sexta-feira, 7 de março de 2008

Medo da Mudança: Uma Síndrome Portuguesa

Infelizmente, o 25 de Abril de 1974 não merece ser festejado e comemorado. É certo que derrubou o regime autoritário e fascista, mas a democracia que prometeu não se realizou, devido ao enorme atraso cultural dos portugueses. Com este post, pretendo tentar elucidar esse atraso cultural, procurando alinhavar uma hipótese capaz de o explicar.
O processo revolucionário possibilitou a ascensão social rápida e fulgurante de indivíduos ignorantes e não-preparados, precisamente aqueles indivíduos que tomaram conta de todas as esferas de decisão nacional, públicas e privadas, ao longo destes últimos 34 anos. A ignorância não tolera a diferença e a inteligência. Por isso, para manter o poder sob seu controle, precisa de eliminar todos aqueles cuja existência a ameaçam. Movida unicamente pela ganância, a ignorância é um estado de profunda inveja, a qual desencadeia os comportamentos maldosos que visam matar em vida aqueles que poderiam ajudar a construir um novo Portugal. Estes indivíduos destituídos de qualidades vivem todos à custa do Estado e, em nome da igualdade, implementaram um novo sistema que garante injustamente os seus privilégios adquiridos. A democracia é usada para encobrir a realidade de um regime plutocrático e cleptocrático, fortemente apoiado pelos aparelhos repressivos de Estado e pelo Direito.
Cientificamente, existe uma forte correlação entre o défice de inteligência e os comportamentos criminosos, tais como abuso de poder e diversos tipos de criminalidade de colarinho-branco. Esta conexão permite-nos avançar com a hipótese facilmente testável de que o atraso de Portugal pode ser imputado a uma síndrome nacional muito banalizada entre os indivíduos que formam as chamadas "elites nacionais": a atrofia mental e cognitiva, a qual pode ter uma explicação neurobiológica e, provavelmente, genética.
Os sinais de alarme desta síndrome nacional são particularmente evidentes nos indivíduos pertencentes à «função pública» e/ou que giram em torno do Estado português: a miséria nacional e a corrupção generalizada são os sinais mais visíveis. Mas preferimos seguir outra via e apresentar o «medo à mudança» como o sinal mais evidente desta síndrome nacional. Com efeito, não há projecto de reforma que resista às forças bloqueadoras instaladas nos centros de decisão nacional. Neste momento, assistimos em directo às tentativas de bloquear as reformas do sistema de ensino e de educação, do sistema judicial, da administração pública, no sistema político, nos aparelhos partidários, nas administrações das empresas públicas ou mesmo nos movimentos sindicais. Este bloqueamento das reformas significa que todos esses «funcionários» não acreditam nas suas próprias competências e, sabem que num sistema que favoreça o mérito e salvaguarde a igualdade de oportunidades, eles seriam afastados dos cargos usurpados.

Os políticos, os gestores públicos, os autarcas, os juízes e os magistrados, os funcionários públicos, os professores, os profissionais da comunicação social, enfim todos aqueles cuja sobrevivência gorda, isto é, cujo enriquecimento, depende do Estado, resistem ferozmente às reformas e, com a ajuda dos meios de comunicação social politicamente controlados, fazem tudo para paralisar as políticas de mudança do actual governo socialista. Porquê? Porque são indivíduos que usurparam ao longo destas últimas três décadas e ocupam indevidamente cargos públicos, sem possuir conhecimentos e competências para os desempenhar. Em vez de exercerem com competência os seus cargos, perseguindo o interesse nacional, monitorizam-se uns aos outros, de modo a não deixarem os outros realizar com mérito as suas tarefas e a garantirem a vigência do sistema de favores. De certo modo, todos eles são coniventes com as novas classes dirigentes, cujos membros usam os aparelhos partidários para alcançar o poder político e usá-lo posteriormente para pagar favores e apoios e enriquecer mediante esquemas pouco transparentes à custa da apropriação do património público. Não governam para servir o interesse nacional mas para garantir o seu próprio enriquecimento, o dos seus familiares e o dos seus amigos e apoiantes. É, por isso, que os processos de recrutamento de pessoal não segue os critérios de mérito dos candidatos, mas outros critérios mais escuros, mesmo quando são abertos concursos públicos. A Universidade que devia ser um centro de excelência converteu-se no seu coveiro: uma antro de incompetência.
J Francisco Saraiva de Sousa

18 comentários:

Manuel Rocha disse...

Que "tiro de canhão" !!!

Gosto destes discursos de ruptura !

:))

E subscrevo ! Subscrevo porque também identifico este terror à mudança como o último reduto da mediocridade. Não sei se foi para isto que "se fez " Abril. Mas que tem sido um malbaratar ...

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Manuel

Estava a ver o novo programa da RPT1: "Corredor do Poder". A oposição mente com todos os dentes que tem na boca! Eu ouvi a Ministra e foi tudo falsificado! Crítica política é uma coisa! Mentira é outra! Há um mentir patológico! Por este andar, Portugal está condenado ao último lugar na União Europeia! :(

E. A. disse...

O mentir, ou toda essa imoralidade que aponta, existe, porque há liberdade.
Só num regime livre a retórica vive e se prolifera.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Mas essa retórica da mentira conduz a um país ingovernável!

Manuel Rocha disse...

A retórica relativiza tudo e o seu contrário. Ora quando se perde a noção dos limites tende-se para a anarquia ou para o totalitarismo, que são as duas faces da mesma moeda da ingovernabilidade.

Não me parece que a "liberdade" seja este tipo de exercicio a que assistimos. A isto chamo eu demagogia.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Concordo com o Manuel:

A retórica não é sinal de liberdade, mas de corrupção! Onde existe retórica não há verdade! Portanto, não há liberdade!

E. A. disse...

Num regime livre ou democrático, a retórica existe sempre, porque a opinião tem valor. Não identifiquei retórica com liberdade, mas assinalei o pressuposto da retórica que é a liberdade.
Num regime totalitarista ou tirano há verdades dogmáticas, portanto, a retórica nem sequer tem espaço.

Como parece claro, a retórica pode ser imoral e, por isso, é dever do cidadão desmontar este tipo de discurso e sobrepôr-lhe um bem geral, ou a verdade.

Conclusão: se quer viver num regime democrático, terá sempre retórica! N é fácil viver-se em democracia: a liberdade de expressão e discussão tem consequências. Mas prefiro-as do que à autoridade!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

A Papillon já assistiu a uma sessão parlamentar?
Há sempre um momento retórico no discurso, mas a retórica política a que me refiro é a arte da mentira e da manipulação. Com essa arte da mentira, não há verdade política e, portanto, mudança!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já editei vários posts sobre corrupção que permitem avançar com uma nova patologia: Abuso de Poder! Esta síndrome pode ser muito útil na análise política e retomar um velho problema: o da responsabilidade pública! Interessa conhecer quem nos governa! Ao contrário do que pensava Popper e em sintonia com Platão, as pessoas são importantes!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Isto significa que é necessário controlar os que governam, responsabilizando-os, e prever medidas de punição contra o abuso de poder! :)

E. A. disse...

Caro F.,

Gosto da terminologia, porque, de facto, a democracia pode-se entender como um organismo de saúde débil, de um equilíbrio periclitante por assentar na liberdade de decisão!
E a nossa (democracia), neste momento, começa a feder de doente que está! Ela só faz sentido, só sara, se as responsabilidades se apurarem, e as sanções se efectivarem. Um sistema de justiça atento e diligente! Poderíamos começar por aqui, a nossa cura.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

É o que penso: os tribunais são severos com o "povo" (não gosto do termo), mas cegos em relação à "corrupção de cima". Enquanto houver esta corrupção, o Estado não tem "moral" para combater a do meio e a de baixo! :(

André LF disse...

Gostei do "tiro de canhão", como disse Manuel. Aprecio a sua clareza nas análises!

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

André

Aqui em Portugal é o Partido Comunista que tentou instalar uma ditadura após o 25 de Abril que bloqueia o futuro: uma estrutura fortemente anti-democrática, como diz o ministro Santos Silva!

BEJA TRINDADE disse...

Este discurso está recheado de contradições.
Senão vejamos:
Faz-se por um lado a exaustiva condenação dos comportamentos criminosos, abusos de poder, criminalidade de colarinho-branco em suma corrupção, tudo isto nos últimos 34 anos, pós 25 de Abril.
De seguida faz-se grandes elogios ao PS e as suas ditas reformas, que eu diria de retomas ao 24 de Abril.
Então meu caro sr. quem tem estado no poder durante todos estes anos, à frente do País que o sr. acusa de ter chegado à "miséria nacional", não tem sido o PS/PSD/CDS.
Pelo seu discurso, está-se mesmo a ver, que o seu objectivo fundamental é o combate ao PCP, mas, para que saiba o PCP faz hoje 87 anos, está de parabéns e recomenda-se.raivoso

BEJA TRINDADE disse...

Como vêm, não tive qualquer resposta, o que se pretende é atirar areia aos olhos das pessoas.
Isto são técnicas já muito utilizadas, logo estafadas.

J Francisco Saraiva de Sousa disse...

Já lhe respondi no outro post que comentou.
Quanto às responsabilidades dos partidos do poder, reconheço-as. Por isso, luto contra a corrupção e a degradação da democracia. O PCP não luta pela democracia, mas pela anarquia..., na esperança de achar uma oportunidade para fazer o seu velho erro: abolir a democracia!

BEJA TRINDADE disse...

Ainda o sr. e eu não existia-mos já o PCP lutava em condições duríssimas pela liberdade e democracia.
Esses papões que refere do PCP querer abolir a democracia, são agitados por aqueles que perderam privilégios com a Revolução.