Tenho escrito alguns textos, onde procuro chamar a atenção dos utilizadores da Internet para as tentativas de feudalização da blogosfera portuguesa e muitos autores de blogues, em particular do blogue «Pontapé-na-Lógica», partilham esta mesma preocupação. A blogosfera é ainda um espaço público virtual aberto e interactivo: a comunicação tende a tomar espontaneamente a forma de diálogo. Contudo, alguns bloguistas por deformação profissional, dado serem jornalistas, de resto medíocres, habituados a comunicar sem acção de retorno, associam-se de diversas formas, para impor esse modelo unilateral de comunicação no cyberspace, tentando converter os demais utilizadores em meros receptores «idiotas». O jornalismo ameaça a democracia electrónica, dado pretender monopolizar a comunicação online. E, de facto, os próprios críticos desta ameaça não reagem da forma mais adequada: não frequentar os blogues feudais e não estabelecer hiperligações com eles. Em Portugal, poucos são os jornalistas que fazem jornalismo crítico: a maior parte é medíocre e ameaça a democracia. A liberdade que reivindicam como interesse da corporação é a «liberdade» para dizer mal e desinformar. Estranhamente, nunca fomos verdadeiramente um país feudal, mas, na era da globalização, surgem em Portugal feudos: o feudo da justiça, o feudo dos sindicatos, o feudo dos funcionários públicos, o feudo do jornalismo e assim sucessivamente. Todos juntos conspiram contra a formação de uma esfera pública aberta a todos os cidadãos e liberta de constrangimentos. Eles pretendem ocupar toda a esfera pública e, talvez relembrando o dito de Luís XIV, afirmam em uníssono: «a esfera pública somos nós». O sistema luso-corrupto é, na sua essência, feudal. Este sistema ameaça a independência e a democraticidade intrínseca da blogosfera e, por isso, visa a sua feudalização. Estamos em Portugal e, portanto, num país que ainda não sabe o que significa democracia, sem escolas e universidades dignas. Na ausência de uma intelectualidade competente, independente e corajosa, os luso-jornalistas arvoram-se como «intelectuais», como se fossem portadores da centelha de inteligência de que Portugal carece desde a fundação, logo eles os mais ignorantes e perversos de todos os portugueses. Até chegam ao ponto de se referirem uns aos outros em circuito fechado, como se o conhecimento fosse da sua competência. Nesta luta por uma blogosfera liberta das práticas sistematicamente distorcidas do jornalismo predominante, estamos sozinhos, porque o poder político que deveria zelar pela saúde da democracia está corrompido e comprometido com este tipo de jornalismo. E porque a maioria dos portugueses não está interessada com o futuro que transcenda a satisfação de necessidades imediatas. O séquito de oportunistas que bajulam esses blogues em busca de alguma visibilidade e, portanto, de alguma audiência, prejudica a nossa luta pela manutenção de um novo espaço público. J Francisco Saraiva de Sousa
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