Fustel de Coulanges
Quando era criança perdia-me frequentemente na selva e todos os cenários de perigo que irrompiam no meu pensamento eram anulados pelo chamamento que me protege desde sempre. Num desses momentos, nomeei o fogo de casa e o nome que inventei era efectivamente o nome do fogo do lar. Esta lembrança infantil conduziu-me mais tarde a Fustel de Coulanges (1830-1889) e à sua extraordinária obra «A Cidade Antiga» (1864). Numa livraria do Porto, olhei e apenas vi Fustel de Coulanges. Agarrei-o e, desde então, nunca mais o larguei. Planeava escrever um ensaio sobre esta obra, de modo a situá-la no seio da filosofia da história, mas o tempo corre velozmente e os afazeres não me dão tréguas. Mas deixo aqui um sabor do pensamento profundo de Fustel de Coulanges, sem comentários adicionais: «Esta religião dos mortos parece ter sido a mais antiga entre os homens. Antes de conceber e de adorar Indra ou Zeus, o homem adorou os seus mortos; teve medo deles e dirigiu-lhes preces. Parece ser essa a origem do sentimento religioso. Foi talvez diante da morte que o homem, pela primeira vez, teve a ideia do sobrenatural e quis abarcar mais do que os seus olhos humanos podiam lhe mostrar. A morte foi, pois, o seu primeiro mistério, colocando-o no caminho de outros mistérios. Elevou o seu pensamento do visível para o invisível, do transitório para o eterno, do humano para o divino». J Francisco Saraiva de Sousa
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