É habitual definir a blogosfera como toda a comunidade e os conteúdos que constituem os blogues ou como o conjunto de quem faz, de quem disponibiliza e de quem lê os blogues. Um tal conceito é mais descritivo do que explicativo, mas, mesmo como conceito descritivo, dificilmente se aplica à blogosfera portuguesa. Com efeito, a luso-blogosfera não é uma comunidade mas um conjunto ou amontoado de blogues, cujos autores são, na maior parte dos casos, absolutamente autistas e incapazes de estabelecer contactos regulares online, sobretudo os mitologicamente chamados «históricos». Todos visam conquistar audiências vastas, como se estivessem no centro de um mundo intersubjectivo real, que, na realidade, é o seu pequeno mundo medíocre e fechado exposto à visibilidade pública. Desejam ser lidos e comentados mas sem retribuir e sem se aperceberem que os comentários são «oportunistas» ou irónicos. Como não respondem altruisticamente, acabam por ficar isolados, imaginando que ainda são lidos por um número alargado de pessoas. Até podem ser destacados noutros meios de comunicação social, mas isso deve-se, não à qualidade dos conteúdos, mas ao luso-sistema de corrupção e, diga-se em abono da verdade, à presença de muitos jornalistas ou das chamadas pejorativamente vedetas públicas que usam a blogosfera para prolongar a sua actividade profissional ou a sua campanha de publicidade. Não há efectivamente uma comunidade de bloguistas portugueses! Há apenas um amontoado de blogues, cada um mais autista do que o outro. O português é um ser pouco seguro de si próprio e, por isso, receia a crítica aberta ou o debate de ideias: a crítica é sempre levada a peito, como se a desconstrução de uma ideia ou tese implicasse a destruição psicológica e social do seu defensor. O português encara o conhecimento como resultado do seu metabolismo e não como uma busca cooperativa da verdade. Sente-se constantemente ameaçado como pessoa e, quando não lhe dão «palha», isola-se no seu mundo, neste caso no seu blogue, imaginando que as suas ideias irão produzir efeitos nos comportamentos de outros distantes. Esquece-se que os outros são semelhantes a si e, portanto, estão também fechados no seu pequeno universo. A mediocridade nacional é geral e atravessa tudo. Contrariar esta tendência constitui uma tarefa difícil e condenada ao fracasso, dada a inércia mental portuguesa. Portugal parece ser um país eternamente condenado ao fracasso e à mediocridade e, se assim for, é preciso encarar o problema de uma outra perspectiva. J Francisco Saraiva de Sousa
6 comentários:
Em resposta ao seu comentário no Intervenção:
Depressão e definhamento concorrem para a tal ideia de estarem a "perder a pica".
Ressaca porque depois de uma longa noite de sucesso,na qual os seus blogues andaram nas "bocas do mundo", agora sentem-se "sós e abandonados" pela perda constante de visitas.
Já agora:
"O português é um ser pouco seguro de si próprio e, por isso, receia a crítica aberta ou o debate de ideias: a crítica é sempre levada a peito, como se a desconstrução de uma ideia ou tese implicasse a destruição psicológica e social do seu defensor".
Sem dúvida! Subscrevo.
Afinal, reina entre nós um consenso: os históricos perderam a pica e, por isso, tentam fechar a blogosfera aos mais novos, como se fossem seus donos.
Mas nós estamos a cagar para eles... A pica está em nosso poder!
Abraço
Retomarei este tema da blogosfera portuguesa no meu blogue CyberPhilosophy, onde trato de assuntos relativos à Internet e novas tecnologias.
Eh, eh, eh!
Excelente, Saraiva!
Obrigado pelo incentivo.
Abraço
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