal (defendo a democracia), prefito lutar por causas nobres.
Neste tempo obscuro, a causa mais nobre de um marxista liberal é a defesa da nossa civilização ocidental, sem negligenciar as outras lutas. Boa Páscoa.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Beja Trindade e lp

BT escreveu: "os textos do amigo Francisco são férteis em contradições essencialmente na vertente política."

Sou herdeiro de Hegel e Marx e "utilizo" a Dialéctica, em especial a "negação determinada": as contradições não estão no pensamento mas na realidade social. Certas promessas do 25 de Abril realizaram-se em sentido contrário: em vez de educação de melhor qualidade, temos barbárie. Isto significa que ocorreu uma regressão, até mesmo em relação ao ensino no tempo da ditadura. O pensamento independente deve estar atento às regressões, porque significam obstáculos à realização de um novo princípio de realidade: uma sociedade livre e justa.
Mas, como tenho vindo a constatar, para os "comunistas", os socialistas são sempre "contradição"! Porém, quem está em contradição lógica e política com a teoria de Marx são precisamente os "comunistas". Em vez de "sonhar com o futuro NOVO, pretendem um "regresso ao passado estalinista"! :(

BEJA TRINDADE disse...

Afinal, Marx só será interessante se for liberal, não compreendo o porquê do Partido Socialista rejeitar o marxismo do seu programa.
Marxismo liberal só conheço o do seu discurso, julgava eu que esse discurso provinha das teses de Adam Smith e David Ricardo.

Isso do marxismo liberal faz-me lembrar a treta do Socialismo democrático, aliás, tese usada manhosamente no tempo da contra-revolução do 25 de Abril.

Diz o J. Francisco

"Meu amigo, é mais fácil não ser socialista e aproveitar o sistema de corrupção".


Ou seja, quem não é socialista aproveita-se do sistema da corrupção?
Isso será passar um atestado de corruptos aos portugueses, com excepção daqueles que sejam socialistas, claro está.
Quantos casos quer que lhe aponte de corrupção instalada no seu governo governo?

Então reforço:
Na versão do amigo Francisco, só os socialistas são impolutos

Só realmente quem vive uma vida de cátedra ou estar muito distraído do meio que nos rodeia, diz estas obscenidades.
Peço desculpa, mas é preciso ter muita falta de seriedade intelectual, para em público dizer tamanho disparate.

Cumprimentos

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Beja Trindade

Cita-me: "Meu amigo, é mais fácil não ser socialista e aproveitar o sistema de corrupção".

E infere erradamente: "Ou seja, quem não é socialista aproveita-se do sistema da corrupção?
"Isso será passar um atestado de corruptos aos portugueses, com excepção daqueles que sejam socialistas, claro está."

A sua inferência é absolutamente errada. E, repare, quando falo ali de socialismo, refiro-me à defesa de determinados ideais, não ao partido socialista.
Contudo, as suas ideias comunistas são dirigidas unicamente ao Partido Socialista. O mal é o PS? Pensei que lutasse por outras causas e não unicamente contra o PS. Os comunistas não são anti-capitalistas, mas anti-socialistas!
Assim sendo, o PS está (orgulhosamente) sozinho a implementar políticas de mudança!
De resto, quanto ao programa do PS, não é preciso expor nenhuma interpretação de Marx ou definir um modelo positivo de sociedade futura. Nesta hora obscura, o marxismo enquanto filosofia retoma a sua Tradição e tornou-se o guardião da cultura ocidental.

BEJA TRINDADE disse...

Caro J. Francisco Saraiva de Sousa

"Estranhamente, pretende apagar 30 anos de história, como se este governo fosse responsável pela crise".

Custa-me repetir, mas, vou novamente lembrar-lhe:

Quem tem estado no poder nos tais 3O de história, e que está a levar este País a um caos, em todos os sectores da vida nacional?

Não me venha dizer, que os culpados são os comunistas, porque essa, já não cola.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Caro Beja Trindade

Foram os governos do PSD e CDS, alguns erros cometidos pelos socialistas. E somos também todos "culpados", porque toleramos a corrupção e o sistema de favores e não cultivamos o pensamento. Falta cultura da responsabilidade, portanto cultura liberal: liberdade e responsabilidade.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Os comunistas prejudicam as reformas: não têm responsabilidade governativa ou perspectiva de virem a ser governo. Por isso, aproveitam-se de todos os protestos, para fazer oposição, mesmo daqueles protestos que colidem com a sua orientação política. Aliás, os que protestam nem votam PCP.

BEJA TRINDADE disse...

Caro J. Francisco Saraiva de Sousa


Os comunistas são por natureza anti-capitalistas enquanto sistema, agora o que não suportam, são capitalistas disfarçados de socialistas.

Na minha infância tive uma pessoa de idade avançada que me dizia:
Olha meu menino dos malandros já tu os conheces, agora dos manhosos, é que tens de ter muito cuidado.

Então caro Francisco, como justifica o aparecimento do Partido Socialista, muito depois do Partido Comunista, usando semelhanças na cor da bandeira, do hino da internacional com outra letra, até o levantar do punho com a mão esquerda, o próprio chamamento de camarada etc, etc.

O capitalismo jogou com astúcia, para travar o avanço do comunismo no mundo.
Isto que eu digo, é reconhecido na história, do aparecimento do Partido Socialista, ou seja, o Partido Socialista apenas foi criado para combater o Partido Comunista.

Cumprimentos

BEJA TRINDADE disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Historicamente, caro Beja Trindade, foi feita justiça à teoria de Marx e ao idealismo alemão de que é herdeira: faltava a democracia na Internacional. Rosa Luxemburgo tratou, entre outros, dessa lacuna.
A sua matriz fez uma revolução, criou um bloco e agora já nem isso tem. Ainda continua a defender uma revolução desse tipo? As pessoas do Leste não gostavam do sistema soviético. A nossa cultura ocidental é avessa aos sistemas de ditadura. Defende o indivíduo, a liberdade... Mas gostava de saber qual o sistema económico que opõe ao capitalismo!

BEJA TRINDADE disse...

Eis as contradições,

"Os comunistas prejudicam as reformas"
"Aliás, os que protestam nem votam PCP".
Em que ficamos?

Serão os 100 mil professores todos comunistas?
Será a população que protesta contra o encerramento de maternidades, urgências, escolas e hospitais,
contra o encarecimento de vida, todos comunistas?

De um lado temos o governo, banqueiros e grandes capitalistas, a teimar nas ditas reformas, que daí, só eles tiram benefícios, do outro a população em peso a protestar.
De que lado é que o meu amigo está?
Não me venha dizer que está no centro, senão vai-me obrigar a concluir que é CDS.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Eu estou do lado das reformas e do seu aperfeiçoamento. Estou do lado da justiça.
Claro, que essas pessoas não são comunistas. Estranho é o PCP apoiar esses protestos que visam garantir privilégios injustos. O corpo de funcionários públicos foi o sector que beneficiou com os erros cometidos nos últimos 30 anos. As suas "reivindicações" não são POLÍTICAS, mas CORPORATIVISTAS. A função pública está a lixar-se para o interesse nacional ou para os desfavorecidos.
Ora, é aqui que PCP erra politicamente, traindo Marx mas sobretudo LENINE.
Defenda os professores e os funcionários públicos e vai ver que tudo se agrava: eles engordam à custa da miséria nacional. Luta política e luta sindical (económica) não casam bem: a segunda visa o aburguesamento, não a mudança social qualitativa.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Caro Beja Trindade

E é aqui que o PCP falha redondamente: o seu modelo de Estado gordo é altamente burocrático. A propriedade "colectiva" dos meios de produção é uma miragem: ninguém pode dispor dessa propriedade individualmente; logo ela não pertence realmente ao "povo" e a sua gestão gera desigualdades sociais, ao mesmo tempo que cria novas elites. O povo fica sempre sem nada e mais grave ainda sem Liberdade. É aqui que entra o liberalismo político de Esquerda: o socialismo liberal que visa corrigir esses erros e combater as desigualdades sociais, garantindo sempre a liberdade e a democracia.

BEJA TRINDADE disse...

Caro J. Francisco

Não me venha dizer que o sistema económico que se opõe ao capitalismo é o seu socialismo, porque isso seria para rir.

Quanto aos países de leste, pelos vistos não estão assim tão satisfeitos como diz a vossa propaganda, nestes casos o tempo será o melhor conselheiro, a ver vamos...
Quanto a ditaduras, está-se a referir qual delas, há do proletariado
ou da burguesia.
Quer que lhe mostre exemplos da ditadura da burguesia em Portugal?
Prisão de sindicalistas, prisão de jovens que colocaram uma facha em Lisboa contra a guerra o Iraque, intimidação de professores e seus sindicatos, manipulação descarada dos orgãos de informação, televisão, rádios, jornais etc, etc.
Isto meu caro amigo, era o que nós tinha-mos antes do 25 de Abril.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Beja Trindade

O seu último comentário foi muito ideológico e não respondeu às questões que lhe tinha colocado.
Não temos alternativa à economia de mercado. Como sabe, o próprio Marx não elaborou um projecto económico alternativo: o marxismo não tem um modelo económico alternativo. E a experiência económica efectuada em seu nome produziu burocracia e corrupção, porque o Estado com muito poder gera novas classes que alienam ou sacam os bens públicos em seu próprio benefício: o enriquecimento privado.
Por isso, um marxista consequente não pode defender o engordamento dos funcionários públicos e consentir que a restante população seja sacrificada.
O Manifesto Comunista ainda não foi bem lido: nele encontramos o socialismo liberal que defendo. Nunca um Estado Gordo e Burocracia.
As ditaduras da burguesia resultaram de um erro de análise, mas Marx nunca disse que o Estado está exclusivamente ao serviço de uma única classe social, porque também serve interesses comuns.
Libertar Marx da "ditadura hermenêutica comunista" é libertar o futuro! Viva a Libertação Esclarecida!

António Chaves Ferrão disse...

Caro J Francisco Saraiva de Sousa
Espero bem que a sua descrição toque pontualmente a realidade, sem constituir a regra geral.
O Reino Unido, há alguns anos e em absoluto desespero de causa, reintroduziu um instrumento "pedagógico" que havia sido retirado durante anos: a "menina dos cinco olhinhos".
Nos EUA reintroduziu-se a separação por sexo até no ensino secundário em algumas escolas, com resultados aferidos e positivos.
Partilho, assim como a minha mulher que é professora, a sua preocupação com o desiquilíbrio do ratio professoras/professores. Aparentemente, a presença de professores suaviza a agressividade natural da juventude. O actual desiquilíbrio chega a esmorecer virilidade até de alguns professores.
Seja como fôr, justifuca-se plenamente que as coisas sejam pensadas maduramente antes de se tomarem decisões, já que, como está à vista, as consequências podem ser demasiado graves.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

António Chaves Ferrão

Sei dessas iniciativas e, por isso, as mencionei. De certo modo, deviamos recuperar muitos princípios da "escola anterior", num quadro democrático e adaptado às novas realidades.
O problema da "mistura" de rapazes e de raparigas é preocupante. A maturação dos rapazes (a nossa) é mais lenta do que a das raparigas. Daí ritmos de aprendizagem diferentes e muitas das consequências negativas que conhecemos (desistência escolar, violência, etc.). É necessário pensar nisso e tentar ver o que se pode fazer para evitar esse défice masculino... Os professores devem prestar mais atenção aos rapazes (tarefa difícil com as raparigas ao "barulho"): ganham a sua confiança, autoridade (relativa) e estão a ajudá-los.
"A menina dos cinco olhinhos" deve doer. Não se trata de recuperar tudo, embora a sua presença intimide! A autoridade é fundamental em tudo, especialmente no ensino.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

E existe outro grave problema: a violência (fisíca, verbal, psicológica, emocional, sexual e social) entre alunos. Muitos são os alunos(as) maltratados (abuso) na escola e, mesmo que recorram aos professores, estes pouco podem fazer, dado não terem "autoridade".
Este problema da perda de autoridade e de segurança devia ser debatido entre professores, pais e ministério. Os outros países (Inglaterra e USA) já cometeram estes erros há muito tempo: Não faz sentido Portugal continuar a importar modelos falhados para ser "moderno" (sic), quando esses países estão a tentar retomar princípios clássicos.
A educação é uma constante ao longo da história humana e obedece a princípios biológicos: o ser imaturo e desprotegido (nós os humanos quando nascemos) precisa de cuidados para sobreviver e de ser educado para se tornar "humano". Ora, estabelecer estupidamente uma igualdade entre os imaturos e os educadores é destruir a própria educação! Não faz sentido! E não há educação sem punição: exames, notas, castigos, uso do vermelho, quadro de honra, etc. O nosso sistema é biologicamente irracional e culturalmente medíocre.

E. A. disse...

Bem Francisco, estou com dores de garganta, mas com este texto ganhei enjoos e azia.
Nem sei que lhe diga. O F. parece aqueles velhos frustrados e amargurados que olham com desdém para o vigor da juventude...
A disciplina tem de existir, mas n deverá acontecer sob ameaças ou violência, esta é a via mais fácil: tornar a escola numa masmorra e os professores em carrascos. A memória pela dor é realmente mais eficiente, mas será a melhor? Vi as imagens de que fala, e a professora foi tão ou mais patética do que a aluna. :(
Se os alunos "não são inteligentes", mas lobos e bárbaros, então, n perca mais o seu tempo em escrever sobre educação. Escreva antes sobre a alegria, pois se o F. sofreu horrores, logo deverá escrever como ninguém sobre a alegria. E que, brevemente, segundo a sua profetização, será uma saudade.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

"Vigor da juventude"? Estou como Georg Trakl: só vejo decadência. Ninguém defendeu a imposição da disciplina e mesmo da autoridade por meio da "força", mas, onde não haja um mecanismo de punição e de recompensa, não existem humanos. O mecanismo está incorporado no cérebro. Onde predomina a recompensa não há mérito! Se o diploma está garantido, não vale a pena investir esforço: tudo é igual! A Papillon não acredita nisso porque não estava no lugar daquela professora. Afinal, quem defende a violência é a Papillon: os alunos podem agredir os professores! :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Fiquei muito desiludido com o seu comentário: representa o triunfo de uma mentalidade acomodada a uma realidade terrível, a destruição da educação!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Numa situação experimental, quando se dá oportunidade a um rato para obter gratificação permanente, ele vicia-se na gratificação e puxa consecutivamente a alavanca para obter choques de gratificação até morrer exausto (área septal). As pessoas deste calibre nasceram mortas para a vida! É isso que são estes jovens deseducados: MORTOS, no sentido de Trakl. Heidegger captou esse momento de verdade na poesia de Trakl.

E. A. disse...

Ok. Como queira. Para si toda a gente é atrasada mental, naturalmente que eu n seria excepção à regra.
Mas os seres humanos n são ratos.
Defendo que a educação n seja fundada numa política de castigo. Nem mesmo a justiça deveria ser fundada em política de castigo. Isso sim é facilitismo. E n gosto de coisas fáceis.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Se não gosta de coisas fáceis, como pode valorizar a vida negando um dos seus princípios? Como pode lutar pelo mérito se lhe corta à partida as pernas? Francamente, não a compreendo. Sem o conhecimento da realidade, não a podemos modificar responsavelmente. Aquilo que disse sobre a sala de aula é um pequeno retrato da realidade. Esta consegue ser mais terrível!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

O pensamento leviano acusa estupidamente os filósofos clássicos (os mestres) de não levarem em conta a "infância". Essa crítica tornou-se comum a partir da obra de Jean Piaget e da sua polémica com Merleau-Ponty. Só que as ciências biológicas dão razão à Filosofia: o desenvolvimento do cérebro é lento. Áreas fundamentais para o desenvolvimento cognitivo só muito tardiamente estão formadas. Por exemplo, a formação de memórias de longa duração só ocorre por volta dos 8 anos.
Portanto, não se pode falar de "democracia" nas escolas, como fazem hoje os estudantes que protestam contra a "presença de polícias" nas escolas (notícia do dia). Eles não têm preparação, excepto insultar os professores e chamar-lhes "VELHOS". Bem, a Papillon também disse: "O F. parece aqueles velhos frustrados e amargurados que olham com desdém para o vigor da juventude..."
Muito triste estou...

E. A. disse...

O ênfase existencial da infância iniciou-se com Kierkegaard e Jaspers, mas n é claro que a infância fosse rejeitada pelos filósofos clássicos. Pelo menos isso n aconteceu com Epicuro e os epicuristas.

É-me claro, contudo, que a autonomia vem depois da obediência; mas tb Kant assinalava a importância de que a criança/jovem percebam o porquê de se fazer isto e não aquilo.
Se quer formar pessoas inteligentes e desenvoltas, não pode desconfiar à partida das suas potencialidades para tal.
Daí que eu tenha dito que o F. pareça um velho amargurado. Um velho amargurado como Platão quando escrevia as Leis, dando-se conta do seu projecto fracassado e maldizendo a geração vindoura.
Prefiro o Platão-poeta da juventude que amava Sócrates, a beleza e a verdade.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, Papillon, mas a psicologia da infância e o seu impacto no ensino e na educação deve-se muito a Jean Piaget. Com ele as "ciências da educação" arrancam..., detruindo a essência da pedagogia.

E. A. disse...

Sim, caríssimo, mas a ortodoxia de Piaget levou ao caos na educação, há mais de 30 anos nos USA. Nós estamos um "pouco" atrasados no reconhecimento deste desastre.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ah, afinal reconhece os erros cometidos! E deve saber que nos USA fazem novas experiências, retomando princípios anteriores...

E. A. disse...

Ah! "Afinal n é tão parva como eu pensava!"
Mas eu nunca defendi as ciências da educação, nem Piaget imoderado.
Apenas n defendo a reintrodução de violência com intuito de admoestar e castigar, como o F. sugere no seu texto. E a apologia que faz aos "bons-costumes".. ,blá blá blá, além de anacrónica e desfasada, está longe de estar explicitada. Mas tb n me apetece discutir isto.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

Eu não defendo a "re-introdução da violência nas escolas". A violência está infelizmente instalada nas escolas e, por isso, penso que devem ser tomadas medidas sérias para estabelecer a SEGURANÇA nas escolas. Além disso, defendo uma escola que fomente o mérito. Ora, este requer a existência do tal mecanismo punição e recompensa: o bom aluno deve ser recompensado...

Helena Antunes disse...

Francisco, este seu texto sobre violência escolar está muito bem conseguido. A minha opinião acerca deste assunto vai muito de encontro aquilo que o Francisco aqui fala.
Continue a presentear-nos com estas reflexões porque podem sempre servir para nós reflectirmos sobre estes problemas actuais e, se possível, alterarmos o rumo dos mesmos.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Helena

Esta violência assusta muito. Acabei de escutar António Vitorino e a sua perspectiva também vai neste sentido. Convém não esquecer a violência entre alunos! :)

Helena Antunes disse...

Há muito violência na escola. Seja professor aluno, aluno-professor e aluno-aluno.
E de facto assusta o nosso presente e o nosso futuro...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Ai, Helena, eu sou todo confiança, mas, quando olho para a frente, não vejo nada claro. Mas convém não perder a esperança num bom futuro. Há um americano que já fala da "adição do destino", um pensamente rendido à miséria presente! :(

Eulália disse...

Francisco,

Cheguei hoje (maio de 20090) ao seu blog. Sou brasileira, e creio nem precisar explicar o quanto as situações escolares (e as elaborações da pedagogia) se assemelham aí e cá.
Há um livro, que eu li com muito interesse, um livro de duas autoras francesas - Isabelle Stall e Françoise Thomm - que expõe um ponto de vista semelhante ao seu. Chama-se "Escola dos Bárbaros". É um livro de liberais, críticas ao socialismo. (Aqui no Brasil, não é tão difícil discernir entre ultra-liberais capitalistas, comunistas ainda meio stalinistas mesmo sem admitir ou socialistas que acreditam na construção pela democracia. A burguesia e sua imprensa odeiam e transformam em monstros todos os que, minimamente, ameaçam seus interesses).Tudo isso para dizer que, dadas as suas conversas depois da postagem, não sei exatamente qual é meu interlocutor aqui. No caso do livro que eu mencionei, sabia, como já disse.
Deversas entre as suas ponderações são inquestionáveis, mesmo a que diz que para educar é necessária a punição (em alguma instância, todos que educam punem, e quando dizem não o fazer é porque de tal forma foi repressivo o processo civilizatório em algum ponto da trajetória do educando que tal já não se faz mais necessário.)
É, portanto, uma verdade. Aparecem ali na sua fala várias outras.

Mas o pano de fundo, a idéia de que "a culpa é da democracia" (e sobretudo a maneira violenta como você se refere a uma recusa de um povo em massacrar outro - que a Revolução dos Cravos, independente de todas as outras características, em essência é isto do ponto de vista da história universal, e um hegeliano há de entendê-lo.), este pano de fundo escolhido te faz parecer um stalinista saudoso às avessas.

Se tem algum ideal mais caro que a democracia, não importa muito para mim de que "lado" ele esteja.
É autoritário, e, como tal, regressivo.
Não é fácil construir um paradigma educacional, sequer um paradigma social para a democracia. Vocês estão se batendo com esta tarefa desde 1974 - sendo que as esquerdas mundo afora só a tomaram para si de fato depois de 1989.
Sim, a educação incorporou diversos motes políticos da democracia em sua prática sem o devido cuidado.
Talvez isso me faça pensar que houve uma forte invasão da política na esfera escolar, uma centralidade da questão do poder, em detrimento da cultura, da tradição, do conhecimento, da técnica. Preocupou-se com aquilo que não era, diretamente, de sua alçada e relagou a segundo plano sua verdadeira tarefa. E hoje colhe os frutos disso. ouvi uma socióloga, Sara Morgenstern, fazer uma brilhante preleção sobre a necessidade do retorno da escola à sua função intelectual.

O seu apego por suas posições me parece muito justificável, pois elas partem de constatações reais. Mas cuidado com a deduções fáceis, com o "vôo da águia" no conhecimento de uma realidade - elas quase sempre se prestam à ideologia hegemônica.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Oi Eulália

Sim, este post foi escrito devido aos protestos dos professores que não querem ser avaliados e o seu tom reflecte essa desilusão com o estado do ensino aqui: um caos!

Noutros posts descrevo a situação do ensino de forma mais detalhada. A crise da educação preocupa-me muito...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Entretanto, novos casos de agressões têm sido divulgados pelos mass media, tanto de agressões contra professores e auxiliares de educação como de agressões contra colegas. Outros casos dizem respeito aos abusos dos professores, dos quais já resultou uma suspensão recente.

Sim, o 25 de Abril arruinou a educação devido à implementação de más políticas da educação, mas penso que a sociedade começa a estar preocupada com isso e as mudanças começam já a surgir: a educação é fundamental para fortalecer uma cidadania responsável, o que não existe actualmente.

T. disse...

Pena,
ou eu não fui clara, ou o assunto não interessa tanto assim.
Abraço,
Eulália.