sábado, 8 de março de 2008

Feromonas e Orientação Sexual

A existência de feromonas humanas foi alvo de um debate polémico, mas actualmente já não podemos duvidar da sua existência e, muito menos, do seu papel nos comportamentos humanos, em especial sexuais: as feromonas são substâncias químicas que, libertadas por um indivíduo, podem afectar o comportamento de outro indivíduo.
Com efeito, McClintock (1971) verificou que o ciclo menstrual das mulheres que residiam juntas no mesmo dormitório de um colégio tinha mais possibilidade de ser sincronizado nesta situação que ser alcançado ao acaso. As mulheres que passam mais tempo juntas têm verosimilmente as suas regras ao mesmo tempo. McClintock formulou a hipótese de que as feromonas que passam de uma mulher para outra podem servir de sinal ao ciclo da ovulação, tornando possível uma determinada sincronização.
Embora seja difícil de demonstrar, esta hipótese tem sido esclarecida por diversos estudos (Weller & Weller, 1993) que procuraram determinar se esta sincronização estava ligada aos sinais sociais trocados entre as mulheres ou aos sinais provenientes das feromonas. A prova mais evidente do papel desempenhado pelas feromonas nestes problemas é a aceleração ou o retardamento dos ciclos menstruais das mulheres que depositaram sobre o seu lábio superior um extracto de suor proveniente de outras mulheres (Presti et al., 1986).
A testosterona "derivative 4,16-androstadien-3-one" (AND) e o "estrogen-like steroid estra-1,3,5(10),16-tetraen-3-ol" (EST) são compostos químicos candidatos para as feromonas humanas. AND é detectado fundamentalmente no suor dos homens, enquanto EST se encontra na urina das mulheres.
Num estudo prévio, no qual usaram a tomografia de emissão de positrões, Savic, Berglund & Lindström (2005) descobriram que o cheiro de AND e EST activava as regiões abrigadas no núcleo sexualmente dimórfico do hipotálamo anterior e que esta activação era diferenciada em função do sexo dos sujeitos e do composto. Assim, compararam o padrão de activação induzido por AND e EST entre homens homossexuais (12), homens heterossexuais (12) e mulheres heterossexuais (12). Em contraste com os homens heterossexuais, mas em congruência com as mulheres heterossexuais, os machos homossexuais exibem activação hipotalâmica em resposta à AND. A máxima activação foi observada na área preóptica/hipotálamo anterior, que, como se sabe, está envolvida no controlo do comportamento sexual.
Contudo, os odores comuns eram processados similarmente nestes três grupos de sujeitos, envolvendo apenas o cérebro olfactivo (amígdala, córtex piriforme, córtex orbitofrontal e córtex insular). Estudos anteriores já tinham mostrado que a escolha de parceiro sexual é fortemente influenciada pelos sinais sexualmente específicos das feromonas, os quais são processados pelos «centros de acasalamento» localizados no hipotálamo anterior (Paredes, Tzschentke & Nakach, 1998; Dorner, Docke & Moustafa, 1968; Paredes & Baum, 1995), cuja lesão altera o comportamento coital. Estes resultados mostraram que o cérebro reage de modo diferente às putativas feromonas em comparação com a sua reacção aos odores comuns e, por conseguinte, sugerem uma ligação entre a orientação sexual e os processos neurais hipotalâmicos.
Usando o mesmo tipo de delineamento experimental, Berglund, Lindström & Savic (2006) verificaram que, nas lésbicas (12), em contraste com as mulheres heterossexuais, o processamento dos estímulos AND é realizado por estruturas olfactivas e não pelo hipotálamo anterior. Contudo, quando cheiraram EST, verificou-se que a activação se estendia ao hipotálamo anterior, tal como sucedeu com os homens heterossexuais.
Estes dois estudos revelam diferenças sexuais de processamento de estímulos olfactivos (feromonas), ao mesmo tempo que sugerem a existência de uma ligação forte entre os circuitos neurais do hipotálamo e a orientação sexual: os indivíduos homossexuais de cada sexo tendem a exibir padrões sexualmente atípicos.
J Francisco Saraiva de Sousa

12 comentários:

E. A. disse...

Interessante, perceber que, depois de nos termos tornado "erectus", e a visão se ter suplantado ao olfacto, ainda assim este é tão assertivo no nosso comportamento.
Há cheiros que nos repelem, e outros que são de um magnetismo poderoso! E a visão e a razão pouco podem fazer à animalidade que resiste em nós. :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sim, devemos pensar a nossa animalidade e humanidade conjuntamente... :)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Papillon

Estes estudos que tenho partilhado mostram aquilo que, no fundo, todos sabemos naturalmente. A cultura tenta, por vezes, "reprimir" ou conter a biologia, mas sem sucesso. A nossa animalidade fala e manifesta-se constantemente. A homossexualidade não é adquirida e muito menos escolhida: os padrões revelados mostram isso! Afinal, a "evolução" seleccionou-a... E tantos outros comportamentos que a cultura tenta moldar ou mesmo reprimir.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Sabe uma coisa: Se tivesse tempo, desejava muito fazer um estudo sobre o carácter "afirmativo da cultura". O termo cultura afirmativa foi forjado por Marcuse para pensar a cultura burguesa correspondente à sua ascensão social.
Hoje essa cultura já não é a mesma. Uma das características dessa cultura era o seu "idealismo": a defesa da "alma" em detrimento do corpo que, como Marx mostrou, era maltratado na vida quotidiana. Mas hoje a cultura reafirma a supremacia exclusiva do corpo (metabolicamente reduzido), atrofiando o espírito. Aliás, vejo esta manifestação dos chamados professores como degradação da cultura ou sinal disso! Muito preocupante! A cultura morre!

E. A. disse...

Mas o senso comum ainda diz "são opções", "isso é lá com eles", tentando-se descartar das evidências e temendo, no fundo da sua alma, alguma espécie de "contágio"!
Deveria haver debates, conferências que pudessem espalhar a palavra, a verdade! N me lembro, durante o meu percurso académico obrigatório, de se falar abertamente sobre estas questões! As sessões esporádicas de educação sexual eram uma palhaçada em que se ensinava o ciclo menstrual (!!!) e nos davam tampões e pensos higiénicos, e talvez preservativos. Já n me lembro. Mas tb n estou a par do "programa" dessa instrução por isso n me adianto. Espero que tenha melhorado e se tenha tornado realmente útil e benéfico para os jovens.

Já falámos, noutras ocasiões, sobre o dualismo corpo/alma ou a possibilidade da sua superação (no meu ponto de vista, pois o primeiro tendeu sempre ao extremismo perverso). Mesmo que admitamos um materialismo vigente, o corpo só é saudável, se a alma abrir caminho, como o epicurismo, por exemplo. Mas isto q se vive, n é nada, porque n há ética fundadora!

N sei se os professores e a sua manifestação é sinal de degradação. N o interpreto assim: eles estão insatisfeitos e têm o direito a mostrá-lo. Além disso, hj em conversa com o meu pai, ele fez-me ver que avaliação pelos "pares" levará, necessariamente, a muitas injustiças. N sei. :(

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

as minhas lições de educação sexual foram práticas! A teoria já a conhecia: está nos "instintos"! :)

E. A. disse...

Pois, as suas e as de toda a gente.
Mas acho q é possível ensinar. Aliás, tem-no demonstrado na sua partilha.

E. A. disse...

A teoria está nos instintos?

É muito pobrezinha a sua.

A arte de amar tb vem da criatividade e da razão. ;)

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Nunca ninguém se queixou da minha teoria und praxis! :)))

E. A. disse...

ai, q até escreve conjunções em alemão! Oh mein Gott! :)))

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

ai, Papillon, tantos des-professores aproveitados pelos comunistas! Que susto1 Parece a praça Vermelha soviética! :((

E. A. disse...

Sim, vi o telejornal. Mobilização impressionante.
Mas n são todos comunistas - embora o Louçã e os do pcp andassem por lá a fazer a sua sub-campanha... quais abutres em redor de cadáver apodrecido - a educação, claro está.